Os astros dizem, 10: viva!
Previsão do dia para o signo de virgem:
Às vezes é necessário desapegar das previsões e do controle para fazer aquilo que mais importa: viver.
♍️
Jimin quis mesmo me beijar?
Os pensamentos se confundem em minha cabeça, agora que descobri a verdade.
Não é nenhum drama de novela mexicana. Não é tão sério. Mas me faz questionar.
Por que ele não me disse a verdade sobre os bilhetes?
Eu acho que descobri na pior situação possível, para alguém como eu. Quer dizer, minha confiança sobre os sentimentos dele ficou abalada depois que ele passou alguns dias me evitando. Hoje, cercado por várias outras pessoas, o tipo de ambiente mais hostil para mim, me foi revelado, não por ele, que aqueles bilhetes não eram nada do que eu acreditei que fossem. E todos os outros pareciam saber e se divertir com a verdade da qual fui poupado até então.
O desconforto foi imediato. A vergonha, também.
Mas, pior que isso, a desconfiança.
Várias peças até então ignoradas voltaram a fazer parte do jogo, alterando a imagem final do quebra cabeças.
A forma como Jimin reagiu a cada vez que eu reafirmei minha certeza sobre os bilhetes serem românticos. A maneira como não reagiu ao primeiro selinho, se afastou depois do segundo e passou a me evitar por dias depois do meu bilhete confessando que queria beijá-lo.
Tudo isso me faz duvidar da veracidade de tudo que aconteceu entre nós dois no último fim de semana.
É inevitável pensar que ele aceitou me beijar por ter, como motivação maior, o medo de me magoar.
Jimin é assim. Ele sempre foi protetor comigo.
Mas se essa foi sua tentativa de me proteger, só está me magoando mais.
A incerteza, por outro lado, também magoa. E eu não posso transformá-la em verdade se não der a chance para que ele se explique melhor.
Horas já se passaram. A noite já chegou. E, apesar de perceber o olhar angustiado de Jimin me acompanhando a cada segundo que sucedeu o fim desastroso de nosso almoço, não falei com ele desde então.
Deitado em minha cama, já pronto para dormir, eu reviro de um lado para o outro como se estivesse descansando sobre um formigueiro.
Eu estou confuso. Acho que estou ficando com fome de novo, apesar de já ter jantado. Estou triste.
Inquieto demais, eu percebo que não vou conseguir dormir tão cedo e jogo a coberta para o lado antes de sentar sobre o colchão. Sem que essa seja minha verdadeira motivação inicial, acabo por levantar e seguir até minha cadeira, onde sento. Diante da escrivaninha, abro a primeira gaveta, onde estão os três bilhetes do meu libriano secreto, e releio cada um deles cuidadosamente.
Ainda não entendo. Parecem bilhetes de alguém apaixonado.
Minhas mãos se esfregam pelo rosto num gesto confuso e frustrado, interrompido pela repentina vibração de meu celular, que me surpreende ao exibir uma nova mensagem de Jimin.
"Vá até a porta", é o que diz a notificação.
Indeciso sobre atender o pedido ou não, eu continuo estagnado no mesmo lugar até que me encho de coragem e fico de pé, seguindo de pés nus pelo corredor até a sala já escura. Assim que acendo a luz, meus olhos encontram o que mais uma vez foi passado pelo pequeno espaço abaixo da porta e agora repousa sobre o chão.
Com o coração batendo descompassado em nervosismo, eu me aproximo e me abaixo para pegá-lo.
Minha primeira surpresa vem ainda antes de abrir o bilhete.
"Para o virginiano que me conquistou", ele escreveu, do lado de fora.
"Querido Jungkookie,
eu não vou desistir de você.
Ass.: seu libriano favorito"
Meu coração descompassa mais um pouco, acelerando e se desajustando inteiro a cada vez que, incapaz de fazer outra coisa, releio a simples frase repetidamente.
Quando finalmente volto para a cama com a certeza de que não conseguirei dormir reforçada, tenho a confirmação. As horas passam e nada do sono vencer a batalha. Não, porque Jimin e seus efeitos sobre mim vencem cada uma delas.
Pela manhã, ainda não estou preparado para lidar com isso, e sigo firme em meu ritual de sair mais cedo para não encontrá-lo no corredor. Dessa vez, saio trinta minutos antes, para garantir.
A escola está completamente vazia, quando chego. É óbvio. Apenas alguns funcionários estão por aqui.
E mais uma pessoa, que não esperava encontrar.
Jimin.
