Os astros dizem, 9: explique!

Previsão do dia para o signo de libra:
Não adie conversas importantes. Esclareça tudo que deve ser esclarecido para não precisar dar explicações.

Jungkookie é lindo.

Ele é a alma mais linda que eu já conheci, mas até mesmo a aparência é surrealmente bonita. Sempre foi.

Mas hoje... caramba.

É desesperador olhar para ele e perceber que nunca nessa vida eu vou ser capaz de achar outra pessoa tão linda quanto acho Jungkook.

Não ajuda quando, talvez pela aflição provocada pelo momento, ele moveu o corpo num gesto desajeitado até tirar a blusa xadrez que estava vestindo, ficando apenas com a regata.

Jungkookie nunca usa regatas, apesar de sua mãe comprar várias. E eu entendo, também não gosto delas. Mas agora que é ele vestindo, acho que mudei de ideia.

Jungkookie é lindo, por dentro, por fora, de uma extremidade à outra. E ele quer me beijar.

Ao contrário do que se espera de um cara com a popularidade em alta e tudo o mais, eu não sou do tipo que sai beijando várias bocas por aí. Me dá preguiça, até porque é difícil alguém me chamar a atenção de verdade.

Quer dizer, a primeira pessoa por quem me senti atraído foi Jungkook. E não só por sua aparência. Foi por muito mais, aliás. Então me interessar por outras pessoas sempre foi uma tarefa difícil, apesar de um ou outro cara terem despertado em mim o desejo de tentar.

Nem deu certo.

Por todas essas coisas, fica claro que, se não fosse uma amizade que eu valorizo tanto, tanto, taaaanto, no primeiro sinal de interesse que Jungkook demonstrasse por mim, eu agarraria a chance sem pensar duas vezes! Mas ele é, antes de tudo, a melhor amizade que já tive.

Envolver romance com um amigo não é o mais aconselhável, eu acho. Tem muita chance de dar errado.

Então eu precisei pensar e pensar mais um pouco, até recorri aos conselhos do grupo dos rituais de sexta, que passou toda a tarde de ontem firme na missão de me ajudar a esclarecer meus pensamentos.

Calmo, paciente e ponderado eu deveria ser.

E calmo, paciente e ponderado eu fui.

Assim, cheguei à solução atual: esclarecer para Jungkook que nossa amizade sempre vai ser o mais importante e pedir que ele seja sempre sincero comigo. Isso não nos torna imunes a qualquer possível tragédia emocional, mas acho que nos fortalece um pouco mais e nos prepara para lidar melhor com o que pode vir de toda essa situação.

E acho que ela não poderia ser melhor.

Aqueles bilhetes não tinham qualquer propósito além de reconquistar meu amigo. Mas ainda bem que toda a confusão criada por eles nos trouxe a esse momento.

— Nós vamos nos beijar agora? — É com ansiedade que Jungkookie pergunta.

— Eu não tenho que te levar a um encontro primeiro? — Pondero, ainda escondido aqui dentro da barraca, junto com ele.

— Você pode me beijar agora e me levar a um encontro depois. Não tem problema.

Inevitavelmente, eu caio na risada. É um riso meio nervoso, mas é sincero também.

— Eu não sabia que você era tão pra frente assim, Jungkookie... você sempre foi tão tímido...

— Muita coisa mudou desde que a gente se afastou, hyung. Por exemplo, agora eu já beijei na boca.

— Eu imaginei. Uma coisinha linda como você deve ter sido interesse de muita gente.

— Só um ou outro. — Ele responde com um dar de ombros, pouco ciente sobre o quanto é lindo.

— Quando foi? — Questiono, cheio de curiosidade, enquanto abraço minhas pernas e apoio meu queixo sobre os joelhos. — Seu primeiro beijo. Faz muito tempo?

— Foi um pouco depois da ultima vez que a gente se falou — Ele responde, sem demora em fazer uma caretinha que antecede a risada gostosa. — Foi bem ruim.

— O meu primeiro também não foi legal. Os que vieram depois... é. Meio que deram pro gasto.

