Os astros dizem, 5: entenda!

Previsão do dia para o signo de libra:
Hoje é um dia excepcionalmente propício para o libriano usar a sensibilidade aflorada e entender os sentimentos das pessoas que o rodeiam. Escute e entenda!

Eu ainda sou o libriano favorito de Jungkook.

Ele ainda quer sentar comigo no horário de almoço.

É natural, então, que eu me sinta menos amedrontado nessa coisa de colocar em prática todas as minhas táticas para trazê-lo de volta para minha vida.

Se o medo inicial era o da rejeição, empatadíssimo com meu medo de insetos e panelas de pressão, agora eu tenho o que quase se aproxima de uma garantia de que Jungkook não vai me rejeitar.

Assim como sinto sua falta feito um doido, Jungkook também sente a minha. Mesmo que em intensidade menor, ele sente.

Diante de cada uma dessas percepções e do meu desejo crescente de voltar a fazer parte da vida de alguém que sempre será tão bem-vindo na minha, eu passei a usar as chances proporcionadas pela falha no plano inicial.

É isso aí. Se um bolo está solado, não quer dizer que ele deu errado. Só quer dizer que não saiu como o planejado. No fim, o resultado também é gostoso.

Então ao invés de me lamentar por Jungkook não identificar o bilhete como meu e ainda achar que é romântico (só por causa de um coração!), eu vou agarrar a brecha que encontrei, graças a esse deslize, para me aproximar dele outra vez.

Minha intenção era começar devagarzinho. Comer pelas beiradas, como diz minha mãe.

Mas... nah. Essa coisa de ir com calma não combina muito comigo. Então aqui estamos: eu tenho uma barraca de lençóis e travesseiros montada pela metade e meu ex-melhor amigo trancado comigo, em meu quarto, depois de não entrar em minha casa por mais de um ano inteiro.

— Vem — Honestamente até sem saber como reagir à sua última declaração, eu seguro o pulso de Jungkook, puxando-o comigo enquanto tento esconder a vontade de chorar. — Me ajuda a terminar de montar a barraca.

É um caminho curto. No meu quarto pequeno, são poucos passos da porta até a barraca levantada entre a minha cama e a de Hyeon. No entanto, parece um percurso muito mais longo, de volta para o tempo em que esquecíamos todas as nossas obrigações e nos escondíamos delas em barraquinhas frágeis que tratávamos como fortalezas.

Às vezes eu sinto que nossa amizade era exatamente como nosso esconderijo: nós sempre sentimos que era indestrutível, mais resistente que um diamante, quando na verdade precisou de tão pouco para destruí-la.

Agora temos os destroços das lembranças saudosas e nostálgicas, tentando reconstruí-las na fragilidade de uma barreira de lençóis.

O silêncio não era inesperado. Faz sentido que seja nosso companheiro, agora que estamos num momento tão intimista, tão ligado ao nosso passado, quando o presente nos trouxe nada além de distância.

Não é possível simplesmente agir como se não houvesse um abismo de quinze meses de distanciamento entre o que éramos e o que somos hoje.

Eu não sei como iniciar uma conversa. Não sei sobre o que falar. E é por isso que eu preciso de malabarismos emocionais com bilhetes, librianos secretos e mensagens bonitas para tentar aprender a ser amigo de Jungkook novamente. Para aprender a trazer conforto e segurança para nossa companhia, coisa que não sinto agora e sei que ele não sente também.

Eu arrumo os travesseiros dentro da barraca, enquanto Jungkook habilmente encontra um suporte para prender a última extremidade do lençol.

E pronto.

Nosso esconderijo foi reconstruído. Mas nossa amizade continua nos escombros.

Aqui dentro, sobre os colchonetes, eu me sento sobre minhas próprias pernas enquanto vejo o corpo de Jungkook ainda parado do lado de fora, com o rosto além da minha visão.

Com medo de descobrir que talvez esforços sejam inúteis e que nossa amizade não poderá deixar de ser uma lembrança, eu engatinho para fora da barraca.

Ainda aqui agachado, busco seus olhos para chamá-lo para dentro, mas perco o impulso ao ver o olhar de Jungkook mirando algo ao lado de minha cama.

E me dói tanto ver seu rosto tão lindo agora marcado por mágoa e confusão, com bochechas cheias de lágrimas que não percebi em que momento começaram a correr tão intensamente.

Jungkook está chorando.

