Os astros dizem, 8: prometa!

Previsão do dia para o signo de virgem:
O dia de hoje trará situações conflitantes para o virginiano. Para sobreviver ao drama, entenda e se comprometa com suas prioridades.

♍️

Jimin não fala comigo há dois dias.

Eu sei que eu mesmo disse que ele poderia levar o tempo que precisasse para dar uma resposta ao meu bilhete e eu falei sério, muito sério, mas isso não ameniza a sensação de angústia aumentada a cada segundo de espera.

Essa situação, em especial, tem uma sequência desesperadora de agravantes.

Por exemplo, eu jurava, mas eu jurava mesmo, que o libriano secreto estava apaixonado por mim. Ao descobrir que o libriano secreto é Jimin, por consequência, eu tive a certeza mais que absoluta de que ele nutria essa mesma paixão.

Foi estranho, nos primeiros momentos de reflexão. Jimin gostando de mim? Desse jeito?

Parecia impossível.

Mas então todos os sinais, todas as mensagens românticas dos bilhetes voltaram à tona e eu percebi, ou talvez tenha acreditado, que o atacante do ano podia, sim, ter esse tipo de sentimento pelo menino que viaja olhando para o nada.

E eu, do outro lado da história, já tinha passado a me deparar com estranhos e desesperadores momentos nos quais desejava dar beijinhos em Jimin.

Pela primeira vez, em quase uma década desde que o conheci, eu tive esses desejos, assim como senti palpitações esquisitas, como aquelas que se sente quando lemos um romance muito gostoso, cheio de reviravoltas e friozinho na barriga.

Assim, depois de uma madrugada inteira de análise, eu concluí: meu ex-melhor amigo gosta de mim.

Eu também estou gostando muito dele.

O problema é que eu acho que estava errado.

Na manhã seguinte à tarde em que eu roubei um selinho de Jimin, ele teve a única reação que eu não esperava. Ele fugiu.

Se estava apaixonado, por que fugiria?

Eu comecei a me questionar, perdido em pensamentos e decisões mais uma vez. A conversa depois do seu treino, por outro lado, me deu mais um pouco de certeza novamente. Foi por isso que eu entreguei o bilhete confessando que queria beijá-lo.

Deus? Dessa vez eu não quero ser levado. Eu quero voltar no tempo e desfazer essa besteira. Pode ser?

E que besteira! Que grande besteira eu fiz.

Sem trocar nada além de cumprimentos necessários à manutenção de uma relação minimamente educada, eu percebi Jimin me evitando durante os dois dias que faltavam para fechar a semana mais louca que já vivi na escola.

Eu não tentei forçar nenhuma aproximação. Não faria isso. Eu já deixei claro o que quero, então a decisão é dele e não quero pressioná-lo.

Agora, aliás, eu não tenho qualquer segurança ou expectativa de receber uma resposta positiva, o que honestamente não entendo.

Se ele não tinha certeza do que quer, por que se declarou através daqueles bilhetes?

Talvez... eu tenha interpretado tudo errado e nunca foram declarações românticas?

Eu não sei, sequer posso perguntar, não enquanto ele não se decide.

E não é a possibilidade desesperadora de rejeição o que mais me dói. O que machuca e assusta é esse distanciamento. O medo de que, ao entregar aquele bilhete e jogar essa decisão nos ombros de Jimin, eu posso não só ganhar um não como resposta ao meu desejo de beijá-lo.

Eu posso também ter colocado em risco nossa amizade.

Eu posso perder de vez o melhor amigo que já tive.

Que baita sacanagem do destino me fazer querer beijar a pessoa que eu mais queria não desejar beijar.

Com a mente cheia demais, estudar é uma tarefa difícil. E é uma sexta à tarde, eu estou com o coração partido (em antecipação) e o arrependimento atingindo níveis nunca antes atingidos.

Por isso, eu larguei os livros, peguei meu caderno de rascunhos e comecei a desenhar, sem planejamento, sem um resultado final em mente. Eu apenas deixei o grafite me levar à descoberta de um novo desenho.