Jungkook ri mais um pouco, dobrando uma perna por cima da outra quando se inclina um pouquinho mais para a frente para puxar bolinhas de tecido no edredom. Seus olhos se atentam ao serviço das próprias mãos, por um instante, mas logo ele me lança um olhar curioso sob os cílios.

— E como é, hyung?

— O que, Jungkookie?

— Seu beijo. — Ele responde. — Eu já li sobre como é o beijo de um libriano. Mas me diz você... como você gosta?

Eu aperto meus lábios com um pouco de nervosismo e vergonha. Não que eu nunca tenha conversado detalhadamente sobre essas coisas, mas nunca conversei sobre isso com Jungkook, sabendo que ele também quer me beijar.

— Hm... — Indeciso sobre como começar, eu deslizo meus olhos até mirá-los no teto da nossa barraquinha. — Eu gosto quando tocam meu rosto. E quando entrelaçam os dedos nos meus cabelos. Aí quando começa a me beijar, eu gosto que vá com calma, muita língua no começo me deixa agoniado.

— Calmo no começo, mas e depois? — Jungkook questiona, me fazendo arregalar sutilmente os olhos quando ele sai de onde estava para sentar ao meu lado. E ele senta bem perto. Depois dessa breve pausa, pergunta: — Se eu começar com calma e for mais intenso aos pouquinhos, tudo bem?

Ui, meu deus.

— Tudo bem, Jungkookie... pode beijar do seu jeito. Aliás...

Ele espera, com esses olhos grandes atentos a mim e a mão sorrateiramente puxando um fio solto inexistente em minha bermuda, só para se apoiar na altura de meu joelho depois.

— Aliás...? — Ele insiste, curioso, mas sei que ansioso também.

Ele me quer. Ele me quer muito, seu corpo inteiro diz isso. Então acho que posso finalmente confessar o meu segredinho.

— Eu sempre imaginei como seria seu beijo, Jungkookie. Muito antes de tudo isso acontecer... eu já imaginava.

Ele parece genuinamente surpreso com minha revelação, até um "sério?" desacreditado vem, tão baixo que quase não ouço.

— Você foi a primeira pessoa que eu quis beijar. — Mais uma confissão. — E, até hoje, eu nunca quis beijar alguém mais do que quis e quero beijar você, Jungkook.

Ele parece conter um sorriso, mas os olhinhos brilham intensamente para mim.

— Você pode finalmente me beijar, hyung.

Como é que pode, né?

Já foi esfregado na minha cara que Jungkook quer me beijar e ainda assim, a cada vez que ele reafirma, eu me derreto inteiro.

E por mais que eu queira isso, não sei exatamente como começar. Meu corpo fica travado no mesmo lugar, tomado pelo nervosismo. E eu sei que Jungkook também está nervoso, apesar de ser ele quem mais parece direto sobre tudo isso.

Ele está nervoso e eu sei disso não só porque tive quase dez anos para conhecê-lo profundamente.

Eu sei porque a mão dele vem lenta e hesitante até meu rosto. Toca minha bochecha. E eu sinto seu nervosismo na forma física, porque ele está tremendo, com a mãozinha suada.

—  É assim? —  Ele pergunta, deslizando os dedos até entrelaçá-los aos meus cabelos, como eu disse que gosto.

Uma confirmação nervosa vem, fragilizada pela forma como meu estômago dispara numa sensação gostosa de friozinho de ansiedade.

Ainda sentado ao meu lado, com os dedos em meus cabelos, Jungkook vira um pouquinho o corpo para ficar de frente para mim, com a outra mão apoiada atrás de nossos quadris para manter o equilíbrio.

Mas ele não me puxa. Ele vem até mim.

Eu continuo abraçando minhas pernas, aprisionado em meu próprio desespero quando vejo acontecendo. Jungkook se aproximando. A boca linda que eu sempre quis beijar vindo na direção da minha.

Eu finalmente vou saber como é a sensação do contraste entre o lábio inferior cheinho e o superior mais fino, se unindo aos meus tão gordinhos.

E tocar Jungkookie, sentir os cabelos macios, seus suspiros contra os meus... vai tudo acontecer agora.

