Os astros dizem, 3: pense!

Previsão do dia para o signo de libra:
Talvez o libriano se depare com resultados de planos frustrados. Não há motivo para desespero! Use a criatividade e o coração para encontrar soluções!

Como Jungkook pode sequer acreditar que aquele bilhete veio de Mingyu?

Eu deixei claro, na assinatura! "Seu libriano favorito"!

Eu não sou mais o libriano favorito de Jungkook?

Quer dizer, ele esqueceu que sempre dizia isso para mim?

E além de sequer considerar a possibilidade de que eu seja o autor, ainda confunde tudo e acha que é um bilhete romântico escrito por Mingyu? Kim Mingyu?!

O coraçãozinho que eu desenhei não tinha nada a ver com romance, meu deus! Era só um desenho fofo! Eu poderia ter desenhado uma estrelinha ou um cupcake no lugar e seria a mesma coisa!

Por último, o que Mingyu estava fazendo e por que ele saiu todo desconfiado da sala quando Jungkook o viu?

Enquanto as perguntas disparam em minha mente e eu já vou perdendo a paciência antes mesmo de começar a pensar em como reverter a situação, eu também corro em direção à saída para tentar encontrar o bonitão infeliz que estragou o meu plano perfeito.

— Ei! Kim Mingyu! — Eu grito assim que encontro o destruidor de planos, correndo mais que o recordista do time de atletismo e saltando sobre um sem noção que se abaixou no meio do caminho para amarrar o próprio cadarço, tudo para não deixar Mingyu fugir.

E ele tenta!

O safado começou a correr assim que me viu!

Mas não vai mesmo, criminoso!

— Kim Mingyu! Eu sei onde você mora! — Sei nada.

— Desculpa! — Ele grita, ainda correndo pela calçada enquanto a perseguição se afasta cada vez mais dos olhos curiosos dos nossos colegas.

— O que foi que você fez?! — Eu grito, longe de perder o fôlego, mas com dificuldade para alcançá-lo porque as pernas dele são mais compridas. Urrando como um doido, eu forço meu corpo a ir ainda mais rápido, berrando ainda mais alto: — Kim Mingyu!

— Eu não sei o que eu fiz! — Ele devolve, sem parar de correr quando olha para trás por cima do ombro e me vê cada vez mais perto, tão assustado que deixa o maior gritão agudo escapar.

Eu não fiz cosplay de Rock Lee à toa! A ele faltava o chakra; a mim, faltam os dez centímetros de altura que Mingyu tem a mais. Mas nós dois vencemos as adversidades na força do ódio.

Força de vontade, eu quis dizer.

— Então por que você continua correndo de mim?! Maluco!

— Porque você parece bravo!

A essa altura, nós já estamos atravessando a praça ao lado da escola e todos os transeuntes estão olhando para nós dois.

Mingyu também aumentou a própria velocidade e, com essas pernas do tamanho de um arranha-céu, consegue recuperar a vantagem e abrir distância. Mas aí ele olha para trás mais uma vez e esse é o seu erro: quando volta a olhar para a frente, seu corpo já está quase se chocando contra um carrinho de comida e tudo que ele tem tempo de fazer é: um, gritar. Dois, se lançar para o lado.

Quando faz isso, ele tropeça, perde o equilíbrio, cai de joelhos no chão e depois gira o corpo para poder olhar para trás. — Kim Mingyu! — Eu grito com toda a força que existe em minha alma.

Posicionado assim, como numa versão alternativa da personagem vítima de possessão demoníaca em O exorcista, ele tenta usar as mãos e os pés para correr para longe de mim. Mas é tarde demais.

— Me desculpa! Me desculpa! Me desculpa, me desculpa, me desculpa! — Ele continua pedindo quando eu finalmente o alcanço, ele desmonta todo e eu sento em sua barriga, prendendo-o contra o chão para que não fuja novamente.

Quer dizer... ele pode facilmente me jogar para o lado, mas não o faz.

— O que você estava fazendo quando Jungkook entrou na sala no horário de almoço?! — Sem enrolação, vou logo perguntando.

— O que? — Ele pisca, desacreditado. — É por isso que você está me perseguindo como cachorro corre atrás de motoqueiro?!