— Jungkook... — Eu o chamo, sentindo o desespero se perder por trás de um fio de voz tão enfraquecido.

Ele usa as costas das mãos para secar as lágrimas frescas, sem que isso seja capaz de apagar o rastro de sentimentos em seus olhos ou a pontinha do nariz vermelha pelo choro.

— Por que agora? — Ele pergunta, baixinho, com a voz até falhando.

Ainda assim, seu olhar não abandona o mesmo ponto que olha fixamente há tanto tempo.

Não é um daqueles momentos em que seus olhos miram um lugar aleatório e ele se perde nos próprios pensamentos, sem perceber que o faz. Não. Jungkook está conscientemente observando a mesma coisa, continuamente.

E eu não preciso sair daqui para saber o que é.

No amigo secreto de um natal que nossas famílias passaram juntas, Jungkook sorteou meu irmão mais novo. Deu para ele uma camiseta do Homem aranha paga por seus pais, porque a mesada que ele recebia era mais simbólica que qualquer coisa.

No fim da noite, escondido, ele me chamou como quem contrabandeia pó de tempero de miojo. Longe dos olhares de nossos pais e meus irmãos, que riam intensamente em sua sala de estar, ele disse:

— Para meu libriano favorito. — E essas foram as palavras exatas que ouvi antes de receber o presente que Jungkook comprou para mim com o próprio dinheirinho.

Fiquei sabendo depois que juntou tudo num cofrinho por meses, só para poder me dar um presente de natal.

Era um porta retrato com uma foto nossa, de quando éramos crianças. Dois moleques molhados na beira da piscina, ele na pontinha dos pés para ficar do meu tamanho e poder me abraçar pelo ombro enquanto sorríamos para a câmera.

A moldura ao redor da foto tinha sido decorada com vários adesivos de pintinhos e coelhinhos. Na parte inferior, estava cravada a mensagem da qual, naquele tempo, nunca duvidaríamos: Melhores amigos para sempre.

Na época, eu achei que aquele era o melhor presente do mundo. Hoje, ainda acho que é o melhor presente do mundo.

E o porta-retrato, com a mesma foto de quando eu ainda era maior que ele, continua no mesmo lugar de sempre. Nunca tive coragem de tirá-lo dali. Ao lado de minha cabeceira, na cômoda que separa minha cama da cama de Hyeon.

Assim como parte de meu coração, aquele espaço da cômoda sempre vai pertencer a Jungkook, à nossa foto e à lembrança de nós dois.

— Por que agora, Jimin? — Ele volta a perguntar, depois de me deixar completamente sem resposta. Seu olhar desce e busca o meu. — Por que você tá fazendo tudo isso tanto tempo depois?

— Porque eu não tive coragem de fazer antes, Jungkook...

Ele pisca num gesto acelerado, exibindo os cílios completamente úmidos quando usa a mão para recolher a nova lágrima que foge de seu olho esquerdo.

— Mas por que? — Ele ainda pergunta. — Por que você tá agindo como se eu fosse tão importante assim?

— Como se você fosse importante? — Eu repito, atordoado demais até para encontrar forças e ficar de pé. — Jungkook, você é importante.

— Mas você tem outros amigos. — Eu ouço ele dizer, subitamente incapaz de acreditar em mim. — Há muito tempo muita gente tomou meu lugar, então eu não entendo, Jimin.

Muita gente tomou seu lugar? É assim que Jungkook se sente?

— Jungkookie... — Eu o chamo, puxando-o com cuidado pelo pulso. Me desespera perceber a resistência de seu corpo. — Vem cá, por favor. É nossa barraquinha. Fica aqui comigo.

Os lábios tão bem desenhados tremulam quando ele os pressiona ao tentar segurar uma nova onda de choro, finalmente cedendo ao meu pedido. Logo, Jungkook se abaixa e se apoia sobre os joelhos, vindo para dentro da barraca quando eu recuo o suficiente para que ele entre e sente em minha frente.

Aqui pertinho dele, eu tenho medo de tocá-lo, de ir longe demais.

Eu tenho medo de tocá-lo, mas também tenho medo da resposta para a pergunta que faço.

— Como você pode sequer pensar que qualquer outra pessoa poderia ocupar o seu lugar, Jungkook?

Ele nega, como quem se recusa a dar uma resposta.