Sozinho em nossa sala, cochilando em seu assento de sempre, talvez por ter acordado cedo demais, ter dormido mal como eu ou os dois.
Com medo de acordá-lo, eu vou sorrateiro até minha mesa. E é ao chegar aqui que descubro por que ele chegou a essa hora. Ele queria garantir que chegaria antes de mim, para deixar mais um bilhete em minha mesa, junto a um dos bombons que tanto gosto.
"Para meu melhor amigo e melhor beijo", é o que esse diz.
"Querido Jungkookie,
eu não consigo parar de pensar em te beijar de novo.
Ass.: seu beijo favorito (assim espero)"
Finalmente chegou a hora?
Deus, eu finalmente serei levado?
Senão, por que meu coração está esquisito assim? Eu só posso estar morrendo.
Em meu estado que antecede o bater de botas definitivo, eu perco todo o meu tempo olhando para o bilhete, para Jimin, para o bilhete e para Jimin.
Quando Mingyu abre a porta de correr da sala com tudo e passa para o lado de dentro quase gritando enquanto boceja, Jimin acorda assustado.
Seus olhos vão primeiro para o grandalhão bonito, que para no mesmo lugar ao ver que só estamos eu e ele aqui na classe. Depois ele olha para mim, o que imediatamente me faz desviar a minha atenção.
— Ei... — Mingyu diz, nervoso, acho que para mim e para Jimin, simultaneamente. — Desculpa por ontem. Eu não queria criar nenhuma situação chata...
Sem olhar para ele por muito tempo, tudo que eu faço é um balançar de cabeça que o livra de toda a culpa. Ele só disse a verdade. Não fez nada de errado.
O erro da situação é que eu esperava saber daquilo por Jimin, não por outra pessoa, não na situação em que ocorreu.
Eu ouço o suspiro tão alto quanto seu corpo antes que, com as pernas longas que tem, Mingyu siga seu caminho até a última cadeira da minha fileira.
Maravilha. Agora somos três em silêncio e desconforto.
Quando outras pessoas vão chegando, cumprimentando Jimin e parando para conversar com ele, eu poderia até me iludir acreditando que a tensão aliviaria. Mas como poderia se, enquanto conversa com seus inúmeros colegas, ele me lança olhadelas constantes e me pega sempre olhando de volta?
Meu coração normalizou, ao menos o suficiente para me fazer desacreditar na possibilidade de ser levado por agora.
Será que deus desistiu?
Jimin não me quer. Deus também não.
— Jungkook, isso não é tão sério quanto parece. — Namjoon diz quando, voltando à normalidade, eu sento apenas em sua companhia para almoçar.
— Eu tô chateado, Joonie. — Explico, remexendo em minha comida, sem olhá-lo. — E várias outras coisas também. Respeita o meu direito de me sentir assim, por favor...
Ele respira fundo antes de parecer se arrepender e me estender seu pirulito ainda embalado como uma oferta de paz.
— Toma. Dessa vez é sério. Pode ficar com ele.
Eu sorrio ainda sem força, mas sem aceitá-lo. Dessa vez, estou verdadeiramente sobrecarregado, o suficiente para negar a sobremesa-consolo.
— Jungkook... — Ele chama, com cuidado. Quando olho para ele, me é dito: — Desculpa. Leva seu tempo, ok? Eu sei que Jimin entende.
— Obrigado, hyung.
— Mas tem outra coisa que eu sei também. Porque vi vocês dois juntos ontem, nessa mesma mesa. — Ele completa, ignorando as verduras em sua bandeja.
— O que?
— Você pode estar em dúvida, mas Jimin gosta demais de você. Demais mesmo. O jeito como ele olha pra você... cara, eu espero que alguma menina um dia me olhe assim. E aí eu vou casar com ela.
Eu sorrio mais uma vez, ainda sem muito entusiasmo. Ao mesmo tempo, percebo vários pares de olhos mirados em minha direção e logo olho para a mesa ao lado, onde encontro a causa.
Os quatro amigos de Jimin estão ali, mais uma vez amontoados uns sobre os outros enquanto olham para mim.
Eles são mesmo bacanas e eu não estou chateado com eles, então lanço um aceno meio tímido que logo é respondido por quatro sorrisos surpresos seguidos de quatro corpos se erguendo, pegando quatro bandejas e carregando-as até minha mesa, como se esperassem apenas uma confirmação para se aproximarem.
— Eu achei que você não ia mais querer falar com a gente! — É Taehyung que diz quando todos eles acomodam as bundinhas nos assentos da mesa que eu ocupo com meu amigo.