E eu estou desenhando o meu libriano favorito.

O apartamento está em silêncio. Meus pais estão trabalhando. E, enquanto eu me dedico especialmente ao narizinho de botão do meu Jimin de grafite, a descarga engasgada de um dos banheiros quebra toda essa monotonia de sons.

Em seguida, a porta se abre e Namjoon volta para meu quarto com um jogo portátil em mãos, até meio suado depois de passar uns vinte minutos no vaso.

— Eu acho que entupiu — E na maior tranquilidade, ele avisa.

— Vai desentupir! — Eu digo, vendo-o sentar no chão, com as costas apoiadas em minha cama.

— Eu sou visita. Desentope você.

— Tô arrependido de ter te chamado pra dormir aqui hoje. — Resmungo, girando a cadeira mais uma vez para voltar minha atenção ao desenho. Com o grafite deixado de lado, eu uso a pontinha do meu dedo para esfumar o sombreamento do nariz, que propositalmente desenhei se expandindo para as laterais do rosto, exatamente como ele fica quando Jimin sorri.

É um desenho dele sorrindo, porque é assim que gosto de vê-lo.

Durante os últimos dias, por minha causa, ele não sorriu muito.

Desde que entreguei aquele bilhete desgraçado, Jimin parece tenso e preocupado, e ele não é assim.

Jimin é luz. É energia, carinho, conversa boa e sorrisos fáceis. Ele é o tipo de pessoa que todo mundo quer ser. Senão, a pessoa que todo mundo quer ter ao lado.

Mas já faz dois dias que ele está todo pra baixo, pensando demais no que fazer, ou talvez já ciente da própria decisão, mas com medo de anunciá-la.

Eu quebrei Jimin hyung.

Deus, esquece o que eu disse. Pode me levar.

— Você só me chamou pra dormir aqui porque não queria ficar choramingando sozinho pelo atacante-do-ano — Namjoon finalmente responde, só depois de praguejar contra o jogo portátil.

— E você é meu amigo. Você tem a obrigação de me apoiar nesse momento difícil! Eu estou sofrendo, Namjoon. Sofrendo!

— Pois eu vim, não vim? Só dei uma entupidinha no vaso, ué. A culpa não é minha se seu encanamento é ruim.

— Você passou mais de vinte minutos lá! A culpa não é do meu encanamento!

— Então é do almoço que serviram na escola. Aquela torta de legumes bem que estava com um gosto estranho.

— Tinha gosto de comida saudável! — Devolvo, novamente girando a cadeira para olhá-lo. — Coisa que você deveria comer mais! Tem gente que tem problema sério por causa de cocô errado, viu? Não se cuide, não, pra você ver.

Meu amigo revira os olhos, já deixando o jogo de lado para voltar ao seu celular. Eu ainda continuo olhando para ele, à espera do momento em que ele vai ter o mínimo de noção e levantar para ir desfazer o estrago que deixou em meu banheiro.

Com os olhos grudados na tela do telefone, o que ele diz, é:

— A gente pode fingir que não percebeu que entupiu e deixar lá até seu pai desentupir.

— Namjoon! — Repreendo. Eu não gosto de jogar tudo para cima dos meus pais, caramba.

Num primeiro momento, continuamente vidrado no próprio celular, ele apenas faz uma careta de tédio. De um instante para o outro, no entanto, sua expressão vai metamorfoseando até assumir uma característica preocupada que se firma em seus olhos quando ele bloqueia a tela do celular e começa a ficar de pé.

— Vou lá desentupir. — Ele anuncia, assim, do nada.

— Volta aqui. — Chamo na mesma hora, desconfiado.

— Ah, Jungkook, pelo amor de deus! Você tá me enchendo o saco pra dar jeito na merda e agora que eu vou fazer isso, não me deixa ir? Se decide! Parece até libriano!

— Primeiro, me respeita — Eu digo, gesticulando para que ele volte. — Segundo, eu te conheço, hyung.