A sensação desnorteadora não alivia, mas a vontade de dar esse passo é ainda maior, então eu deixo que meu coração bata adoidado enquanto fecho meus olhos e espero, espero e espero até que o primeiro toque é dado.

Começa com um beijo na bochecha, como tantas vezes ele costumava me dar. Mas esse é diferente. Me arrepia todinho.

Depois, mais um beijo do outro lado do rosto. Um na pontinha do nariz, que nos faz rir juntos.

Um selinho.

Eu finalmente paro de apertar minhas pernas para aproximar uma mão dele, tocando-o na barriga antes de amassar sua blusa em meus dedos. Então sou eu quem dou o próximo passo.

Eu realizo o maior desejo de minha vida e prendo primeiro o lábio inferior de Jungkookie entre os meus.

É melhor do que eu sempre imaginei.

Ele retribui meu gesto e me beija de volta, sentindo somente nossos lábios tentando novos encaixes diferentes, sem pressa, mas sempre provocando reações inacreditáveis em mim.

Jungkook beija calmo, como eu disse que gosto, e descubro agora que gosto ainda mais da calmaria dele.

Eu ainda nem senti sua língua, mas já me sinto ansioso por ela quando, no momento certo, sinto a textura úmida e quentinha massageando minha boca, sutilmente ganhando espaço adentro.

Eu já me rendi todo a Jungkookie, tocando-o cuidadosamente com as duas mãos, aproveitando para tocar os braços expostos enquanto sinto seu beijo tão gostoso.

Isso é o paraíso. O beijo do meu melhor amigo é o melhor beijo do mundo.

E eu acho que ele também gosta do meu beijo, porque não faz o menor esforço para interrompê-lo. Só me beija mais e mais, cheio de carinho, por um tempo que pode se igualar a uma eternidade, mas ainda vai parecer pouco demais.

Ainda assim, o primeiro beijo chega ao fim. Vai reduzindo de velocidade, com as línguas deixando de se encontrar, os lábios se encaixando com um pouquinho mais de lentidão até que se desgrudam quando ele se afasta um pouco, quase nada, até nossos narizes tocarem um no outro.

Foi aqui, no quarto dele. Dentro de uma barraca montada só para nós dois. Num sábado nublado... que eu beijei meu melhor amigo pela primeira vez.

E eu não me arrependo de absolutamente nada.

Ainda com seu nariz tocando o meu e sentindo seus dedos acariciando minha cabeça, eu sinto meu sorriso ganhar força a cada segundo, porque eu me sinto assim. Feliz.

— Não foi nada como eu imaginei, Jungkookie...

— Não? — Ele devolve, acho que um pouco assustado. Eu balanço a cabeça para o lado, arrastando meu narizinho sobre o seu.

—  Foi mil, um milhão de vezes melhor!

Ele finalmente ri, todo nervoso e envergonhado, e se afasta um tanto de mim. Acho que o objetivo é poder me olhar nos olhos, mas ele não consegue direito. Fica desviando o tempo todo, cheio de embaraço.

Coisa mais fofa.

— Nós vamos nos beijar de novo, não é? — Então sou eu que pergunto, ansioso por uma única resposta.

O olhar de Jungkook finalmente encontra o meu. Mas, antes que me dê a resposta, alguém bate na porta de seu quarto.

— Venham jantar, meninos. —  Sua mãe chama, sem entrar. — Nós pedimos pizza!

— Pizza? —  Repito, quase em estado de choque. — Seus pais só pediam pizza em datas especiais! Não acredito que até isso mudou!

— Não mudou. — Jungkookie responde. — Você está aqui, então hoje é um dia muito especial.

Eu não acredito.

Eu não aguento.

Ele vai me matar com toda essa fofura.

Para piorar e aumentar minha fraqueza, me dá um beijinho na bochecha.

— Vamos comer, hyung — Ele chama, assumindo a frente para sair da barraca. — Daqui a pouco a gente volta.

Sem qualquer objeção, eu vou atrás dele.

Beijar Jungkook e comer pizza num mesmo dia? Isso é tudo que eu pedi a deus!