Talvez muita coisa tenha mudado, mas eu sei que o coração de Jungkook é o mesmo. Por isso, sei também que ele não quer dizer por medo de me fazer sentir algo ruim. Assim, insisto:

— Me diz, Jungkook. Por favor. Não entender o que aconteceu e não saber o que fazer pra mudar isso é o que mais me machuca. Você pode me dizer.

Ele abaixa o rosto, ainda relutante, ainda tão sensível e frágil sob todas essas lágrimas que fazem as minhas buscarem o caminho para fora também.

Com os dedos nervosamente brincando com o colchonete abaixo de nossos corpos, Jungkook hesita por outros longos segundos durante os quais sei que não posso fazer nada além de esperar.

Quando sua voz finalmente vem, eu entrego a ele toda a minha atenção:

— Depois que nós mudamos de escola e você entrou no time de futebol... tanta gente começou a gostar de você, Jimin. — Ele relembra, medroso demais para me dirigir o olhar. — E não foi surpresa nenhuma. Quem não gostaria de você? Você é perfeito.

— Não sou. Você mais que ninguém sabe disso, Jungkook.

Ele nega novamente, com uma tosse suave limpando sua garganta quando ele se engasga no próprio choro.

— Eu te conheço inteirinho, Jimin... — Aí, machucando mais do que provavelmente imagina, corrige: — Conhecia. Eu sabia todos os defeitos que você acha que tem e sempre soube que cada um deles só te faz ser ainda mais você. E você é perfeito, eu nunca mudaria nadinha em você ou no seu jeito.

Eu respiro profundamente, ciente de que esse é só o começo. Jungkook ainda não deu a resposta para minha pergunta, e demora alguns outros instantes para retomá-la:

— Você cativa tanta gente, hyung, e cativou cada vez mais todo mundo da escola. — Ele fala baixinho, sempre com medo. — E aí... muita gente te cativou de volta. Sempre te chamavam pra fazer todo tipo de coisa que eu nunca gostei muito e...

— Jungkook... — Eu chamo, numa súplica desesperada para que ele termine de falar quando percebo que ele perde o impulso.

— Eu sabia que você queria ir. Eu sabia que você queria estar com seus novos amigos, mas muitas vezes negava vários convites para ficar comigo. Porque você é assim, hyung. Você queria estar lá, mas não queria me magoar e me deixar sentindo que estava sendo trocado, então abria mão de tudo que podia experimentar só pra fazer as mesmas coisas de sempre comigo. — A voz continua baixa, amedrontada, mas eu sinto sua sinceridade. — E você merece tudo de bom nessa vida. Você merece todos aqueles amigos e merece todas as experiências boas. Então... eu sabia que não tinha mais espaço para mim. Você só era bom demais pra aceitar isso e se afastar de mim voluntariamente.

— Não é possível que você realmente acredite nisso... — Eu digo, desesperado por perceber que foi assim que ele se sentiu durante todo esse tempo.

— Eu sei que foi isso. — Jungkook insiste, sem firmeza alguma na voz. — Se não fosse... por que você nunca voltou depois que eu me afastei? Eu sei que você se sentiu aliviado... e tudo bem. Tudo bem mesmo. Eu não fiquei com raiva. Só não tô entendendo por que agora isso mudou.

Eu nego, furioso. Não com ele, acho que nem comigo mesmo.

Eu estou furioso porque perdi meses da amizade de Jungkook por algo que nunca chegou perto de ser verdade.

— Escuta aqui — Ao perceber a oscilação na voz é que me dou conta do rastro úmido que a lágrima deixou em minha bochecha. Eu estou chorando. E que se exploda. Daqui para a frente só vou chorar ainda mais: — Olha pra mim, Jungkook.

Ele balança a cabeça para os lados, negando meu pedido.

Para meu desespero, começa a ficar de pé.

— Eu acho que vou embora, Jimin. Desculpa.

— Não vai! — Eu decido, incapaz de deixar as coisas como estão, e seguro seus pulsos antes que ele se levante. Decidido, insisto: — Olha pra mim.

Ele ainda não me olha, continuamente balançando a cabeça para deixar clara sua resistência. Mas eu também não estou pronto para desistir.

Com cuidado, minhas mãos sobem por seus braços até segurarem suas bochechas. Eu firmo o toque em seu rosto, guiando-o até que seu olhar finalmente encontre o meu.