— É! — Eu puxo sua gravata, desconfiado. — Por que? O que mais você fez que poderia me deixar puto?

— Não sei! — Ele repete. Umas pessoas até começam a parar ao redor, curiosas sobre a cena. — Mas você parecia prestes a matar alguém então eu corri!

— Eu tenho motivos! — Revelo, puxando sua gravata mais uma vez para seguir com o verdadeiro foco da situação: — Não me enrola! O que você estava fazendo na sala?!

— Eu estava pegando o meu suplemento vitamínico! — Como um soldado obediente, ele revela: — Quando estava saindo, sem querer eu vi um bilhete romântico na mesa dele e, como não tinha ninguém na sala, a curiosidade falou mais alto e eu fui tentar ler, mas aí o menino que viaja olhando para o nada apareceu e eu corri!

Nossa, mas esse cara gosta de correr, hein?

Quer dizer... o que foi que ele acabou de falar?

— Não era um bilhete romântico! — Eu digo, horrorizado.

— Mas tinha o desenho de um coração!

— Meu deus! — Eu arregalo meus olhos, sem acreditar. — Era um coração platônico!

O coraçãozinho foi mesmo uma péssima ideia.

— Olha, foi só isso — Mingyu diz assim que eu saio de cima de sua barriga e me sento ao lado. Nossos espectadores parecem decepcionados pelo fim do conflito antes de um soquinho ou um pontapé. — Eu não estava planejando fazer nada de ruim com ele, sério. O cara é maneiro, do jeito dele.

— Não é?! — Como se toda a raiva que eu senti fosse dissipada, me vejo concordando furiosamente com meu não mais arqui-inimigo. — Ele é muito bacana!

— Demais. — O grandalhão espalma as mãos no chão para poder erguer o corpo até sentar. Enquanto bate uma palma na outra para tirar a sujeira, ele aperta os olhos com desconfiança e curiosidade: — Então... foi você quem escreveu o bilhete romântico para ele?

— Não era um bilhete romântico! — Quantas vezes preciso repetir?!

— Você não devia ter colocado aquele coraçãozinho, então. Confunde legal.

Eu esfrego as mãos pelo rosto, logo puxando-as para cima para bagunçar meus cabelos.

— Eu percebi. Jungkook também acha que é um bilhete romântico. Pior! Ele acha que foi você quem escreveu!

— Sério? — Mingyu pisca, meio desacreditado. — Sei lá, ele é bonitinho, mas eu não curto homem, não.

— Primeiro, — Eu ergo meu indicador, cheio de pompa para defender Jungkookie — sua atividade foi suspeita. Não é culpa dele. Segundo, bonitinho é seu rabo! Jungkook é lindo!

Ele ergue as sobrancelhas e aperta os lábios como quem visivelmente tenta esconder um sorriso (e falha).

— Tem certeza de que não era um bilhetinho romântico? Você parece caidinho por ele...

— Ah, vai tomar banho! Eu só quero meu amigo de volta! — Resmungo, todo atrapalhado quando começo a ficar de pé.

Imitando minha ação, Mingyu faz o mesmo e nós logo estamos dando tapinhas em nossas próprias bundas para tirar toda a areia, fiapinhos de grama e vai saber o que mais grudou em nossas calças.

— Vocês formariam um casal até bonito — De repente, Mingyu diz. Diante do meu olhar de aviso, ele finaliza: — Mas eu não tenho nada com isso, não.

— Ter até tem, né?! Não devia ser curioso como foi! Olha a confusão que você criou!

Ele suspira, fazendo barulho de pum com os lábios. Aí, balança a cabeça numa concordância resignada.

— Eu vou falar com ele amanhã e explicar o que aconteceu.

— Não mesmo! — Eu nego de prontidão. — Jungkook vai morrer de vergonha se você fizer isso. Deixa que eu resolvo.

— Então tá.

— Só me diz que seu signo não é libra, pelo amor de deus — Peço, porque se por um acaso Mingyu for libriano, vai ser difícil explicar para Jungkook como eu tenho certeza de que ele não é o autor do bilhete.

— Não é, não. Eu sou de áries.

Bingo!

De brinde, Jungkook não curte arianos, também.