E lá vamos nós. Lavamos as mãos, depois vamos direto para a cozinha, onde confirmamos:

— Fazia tempo que você não vinha aqui, Jimin — É a mãe de Jungkook quem diz, enquanto o pai reforça o corte das fatias. — Então achamos que era uma boa ocasião para pedir pizza.

— Obrigado, tia. E desculpa por ter sumido por tanto tempo...

— Imagina. Jungkook pode ser bem chato. Entendo que tenha precisado de um tempo longe desse dramalhão ambulante que ele é —  Aí, é seu pai quem diz.

— Credo, pai!

Eu rio, negando suavemente, mas é para Jungkookie que olho quando garanto:

— Estar perto dele é tudo que eu mais quero.

Ele abaixa a cabeça, mas não a tempo de me impedir de ver seu sorriso todo bobo. Quando volta a levantar o rosto, é para perguntar:

— Vocês vão ficar chateados se a gente for comer no quarto?

— Vocês sempre fizeram isso — Tia Eun relembra. — Claro que não vamos ficar chateados agora. Só não sujem nada!

— Sim, senhora! — Jungkookie responde com a disciplina de um soldado, mas logo se adianta para pegar um prato, onde enfia quatro fatias de uma vez. Depois, pega duas latinhas de chá gelado e, com minha ajuda, traz tudo de volta para o quarto.

Nós já estamos escondidos na barraca, devorando a pizza quentinha com os dedos completamente engordurados, quando ele pergunta:

— Você já assistiu Brooklyn Nine Nine, hyung?

— Eu adoro Brooklyn Nine Nine! — Anuncio, empolgado porque não sabia que Jungkookie tinha começado a assistir também. — Você tá em qual temporada?

— Na terceira. É muito bom!

— Eu sei! — Concordo, todo feliz, antes de sugerir: — Quer assistir enquanto a gente come?

Jungkook devolve sua fatia carcomida para o prato, aí lambe os dedos e anuncia:

— Vou lavar as mãos e pegar o notebook!

Eu rio, sentindo minha boca toda engordurada quando tomo um gole do chá gelado direto da latinha.

Isso é tão gostoso. Não só o jantar. Tipo... tudo isso. Estar aqui, com Jungkookie. É muito bom.

— Pronto! — Ele diz, todo animado, ao trazer o notebook para dentro da nossa barraca. Quando seu dedo pressiona a barra de espaço para dar início ao episódio, eu me vejo sorrindo ainda mais.

Porque nós podemos ter perdido várias coisas em comum. Mas, de pouquinho em pouquinho, estamos descobrindo algumas novas.

E assim é o início da nossa noite. Comendo pizza, deitados de bruços enquanto assistimos uma série que gostamos tanto, rindo juntos e fazendo pausas para conversas bobas.

— Hyung? — Ele me chama, um tempão depois, enquanto devora a segunda barra de chocolate na sequência.

— Oi?

— Você quer dormir aqui? — E pergunta, na expectativa.

Eu sei que esse não é um convite para acontecer nada a mais entre nós dois. Ele não está pensando em levar os beijos para algo além, ao fazer esse convite. É o mesmo pedido, com o mesmo tom encantado por minha companhia, que ele me fez na primeira vez que eu dormi aqui na sua casa.

E é claro que eu quero, seja para uma noite entre amigos ou algo a mais.

— Vou lá em casa escovar os dentes e colocar meu pijama. — Aviso, me atrapalhando todo ao engatinhar para fora da barraca. Para trás, deixo sua risada gostosa. — Já volto!

Sem cerimônias, eu saio de seu apartamento e atravesso o corredor até o meu, tentando não fazer muito barulho porque já está tarde e todo mundo, dormindo.

Menos Siwoo, que deve ter ido passar a noite na casa da namorada da vez. Ele é bem namorador.

Hyeon, por outro lado, ainda é novo, recém-chegado aos quinze anos. Talvez já tenha até dado seu primeiro beijo, mas ainda não nos apresentou nenhum potencial romance e está deitado na minha cama quando entro em nosso quarto.