Só então digo o que está entalado:

— Você tá errado. Eu nunca, tá me escutando? Nunca me senti aliviado depois que percebi que você começou a me evitar. Eu tentei continuar perto de você por meses e quando desisti não foi porque fiquei aliviado. Foi porque eu achei que você não me queria mais por perto. Porque eu estava, sim, mudando, estava conhecendo pessoas e coisas novas. Mas não importa o quanto eu tenha mudado, eu nunca estive com você por obrigação. Quando eu deixava de ir a uma festa e ficava com você, era porque eu queria. Porque de todas as coisas que eu experimentei, nenhuma era melhor que estar com meu melhor amigo. Nenhuma, Jungkook.

Eu percebo que ele tenta abaixar o rosto. Tenta fugir de meu olhar novamente, mas meu toque segue firme, segurando-o assim para que ele saiba que eu estou falando a verdade.

— Eu sei que conheci muita gente bacana e fiz muitos amigos novos, mas meu deus... — Lá vem.

Mais uma lágrima deixando um rastro morno por minha bochecha, quando pisco para limpar a visão turva. Sem me acovardar por ela, finalizo:

— Eu posso conhecer todos os bilhões de pessoas vivas nesse mundo. E mesmo assim é você quem sempre vai ser a minha favorita.

Jungkook está respirando tão desengonçado. Ele engasga na própria respiração, tentando conter os soluços e tremores do choro quando seus olhos brilham com novas lágrimas em abundância.

Tantos meses depois, ele ainda é meu Jungkookie.

O mesmo Jungkook que odeia chorar na frente de outras pessoas, mas nunca conseguiu esconder o choro de mim.

O mesmo Jungkookie que sempre quis o melhor para mim e por isso, sem saber que era o pior que poderia fazer, se afastou acreditando que estava me fazendo bem.

Ele ainda é meu Jungkookie, que me deixou por um mal entendido, e eu o quero de volta.

— Jungkookie... — Incapaz de conter tudo isso dentro de mim, eu o chamo.

Ele soluça fraquinho. Os ombros, hoje tão largos, tremem. Meus dedos acariciam suas bochechas, meu polegar desliza pela cicatriz que ficou em seu rosto depois de uma brincadeira boba com meu irmão.

Siwoo chorou feito louco quando viu o machucado, eu chorei mais ainda, Jungkook abriu o maior berreiro. Hoje, é só mais um dos detalhes que fazem dele tão bonito e tão único.

Mas, nesse momento, eu não consigo deixar meus olhos abertos para memorizar cada mínimo milímetro de seu rosto. Eles se fecham, expulsando mais uma lágrima que escorre até o queixo, quando é Jungkook quem cede a nós dois e encosta sua testa contra a minha.

Na escuridão das pálpebras fechadas, eu ouço o fungar tímido de seu choro, sinto sua pele sobre a minha, seu nariz tocando o meu, suas mãos me tocando os braços com tanta hesitação.

Na escuridão das pálpebras fechadas, eu sinto Jungkook.

Sem calcular meus atos ou suas consequências, meus dedos deslizam até sua nuca. Meu nariz se arrasta sobre o seu, quando movo minha cabeça.

E, nesse último movimento, acontece pela primeira vez.

Minha boca toca a boca de Jungkookie.

Ele não recua. Não precisa. O toque é suave, inocente e sem qualquer má intenção. É puro, a manifestação física do quanto ele me fez falta.

Quando dou fim ao selinho tão bem recebido, minha testa volta a tocar a sua e minha voz volta a se derramar em seus ouvidos:

— Você deveria saber que minha primeira escolha sempre foi você, Jungkook. Ainda é e sempre vai ser.

Ele respira devagarzinho, em paz, na segurança frágil da nossa fortaleza de lençóis.

Somos só nós dois, agora, a mágoa de um mal entendido que nos custou tanto e a sensação de leveza de saber que, talvez, possamos tentar de novo.

Somos só nós dois, até que somos nós dois, a batida na porta do quarto e a voz de Hyeon:

— Hyung! — O insuportável chama. — Trouxe o jantar de vocês!

Ah...

Às vezes ele não é tão insuportável assim.

Com um sorriso desajeitado, eu me afasto de Jungkook. Eu vejo seu rostinho todo molhado pelas lágrimas e ele vê o meu não muito diferente.

— Agora você tem que ficar e comer comigo. — Eu digo, esfregando as mãos em minhas bochechas para secá-las.

Jungkook ri, meio nervoso, tímido, lindo. E faz que sim.

