18. Pesadelo
Dormir tranquilamente era a única coisa que Kurdis não conseguia. Era atormentado por pesadelos, mergulhado em uma teia de horrores. Sonhava com a guerra, suas perdas e, sobretudo, com a foice sinistra que ceifava vidas sem piedade.
O ladrão havia retornado com seu chefe, Jargen, cuja presença era grotesca e aterradora. Ele era um gigante abissal, com dentes serrilhados como os de um tubarão e guelras pulsantes em seu pescoço. Seus capangas eram todos kunes. O sobrado estava cercado por uma aura maligna. Eles ameaçavam matar a tia Darusca e Djista se ele não entregasse a foice.
— Devolvam-me a arma, pois desfazer o negócio me custou muito caro!
Ele revirou seu quarto febrilmente, procurando pelo seu cajado. Sua mente estava tomada por uma inquietante insanidade. Os pensamentos de vingança e destruição ecoavam em sua cabeça.
Posso queimar todos eles! Onde está? Deveria estar aqui!
Os gritos agonizantes de Djista cortavam o ar, ecoando pelos corredores assombrados. Ela estava vestida com as roupas de Estirga, uma imagem macabra que o deixava ainda mais perturbado. Kurdis olhou pela janela e viu Jargen arremessá-la no canal, onde sombras de tubarões famintos se agitavam em torno dela.
— Daman, socorro!
A mente de Kurdis se embrulhou em um turbilhão de terror e culpa. Sua varinha foi encontrada no batente da janela e, sem hesitação, ele se lançou na escuridão do canal. A água gélida o abraçou, e sua pele arrepiou-se com uma sensação profunda de desolação. Tubarões famintos cercaram-no, e suas mandíbulas cruéis morderam sua perna no mesmo lugar que havia quebrado no primeiro confronto com o Demônio de Ossos.
Seu estúpido! Como pode saltar sem trazer a foice?
Na janela, viu surgir um soldado kune segurando sua foice. — Consegui, mestre! Agora ela é nossa!
Kurdis olhou para o lado. Viu Estirga sendo atacada por um bando de tubarões. — Vou morrer, Daman. Você não conseguiu me salvar.
Kurdis despertou abruptamente, seu corpo encharcado de suor frio. As imagens do pesadelo ainda se agarravam à sua mente, como tentáculos de uma criatura do abismo. Uma voz sussurrou insidiosamente em seu ouvido.
"Você precisa agir, Daman. Você é um feiticeiro poderoso. Vai ficar o resto da vida carregando caixas?"
— Quem é você?
"Será possível que não saiba?" a voz arrastada soava dentro de seu ouvido.
— Carc'limar?
"Não seja ridículo! Você o matou".
— Você é um espírito?
"Está procurando no lugar errado. Estou dentro de você".
— Que feitiço é esse?
"Não há feitiço algum, seu tolo! O que acontece agora é algo bastante natural".
— Natural! Ora! Cale-se!
"Não há como fugir de si mesmo. Você não pode se esconder... Precisa mostrar para eles quem é mais forte. Você não foi feito para abaixar as orelhas e obedecer ordens de tipos rasteiros como Turzo."
— Isso é um sonho. Um sonho dentro de um sonho...
Kurdis sentiu o peso sombrio em seu peito, uma opressão que parecia arrancar sua sanidade. A exaustão o envolveu como uma mortalha.
Eu só quero dormir...
"Durma. Recupere suas forças, mas não ouse viver na sarjeta. Esse não é o seu destino".
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