— Não... imagina. — Respondo, ainda meio travado. Gosto deles, mas preciso de mais tempo para me sentir completamente confortável. — Nada a ver.
— E com Jimin? — É Hoseok quem dispara, na sequência. — Vai falar com ele também, né?
— Pelo amor de deus, bro. — Yoongi prontamente o repreende. — Deixa de ser inconveniente, seu sem noção.
— Estou com Yoongi nessa. Foi sem noção, Hoseok. — Seokjin o repreende, antes de suavizar o olhar e sorrir desajeitadamente para mim: — Mas vai falar com ele, né?
— O pobrezinho está desesperado, Jungkook. — Taehyung, mais uma vez. — Ele gosta muito de você. Muito, muito, muito mesmo. Demais. Você nem imagina. Dá até tristeza de ver.
— Ei... — É Namjoon quem antecipa minha resposta, com a expressão meio carrancuda. — Jungkook vai falar com Jimin quando quiser, se quiser. Respeitem isso e não pressionem. Essa é a regra pra sentar com a gente no almoço.
Os quatro se entreolham, mas logo assentem como crianças repreendidas e arrependidas.
— Desculpa. — Hoseok é o primeiro a dizer. — Podemos falar de outra coisa.
— Alguém quer falar mal de matemática comigo? — É Yoongi quem questiona. — Vou me lascar na próxima prova...
— Eu me lasquei e me lascarei em todas. — Respondo, frustrado.
— Gostaria de negar, mas é verdade. — Namjoon diz, sem vergonha na cara ao jogar toda a sua salada em minha bandeja. — Jungkook é incompatível com matemática.
Não demora para que a conversa seja alimentada por outras quatro pessoas relatando suas maiores dificuldades com as matérias, o que evolui para uma conversa sobre o fim próximo de nossas jornadas na escola e o que pretendemos fazer ao sairmos daqui.
A conversa flui bem e eu não me sinto pressionado pela presença do grupo maior que meus limites costumam tolerar, mas não deixo de olhar ao redor várias e várias vezes, em busca de Jimin. Em nenhuma dessas vezes, o encontro.
Sem saber onde ele estava por todo esse tempo, eu volto para a sala com Yoongi.
Ao chegar, finalmente descubro o paradeiro de Jimin. De pé, ao lado de sua carteira, bebendo água de sua garrafinha enquanto simultaneamente seca o suor na testa.
Suor?
Pela segunda vez no dia, a resposta está na minha mesa.
Mais um bilhete, dessa vez acompanhado de um copo de milkshake de morango de uma lanchonete não tão perto daqui, tão pequena que não trabalha com entregas.
Mais um golpe fatal direto em meu coração, porque entendo.
Jimin deixou de almoçar para fugir da escola e ir comprar o meu milkshake favorito para mim?
Segurando o copo que já começa a liberar gotículas por sua superfície, eu uso a outra mão para pegar o segundo bilhete do dia.
"Para o garoto que não sai da minha cabeça".
"Querido Jungkookie,
espero que ainda goste desse milkshake de morango. Você disse que as pessoas mudam, então talvez isso tenha mudado. E você tem razão. Por exemplo, uma coisa em mim muda o tempo todo: o quanto gosto de você. A cada vez que te olho, gosto um pouquinho mais.
Ass.: Seu Jimin-ah"
Deus vai me levar dessa vez. É certeza. Meu pedido finalmente vai ser atendido.
Mas aí eu olho para o lado e eu tenho certeza de que agora, sim, serei levado, porque logo meu olhar encontra o de Jimin. E, com um tanto de receio, ele sorri para mim.
E eu sorrio de volta.
Um sorriso frágil, ainda inseguro, mas cada vez mais rendido.
Desse momento até o fim das aulas do dia, eu me vejo dividido entre os professores e meus pensamentos sempre levados a Jimin. No entanto, num último fio de confusão emocional, não me levo a ele quando as aulas acabam.
Eu venho direto para casa.
Para fazer o que? Isso mesmo. Pensar ainda mais em Park Jimin, porque aparentemente cheguei a um ponto de minha vida no qual não consigo tirá-lo de minha cabeça.
É uma sensação gostosa, apesar de tudo. Essa de estar me apaixonando pela primeira vez.
E ainda que seja meio estranho que aconteça justamente com ele, também tem um quê a mais nessa situação toda.
Minha primeira paixão é o meu primeiro e único melhor amigo.
E é por isso que a possibilidade de que ele esteja fingindo me assusta ainda mais. É Jimin hyung. Com ele, com nós dois, as coisas nunca serão como são para as outras pessoas.