Com a felicidade que finalmente passa a encobrir a insegurança, eu começo a engatinhar para fora da barraquinha. Assim que fico de pé, Hyeon bate na porta mais uma vez, agora com muito mais força, assim como avisa com mais impaciência:

— Abre logo ou eu jogo a comida fora!

— Já tô indo, insuportável!

— Cala a boca, metro e meio! — Ah, fala sério! O que é que Siwoo já quer se meter também?!

Impaciente como naturalmente fico com meus irmãos, eu giro a chave no trinco e abro a porta para me deparar com Hyeon segurando a bandeja que a gente sempre usa para servir o café-da-manhã na cama dos aniversariantes.

— Valeu. — Eu digo, tomando-a de sua mão e já usando o pé para fechar a porta, mas ele impede ao segurá-la com essa mão ainda menor que a minha.

Curioso, ele começa a olhar para dentro. Aí, diz:

— Quero entrar.

— Vai ficar querendo, ué.

— O quarto é meu também!

— O quarto é meu também — Eu imito, afinando a voz só para irritá-lo. Ele me dá um soquinho na barriga e, ao tentar esquivar, quase derrubo a bandeja toda. — Olha lá!

— Deixa eu entrar!

— Não!

— Deixa logo, pintorzinho de rodapé! — Siwoo grita, aparecendo na porta do banheiro com a escova de dentes na mão. Meu deus, ele é o mais insuportável de todos!

Eu sou quatro centímetros mais baixo que ele e ainda assim tenho mais de um metro e setenta, mas ele insiste em agir como se eu tivesse o tamanho de um gnomo.

— Ele vai dormir no seu quarto hoje. — Eu digo para o mais velho de nós três. E para dar fim à discussão, uso a carta que sei que vai fazer meus pais ficarem do meu lado, então automaticamente dá fim à discussão: — Jungkookie que pediu.

— Ei! — Ele grita lá da barraca, morto de vergonha, mas eu só faço uma caretinha para que siga o fluxo.

Hyeon grunhe como um animal raivoso, ciente de que já perdeu a briga.

— Deixa eu pegar meu pijama e meu lençol, pelo menos. — Ele pede, cruzando os braços.

Isso eu posso deixar.

— Tá. — Finalmente, me afasto da porta para que ele possa entrar. — Não demore!

— Nossa, mas você vai ver — Enquanto eu me aproximo da barraca para deixar a bandeja com Jungkook, o caçula começa a reclamar, catando o pijama e o lençol debaixo de seu travesseiro. — Quando eu começar a namorar também, eu vou fazer você sair do quarto pra me deixar sozinho com minha namorada!

Começar a namorar também?

Ele está insinuando que eu namoro Jungkook?!

— Você não vai namorar nunca porque eu te mato antes disso! — Eu grito, possesso, quase chutando a bandeja quando viro com toda a minha fúria para correr atrás de Hyeon, que corre para fora do quarto e se esconde no banheiro, atrás de Siwoo.

Com a boca cheia de espuma de creme dental, nosso irmão mais velho para na porta para proteger o caçula e os dois começam a fazer um monte de barulho de beijo que imediatamente me faz querer morrer ou matar os desgraçados.

Furioso, eu quase rosno antes de girar sobre meus pés e voltar para o quarto, batendo a porta antes de trancá-la.

— Eu já disse que é pra parar com essa palhaçada de bater porta! — Meu pai grita de algum lugar do apartamento, sem nem saber em quem está dando bronca.

— Que saco! — Eu grito, batendo o pé enquanto marcho de volta até a barraca onde Jungkook ainda me espera.

Ainda com os olhinhos avermelhados, dessa vez ele está é rindo.

— Vocês não mudaram nada — E diz, sem se afetar muito pela brincadeira de Hyeon sobre sermos namorados.

Antes, ele e Siwoo sempre nos provocavam dizendo isso. Uma vez Jungkook chegou a chorar de raiva, até, de tanto que eles insistiram nessa porcaria.

— Infelizmente — Digo, ainda furioso quando me enfio de volta em nossa barraquinha. — Nunca vou parar de ter inveja de você por ser filho único.

Jungkook sorri com as perninhas cruzadas, um braço apoiado sobre a própria coxa e a outra mão se esticando para pegar um dos bolinhos de arroz na bandeja.

Quando morde, ele tenta esconder uma careta.

— É, péssima notícia pra você: — Anuncio, também pegando um dos bolinhos recheados. — A comida de meus pais ainda é a pior do mundo.