Ele sempre faz isso, quando não estou aqui. Diz que meu colchão é melhor.

— Folgado. —  Não perco a chance de dizer, seguindo direto até o guarda-roupa. Com o pijama em mãos, sigo até ele e vejo o rosto adormecido todo amassado contra o travesseiro. Com um sorriso, eu me abaixo para deixar um beijo em sua cabeça, e digo: — Valeu pela ajuda hoje, insuportável.

Meio sonolento, ele vai abrindo os olhinhos e pisca todo atrapalhado, antes de perguntar:

— Deu tudo certo com Jungkook hyung?

— Sim. Graças à sua ajuda.

— Ok. — Ele diz, virando as costas para mim e puxando a coberta para se proteger melhor do friozinho da noite. — Você tá me devendo uma pizza.

Eu reviro os olhos com a cara de pau e bagunço seus cabelos antes de sair do quarto.

Antes de voltar para a casa de Jungkook, eu tomo um banho rapidinho, escovo os dentes e visto meu pijama. Aí, vou assim mesmo até o apartamento da frente.

De volta ao quarto de Jungkookie, eu o encontro deitado na barraca, com a barriga para cima, as pernas estiradas e o olhar fixamente pousado no teto, com mais uma embalagem de chocolate aberta ao lado.

— Colapsou de tanto doce? — Questiono, rindo ao me deitar ao lado dele.

— Mais ou menos. Estou pensando que não deveria ter comido tanto de uma vez — E esfrega a mão pela bochecha. — Minhas espinhas vão brotar com a força do ódio.

Eu gargalho, tirando sua mão para deixar um beijo muito do demorado nessa bochecha gostosa.

— Suas espinhas são muito sortudas por poderem passar um tempinho tão perto desse rosto lindo.

Ele me olha desajeitado antes de rir, e eu me viro de bruços, com o queixo apoiado sobre meus braços cruzados quando pergunto:

— Quer fazer o que agora, Jungkookie?

— Hm... que tal assistir um filme de terror bem ruim, pelos velhos tempos?

— Achei que você não gostava mais...

— Eu menti. — Confessa, com a expressão meio culpada. — Desculpa, hyung.

Eu suspiro. Tudo bem, isso pode ficar para trás.

— Eu te perdoo, mas só se você encontrar o pior filme de terror de todos os tempos pra gente assistir agora.

Jungkookie ri e, sem demora, dá início à sua missão de achar um filme bem ruinzão pra gente assistir. E ele encontra com sucesso, porque honestamente o filme que ele escolheu me fez questionar seriamente várias de minhas escolhas de vida.

Mas nem só de assistir filme ruim a gente se satisfaz. Entre momentos de tensão com o terror mediano e risadas pelas cenas malfeitas, nós nos beijamos muito. Muito mesmo, a noite todinha.

O domingo também passamos juntos, nesse mesmo pique. Sendo amigos, redescobrindo coisas em comum, compartilhando risadas e conversas bobas e outras também profundas.

Mas também trocando os melhores beijos que o zodíaco jamais poderia prever.

Foi um fim de semana tão bom que a segunda-feira feira chegou e eu nem reclamei.

Mas só porque pude ver Jungkook de novo bem cedinho e caminhar para a escola com ele. Claro que só depois de nos escondermos na escada do prédio para trocarmos um beijo de bom dia antes de apostarmos uma corrida muito desajeitada e muito barulhenta pelos degraus.

— Ei. — É no meio de uma aula que Yoongi me chama num sussurro.

Eu pisco desajeitadamente, só então percebendo que fiquei o maior tempão olhando para Jungkook, lá do outro lado da sala, com o queixo apoiado na mão, a carinha apaixonada e tudo, admirando o rostinho com duas novas espinhas que apareceram em consequência do tanto de chocolate que ele comeu de uma só vez.

— Oi, meu querido amigo Min Yoongi — Depois de um suspiro lotado de felicidade, meus olhos recaem preguiçosamente no cara de cabelo verde-menta. — O dia tá lindo, né?