Ao mesmo tempo... isso tudo não pode ser fingimento, não é?
Eu vou endoidar.
A tarde é sofrida, não só pela quantidade de questões de matemática que tento (e falho) em fazer.
Eu quero ir até Jimin. Quero ouvir de sua boca, uma última vez, que ele quer isso tanto quanto eu. Simultaneamente, me percebo com medo de confrontá-lo, porque descobrir que seu desejo por mim não é real vai machucar muito, mas descobrir o contrário também me colocará numa posição de arrependimento sem igual, por ter duvidado tanto dele.
Um jantar reforçado e um banho morno não são suficientes para me impulsionarem a fazer o que sei que quero. Mas então eu entro no quarto, com a toalha enrolada ao redor do quadril, e abro o armário para pegar uma roupa velha para dormir.
Eu não vejo, mas lembro. Lá no fundo, escondido, está o porta retrato com uma foto minha ao lado de Jimin.
Pela primeira vez em mais de um ano, tenho coragem de procurá-lo. E suspiro quando o encontro.
É Jimin. Não importa o que esteja acontecendo, você sabe que pode confiar nele, é o que a antiga foto parece me dizer.
— Então vamos resolver isso. — Eu digo para mim mesmo, decidido.
Mais ou menos decidido, na verdade.
Eu visto uma roupa, devolvo o porta retrato à escrivaninha — porque, assim como prometi a ele, nossa amizade é o que mais importa. E independente do que seja decidido hoje, sei que ainda seremos amigos, porque nós dois assim nos esforçaremos para que aconteça.
Antes de sair, eu abro meu caderno de rascunhos e cuidadosamente arranco a última página preenchida por um desenho meu. Com ele em mãos, faço o que tenho que fazer.
Antes de sair, diante da porta de casa, sem surpresa, encontro mais um bilhete.
"Para o menino mais lindo do mundo", ele escreveu nesse.
"Querido Jungkookie,
eu não paro de pensar em você, no seu beijinho e no seu carinho gostoso. Eu vou esperar até que você acalme os próprios pensamentos, mas me deixa pedir... não demora. Volta logo pra mim?
Ass.: o libriano que se apaixonou por um virginiano sem perceber."
Eu sorrio, mesmo sentindo mais uma vez. A palpitação. A iminência do fim de minha curta vida.
E vou, mesmo ainda cheio de receio. Eu abro a minha porta e vou até a dele, diante da qual respiro fundo, conto até três e dou batidinhas suaves.
Ouço primeiro os passos. Depois, ouço a chave girando no trinco. Por último, a porta se abre, revelando um dos irmãos Park, mas não o que eu quero encontrar.
— E aí, Jungkook? — Siwoo cumprimenta, vestindo nada além de uma bermuda e cutucando o próprio ouvido.
Ele fez uma tatuagem na costela?
Rebelde!
— Jimin tá aí? — Disparo a pergunta, antes de perder a coragem.
— Você podia pelo menos fingir que se importa comigo também, sabe? — Ele resmunga. — Po, nós também tivemos nossos bons momentos e você só quer saber de Jimin, Jimin e Jimin...
— Que bons momentos? Você só sabia bater na gente e me irritar até me fazer chorar!
Ele sorri com a lembrança repentina e não demora para começar a gargalhar.
— É verdade. Era show demais. Metro e meio tá no quarto, vai lá.
— Muito obrigado. — Eu digo, me lançando para dentro do apartamento assim que Siwoo me dá espaço, e na sequência sigo pelo corredor em direção ao quarto tão familiar.
A porta está aberta, mas dou batidinhas para anunciar minha chegada porque nenhum dos dois irmãos me percebe. Hyeon está deitado de bruços enquanto lê e Jimin de frente para o espelho do próprio armário, experimentando... a bandana da vila da folha?
Diante do meu anúncio tímido, os dois lançam a atenção em minha direção. Jimin fica inegavelmente surpreso, mas Hyeon revira os olhos em antecipação, sem demora em levantar da cama com a maior indisposição do mundo.
— Já sei que vão me expulsar, então to indo.
Eu sorrio meio sem jeito, esperando somente que ele passe para o lado de fora para me perceber sozinho com Jimin.
Aí, num último surto de coragem, encosto a porta.
— Jungkookie...
— Eu recebi alguns bilhetes românticos hoje — É a abordagem que escolho, sem tempo para pensar direito. — Quer me ajudar a descobrir quem escreveu?
Jimin ainda exibe alguns sinais de surpresa, mas não se priva de rir da minha brincadeira boba e me surpreende quando, depois de uns instantes de hesitação, começa a caminhar até mim, sem hesitar novamente antes de me abraçar bem apertadinho.