Ele ri, até cobrindo a boca com a mão para se forçar a engolir o bolinho apimentado além da conta.

Por isso que Hyeon veio trazer o jantar. Boa vontade é uma ova. Ele queria era nos castigar com essas bombas de pimenta envoltas por arroz muitíssimo mole.

— Eu senti falta da sua família — Jungkook confessa, sabiamente pegando um fishcake para comer, dessa vez. É industrializado, não tem erro.

— Que nada. Sentiu falta foi de mim — Eu brinco, sem pensar direito. Quando me dou conta, Jungkook já se engasgou com a comida, lembrando que ainda não recuperamos a intimidade para brincar assim. Para disfarçar, mudo de assunto: — Mas então... você queria falar comigo?

— Ah, é — Responde, com a boquinha cheia. Ele ainda faz muito barulho quando mastiga.

Sem perceber que eu estou me derretendo pela percepção, Jungkook se inclina um pouco para o lado, até deixar o bolso de sua bermuda de moletom acessível para que, com a mão limpa, tire um pedaço de papel dali.

Que vibe. Me derreto até pelo barulho insuportável que ele faz quando come, mas é só Hyeon comer fazendo o mesmo barulho que o caos se instala à mesa quando eu começo a mastigar de boca aberta pra fazer ainda mais barulho que ele e Siwoo fica botando a língua cheia de comida mastigada para fora, aí minha mãe briga com todo mundo e meu pai secretamente deve se perguntar onde errou.

— Aqui — Jungkook diz, arrancando mais um pedaço do fishcake. De boca cheia, explica: — São as pistas que eu tenho sobre o libriano secreto. Queria sua ajuda.

Eu uso a língua para capturar um grãozinho de arroz no canto da boca, ponderando seriamente a possibilidade de revelar agora que o tal libriano sou eu.

Não tem necessidade de continuar com os bilhetes. Primeiro, eu sinto que já estou conseguindo me reaproximar de Jungkook. Segundo, eu já deixei claro, no bilhete de hoje, que o tal libriano não tem interesse romântico.

Quer dizer, eu troquei o desenho do coração por uma florzinha.

No entanto, antes de tomar minha decisão, Jungkook diz:

— Eu acho que ele já tá apaixonado por mim há um tempo.

E é claro que eu quase me engasgo com a comida.

Apaixonado?

Mas eu escrevi um bilhete sem coraçãozinho! E escrevi exatamente o que eu, que quero somente sua amizade, estava sentindo. Não tem nada de romântico e apaixonado naquilo!

Tem?

Quer dizer, não! Não tem, não!

— Tem certeza de que ele está apaixonado, Jungkook? — Pergunto cuidadosamente.

— Aqueles bilhetes são de um cara apaixonado, Jimin. — Ele garante.

Meu deus do céu.

Será que...?

Não. Não é possível.

— Eu acho que ele me disse que queria se aproximar pra ser seu amigo — Ainda assim, insisto. Jungkook nega decididamente.

— Então ele não sabe que se apaixonou por mim. Sério. São bilhetes de gente apaixonada.

Certo.

Hora de um terceiro bilhete. Dessa vez, eu vou ter cuidado redobrado. Aí ele vai entender que são platônicos sem que eu precise do constrangimento de dizer isso cara a cara, eu confesso que os bilhetes eram meus e nós vamos rir juntos da confusão.

Isso. Simples.

— O que mais você pode me dizer sobre ele? — Jungkook pergunta, curioso.

— Como assim?

— Você disse que ia me ajudar! Mas disse também que precisamos ser básicos, pacientes e ponderados, então... o que você pode me dizer pra me ajudar a descobrir quem é ele?

Eu suspiro. Não pensei muito bem nessa parte.

— Hm... ele é muito bonito. — É o que decido revelar. Autoestima é tudo.

— Sério? — Os olhos de Jungkook brilham, empolgados. — Tão bonito quanto Mingyu?!

Que?

Ok.

— Não. — Revelo, depois de um segundo de mal humor. — Bonito como eu.

— Ah.

É tudo que ele diz. O que? Ficou decepcionado?!

Não acredito.

Não acredito que fiquei decepcionado também.

Mas aí ele diz, junto a uma balançadinha de ombros meio desajeitada:

— Melhor ainda.

As coisas mudam tão rápido, não é?