— Bro, você é capaz de olhar pra alguma coisa além de Jungkook? — Ele devolve, falando baixinho para a professora não nos escutar. — Tá caindo a maior chuva lá fora, parece que mais dois segundos e o mundo se acaba.

Eu nego, suspirando mais uma vez, e nem dá para segurar o sorriso.

— Não importa. Dias de chuva também são bonitos. Tudo é bonito depois de viver o fim de semana que eu vivi com Jungkookie... Imagina rir com ele, conversar com ele, beijar a boca dele... o dia todo... — Outro suspiro. Mais um. E lá vem outro, cada um mais intenso que o anterior.

— É, tô sabendo — Ele resmunga, finalmente usando toda a sua discrição para mostrar a tela do celular para mim. De novo, o contador do cronômetro. — Mas você continua olhando para ele feito um doido. Mais três minutos, dez segundos e dezenove milissegundos pra conta.

Eu nem me importo.

Tudo que faço é girar meu queixo sobre a palma da mão para olhar para Jungkook mais uma vez, e meu coração bate bem forte quando vejo que ele estava me olhando também.

No silêncio das olhadelas encantadas no meio da aula de matemática, nós sorrimos um para o outro.

Jungkookie está sorrindo durante uma aula de matemática. Que louco.

Eu nem vejo o momento em que Yoongi desiste e vira para a frente mais uma vez. Certamente, revira os olhos antes de fazê-lo, mas eu que não vou perder meu sorriso por isso.

Hoje nadinha vai me deixar para baixo. E meu astral só vai ainda mais no alto quando, depois do sinal que indica o início do horário de almoço, Jungkook levantou e veio todo tímido e sorridente até minha mesa.

— Quer almoçar comigo, hyung?

É claro que eu quero. Por que ele está perguntando?

— Hyung? — Oh, sim, eu esqueci de responder.

— Vamos. — É o que digo, já ficando de pé. Quando viro para Yoongi para anunciar que vou na frente, ele só gesticula com a maior preguiça no que interpreto como um "vai logo".

Feliz como nunca, eu sigo ao lado de Jungkookie em direção ao refeitório.

Gostaria de segurar sua mão, mas acho que ainda é cedo.

— Podemos nos juntar a vocês, né? — Quando já estamos sentados, é Taehyung quem pergunta, parado de pé diante da nossa mesa em companhia de Hoseok, Seokjin e Yoongi.

Eu olho um tanto desconfortável para Jungkook, porque sei que ele não gosta de estar cercado por muitas pessoas de uma vez, mas tudo que ele faz é me mostrar um sorriso miúdo e balançar a cabeça numa permissão silenciosa.

— A gente conversou no dia do seu treino, hyung. — Ele explica, todo fofo. — Eles são legais.

— Somos os melhores! — É Seokjin quem corrige, já ocupando um lugar à nossa frente enquanto os outros vão sentando ao redor.

— Também posso sentar aqui, não posso? — De repente, Namjoon aparece. Diferente dos meus amigos, ele vai direto sentando ao lado de Jungkookie, que sorri para ele.

— Que improvável. — Hoseok pondera, percebendo o grupo de sete reunido para almoçar junto.

— Improvável é essa comida estar boa — Yoongi resmunga, contorcendo os lábios enquanto cutuca um creme meio duro que foi servido com o arroz. — Isso é comestível?

— É feio fazer careta pra comida — Jungkookie diz para meu amigo, meio retraído.

— Ele faz careta pra tudo — Hoseok explana, logo exibindo um sorriso meio provocador. — Não é, Yoon?

Com um revirar de olhos, Yoongi nem direciona a atenção a Hoseok antes de mostrar o dedo do meio ao nosso amigo.

— Jungkook, por favor — Taehyung pede, no meio do fogo cruzado. Ninguém mandou sentar entre os dois encrenqueiros. — Nos fale mais sobre você antes que esses dois saiam na porrada.

— Porrada de língua, né? — Seokjin corrige. — Eu sei que vocês querem se beijar!

— Sai, maluco! — Hoseok é o primeiro a negar, meio histérico. Yoongi só revira os olhos mais uma vez, socando um monte de comida na boca.