— Meu Jungkookie... — Ele repete, sentido.
Eu acaricio suas costas, sem coragem de afastá-lo ainda que sinta a ansiedade me corroer. Tudo que faço é esperar que ele mesmo tome distância para me olhar, ainda com a bandana da folha amarrada ao redor da cabeça.
Eu sorrio, estendendo o desenho para ele.
— Fiz para você, hyung. Só esqueci de te desenhar como Park Rock-Lee Jimin.
Ele ri, arrancando a bandana com uma mão e pegando o desenho com a outra. Aí, seus olhos se arregalam diante do rascunho que fiz dos traços de seu rosto quando ele sorri.
— Que lindo, Jungkook...
— Não tanto quanto você.
Ele olha para mim, mordiscando o lábio quando tenta esconder um sorriso antes de ceder à falta de jeito e abaixar o olhar.
Alguns segundos de silêncio vêm, interrompidos por sua voz um tanto insegura:
— Já tá tudo bem? Você... ainda está chateado?
— Confuso. — Corrijo, junto a um suspiro medroso. — Mas não sobre o que sinto por você.
Jimin volta a me olhar cheio de expectativa e eu respiro fundo mais uma vez, tomando a liberdade de seguir até sua cama, onde me sento para impedir que a fraqueza de minhas pernas me faça desmontar no chão.
— Você pode me explicar o que exatamente aconteceu? — E peço, vendo-o ainda no mesmo lugar.
Jimin assente com fervor, cuidadosamente deixando o desenho sobre a cômoda, ao lado de nossa foto. A bandana ele larga de qualquer jeito mesmo.
— Eu estava com saudade de você — E começa, quando se acomoda ao meu lado. — Muita saudade, Jungkook. Mas também tava com medo de tentar me aproximar porque parecia que você não me queria mais por perto. E você sabe que eu tenho medo de rejeição como tenho medo de panela de pressão e de insetos.
— Sei. — Garanto, junto a uma risadinha.
— Então... — Ele também ri, meio sem jeito. — Eu não sabia como tentar, mas não parava de falar sobre você e meus amigos resolveram intervir. Taehyung deu a ideia dos bilhetes e foi assim que eu comecei a tentar.
— Você deveria ter deixado claro que só queria minha amizade, hyung... aqueles bilhetes parecem apaixonados...
— Porque são bilhetes apaixonados! O problema é que eu não sabia que estava apaixonado por você, então não percebia. Mas eu me apaixonei, Jungkook. Há muito, muito tempo. Há anos.
— Então... — Quase explodindo por ouvir diretamente de Jimin que ele está apaixonado por mim, isso é tudo que sou capaz de dizer.
— Então eu causei a maior confusão por não perceber isso antes. Tentei reverter a situação, fiz a maior bagunça, pra no final descobrir que você estava certo. Aqueles bilhetes eram inegavelmente românticos.
Eu coço minha nuca, um pouco sem jeito, mas Jimin parece determinado a esclarecer tudo de uma vez.
— Eu pedi para sermos sinceros e fui o primeiro a falhar. Eu deveria ter te contado antes, mas acredite em mim, Jungkookie... eu não escondi isso para tentar te proteger ou me proteger. Eu simplesmente não entendi mais cedo que era importante te contar e deixei você descobrir naquela situação. Me desculpa mesmo. Foi burrice minha, mas não foi mal intencionado. Eu juro.
— Tudo bem, hyung. Me desculpa por não ter deixado você explicar antes.
— Não, Jungkook... eu sei que você precisava de um tempo. Eu também precisei de um depois que você descobriu que os bilhetes eram meus e você foi tão compreensivo sobre isso. Eu entendo que você precisava pensar um pouco também.
Eu balanço a cabeça, aliviado por ele não parecer chateado comigo.
Mas eu ainda preciso perguntar, para ter total certeza:
— Isso quer dizer que... você realmente quis me beijar?
Jimin aperta os lábios por um instante, um tanto tímido quando se arrasta pelo colchão até tocar sua perna na minha. Aí, sua mão toca meu rosto.
— Jungkookie... se eu não quisesse te beijar... — Ele diz, baixinho, e me surpreende com o que faz em seguida.
Jimin hyung me beija.
Sem cerimônia, do mesmo jeitinho que me beijou durante todo o fim de semana. Com os lábios cheios se unindo aos meus antes de me arrepiar inteiro com o toque suave de sua língua reivindicando seu lugar no beijo repentino, mas muito bem recebido e retribuído.