Num instante, você quer morrer porque seu potencial ex-ex-melhor amigo não te acha bonito, como se isso fizesse grande diferença. No momento seguinte, quase explode de vergonha por descobrir que, na verdade, é o oposto.

Jungkook me acha mais bonito que Mingyu?

Todo afetado por conta disso, eu nem percebo que ele devorou todos os fishcakes e deixou só as bombinhas de pimenta e arroz mole para mim.

— Ei! — Eu chamo, percebendo que ele gargalha de cara, já ciente sobre o motivo do meu chamado inconformado. Percebendo um último pedacinho no espetinho que ele tem em mãos, eu me estico para pegá-lo de volta, mas Jungkook logo enfia tudo na boca e sorri com as bochechas estufadas de comida enquanto eu abro minha boca no gesto mais horrorizado possível.

Antes que qualquer outra coisa seja dita e a cena avance, ele se assusta com o toque escandaloso de seu celular, que há cinco anos é a música de abertura de Super Gatinhas.

Ele troca o celular, mas não troca o toque.

— Espera — Ele pede, se contorcendo todinho para pegar o telefone enquanto eu enfio um dos pavorosos bolinhos apimentados na boca, para tentar conter o riso diante da descoberta. Aí, vê de quem é a chamada e atende, usando a unha para dar uma limpadinha no dente: — Oi, pai. — Silêncio. Ele esfrega a língua nos incisivos, limpando-os depois de afastar o dedo. — Eu tinha esquecido. Desculpa. Já tô indo. — Meu sorriso murcha. Jungkook já vai? — Tá, tchau.

Forçando o bolinho mal mastigado garganta abaixo, eu pergunto:

— Você já tem que ir?

— Eu tinha prometido ajudar meu pai a instalar um programa que ele usa pro trabalho. — E explica, todo frustrado enquanto olha ao redor, para nossa barraca de lençóis.

Com apenas um instante de hesitação, eu tento:

— Nós podemos fazer outra barraca depois. No seu quarto, pra não ter que aguentar o enjoo de Siwoo e Hyeon?

Jungkook sorri, fazendo um sim suave.

— Ok, hyung. Então a próxima fazemos lá em casa.

Eu mordisco meu lábio e abaixo meu olhar para esconder o sorriso antes de lembrar que, nada disso. Eu quero que Jungkook veja o quanto estou feliz, então logo volto a exibir o sorriso inteiro para ele, quando levanto o rosto.

Está mesmo dando certo?

— Então eu já vou. — Ele avisa.

Eu já estou conformado, mas quase tenho um treco quando ele se apoia sobre as mãos e sobre os joelhos para de inclinar, aproximar seu rosto do meu e me roubar um beijo na bochecha antes.

— Tchau, Jimin hyung! — Jungkook diz, engatinhando para fora da barraca bamba como minhas pernas nesse exato momento.

— Tchau, Jungkookie... — Eu respondo tão baixinho que acho que ele nem escuta quando sai do quarto e me deixa aqui sozinho, com a mão apoiada em cima do beijinho que me deixou.

Antes de ouvir sua saída definitiva, eu ouço as lamúrias de meus pais por ele já estar indo embora. Depois ouço Hyeon entrando no quarto para me encher o saco, mas sequer consigo prestar atenção.

Da mesma forma, mal consigo me lavar direito no banho, quando me tranco no banheiro, ou estudar, quando sento em minha escrivaninha e acabo é escrevendo o terceiro bilhete.

Dormir também não é tão fácil.

Tudo que eu penso é em Jungkookie. No beijinho na bochecha e...

Meu deus, eu também roubei um selinho dele!

Com a cabeça e o coração cheio de Jeon, Jungkook e Jungkookie, a única decisão inteiramente racional que tomo antes de me acomodar dentro de nossa barraca para dormir, é a de mudar o horário do meu despertador.

Eu programo para que toque vinte minutos mais cedo. Não sou sonso. Eu sei que Jungkook sempre sai antes de casa para não ter que ir comigo para a aula. Mas, agora que as coisas estão mudando, quero convidá-lo para ir comigo para a escola, coisa que nunca mais fizemos juntos.

Como mais um passo em direção à reconquista de nossa amizade.

Aí o sol nasce no céu nublado mais uma vez (e não é que a previsão do tempo estava certa?), o despertador toca. Eu me arrumo todo. Guardo com cuidado o novo bilhete que escrevi antes de dormir, aguardando o momento em que poderei deixá-lo sobre a mesa de Jungkook, na escola, para oficializar de vez que: o libriano secreto não está apaixonado.