— Vocês pareciam mais pacíficos de longe. — Namjoon aponta, parecendo surpreso pela tensão acumulada entre meus amigos.

— E só piora — Seokjin garante. — Nem queiram ver.

— Ou queiram. É divertido. — Taehyung considera, olhando para Namjoon e para Jungkook. — Vocês deveriam andar mais com a gente.

— É verdade. Agora que Jungkook é namoradinho de Jimin, nós deveríamos juntar os dois mundos. — Para se livrar do constrangimento direcionado inicialmente a ele, Hoseok diz.

E funciona. Logo eu e Jungkookie estamos vermelhos e envergonhados.

— Vocês estão livres na sexta à tarde? — Aí, Seokjin pergunta. — Nós sempre nos reunimos para assistir filme e comer peidinhos. Vocês deveriam vir!

E assim começa.

Primeiro, nós tentamos explicar o que é peidinho para os leigos.

Depois, ainda sem resposta definitiva de Jungkook e Namjoon, eles passam a considerar a presença dos dois garantidas e bombardeiam os coitados com perguntas sobre filmes, séries e jogos para planejar nosso próximo ritual de sexta.

Meu medo era o de todo esse caos deixar Jungkookie desconfortável. Mas, apesar da timidez inicial, ele sorri bastante com meus amigos, o que me faz sorrir também.

— Eu tô feliz que vocês estão se dando bem — E digo só para ele, um tanto de tempo depois. Jungkook sorri para mim enquanto os outros cinco discutem ferozmente sobre qual a melhor rede de fast food e eu não me aguento, por isso dou logo um beijinho na bochecha dele, bem ao lado da espinha vermelhinha.

Ele não reprova meu gesto impensado, mas é claro que fica envergonhado.

— Finalmente! — E seu constrangimento não alivia quando Kim Mingyu se aproxima repentinamente para se juntar a nós na mesa cheia de bandejas vazias.

— Finalmente o que? — É Namjoon quem pergunta, confuso.

O grandalhão senta direto sobre a mesa, apontando para mim e para Jungkook. Meu deus. Vai quebrar.

— Eles dois! — E diz, puxando o celular para apontar a câmera para nós. — Deixa eu tirar uma foto de vocês pra mostrar pra minha vózinha? Eu contei toda a confusão pra ela!

Eu percebo que Jungkook fica confuso, em meio aos meus amigos que se divertem com a cena.

— Que confusão? — E ele pergunta, sem entender.

— Você sabe — Mingyu sorri todo alegre, deixando o celular de lado. — Jimin usando bilhetes pra tentar ser seu amigo de novo, mas você entendendo tudo errado e achando que eram bilhetes românticos enquanto ele jurava de pé junto que não eram.

Meus amigos continuam rindo. Eles realmente se divertem com o sufoco que eu passei. Até eu me pego rindo ao lembrar de tudo, mas Jungkook e Namjoon não parecem se divertir tanto.

— Como assim, hyung? — Jungkookie pergunta e é só ao ouvir seu tom que percebo que algo está errado. Ao entregar minha atenção ao rosto lindo, encontro-o todo preocupado e ressentido. — Os bilhetes... nunca foram românticos?

A situação ainda teria graça, se não fosse a óbvia confusão de Jungkook.

Droga.

Eu esqueci de explicar esse detalhe para ele.

Mas que merda, Kim Mingyu! Parece que existe para atrapalhar minha vida!

— É que, no começo, não era o propósito — Eu explico, sabendo que essa é a pior situação para esclarecer as coisas. — Eu queria me reaproximar de você e ser seu amigo de novo, mas...

O sinal toca, indicando o fim do horário de almoço. Aparentemente, também indica o fim do meu tempo para me explicar.

Com os olhos ainda cheios de confusão, vergonha e ressentimento, Jungkook balança a cabeça para os lados numa negativa que me faz perder o impulso de continuar falando.

— Que vergonha. — Ele diz, com um sorriso que não tem sinceridade nenhuma.

— Jungkookie, no fundo você não estava errado. — Eu tento dizer, mas ele está queimando de vergonha e me impede mais uma vez ao ficar de pé.