Com o alívio tomando conta de meu corpo inteiro, eu nem penso antes de impulsivamente ficar na ponta do pé e puxar a cabeça de Mingyu para dar um beijão em sua bochecha, o que faz meu colega não mais odiado gargalhar.

— Pelo menos você nasceu na data certa, Kim Mingyu!

Agora eu já tenho uma parte do problema resolvido. Só falta o resto.

— Tudo esclarecido. — E assim anuncio, gesticulando com a cabeça na direção da qual viemos. — Melhor voltar agora. Meu treino já deve ter começado.

— Beleza. Eu também tenho que correr. É aniversário da minha vózinha.

— Ah, sério? — Minha expressão amolece toda e eu abro um sorrisão. Eu adoro velhinhos, pelo menos quando não são daqueles que parecem ter cento e dois anos de ódio e preconceitos enraizados. — Quantos anos ela tá fazendo?

— Oitenta e seis, mas tá toda inteirinha. Melhor que a gente!

— Que fofa. Manda meus parabéns pra ela, viu? 

— Mando! E boa sorte aí com o lance do bilhete, Jimin.

— Valeu, Mingyu! — Eu digo, estendendo meu punho para trocar um soquinho camarada com ele. — Aliás, pode manter segredo sobre... tudo?

—  Posso pelo menos dizer que você é muito mais bravo e assustador do que parece? — Ele pergunta, rindo o suficiente para mostrar que não tem ressentimentos sobre nossa pequena cena de antes.

— Hm... e se ao invés disso você disser que eu corri atrás de você como uma brincadeira entre amigos? — Sugiro, no lugar de seu pedido. — É melhor, né não?

— Eu não acho, mas tenho medo de ser perseguido de novo se eu discordar, então... sem problemas. — O tonto decide, sem saber que essa foi uma situação extraordinária. Eu não saio perseguindo pessoas por aí com frequência. O máximo que faço é despertar o desejo de meter um soco, mas nunca meto. Nesse caso, por outro lado, é melhor que ele acredite que eu sou meio brabo mesmo. Aí, anuncia: — Todo mundo vai saber que esse é nosso jeitinho de ser amigo.

— Perfeito! — Eu sorrio com satisfação pura, já acenando para a inimizade mais breve que já tive em meus dezoito anos. — Até amanhã, Mingyu! Aproveite a festa da sua vózinha!

Deixando meu público disperso para trás, eu corro de volta para a escola, direto até o vestiário e em seguida, já com a roupa de treino, até o campo.

Não pela primeira vez, a arquibancada é preenchida por um ou outro grupo de desocupados que ficam além do horário de aulas só para assistir nossos treinos.

A surpresa?

Dessa vez, um dos improváveis grupos é aquele dos amigos do santo ritual de sexta-feira.

E eles assistem todos os meus jogos, mas nunca ficam para assistir a carnificina que chamamos de prática.

Então eu já sei. Aconteceu alguma coisa.

— O que rolou? — Com o corpo meio seboso de suor, eu paro diante do quarteto fantástico assim que encontro a primeira pausa e, sem cerimônia, disparo a curiosidade.

— Já te disseram que você fica irresistível todo suado assim, Jimin? — Essa é a resposta que me é dada, por Hoseok.

— Dizem todo dia, cara.

— Show. — Taehyung diz, arrastando a bunda pelo degrau da arquibancada até sentar no inferior, para ficar mais perto de mim. Seu interesse, por outro lado, não é meu suor: — Mas e aí, o que foi aquela gritaria e correria atrás de Mingyu, hein?

Ah, então foi isso. Sabia que tinha coisa para estarem os quatro desocupados aqui.

— Vocês viram, foi?

— Todo mundo viu, Jimin. Quem não estava lá, viu pela quantidade de vídeos que fizeram. — Yoongi revela, já pegando seu celular para me mostrar uma das supostas filmagens, mas eu nego com um gesto indisposto.

— Odeio a tecnologia. — Resmungo.

— Sim, sim. Daqui a pouco a gente planeja a revolução anti-tecnologia, diz que a Terra é plana, ciência é intriga da oposição e todo tipo de absurdo que você quiser — Seokjin decide, movendo o corpo até sentar ao lado de Taehyung. — Mas primeiro explica o que foi aquilo, pelo amor de deus. Ótimo entretenimento, mas ninguém entendeu nada.

