Os astros dizem, 1: tente!
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Previsão do dia para o signo de libra:
A coragem do libriano está aflorada. É o momento perfeito para fazer aquilo que ainda não teve coragem de colocar em prática.
♎
Meu nome é Park Jimin, mas costumam me chamar de Orgulho da família.
Eu sou o primo que todos os outros primos odeiam graças às comparações irresponsáveis feitas pelos pais.
Nah. É brincadeira. Meus primos me adoram.
As comparações existem, no entanto.
O problema, ou talvez essa seja exatamente a solução, é que eu sou irresistível. E não, eu não estou falando isso na conotação sexual.
Sabe o que acontece? Eu sou educado. Sincero. Inteligente. Carismático. Divertido. Bondoso. Bonito. Talentoso.
E, olha, essas nem são minhas próprias percepções. Eu não sou autoconfiante, nem soberbo. Nesse caso, eu sou como um papagaio: apenas repito o que escuto. E as pessoas repetem muito, muito, o que acabei de pontuar.
Mas isso aí é o que elas vêem. Eu vou além, sabe?
Eu sou meio inseguro para algumas coisas.
Me preocupo muito com o que os outros pensam de mim.
Cozinho ridiculamente mal.
Secretamente, gosto de algumas músicas do Justin Bieber.
Viu? Ninguém é perfeito, mas as pessoas acabaram por assim me definir porque só conhecem minhas qualidades.
Não é assim? Para a maioria esmagadora daqueles que nos cercam, nós apresentamos uma versão censurada de nós mesmos.
A gente esconde que tem uma bandana da aldeia da folha escondida no fundo do armário e que já fez cosplay do Rock Lee só porque os colegas não gostam de anime, menos ainda de cosplay.
Mas aí tem aquela minoria. Aqueles poucos cuidadosamente selecionados que já viram foto sua ao lado de uma Sailor Moon no evento Otakus de Seul edição de 2014 (a pior de todas, inclusive! Otakus de Seul 2015 foi infinitamente melhor!).
E tem aquele único. Aquele alguém que estava com você para presenciar a pior edição do evento mais esperado pelos otakus da capital coreana. Aquele alguém que não só viu sua foto ao lado da Sailor Moon. Na verdade, é o alguém que tirou essa foto.
É o alguém que conhece seus pontos positivos, mas que te fez sentir confortável o suficiente para apresentar os negativos também. Aquele alguém que sabe que você escuta umas musiquinhas do Justin Bieber e te aceita assim mesmo (no caso, ele quem me fez começar a ouvir).
Eu tive esse alguém.
Hoje, não tenho mais.
E sabem o que aconteceu? Não? Eu também não sei.
Não houve uma grande briga. Não houve um erro colossal por nenhuma das partes.
Simplesmente começamos a mudar. Ele começou a se afastar. A meio da adolescência, já não tínhamos toda aquela infinidade de coisas em comum.
E aí, depois de nove anos de amizade, Jeon Jungkook deixou de ser meu amigo.
Hoje, nós ainda moramos no mesmo condomínio de sempre. Isso não mudou. Também frequentamos a mesma escola. Nesse ano, caímos na mesma turma. E é isso. É tudo que temos em comum, pelo visto.
Ele me encontra no elevador e tudo que diz é bom dia, boa tarde ou boa noite. Às vezes me parabeniza por algum resultado em um jogo importante.
Mas, quando nos encontramos pelos corredores da escola, passamos direto um pelo outro como se nunca tivéssemos andado lado a lado por tantos lugares da cidade.
Nós somos como completos desconhecidos e até a lembrança de nossa amizade soa estranha.
Eu tive mesmo alguém que me conheceu tão profundamente? Alguém que desvendou as falhas que os outros desconhecem? Alguém que, ainda assim, me aceitou, montou barracas de lençol para mim e assistiu filmes de terror comigo depois de me fazer rir até a barriga doer?
Eu realmente tive Jeon Jungkook como parte tão importante da minha vida?
Vendo nossa situação atual, é difícil acreditar. E durante os últimos quinze meses, eu acreditei que tudo bem. Que é o ciclo natural da vida. Pessoas vêm e vão, é assim mesmo.
Hoje, eu e ele somos surrealmente diferentes.
Jungkook se apaixonou pela arte e eu encontrei meu caminho no esporte, que me garantiu popularidade crescente na escola enquanto ele ainda prefere o anonimato.
Consequentemente, eu sou chamado para todas as festas, reuniões e passeios. Jungkook, nunca é lembrado.
Jungkook sempre foi fissurado nessa coisa de signos. Eu até curtia porque ouvia ele falando. Hoje, acho balela pura.
São coisas e coisas que não se encaixam mais entre nós dois.
Mas...
Eu sempre senti falta dele. Sinto até hoje.