Não precisa de muito para vencer a resistência dele, nesse caso. Ainda a contragosto, ele vai pisando fundo até o celular, pegando-o mais uma vez e desbloqueando a tela antes de passá-lo para mim.

Ansioso para descobrir o que o convenceu até mesmo a fingir que tentaria desentupir o vaso, eu logo me deparo com com uma foto no instagram, postada pela conta de Jimin uma hora atrás.

Na foto, ele e seus quatro amigos mais próximos posam para a câmera, fazendo "v" com os dedos e sorrindo alegremente. Na legenda, ele escreveu: Mais um ritual de sexta. Produtivo demais! Show!, junto a três emojis cafonas e uma porralhada de hashtags.

— Ele parece estar se sentindo melhor — Eu digo, devolvendo o celular para Namjoon.

E é claro que eu não estou feliz. Mas não é que eu esteja triste por ver Jimin sorrindo. É só que... quando foi que eu perdi completamente a capacidade de ser uma das pessoas que o fazem sorrir assim?

No fundo, estou um pouco enciumado e magoado pela rejeição iminente.

— Eu vou desentupir o vaso, viu? — Namjoon garante, diante da minha óbvia aura cabisbaixa. — De verdade. Não vou só ficar fingindo desentupir, não.

— Obrigado, hyung.

Ele sai do quarto. Sozinho, eu volto a ver meu desenho. Está quase completo, mas agora estou chateado demais para finalizar. Por isso, abandono o caderno sobre a mesinha e me levanto para seguir até a cama, onde pretendo deitar e me afundar em questionamentos e arrependimentos até ir sofrer em outro lugar.

Mal sento no meu antro de sofrimento e sou obrigado a levantar novamente, no entanto, quando a campainha de casa toca repentinamente.

Sem muito entusiasmo, eu vou arrastando os pés até a porta. Ao abri-la, para minha surpresa, não encontro ninguém.

— Aqueles control c, control v insuportáveis... — Resmungo, cheio de certeza de que são os gêmeos do primeiro andar, que adoram tocar campainha e sair correndo.

Aí eu fecho a porta, prestes a retomar meu plano de voltar para a cama, deitar e morrer ali mesmo, de desgosto, tristeza e dor.

Antes disso, eu vejo. Alguém deslizou um papelzinho por baixo da porta, e eu me agacho de imediato ao reconhecer o que está escrito na parte de fora.

"Para Jeon Jungkook, o virginiano".

Ao lado, uma carinha sorridente.

O coração bate forte, até me deixando meio preocupado de tão descompassado, mas porque eu já sei de quem é o bilhete. Eu só não sei o que está escrito dentro dele.

"Querido virginiano,
esteja pronto amanhã, às 16h, e eu te direi minha resposta.

Ass.: seu libriano secreto favorito"

— Ele não faria isso se fosse pra te rejeitar — Namjoon repete talvez pela terceira vez enquanto, importunando-o no banheiro, eu me lamento sobre as possíveis respostas que receberei amanhã às dezesseis horas. — Deixa de ser tonto!

— Você não conhece Jimin hyung. — Eu devolvo, sentado de frente para a porta do lavabo enquanto Namjoon afasta o desentupidor para dar descarga mais uma vez. — Ele provavelmente está morrendo de medo de me magoar e está fazendo a maior cerimônia pra tentar amenizar a dor da rejeição.

— Deixa de paranoia, Jungkook. Tá pronto, aliás. Desentupi.

— Ok. — Eu murmuro, olhando para o vaso sanitário por segundos de silêncio, até que tenho uma epifania: — Já sei!

— Certeza que eu nem quero ouvir sua ideia, de tão ruim e sem noção que deve ser... — Ele pondera, agora de frente para a pia enquanto lava as mãos.

— Eu vou fingir uma dor de barriga.

— Sabia que não queria ouvir.

— Namjoon, é sério. Ele vai me rejeitar. Não que eu vá ser o primeiro, porque você já viu o histórico de pessoas rejeitadas por Jimin lá na escola?

É de dar dó.

Não que ele seja puritano, isso eu garanto que não é. Na nossa fase de início de descobertas sexuais, eu peguei, hm... o histórico de buscas no navegador de Jimin hyung.