Eu deixo uma risada meio sem graça ser a primeira parte da minha resposta enquanto tomo a liberdade de me agachar para pegar a garrafinha squeeze no bolso lateral da mochila de Hoseok. Com ela em mãos e os olhos curiosos de meus amigos mirados em mim, eu primeiro inclino a cabeça para trás para disparar um jato de água direto na boca; depois, no rosto para aliviar o calor.

Por último, eu passo a mão para tirar o resto de umidade, em seguida deslizo os dedos para jogar os cabelos molhados de suor para trás. Ainda agachado, eu devolvo a garrafinha à sacola e respiro fundo.

Finalmente revelo:

— Então... sabem o plano do bilhete? Para me reaproximar de Jungkook? — Os quatro balançam a cabeça num sim ansioso. Meu sorriso cheio de graça nenhuma cresce. — Pois é... deu certo, não.

— Como?! — Taehyung questiona, pessoalmente ofendido.

— E ainda tiveram a cara de pau de condenar o meu conselho, o meu sábio conselho, para Jimin ser básico, paciente e ponderado — Ah, lá vem Yoongi com essa amolação de novo.

— O problema do seu conselho é que ele é podre. O problema do meu plano foi o executor — Taehyung defende, ainda ofendido demais.

E sua chateação é por sua ideia não ter dado certo. Imagina se fosse ele que estivesse falhando na tentativa desesperada de recuperar o melhor amigo enquanto planeja chorar à noite, no banho e depois na cama, porque continua afastado da pessoa favorita de sua vida?

Nossa, ele morria de desgosto.

— O que foi que não deu certo? — Sem dar moral para os ressentimentos dos meus dois péssimos conselheiros, Seokjin questiona.

Aí, seus olhos se comprimem um tanto mais e ele termina por elevar as sobrancelhas. Com esse sorriso cínico, pergunta:

— Antes de explicar, você não tem uns peidinhos lá na sua mochila, não? Meu estômago roncou.

— Na mochila não tem. Mas aqui — Eu sigo agachado, equilibrando o corpo nas pontas dos pés, e dou três tapinhas na barriga: — tá cheio. Se quiser, solto pra você.

— E esse é Park atacante-do-ano Jimin, querida plateia. — Hoseok fica de pé para anunciar, dramaticamente. — O cara mais popular e charmoso da escola!

— Só porque eu sou charmoso não posso ter gases? — Devolvo, incapaz de conter uma gargalhada. — Pois tô cheio.

— Por mais que eu tenha imenso interesse em suas flatulências escabrosas, — Taehyung anuncia ao bater palmas para chamar minha atenção. — primeiro quero saber do bilhete!

— Sim, sobre o plano desastroso — Eu suspiro, cansado demais para continuar agachado dessa forma, então jogo o corpo até apoiar minha bunda no chão. Com os braços apoiados nos joelhos, vou em frente: — É mais fácil me perguntarem o que deu certo. E eu digo com confiança: nada. Não deu nada certo.

— Como em minha vida amorosa... — Hoseok se lamenta.

— E Mingyu teve culpa nisso porque...? — Depois de uma olhadela furiosa para Hoseok, Yoongi questiona e gesticula com a mão para que eu desenvolva o contexto.

— Porque Jungkook acha que foi ele que escreveu o bilhete, aí veio me perguntar se eu sabia o signo do bonitão, para confirmar. E você acha que o problema é só esse? Não é! Ele acha que é um bilhete romântico!

— Bilhete romântico? — Seokjin aperta os olhos, confuso. — E o que foi que você escreveu?

Eu suspiro, juntando um tanto mais de energia para levantar. Quando fico de pé, caminho até minha bolsa de treino apoiada ao lado do banco do time e, sem demora, pego meu celular. Na galeria, eu seleciono a foto que tirei da parte externa do bilhete, preenchido com a caligrafia mais cuidadosa que já fiz.

Tão, tão bonita e caprichada que sequer parece minha letra.

— Começou assim. — Eu revelo ao passar o celular para um dos quatro, que se amontoam para ver a tragédia grega de uma linha só.

— "Para Jeon Jungkook, o virginiano, coraçãozinho". — Taehyung lê e nem espera o fim para começar a rir. — Precisava mesmo do coraçãozinho, Jimin? Até eu pensaria que é um bilhete romântico.