Sinto saudade dele dizendo que eu era seu libriano favorito, enquanto eu, entendendo quase nada dessa coisa de astrologia, dizia que ele era o melhor virginiano do mundo.
E sinto um pouco de inveja de Kim Namjoon, que parece ter ocupado a vaga que surgiu quando eu deixei de ser melhor-amigo-para-sempre de Jungkookie.
Agora, é o garoto da outra turma quem ele faz rir até passar mal. É com ele que Jungkook assiste péssimos filmes de terror e vai ao cinema assistir todos os lançamentos da Marvel. É ele que tem uma pessoa insubstituível ao lado.
Se eu pudesse dar um conselho a ele, gosto de pensar que diria algo como: nunca perca a amizade desse bobo perfeito! Mas eu provavelmente diria: devolve meu melhor amigo, seu desgraçado!
Infelizmente, não depende dele, senão eu descia o murro nesse cara até ele devolver aquilo de mais precioso que já tive: a amizade de Jungkookie. E não importa se ele é maior que eu! O treino puxado para me tornar o número 1 do time de futebol me deu um puta condicionamento físico e eu quebro no pau qualquer um que se enquadre no intervalo entre um sedentário e um aspirante a lutador mal-sucedido de MMA.
Eu acho.
Nunca me meti em briga, não. Eu sou pacífico. Minha mente que não é, porque as vezes eu me imagino caindo no soco com um babaca ou outro.
Disso, Jungkook era o único que sabia.
Ah, meu deus...
— Jimin, você precisa ser mais discreto.
E é assim que eu sou arrastado para fora da bolha de pensamentos que venho tendo cada vez com mais frequência.
Ainda distraído, eu olho para o lado e encontro um dos raros integrantes do privilegiado grupo de pessoas que viu a foto secreta de Park Rock-Lee Jimin: Min Yoongi.
— Eu fiz de novo? — Pergunto, completamente frustrado enquanto arrumo minha posição sobre a cadeira da sala de aula para desviar minha atenção até o dono do cabelo esverdeado ao meu lado.
Com um sorriso meio azedo, o safado mostra a tela de seu celular com o contador de um cronômetro indicando pouco mais de três minutos.
— Eu cronometrei, dessa vez. Três minutos, vinte e sete segundos e setenta e dois milissegundos olhando fixamente na direção de Jeon Jungkook.
Eu reviro os olhos furiosamente, propositalmente girando meu corpo até deixá-lo completamente virado para a frente. Assim, não caio nessa tentação maluca e inesperada de olhar para Jungkookie como o Joe de You olhava para a Beck.
Era só o que me faltava. Perder meu melhor amigo e ainda passar a ser visto como um sociopata quando na verdade só estou com saudades dele, poxa.
— Vai falar com ele, Jimin. — Yoongi sugere diante da minha óbvia frustração. Bom, essa deve ser a sétima vez que ele dá a sugestão.
Como se fosse fácil.
Se fosse fácil eu já teria ido, ô!
Na verdade...
É engraçado. Sabe? Ha.
Eu sou meio cagão. Tipo, tenho um medo danado de rejeição. E aí se eu decidir falar com Jungkook e for dolorosamente ignorado?
Assim... não vai acontecer porque Jungkookie é muito educadinho, a coisa mais linda. Ele não ignoraria deliberadamente nem mesmo o garoto que roubava seu almoço quando nós éramos mais novos.
Mas eu ainda tenho medo de tentar me reaproximar e perceber de cara que ele não quer o mesmo. O que, honestamente, parece ser o futuro dessa situação aqui. E eu tenho essa certeza porque tenho gastado bons instantes olhando para ele nos últimos dias e ele nunca me olha de volta.
Sério, é frustrante.
Ele esqueceu de nós dois tão fácil assim? Do coelhinho e do pintinho? De Jimin-ah e Jungkookie?
Que saco.
— Eu não sei se devo. Nós não temos uma conversa decente há meses e meses, Yoongi.
— Ok... — Meu amigo diz, arqueando as sobrancelhas e contraindo os olhos num gesto de demérito. — E daí? Você não precisa abordar o coitado com uma conversa super profunda. Começa com um "oi, tudo bem?". Seja básico, paciente e ponderado, Park Jimin. Básico, paciente e ponderado.
Eu nego, previamente nervoso até mesmo diante da mera possibilidade de fazer o que ele está pedindo.
— Arregão. É esse o tal astro destemido do time de futebol?!
— Sim! Orgulhosamente arregão.
Ele revira os olhos mais uma vez, pegando seu celular e seu fone de ouvido largados sobre minha mesa antes de virar para a frente em sua própria cadeira, já preparado para o início da aula. No mesmo instante, o sinal indicando o início do primeiro tempo ecoa por toda a escola.