Mas ele certamente ou se envolve com pouquíssimas pessoas, ou é muito discreto sobre todos os caras com quem já saiu, porque até hoje eu só sei de três.

Namjoon hyung, por outro lado, não está muito preocupado sobre minhas ponderações fora de hora.

— Eu já perdi a paciência com você, Jungkook.

— Amizade tóxica! — Praguejo, inconformado, quando ele me empurra para poder sair do banheiro e eu levanto num pulo para correr atrás dele de volta para meu quarto.

Aqui, ele para diante do meu armário, e eu não entendo a folga quando ele começa a revirar minhas roupas.

— O que você está fazendo?!

— Escolhendo sua roupa pra você estar bem bonito amanhã na hora de beijar Jimin. — Ele responde, assim, na maior naturalidade. — Quer dizer, bonito você sempre é, mas você entendeu.

Eu sei que não adianta discutir, então, como o bom desistente que sou, sento na ponta da cama e tudo que digo, é:

— Pega minha blusa da Sailor Moon.

"Nem a pau" foi a resposta de Namjoon, que me escolheu uma blusa regata para usar. Regata!

Ele sabe que eu odeio regatas!

Às vezes eu acho que ele me odeia e finge ser meu amigo só para poder ficar por perto e assim me torturar.

Mas supõe-se que, e essas são palavras dele, eu tenho braços bonitos.

Bem, minhas pernas também são bonitas e nem por isso ele me fez usar shorts!

Na verdade... ele tentou. Mas eu consegui vetar, com muito esforço e drama.

Então aqui estou eu, quase vinte e quatro horas depois, vestindo uma calça meio frouxa, uma regata e meus all stars. Tudo preto, caso eu seja mesmo rejeitado e precise entrar de luto por minha alegria de viver.

E é claro que minha cara não está das melhores, já que mal dormi de nervosismo, sem saber se eu estava mesmo com vontade de fazer cocô ou se era só meu emocional me fazendo imaginar coisas.

— Opa! — Namjoon chama enquanto eu, tremendo como pinscher com frio, pego uma outra blusa no armário. — Que ousadia é essa? Vai estragar a combinação perfeita que eu montei!

— Eu não gosto de regata e já estou desconfortável o suficiente com as possibilidades! — Rebato, colocando a blusa xadrez por cima somente para cobrir meus braços.

— Emo.

— Emocionado negativamente sobre o que será de mim depois de hoje — Completo.

— Já são dezesseis. Você deve estar nervoso mesmo. — Ele faz questão de lembrar. Aí, pega sua mochila, joga nas costas e diz, saindo do quarto: — Falou!

— Ei! — Me esganiço inteiro, já correndo atrás dele. — Você vai me deixar assim? Agora? No momento mais crucial dos meus dezoito anos?!

— Eu te aguentei à noite toda, depois a manhã inteira choramingando sobre isso. Me dá um descanso, Jungkook! — Namjoon rebate, até apressando o passo quando corre até a porta da sala. Ali, para somente para sorrir educadamente para minha mãe, sentada na mesa enquanto provavelmente faz algum trabalho em seu notebook. — Tchau, tia! Obrigado por me deixar dormir aqui de novo, mas eu preciso ir agora porque seu filho me enche a paciência.

— Imagina se tivesse que morar com ele...

— Mãe!

— Te amo, bebêzinho. — Ela garante, mas nem para de olhar para o computador, e Namjoon aproveita a brecha para se picar.

Meu amigo me odeia. Minha mãe me acha chato. Jimin planejou todo um evento para me rejeitar. Deus não quer me levar.

No meio de minha breve crise existencial, eu até esqueço que já são dezesseis horas. Quando relembro, me pergunto o que eu preciso fazer. Vou até a casa de Jimin ou ele vem até aqui?

Como em resposta à minha dúvida silenciosa, alguém dá batidinhas na porta. Meu coração, em reação, dá batidinhas em meu peito.

Ai, Jesus misericordioso. É agora.