— É. Agora que todo mundo me disse isso, eu já entendi. — Suspiro, largando meu corpo no degrau da arquibancada enquanto a derrota se dispersa em minhas veias. — Passem para a foto seguinte.

Curiosos como são, é claro que eles logo obedecem a instrução. E lá se vai o resto de dignidade que eu ainda tinha quando é Seokjin quem assume a leitura:

— "Querido virginiano", — Ele começa, rindo previamente nem sei de quê. — "Seu sorriso é o mais bonito que existe. Espero que esse bombom seja capaz de te fazer sorrir e iluminar ainda mais essa segunda ensolarada".

Olhando para eles, eu vejo que os quatro imediatamente lançam olhadelas para o céu. Yoongi é o primeiro a olhar de volta para mim como se eu fosse maluco, e diz:

— Bro, o dia tá nublado desde cedo.

— Eu sei! — Ô, inferno. Eles não estão sendo de ajuda nenhuma. — Mas eu escrevi o bilhete na sexta e a previsão disse que ia fazer sol hoje!

— A previsão da segunda passada, né? — Taehyung questiona, com o mesmo olhar que expressa todo o demérito do qual sou alvo. — Meu filho, a previsão é de tempo nublado e chuva leve pra semana toda.

— Tá, eu me atrapalhei e não tive a decência de escrever outro bilhete quando vi o céu tão cinza quanto meu humor nesse momento. — Assumo, impaciente. — Vocês não perceberam que esse não é o maior problema aqui?

— Bom, — Hoseok pondera. — seu bilhete parece, sim, romântico. E você assinou como "seu libriano favorito" e ele nem desconfiou que poderia ser você. — Ele pontua, fazendo uma careta quase de compaixão. — Doeu, né?

— Tá doendo até agora — Suspiro, cada vez mais derrotado.

— Tá, vamos com calma. Foi só um imprevisto — Seokjin subitamente resolve amenizar a situação. Não sabia que ele era fã de eufemismos, mas talvez meu desespero tenha amolecido seu coração. — No que você pensou? Vai contar a verdade para Jungkook?

— Só se eu quiser aumentar minhas chances de nunca conseguir me reaproximar dele — Confesso junto a uma coçadinha nervosa no ombro. — Se eu disser que o bilhete é meu e que não é romântico coisa nenhuma, Jungkook vai morrer de vergonha, porque ele já falou comigo sobre isso e tem certeza de que é algum tipo de declaração.

— Não queria dizer, mas a forma como você naturalmente escreveu um bilhete assim... — Hoseok subitamente diz, todo desconfiado. — Parece que você se declarou sem perceber, Jimin.

— Claro que não, maluco — Nego de prontidão. A careta intensifica minha oposição à sua ideia.

— Eu penso como Yoongi, mas — Hoseok dispara, já erguendo a mão para me calar quando eu abro a boca para insistir que: nada a ver. E também perguntar desde quando ele concorda com qualquer coisa que Yoongi diz. Sem me dar espaço, finaliza: — a gente tem que pensar em como prosseguir. Você vai parar com os bilhetes e fingir que nada aconteceu?

Essa parece a melhor opção, diante das circunstâncias.

Ou — Taehyung diz, com esse sorriso meio maluco de quem pensou em outro plano infalível que, surpresa! Vai falhar. — O bilhete fez Jungkook falar com você mesmo achando que foi outra pessoa que escreveu, não foi?

— Foi — Eu sorrio, meio bobo só de lembrar. — Ele me disse "oi"! O "oi" mais esperado da minha vida.

Os quatro se entreolham por um instante antes de me fazerem alvo de risadas e olhares desconfiados mais uma vez, o que invariavelmente me força a revirar os olhos de novo.

Eu sei. Eu ouvi o tom. — Confesso previamente, apenas para que me deixem em paz. — Calem a boca e voltem ao que importa.

— Sim... — Taehyung até coça a garganta com um pigarro, devolvendo o celular para mim antes de seguir com seu segundo plano: — Como eu estava dizendo, o bilhete fez Jungkook se aproximar de você. E você não quer dizer a verdade para ele, então tem duas opções: desistir dessa ideia e pensar em uma nova ou se adaptar à situação.