Me deixa tontinho, me atrapalha quando eu tento tocá-lo também, deslizando meus dedos pelos cabelos loirinhos e macios como as pontas de seus dedos segurando meus braços quando sua cabeça se inclina para o outro lado, buscando novos encaixes entre nossos lábios, línguas e suspiros.
Meu deus... Jimin hyung...
Eu sinto que estou levitando quando ele me dá um último selinho demorado, com a testa encostadinha na minha, continuamente acariciando meu rosto.
— Se eu não quisesse te beijar de verdade, Jungkook... — Ele repete, baixinho. — Eu te beijaria assim?
Eu tento dizer um "não", mas o único som que sou capaz de emitir, é:
— Nhm... hmm.. ão...
— Eu sabia. — Aí, não é Jimin quem diz. Menos ainda eu, já que aparentemente desaprendi a falar.
Assustado, nós dois olhamos na direção da porta do quarto, agora parcialmente aberta e através da qual seus irmãos nos observam.
— Só amigos uma ova. — Siwoo completa, com um sorriso vitorioso.
— Namorados! — Hyeon completa.
Jimin quase urra de raiva, agarrando o travesseiro antes de jogá-lo na direção dos irmãos, que gargalham antes de fecharem a porta novamente.
— Insuportáveis! — Ele grita.
— Metro e meio! — Do lado de fora, Siwoo devolve.
Mais uma vez no olho do furacão dos irmãos Park, eu caio na risada, o que faz Jimin me lançar uma olhadela de repreensão antes de dar um soquinho em meu ombro.
— Nunca vou te perdoar por ser filho único!
Eu gargalho novamente, sem ter chegado a um consenso sobre isso. Às vezes eu penso que gostaria de ter irmãos, mas às vezes dou graças a deus por não ter.
— Se vale de alguma coisa... Siwoo e Hyeon sempre me infernizaram como se eu fosse parte da família...
Jimin tenta permanecer sério, mas acho que perde a força quando lembra de algumas das cenas que presenciou no passado. Eu realmente sofria com eles.
E aí quando seu riso vai morrendo, nós somos deixados nesse silêncio meio desconfortável.
Talvez...
Eu acho que vou dar outro beijo nele.
— Jungkook? — Quando eu estou na minha contagem regressiva para roubar um beijinho, Jimin chama.
— Oi?
— Vou perguntar de novo... tá tudo bem entre a gente?
Existem duas respostas possíveis para essa pergunta. Uma delas é um sim.
A outra é a minha escolhida: eu beijo Jimin.
Mão no seu rosto, primeiro. Depois, no seu cabelo, como ele gosta. Mas também tomo a liberdade de arriscar um pouquinho e toco em sua cintura.
Eu acho que Jimin gosta disso também.
A gente se beija e se beija e se beija, com língua, sem língua, com mordidinhas delicadas e toques hesitantes por todo o corpo.
Quase todo o corpo.
— Isso responde sua pergunta? — Questiono, meio ofegante quando a gente para de se beijar.
Eu acho que ele quer dizer que sim, mas o que diz, no lugar, é:
— Hmn... si... mm...
Eu gargalho de sua resposta, apertando seu rosto entre minhas mãos até que os lábios gordinhos façam um biquinho para mim. Aí dou um selinho muito bem dado neles.
— Eu estava pensando... — Ele diz, ainda meio desnorteado.
— Sim?
— Está tarde. É perigoso você ficar andando por aí a essa hora, então talvez você deva dormir aqui... né? Fiquei sabendo que os dez passos que separam seu apartamento do meu são cheios de perigos...
— Será? — Pondero, falhando ridiculamente em conter uma nova risada. — Acho que vou dormir com você, então. Pelo bem da minha segurança.
— Isso. Só por sua segurança...
Eu sorrio mais um pouco, mas o sorriso é interrompido por um grunhido surpreso quando Jimin me puxa de repente até que estejamos os dois deitados em sua cama. Aí joga a coberta por cima de nossos corpos e, com uma risadinha muito da oportunista, me segura pela nuca e volta a me beijar.
E não para até que o sono vença nosso novo vício e nos leve a dormir... abraçadinhos.
Eu acho que essa é, de longe, a melhor noite da minha vida.
E a manhã do dia seguinte não perde no favoritismo, porque eu acordo sentindo o corpo de Jimin hyung pertinho do meu, em meu abraço, enquanto ele me dá vários beijinhos pelo pescoço e pelo rosto.
Será que existe jeito melhor de acordar? A resposta é: não!