— Mãezinha — Eu chamo, com a mão apoiada sobre a maçaneta. Antes de girá-la para me expor à humilhação, anuncio: — Seu filho preferido está indo morrer de tristeza.

— Certo — É isso que ela diz! — Vá com cuidado!

Assim fica claro que eu só sou o filho favorito porque sou o único.

Às vezes eu acho até que ela gosta mais do pé de cebolinha na varanda que de mim.

Com a autoestima momentaneamente soterrada e a esperança tão baixa que já está quase sentando no colo de satanás, eu abro a porta.

E a humilhação começa antes que a primeira palavra seja dita.

É um dos filhos do casal do apartamento da frente quem está aqui. Um dos Park. Mas não é Jimin.

— Hyeon? — Eu chamo, em puro estado de choque.

Jimin mandou o irmão mais novo vir dar a notícia da rejeição?!

Eu me preparei para todo tipo de tragédia emocional, mas essa possibilidade pareceu tão absurda que sequer passou por minha mente. Ainda assim, aqui está ela, concretizada.

— Oi, Jungkook hyung. Quer ir na padaria comigo?

— Oi?

— Padaria?

Isso é estranho de muitas formas. Quando mais novo, até os doze anos, Hyeon vinha constantemente me chamar para acompanhá-lo até lá para ele poder comprar chiclete, porque os irmãos sempre se negavam a ir a não ser que fossem obrigados pelos pais. Agora que já tem idade e autorização para ir sozinho, é suspeito que ele venha me chamar para isso. Principalmente por fazê-lo no mesmo dia e horário em que seu irmão planejou me dizer um não.

— Eu meio que tenho compromisso com seu irmão, Hyeon... — Finalmente, respondo.

— Eu sei. Por isso você precisa vir comigo. — Ele diz, alargando o narizinho de botão quando sorri. — Por favor! Jimin hyung disse que vai comprar uma pizza só pra mim se eu conseguir te tirar de casa por trinta minutos.

— Ele disse também que era pra você ser discreto! — Siwoo grita, do outro lado do corredor, quando sai do apartamento dele ajeitando os sapatos nos pés.

— Ah... é. — Hyeon percebe, agora sorrindo com arrependimento. — Já foi. Fazer o que? Bora, hyung?

— Anda, Jungkook — Siwoo insiste, já chamando o elevador. — Jimin tá nervosão lá. Não importa o que ele esteja fazendo, é melhor que dê certo porque eu não vou ter paciência pro drama.

Aparentemente, isso faz parte do plano dele.

Sem forças para relutar, eu apenas sigo o fluxo da maré da incerteza, passo para o lado de fora e fecho a porta.

E seja o que deus quiser.

Em companhia dos dois irmãos de Jimin, eu entro no elevador, depois sigo pela rua em direção à padaria próxima ao condomínio.

Siwoo nem precisava estar aqui, eu acho. Acho que só veio comprar cerveja e amendoim.

— Não precisa comprar chocolate, não, Jungkook — Hyeon diz quando me vê pegar duas barras de chocolate branco com pedacinhos de cookies. Já que vim até aqui, é melhor aproveitar a viagem. — Jimin hyung já comprou um monte pra você.

Eu olho para o caçula da família Park, cheio de confusão, enquanto o primogênito deles suspira, carregando o engradado de cerveja até o caixa.

— Não sei como cabe uma língua tão grande em um corpo tão pequeno, Hyeon — Ele diz. — Sinceramente...

Jimin comprou chocolates para mim?

Isso não me alivia. Pode ser tanto um gesto de reciprocidade, quanto um gesto de consolação por me dar a resposta que não quero ouvir.

A conclusão à qual chego é que não adianta ficar pensando e remoendo o que pode acontecer. Jimin já tomou sua decisão e eu já me preparei para várias possibilidades, então tudo que resta é esperar.

— Posso perguntar uma coisa, Jungkook? — Enquanto esperamos, sentados numa das mesinhas da padaria, Siwoo questiona. Ele está tomando uma cerveja. Hyeon está tomando um achocolatado industrializado.