— Adaptar como, Taehyung? — O questionamento de Hoseok vem com desconfiança e falta de credibilidade. Honestamente, também não confio muito, não. — Não piora o que já tá ruim, não.

— Calado. E pensem bem! Se Jimin continuar enviando os bilhetes, ele pode usar a curiosidade de Jungkook para se aproximar dele enquanto finge que os bilhetes são de outra pessoa.

— E fazer Jungkook acreditar que tem alguém apaixonado por ele pra no final ser tudo armação? — Questiono antes de, decididamente, dizer: — Não mesmo.

— Mude o teor dos bilhetes, ué. Deixe claro que são bilhetes de alguém que quer a amizade dele — Taehyung sugere com a maior simplicidade do mundo, antes de finalizar com um balançar de ombros: — Mesmo que pareça que você quer mais que amizade.

Nossa, mas eu vou dar um soco nesse sem noção.

Que mais que amizade o que?!

— Bom... — Yoongi diz com o inconfundível tom pensativo que antecede sua concordância com o plano de Taehyung. — Não é tão ruim, na verdade. Você tira dele a ideia de que são bilhetes românticos e se aproxima antes mesmo que ele descubra que você é o autor. O trajeto é diferente do original, mas o destino é o mesmo.

— Jimin, — De repente, a voz de Jongin antecede minha própria resposta. Tão suado quanto eu, meu colega de time de aproxima e aponta para trás, na direção do técnico. — O treinador disse que, se você não voltar para o treino agora, você vai ter que dar vinte voltas ao redor do campo.

Eu respiro fundo, frustrado por ter uma discussão tão importante assim, interrompida.

Mas eu não quero dar vinte voltas, então logo fico de pé e anuncio: — Eu vou ver o que faço. Até! — antes de seguir de volta até o campo.

Dali até o fim do treino diário, pelo menos, não tenho tanto espaço para me preocupar com o futuro das minhas tentativas de recuperar meu melhor amigo. Mas é só meu corpo relaxar debaixo do jato de água fria do vestiário que tudo volta com força total.

Como em muitos momentos de minha breve existência potencialmente dramática, eu não sei o que fazer.

A única certeza que tenho é que quero Jungkook de volta. Não importa se perdemos tudo aquilo que tínhamos em comum. Nós podemos ser como opostos que se atraem. Como ímãs.

Eu quero meu melhor amigo. Quero poder conversar com ele ao invés de perder minutos assustadores encarando-o enquanto reflito sobre tudo que perdi quando permiti que ele se afastasse de mim.

Talvez eu devesse ter tentado mais antes. Quando ele começou a se distanciar, eu deveria ter montado a melhor barraca de lençois, escolhido o pior filme de terror que existe e contado a piada mais sem graça já criada.

Eu poderia aprender, e por ele aprenderia, tudo sobre signos, para justificar todas as suas características virginianas sem as quais eu não desejava viver.

Eu deveria ter feito tudo isso para ele entender que muita coisa estava mudando em nossa vida naquela fase, mas que a mais importante nunca, em hipótese alguma, mudaria.

O que eu sinto por ele.

Quinze meses se passaram desde a última vez que fomos o que costumávamos ser. Vários novos amigos entraram em minha vida, mas nenhum foi capaz de preencher o espaço que ainda espera Jungkookie de volta.

No caminho de retorno para casa, é nisso que penso. É nele, em nós dois, no que fomos e no que poderíamos ser, mas não somos mais.

Eu penso em nós dois voltando da aula juntos, brincando com poças da chuva de verão nos dias úmidos e admirando os tons de degradê do céu de fim de tarde dos dias quentes, quando vagávamos por aí antes de apostarmos corrida até o condomínio.

De tão distraído e perdido nas lembranças gostosas, me leva algum tempo para perceber que, quando chego ao prédio onde vivo desde que nasci, Jungkook está saindo dele.

Meses atrás, eu sorriria sozinho e me aproximaria sem deixar que ele percebesse só para dar um chute leve na parte de trás de seu joelho, vê-lo perder o equilíbrio antes de virar com fúria nos olhos e perceber que sou eu. Aí, seu olhar ficaria mando de novo e ele sorriria para mim com os dentinhos de coelho.