— É melhor a gente ir pra sala. — E diz, segurando sua bandeja. Ao passar as pernas para o outro lado do banco, não me olha, mas diz: — Não quero me atrasar.

— Jungkook... — Eu chamo, percebendo o que está acontecendo.

Enquanto todos os meus amigos ficam em silêncio, completamente sem ação, Namjoon me diz:

— Se eu fosse você, iria agora explicar. E é melhor ter uma boa explicação.

Com o coração batendo forte, dessa vez não por um bom motivo, eu nem me preocupo em pegar minha bandeja vazia antes de levantar correndo para alcançar Jungkook na saída do refeitório, segurando-o para puxá-lo para fora do mar de alunos que se dirigem às suas salas.

— Jungkook, não precisa ficar com vergonha — Eu disparo, diante de sua expressão mortificada.

— Todo mundo sabia. — Ele diz. — Menos eu? Todo mundo estava rindo às custas disso e você nem pensou em me dizer a verdade?

— Eles me ajudaram a resolver o que estava acontecendo. — Eu tento explicar, desesperado. Jungkookie nunca me olhou assim, tão magoado. — Por isso eles sabem, mas ninguém riu de você, Jungkook. Nunca. Eu não deixaria, você sabe disso!

Ele nega mais uma vez, o que só aumenta minha aflição.

— Eu achei que sabia que os bilhetes eram românticos. Quando descobri que eles eram seus, pensei saber que você queria ficar comigo... mas foi tudo uma confusão que você estava tentando resolver?

— Não é assim. Meus bilhetes pareciam românticos porque eu já tinha esses sentimentos por você, mas não queria aceitar. A confusão foi essa, Jungkook! Foi tentar me entender e descobrir um jeito de não deixar tudo isso afetar nossa amizade. Eu disse que ela é o mais importante para nós dois e eu não menti.

— É. — Ele sorri com tristeza. — Tão importante que agora parece que você só aceitou me beijar porque não queria me magoar e estragar nossa amizade depois de me dizer um não.

— Para com isso. — Eu peço, com o desespero crescente. — Você viveu os dois últimos dias comigo. Você sabe que eu não poderia fingir aquilo. Eu te amo como meu amigo, mas eu também estou gostando de você. Eu já disse.

Jungkook parece confuso, ainda envergonhado e inegavelmente magoado. Mais um gesto negativo vem, diante de todos esses sentimentos.

— Só me dá um tempo pra digerir isso, Jimin. — Ele pede, já começando a recuar. — Eu vou voltar pra sala.

Conhecer bem Jungkook só me dá a certeza de que não adianta insistir agora. Ele só vai aceitar conversar comigo quando entender tudo que está passando na própria cabeça.

Por isso, tudo que me resta é ficar aqui parado, com medo de ter estragado tudo em tempo recorde.

Porque eu sabia que misturar amizade com romance poderia dar errado. Só não sabia que daria errado tão rápido.

☆☽☀☾☆

O que é um clichê sem um bom e velho drama bobo provocado por algo que poderia facilmente ser evitado?

Mas também tivemos o tão esperado beijo! O que vocês acharam?

O objetivo era uma coisinha mais inocente, mas cheia de expectativa e sentimento. Enquanto em cem chances os jikook só falta SUGAR a alma um do outro, o beijo de libra, até por ser um fluffy, pedia algo mais delicado, meio medroso e inexperiente. Mas espero que tenha sido bom de ler!

Como vocês sabem, o próximo capítulo é o último ): prontos pra despedida?

Aliás! Nós vamos encerrar obdl com mais de 100k! 100k GENTE! Ela foi postada há duas semanas e já chegou a isso tudo??? Eu to muito surpresa e muito grata (feliz também!)

Espero mesmo que tenham gostado do capítulo, apesar da pequena confusão no fim. Acho que tá na cara que vai ser algo bem passageiro, né?

Mais um mimo inútil, mas fofo:

Com dor no coração, pela última vez: até o próximo capítulo nessa terça feira (ou até a #LibrianoFavorito) <3

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