— A gente tem que ir pra aula, preguiçoso. — Ele diz quando eu finjo que ainda estou dormindo, mas me entrego ao mostrar um sorriso rendido.
— Ok...
— Levanta, Jungkookie. A gente já tá atrasado...
— Ok...
Ele gargalha, apertando um último beijo na minha bochecha antes de ficar sentado e se espreguiçar junto a um bocejo sonoro.
— Você tem que ir na sua casa pegar seu uniforme. — Relembra, coçando o olhinho miúdo ainda menor pelo sono recente, depois dá uma viradinha para mim e ri quando eu puxo seu braço para que ele volte a deitar comigo.
É enquanto eu o prendo com meu braço e ele ri ao tentar se soltar que a porta do quarto é aberta e um Hyeon muito mal humorado aparece.
— Mãe! — E grita, do mesmo lugar. — Eles ainda estão de namorico na cama!
Meus olhos se arregalam cheios de vergonha na mesma hora, eu jogo o lençol para um lado, jogo Jimin para o outro e fico de pé como se nunca tivesse sentido preguiça na minha vida.
— Nós estamos atrasados, hyung. — Eu digo todo dissimulado, seguindo até a porta sob o olhar furioso do mal humor matinal de Hyeon. Ao sair, deixo para trás o pirralho enfezado e a risada de Jimin. — Quem já viu?! Grude uma hora dessa da manhã!
Seguindo pelo corredor como um prisioneiro em direção à sentença perpétua, eu logo chego à sala para encontrar meus algozes: os pais de Jimin e seu irmão mais velho.
— Eu sempre disse que aquilo não era só amizade mas nem ferrando! — É Siwoo quem diz, sentado à mesa enquanto termina de tomar seu café da manhã.
— Shh, menino! — Tia Sarang diz, repreendendo-o por meu óbvio constrangimento.
— Não se preocupe, Jungkook. — Aí, tio Beom vem na sequência. Acho que o objetivo é me tranquilizar, mas piora tudo quando completa: — Nós sabemos que vocês têm um casinho desde que Jimin nos disse que gosta de meninos. Ficou na cara.
É o que?!
— E não se preocupe — Tia Sarang, de novo. — Nós todos apoiamos e amamos muito Jimin. O relacionamento de vocês não será um problema para nós.
Ok. Deus? Será que você pode, por favor?
— Vem comer, Jungkook! — Siwoo chama, apontando para a mesa já cheia de migalhas. — Ou você só gosta de comer o Ji...
— Não termine essa frase! — Vendo o mesmo futuro que eu, tio Beom antecipa a bronca, o que faz o insuportável primogênito dos Park gargalhar.
— Eu já enchi minha barriga com vergonha e vontade de desaparecer — Garanto para eles com o maior sorriso sem jeito do mundo. Diante da porta, me despeço: — Tenham um ótimo dia e não esperem me ver de novo tão cedo, porque estarei me escondendo de todos vocês por pelo menos uma semana!
Mais risadas são deixadas para trás. E gritos me esperam à frente.
Supostamente, ao passar a noite fora de casa, é preciso avisar aos pais, ou eles ficam achando que você foi vítima de todo tipo de atrocidade. E aí quando a gente reaparece vivo e inteiro, ao invés de alívio, eles sentem é raiva!
E eu meio que esqueci de avisar que ia dormir com meu hyung.
Diferente da família de Jimin, com quem ele já se abriu sobre a própria sexualidade, eu ainda não senti confiança para fazer isso com meus pais, então tudo que faço é obedientemente escutar a porralhada de bronca que recebo logo cedo.
Mas quem acha que o drama matinal estragaria o resto do meu dia, está muitíssimo enganado.
— Que casal bonito... — Na hora do almoço, Taehyung murmura com esse tom encantado.
Estamos sentados os sete juntos mais uma vez. E acho que, daqui para a frente, será sempre assim.
— Parece até que ele está falando de Jimin e Jungkook, mas na verdade está falando deles dois, ó — Seokjin aponta para os outros dois à frente, que dividem uma gelatina de sobremesa. — Yoongi e Hoseok, o próximo casal.
— Me erra! — Hoseok é o primeiro a dizer, ultrajado. Mais uma vez, Yoongi revira os olhos para ele.
Taehyung, Jimin e Seokjin então trocam olhadelas muito suspeitas, até que o primeiro diz, baixinho:
— Eu tenho um plano perfeito pra juntar esses dois. Infalível!
— Por que eu sinto que isso vai dar mais dor de cabeça? — Namjoon pergunta, cheio de preguiça.