Eu não sei se é a saudade, o medo de que ele não sinta minha falta como eu sinto a dele ou a música que meus fones de ouvido reproduzem. Talvez seja a combinação desastrosa dos três que me faz parar no lugar enquanto continuo olhando para ele, percebendo sua imagem cada vez mais embaçada à medida que meus olhos se umedecem com lágrimas que não chegam a escorrer.

O pensamento, por outro lado, quase escorre. Quase. Por muito pouco, em nosso encontro acidental na calçada do prédio que emoldurou os primeiros passos de nossa amizade, os sentimentos se mantêm aqui dentro e não encontram verbalização. Mas isso não anula a intensidade de todos eles.

Não anula que Jungkookie... eu sinto sua falta.

E me dói perceber quanto medo eu tenho de tentar me reaproximar dele, precisando de planos milaborantes porque não tenho coragem alguma de tentar fazê-lo com uma conversa normal.

— Jimin? — Ele chama, próximo, mas não o suficiente. Com a expressão confusa e preocupada, pergunta: — Tá tudo bem?

Eu forço um sorriso mínimo antes de tirar meus fones cuidadosamente, exibindo-os para ele. Incapaz de confessar tudo que estou sentindo, digo:

— A música estava me deixando triste.

— Ah. — Ele parece aliviado, hesitando um pouco antes de questionar: — How to save a life?

Meu sorriso cresce. Jungkook ainda lembra que, de 2009 em diante, eu nunca superei essa música.

Choro toda vez que escuto.

— É. Ainda mexe comigo.

— Espero que tenha Never gonna give you up nessa playlist, para te alegrar. — E da mesma forma, ele lembra que música sempre cura minha tristeza.

— Tem. — Respondo, desacreditado no tanto que meu coração bate forte só com essa conversa quase à distância. — Claro que tem.

— Muito bem. — Ele diz, sem conseguir esconder seu desconforto. — Eu preciso ir. Boa tarde, Jimin.

E lá se vai ele, mais uma vez.

Eu já estou cansado de olhar para as costas de Jungkook se afastando de mim, sabendo que nunca vou vê-lo caminhar de volta em minha direção.

— Jungkook! — Talvez eu esteja sendo impulsivo, mas vou pensar no arrependimento depois. Agora, eu só quero tentar.

— Oi? — Ele responde ao virar para trás, sem jeito quando me vê aproximar com pressa e ao mesmo tempo precisa usar os dedos para realinhar os cabelos escuros com as pontinhas tingidas de azul.

Lindo. Cada vez mais lindo.

Quase completamente desconcentrado pela beleza que parece mais intensa a cada dia que passa, eu dou uma chacoalhada na cabeça para recuperar meu precioso foco. Só então, com essa demora esquisita, eu digo:

— Eu queria falar com você. Sobre o bilhete.

— Ah. — Ele desvia os olhos por um instante e eu vejo a forma como troca o peso de uma perna para a outra, coisa que sempre faz quando fica constrangido. — Sobre isso...

— Sim?

— Por que você reagiu daquele jeito quando eu falei do bilhete para você? — Essa é a pergunta que ele faz, com a entonação que deixa claro que sua pergunta, na verdade, é: você tem alguma coisa a ver com aquilo?

Eu suspiro, antes de confessar:

— É porque eu sei quem escreveu o bilhete, Jungkook.

Tudo bem. Mudança de planos. Seja o que deus quiser.

Diante do meu improviso irresponsável, os olhos dele se arregalam um tanto.

— Sabe? — Ainda desconfiado, ele pergunta.

— Sim. Não foi Mingyu. Ele é ariano, aliás.

— Cruzes. — E diz, quase assustado.

— É.

— Então... quem foi?

Eu umedeço meu lábio, ainda sabendo que não posso dizer que fui eu. Não enquanto Jungkook acreditar que aquele bilhete foi como uma declaração porque ou ele vai perceber que não foi uma declaração coisa alguma e morrer de vergonha por isso ou vai continuar acreditando que foi. Nos dois casos, existe muita chance de que as coisas entre nós dois fiquem ainda mais estranhas.

Assim, decido:

— Eu ainda não posso dizer. Ele vai ficar chateado comigo. Mas eu posso te ajudar a descobrir.