Eu, estou tomando naquele lugar, todo arrombado pela tensão.

— Diz... — Eu respondo, tremelicando por um frio inexistente.

— Você e Jimin sempre foram só amigos mesmo? Tipo... a partir de certo ponto, não dava mais pra achar que era só amizade...

Depois de anos nos infernizando enquanto dizia que eu e seu irmão éramos um casal, Siwoo, dessa vez, pergunta com seriedade. E com a mesma seriedade, respondo:

— Era amizade. Só amizade. A melhor que eu já tive.

— Entendi. — Ele pondera, balançando a long neck antes de dar a golada final. Só depois, diz: — A amizade de vocês era coisa de outro mundo. Acho que eu nunca vi isso acontecer com outras pessoas. Vocês dois são muito sortudos por terem se encontrado.

— É — Hyeon concorda, todo sério. — E eu sei que vocês se afastaram, mas Jimin hyung nunca esqueceu você, Jungkook. Ele nem tirou a foto de vocês da cômoda.

Eu balanço a cabeça numa concordância fragilizada.

Talvez, independente da resposta que ele me dê hoje, nós ainda possamos ser amigos.

Não é todo mundo que tem a sorte que nós tivemos, de conhecer a alma gêmea aos sete anos de idade.

Vai ficar tudo bem. Tem que ficar.

Um pouco mais tranquilo, eu respiro fundo e mantenho a calma quando Hyeon checa algo no próprio celular e calmamente se levanta da cadeira.

— Nós já podemos voltar.

Com um anuir leve, eu concordo com sua instrução e fico de pé também. Siwoo é o último, que suspira, sorri e passa o braço ao redor de meu ombro para me guiar de volta ao prédio onde todos os nossos caminhos se cruzaram tanto tempo atrás.

Na volta, nada é dito. A primeira coisa que ouço, ao chegarmos, é:

— Vai na sua casa rapidinho.

Eu já não questiono mais. Simplesmente sorrio para o mais novo e para o mais velho e dou as costas para entrar em meu apartamento, sentindo o coração pulsar mais forte que o normal.

Assim que me vê, ainda sentada no mesmo lugar, minha mãe sorri e diz:

— Jimin está no seu quarto, bebê.

Então é mesmo isso. Não tem mais como fugir.

Sem saber o que me espera, eu sigo. Encontro a porta fechada e, num acontecimento incomum, dou batidas nela antes de entrar em meu próprio quarto.

— Jimin? — No mesmo instante, meu chamado surpreso escapa.

Não é a presença já anunciada dele aqui que me surpreende. É ver o que ele preparou.

— Nós dissemos que montaríamos a próxima barraca aqui na sua casa, Jungkookie. — Ele responde, sorrindo suavemente.

Meus olhos continuam presos à barraca montada em meu quarto. Porque não é uma de nossas frágeis barracas de lençol e travesseiro.

É uma maldita barraca de camping.

— Que diabo é isso, Jimin? — Questiono mais uma vez, tão surpreso que até o nervosismo cessa por alguns instantes.

Ele ri com bastante falta de jeito, mas também alguma leveza quase natural. Em seguida, estende a mão para mim.

— Eu vou explicar, Jungkookie. Primeiro... vamos pra nossa barraquinha.

Eu olho para a barraca, depois para ele, para sua mão estendida e, por fim, deposito minha palma sobre a sua, permitindo que Jimin me guie para dentro do esconderijo feito em meu próprio quarto.

Quando entramos, meu sorriso se torna inevitável.

Jimin montou sua luminária aqui dentro que, quando ligada, deixa tudo com essa coloração aconchegante de amarelo. Sobre o edredom que ele arrumou no chão para deixar mais confortável, colocou também uma bandeja perfeitamente organizada, cheia do chocolate branco com cookies. O meu favorito. Ao lado, um envelope.

Em minha frente, me ajudando a sentar sobre minhas próprias pernas, meu libriano secreto favorito.

— Você realmente se empenhou... — Pontuo, com o nervosismo arrastando suor para as palmas de minhas mãos.