Jimin apenas ri, relaxadinho contra meu corpo, acariciando minha perna e recebendo carinho na cintura.
O almoço então segue. Não direi que foi pacífico, porque acho que a união desses sete garotos é caótica e barulhenta demais para assim ser chamada.
Mas é a bagunça perfeita.
— Ei... — Quando voltamos para a sala, Jimin me chama. Aí, me dá um beijo na bochecha, um tapinha na bunda e aponta o queixo para minha mesa. — Tem uma coisinha pra você.
Confuso, porque ele passou todo o horário de almoço comigo, eu lanço uma olhadela discreta para ele quando sigo até meu lugar. Nesse momento, percebo que agora ele tem um parceiro de crime, porque logo o vejo trocando gestos cúmplices com o grandalhão.
Kim Mingyu.
— Minha vózinha precisa saber das novidades, cara... — Aí ele diz, sozinho, mas não baixo o suficiente.
Ainda curioso, eu sento em minha mesa e me deparo com um novo bilhete, logo quando achei que nunca mais receberia algum.
"Para o melhor virginiano", Jimin escreveu.
"Querido Jungkookie,
você gostaria de assistir meu treino hoje? Depois nós podemos dar uns beijos na arquibancada e apostar corrida de volta até o condomínio.
Ass.: seu futuro namorado"
Eu sorrio feito um bobo para o bilhete.
Meu futuro namorado?
Uou. Espero que sim.
Mas isso é coisa do futuro. O que temos no agora é um convite para assistir o treino de Jimin. E, olha, eu decididamente não gosto de futebol. Mas de ver Jimin de shorts, todo suado sob o sol que finalmente deu as caras novamente... disso eu vou gostar e muito!
Então eu pego minha caneta e, antes de chamar Mingyu para que ele leve o bilhete para Jimin hyung, escrevo no verso:
"Querido Jimin,
será uma honra. Ficarei no aguardo dos beijos e da corrida, que nós dois sabemos que eu vou ganhar.
Ass.: seu futuro namorado e eterno melhor amigo"
E lá vai nosso correio de quase um metro e noventa, levar minha resposta. Resposta essa que sei que fica clara antes mesmo de ser lida, porque meu olhar e meu sorriso encontram os de Jimin antes que o bilhete chegue a ele.
Deus? Sou eu de novo. Por favor, não me leva.
Quero continuar aqui, vivendo assim.
Eu sei que é tudo novo, que um longo caminho imprevisível nos espera a partir desse momento, talvez passemos por trechos não tão felizes. Mas, nesse momento, eu tenho apenas duas certezas:
Um, Jimin sempre será meu libriano favorito.
Dois, eu posso beijar todo o horóscopo, mas uma coisa nunca irá mudar:
O meu beijo favorito é o beijo de libra.
☆Fim
E acabou ):
Eu to num misto de sentimentos muito doido. To feliz demais por ter conseguido iniciar e finalizar essa história inteira em duas semanas e alguns dias. Foram 150 páginas escritas! Em menos de um mês! Eu nunca imaginei que conseguiria algo assim, então to bem feliz de verdade, da mesma forma que to feliz DEMAIS com o retorno maravilhoso que essa pitica teve.
Ao mesmo tempo, to bem triste. Por ser shortfic, eu me enganei achando que não me apegaria, mas estava enganada. Me apeguei demais e aí dar adeus é um troço meio difícil
Mas, no fim, o que predomina é o lado bom. Foi maravilhoso pra mim ter essa história preenchendo meu tempo durante duas semanas, principalmente nessa fase difícil que estamos todos vivendo. Me ajuda a sentir que o tempo tá passando mais rápido. Então eu vou tentar escrever uma outra shortfic, mais um clichê levinho e bobo, fácil de escrever, pra tentar continuar me sentindo assim!
Eu ainda não tenho um plot decidido, mas tenho algumas opções. Falarei sobre lá no twitter (@eucatastrophia), mas vou me dar uma semaninha de descanso porque ainda tenho as longfics, né? hahahaha e elas, diferentes de obdl, são complicadinhas de escrever! então vou dar uma semana pra descansar, focar nela, e aí volto a pensar em mais uma shortfic pra gente se distrair!
Mais uma vez, muito muito muito muito obrigada por terem acompanhado até aqui. Espero que tenha sido uma leitura gostosa pra vocês!
E é isso. O beijo de libra está oficialmente finalizada. Nos vemos lá na #LibrianoFavorito, em cem chances, hemisférios ou em futuras histórias <3 um beijo e todo o carinho do mundo dessa libriana <333
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