— Não vai tomar café? — Minha mãe pergunta quando passo pela sala. Hyeon está cochilando no sofá e Siwoo ajudando a arrumar a mesa.

— Hoje, não. Tô com pressa.

— Não vai ficar sem comer, não — Meu pai diz, se inclinando sobre a mesa para pegar duas fatias de pão. — Já te faço um sanduíche para você ir comendo. Espere.

Ok. Eu estou com fome, mas tô com pressa também porque quero convidar Jungkook pessoalmente, não por mensagem. Agoniado, eu checo o relógio umas três vezes até que meu pai volta com uma sacola de papel guardando meu sanduíche relâmpago.

— Obrigado. — Eu agradeço sinceramente, me inclinando para dar um beijinho na sua careca. Depois, solto um beijinho no ar para minha mãe e faço uma careta para Siwoo. — Tchau!

— Vai pela sombra e se for brigar com alguém, lembre: morda a canela!

Apressado demais para perder tempo discutindo com o insuportável número dois, eu atravesso o corredor direto até a porta de Jungkook. Respiro fundo. Dou duas batidas suaves e ensaio meu melhor sorriso.

— Jimin! — É o pai dele quem abre a porta, inevitavelmente surpreso em me ver aqui.

— Bom dia, tio. — Eu sorrio gentilmente para ele. — Jungkook já tá pronto pra aula?

— Jungkook? — Ele repete, olhando para dentro do apartamento antes de voltar a olhar para mim. — Ele já foi para a escola, Jimin. Saiu há uns dez minutos.

Ele já foi?

Eu não acredito.

Ele ainda está me evitando, indo para a escola ainda mais cedo só para não ir comigo?

— Ah — Obviamente chateado, eu ainda ofereço um sorriso todo frustrado. — Ok. Obrigado. Tenha um bom dia, tio.

Ele acena para mim, parecendo sentido com minha óbvia chateação, e eu suspiro cabisbaixo quando chamo o elevador, já sem qualquer pressa.

Ontem foi um delírio? Eu entendi errado?

Eu arrumo a mochila nas costas e a bolsa de treino no ombro, sentindo-as ainda mais pesadas agora que preciso também carregar o peso da tristeza e da decepção quando desço do elevador e atravesso o hall do condomínio sozinho, depois de passar a noite inteira acreditando que faria isso ao lado de Jungkook.

Mais um suspiro.

— Jimin hyung? — E, subitamente, a surpresa.

Eu ergo meu rosto ao ouvir a voz tão familiar e viro para trás ao perceber que ele não está em nenhum lugar à frente. Só então vejo Jungkook atravessando a rua, voltando para o prédio.

— Achei que você já tinha ido pra escola. — Eu digo, ainda surpreso por vê-lo aqui. — Seu pai disse que você saiu há dez minutos.

Ele sorri desajeitado ao se aproximar. Aí, enfia a mão no bolso da calça do uniforme e tira uma barrinha de chocolate meio amargo dali.

Jungkook abomina chocolate meio amargo, mas sabe que é o meu favorito. Então...

— Eu fui na padaria comprar isso. Pro meu libriano favorito.

Eu olho para o chocolate que ele me estende, depois para seu rosto. Por último, como num sonho, ouço ele perguntar com esse sorriso que faz o dia nublado brilhar mais que um dia cheio de sol:

— Vamos juntos pra aula, hyung?

☆☽☀☾☆

Mia gente, e não é que a atualização dia sim, dia não tá rolando mesmo?

O lado ruim é que, desse jeito, logo logo nos despedimos dessa história e eu já me apeguei a ela D:

Mas! Se vocês tiverem gostado, eu posso voltar com outra shortfic depois que essa acabar. Eu particularmente gosto muito dessa dinâmica porque me mantém bem ocupada. Até fiz uma enquetezinha no twitter falando sobre isso, perguntando que tipo de plot vocês gostariam de ler <3 mas uma coisa de cada vez!

Gostaram desse capítulo?

Ele tem uma das minhas cenas favoritas, mas não é um dos meus favoritos D:

Mais um mimo inútil:

Ah!!! Viram a capa nova? Foi um mimo da @Jikookhappy (user lá do tt) e eu to apaixonada!!!

Pronto! Por enquanto nos despedimos. Até segunda ou até a #LibrianoFavorito <3

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