— Porque você merece todo o empenho do mundo, Jungkookie.

— E está tudo tão organizado — Tomado pela ansiedade, eu sequer consigo responder apropriadamente, talvez porque minha resposta nesse momento seja a vontade de abraçar Jimin.

— Bem... virginianos gostam de coisas organizadas, não é?

Ele sempre foi bagunceiro, mas realmente se esforçou para fazer tudo isso para mim.

Isso me faz finalmente perceber que não importa qual seja sua resposta.

Jimin sempre vai ser não só o meu libriano favorito. Ele foi, é e será a minha pessoa favorita no mundo inteiro.

— Então... — Com um murmúrio ainda nervoso, eu começo em tom de curiosidade. — tudo isso é pra me dizer que...?

Jimin sorri, logo capturando o envelope apoiado na bandeja, ao lado dos chocolates. Não demora para estendê-lo para mim.

— Veja isso. — Ele instrui.

Demorando minha atenção sobre ele durante mais alguns instantes, eu finalmente respiro fundo e abro o envelope recheado. Com os dedos atrapalhados pelo acúmulo de sensações, puxo para fora o que ele guardou até esse momento.

Uma sequência de fotos.

A primeira é uma fotografia de um Jimin e um Jungkook com dentes a menos, sorrindo para uma câmera enquanto nossas mãos desajeitadas e pequenas seguram fatias de melancia.

Eu passo para a seguinte. Uma foto de algum tempo depois, de quando tínhamos dez anos. Jimin, ainda um pouco maior que eu na época, segura minha mão enquanto exibimos nossas fantasias de Halloween.

Ele tinha esse sorrisão enorme e contagiante de sempre, com os olhinhos desaparecendo em duas linhas adoráveis. Eu, com minha boquinha aberta, mirava meus olhos grandes em meu então melhor amigo, provavelmente pensando: wow, meu hyung é o melhor!

Eu não entendo o propósito dessas fotos, mas passo para a terceira. Nós dois com doze anos, brincando de ser adulto enquanto enchíamos a cara de espuma de barbear. Sua mãe nos pegou no flagra antes de usarmos a lâmina, mas antes eternizou o momento nessa foto desajeitada.

A quarta é uma recordação de nossos quatorze anos, em nosso primeiro cosplay, prontos para o Otakus de Seul daquele ano.

A quinta e última fotografia é também a última que tiramos juntos, aos dezesseis.

Nós dois com o uniforme da escola nova, no primeiro dia de aula. Eu já estava da mesma altura de Jimin, que ficou na ponta dos pés para ficar mais alto, e eu caí na gargalhada na mesma hora, com minhas bochechas cheias das espinhas que iam e voltavam, me acompanhando por meses.

Depois da última foto, ainda há algo. Mais um pedaço de papel dobrado.

— Hyung... — Eu chamo, atordoado por todas as coisas que estou sentindo depois de fazer um passeio por só um por cento de tudo que passamos juntos.

Muitos dos momentos, das risadas e das conversas estão guardados apenas em nossa memória, sem qualquer foto para eternizá-los.

— Isso é muito pouco perto do que a gente passou, Jungkook. — Ele diz, com o coração alinhado ao meu. — Mesmo que eu trouxesse todas as nossas fotos, elas não seriam capazes de mostrar tudo que a gente viveu desde que nossos dentes de leite começaram a cair, não é?

Eu faço um movimento de concordância, deixando de dar atenção ao papel misterioso para focá-la inteira em Jimin.

— E o que isso quer dizer, Jimin hyung?

— Quer dizer que não importa o que vai acontecer, você faz parte da minha vida, Jungkook. Pra sempre. — Ele confessa, estendendo os dedos curtinhos até tocar na parede da barraca: — E que os últimos meses sem você foram os piores de todos.

Eu mordisco meu lábio, percebendo, só agora, o quanto Jimin parece nervoso. As mãozinhas não param de tremer.