Ele abre a boca para falar, mas desiste no meio do caminho. Com uma coçadinha na testa, finalmente questiona:

— Você parece sempre ocupado. Certeza de que vai ter tempo para me ajudar com uma coisa boba como essa?

Isso é pergunta que se faça?

— Eu sempre vou ter tempo pra você, Jungkook.

Ele respira fundo, incapaz de manter seu olhar no meu quando tenta expulsar o desconforto com um pigarro, antes de balbuciar algo incompreensível. Com um fechar de olhos demorado, ele parece juntar coragem antes de me olhar mais uma vez e finalmente dizer audivelmente:

— Então tá.

— É? — Questiono, já sorrindo em alívio. É o primeiro passo. Talvez o improviso dê certo. — Faz um tempo desde a última vez que nós fizemos alguma coisa juntos. Chegar à resposta de quem é o tal libriano secreto vai ser a primeira em meses.

— Sim... — Aquecendo meu coração inteiro, Jungkook diz com um sorriso que me faz ter certeza: ele também quer isso.

Ainda não sei por que ele me evitou tanto desde nosso afastamento inicial. Mas eu sei, eu sinto, que Jungkookie também sente minha falta.

Ainda com o sorriso lindo que de fato traz sol a essa segunda nublada, ele diz:

— Eu realmente preciso ir agora. Mas...

— Mas?

— Como você vai me ajudar a descobrir quem ele é sem me dizer de cara? Seu amigo não vai ficar chateado da mesma forma?

Eu não vou dizer isso não, né?

— Seremos básicos, pacientes e ponderados, Jungkook. Pelo bem do mistério. — É, eu disse.

Jungkook, por sua vez, faz uma careta confusa de quem não entende a resposta. Mais uma prova de que o conselho de Yoongi é uma bosta.

— Certo. Seja lá o que isso quer dizer — Ele murmura logo antes de sorrir um pouco mais diante da situação improvável. — Então nos encontramos em breve para sermos básicos, pacientes e ponderados em busca da solução do mistério.

— Esse é o espírito! — Eu digo com diversão, quase explodindo por dentro.

Nós estamos nos despedindo, mas com a promessa de que em breve estaremos juntos novamente.

Por quinze meses, isso foi inimaginável. Agora está aqui, bem diante de mim.

A ideia dos bilhetes não foi tão ruim, afinal.

Com um aceno desajeitado diante da esperança que pulsa dentro e fora de mim, Jungkook se despede de vez e segue seu caminho pela calçada enquanto eu, sozinho, sei bem o que preciso fazer.

Preciso escrever um novo bilhete.

Um mais cuidadoso, dessa vez.

Apressado para dar sequência ao que tenho planejado, meus pés param no lugar e eu giro ao redor de meu próprio eixo quando ouço a voz de Jungkook mais uma vez, já afastado de mim.

— Ei! — Ele chama, alto, lá da calçada.

— Oi! — Daqui, respondo, sem acreditar no que um simples "ei" faz comigo.

— Já que você sabe quem escreveu aquele bilhete, me faz um favor?

Vixe.

— Faço. Pode falar.

Jungkook me mostra um sorriso pequeno, nervoso, mas sincero. E para fazer meu coração decidir de vez que seu espaço nunca será ocupado por outro alguém, ele anuncia:

— Diz pra ele que o meu libriano favorito sempre vai ser você.

☆☽☀☾☆

O plano deu errado, mas deu certo. Agora é confiar no potencial de Jimin pra não deixar virar uma confusão ainda maior. Fácil!

Gente, brigada de verdade pelo carinho que vocês estão dando a essa história, assim, tão rápido. Fico muito feliz que o objetivo dela (distrair vocês) esteja sendo alcançado. De quebra, eu também fico felizona hahaha <3

Gostaram desse capítulo?

Aliás! Nada contra arianos e arianas, viu? É meu signo favorito :x

Agora que o circo tá montado, os próximos capítulos já são com os jikook cada vez mais próximos! Espero não morrer de amores por eles porque meus bebês são tão fofinhos ):

É isso! Se eu sobreviver à fofura deles, nos vemos quinta feira. Até lá ou até a #LibrianoFavorito <3

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