— E talvez isso tenha sido esperado. Quer dizer, você sempre disse que era meu inferno astral. Que nossa amizade era improvável. Mas a verdade é que eu não me importo com isso. Por você, eu luto contra todos os astros desse universo.

A tensão aumenta. Eu não sei qual será o desfecho e o nervosismo crescente de Jimin me deixa ainda mais ansioso. Mas ele sorri ainda mais, apesar disso.

— Jungkook, talvez seja hora de deixar as barracas de travesseiros e lençóis no passado. Elas são frágeis demais. Por isso eu montei essa barraca. Lembra dela? Quando usamos para acampar na excursão da escola e ela aguentou a chuva daquele dia? — Jimin relembra, sempre sorrindo, sempre nervoso. — Eu quero que nossos laços se fortaleçam e sejam fortes como ela. Depois, eu quero que sejam ainda mais fortes, como um castelo de pedras. E eu espero não precisar construir um para te convencer. Mas por você eu construo mil fortalezas.

— Hyung... eu ainda não sei o que isso quer dizer... — Confesso, completamente tomado pelas sensações gostosas de sua confissão.

Não importa se ele vai me dizer sim ou não. Ele já me deu a garantia de que nossa amizade é tão importante para ele quanto para mim e o oposto disso é o que mais me machucaria.

E ainda sem me deixar saber exatamente o que quer dizer, ele aponta para o papel que seguro no topo da nossa sequência de fotos. Em seguida, diz:

— Leia pra mim, Jungkook. Em voz alta.

Minhas mãos tremem e eu rio junto a ele quando, por isso, me atrapalho todo ao desfazer a dobra do novo bilhete.

— Eu, Jeon Jungkook, o virginiano — Começo a leitura, curioso demais para demorar sequer outro instante. — Prometo ser fiel à amizade de Park Jimin, o libriano. Isso quer dizer que eu serei sempre sincero sobre meus sentimentos, sejam eles de amizade ou algo a mais. Em caso de quebra desse contrato, eu farei mil questões de matemática e comerei mil chocolates amargos.

Eu sorrio, ao final.

Acho que isso quer dizer que é um não. Jimin não quer me beijar.

E tudo bem.

— Isso quer dizer — Para confirmar ou derrubar minha suposição, Jimin volta a falar. — que nós podemos ser sinceros um com um outro, sempre. É assim que a gente vai se fortalecer, virar uma barraca de camping antes de virar um castelo de pedras.

— Eu já fui sincero com você... — Confesso, envergonhado. — Eu quero sua amizade. Mas eu também quero te beijar.

Jimin sorri.

— E eu também vou ser sincero — Garante, forçando uma expressão séria antes de finalizar: — Mas antes você precisa se comprometer com o contrato que acabou de ler. Você promete que nossa amizade sempre vai ser o mais importante de tudo, Jeon Jungkook, o virginiano?

— Nossa amizade já é o mais importante, Park Jimin, o libriano.

Ele sorri novamente, ainda maior.

— Isso quer dizer que nós já deixamos de ser uma barraca de travesseiros e lençóis e nos transformamos em uma barraca de camping! — E anuncia. — Então nós podemos nos arriscar um pouco mais.

— Podemos?

Com o brilho sincero nos olhos pequenos, meu libriano favorito anuncia:

— Jungkookie, vai ser uma honra apresentar o beijo de libra a você.

☆☽☀☾☆

Todos os trâmites legais foram seguidos, então eles finalmente podem se beijar!

Dessa vez será que vai mesmo ou vai rolar mais alguma dor de cabeça antes do fim?

Aliás, só faltam dois capítulos pra nos despedirmos dessa história!

Espero que estejam gostando dela (e espero que gostem até o fim)! No capítulo passado eu não pude acompanhar tão bem a reação de vocês porque o wattpad deu um monte de erro e aí impediu quase todo mundo de comentar ): espero que dê tudo certo nessa atualização, eu me divirto muito com os comentários de vcs!

Eu não sei se a proxima atualização sai no domingo porque, mas comunico direitinho lá pelo twitter!

Nos vemos no próximo capítulo. Até lá ou até a #LibrianoFavorito <3

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