Meu deus? Ele é vidente ou alguma coisa assim?
Yoongi é esse tipo de pessoa, sabe? Que te faz questionar se não existem poderes especiais em alguns poucos felizardos por aí.
E clarividência não parece sua única vantagem sobre meros mortais: aparentemente, ele tem o poder de se infiltrar em sua mente.
Porque, sério, não é possível. Enquanto a professora fala incansavelmente sobre cadeias carbônicas, a única coisa que minha mente processa, é: seja básico, paciente e ponderado.
Básico paciente e ponderado.
Bisici, piciinti i pindiridi.
Ô, inferno.
— E aí? — O super poderoso vem perguntar depois de todas as aulas enquanto eu, assumidamente o aluno que mais demora para copiar, ainda estou finalizando minhas anotações. — Vai falar?
— Não, Yoongi. Você sabe que eu tenho medo de insetos, de panelas de pressão e de rejeição. Não vou, não.
— Covarde.
— Outro sinônimo de arregão. Isso mesmo, acertou.
Ele pendura a mochila nas costas, claramente me julgando com esses olhos miúdos.
— Te vejo mais tarde na casa de Hoseok, então. Leve salgadinhos.
— É a sua semana de levar a comida!
— Seria, mas semana passada você, cabeça de vento, esqueceu de levar e eu que tive que ir correndo na conveniência para comprar no seu lugar. Assuma suas responsabilidades. — Ele diz, todo rabugento enquanto segue para fora da sala de aula. Ao parar diante da porta de correr, ele me olha e diz: — E lembre, se deixar de ser cagão: seja básico, paciente e ponderado.
Eu reviro os olhos com a força de todo o meu ódio, mas Yoongi não vê porque logo sai da sala.
Pouco a pouco, enquanto termino de fazer minhas anotações para enfim arrumar minha mochila para me dirigir ao vestuário, os outros alunos vão saindo da sala e se despedindo de mim.
— Até amanhã! — Eu digo para uns. — Já te encontro no campo! — Digo para uma quantidade menor. — Vou tentar aparecer na sua festa! — Digo para mais alguém.
E a cada fala, a mesma coisa ecoa em minha mente: seja básico, paciente e ponderado, arregão.
— Será que você pode parar?! — Eu peço em voz alta, furioso com a voz silenciosa em minha mente.
— O que? Com o que?
Eu entro em estado de alerta ao ouvir a voz tão familiar, mas, hoje, tão raramente dirigida a mim.
Só então percebo que não estou sozinho na sala. Eu estou sozinho com Jungkook.
E o pobrezinho acha que eu estava gritando com ele.
E agora? Que cara eu faço?
De doido, né?
— Oi? — E de doido será.
— Você gritou comigo. — Jungkook diz, parado diante da porta com a mão no puxador embutido enquanto os olhinhos pretos esboçam a estranheza que ele está sentindo.
— Ah, não, nem. Eu estava ensaiando minha fala para o treinador quando ele começar a encher o saco hoje. — Bom, desdobro melhor que esse eu não encontro.
— Entendi. — Ele dá de ombros, terminando de deslizar a porta já parcialmente aberta. — Boa sorte no treino.
E aí ele começa a sair, prestes a desfilar pela escola com o cabelinho de pontas discretamente azuladas e o corpo que começou a ganhar um pouquinho mais de forma.
Subitamente movido pela voz de Yoongi em minha mente e pela explosão da saudade de ser quem acompanhava Jungkookie e opinava sobre as cores de seu cabelo (ele fica lindo com todas), eu abro passadas largas para correr atrás de meu ex-melhor amigo.
— Ei! — Grito antes de alcançá-lo. Ele ouve, disso tenho certeza. Ainda assim, não para de caminhar para me lançar um olhar sequer. Com um suspiro, grito mais alto: — Jungkook!
Agora, sim!
Ele para, vira para mim e aperta os olhos num gesto desacreditado, exibindo a confusão que sente por ser chamado por mim.
Ansioso, eu me apresso em sua direção e paro imediatamente em sua frente. Aí, sugiro como quem não quer nada:
— Quer voltar comigo para casa?
— Você não tem treino agora?
Ah.
É.
INFERNO.
— Amanhã, eu quis dizer.
— Amanhã é sábado, Jimin.
Qual o meu problema?!
— É que amanhã à tarde tem treino. Depois do treino.
Jungkook aperta os olhos em completa confusão, aí pergunta:
— Desde quando eu participo dos treinos, meu deus? Fumou orégano, foi?
Vai, Jimin. Se esforça. Você consegue passar ainda mais vergonha, vai, garoto, acredite no seu potencial.
— Você pode vir assistir. É isso que eu quero dizer. Estou te convidando para assistir o treino e depois voltar comigo para casa.
É uma desculpa mais ou menos plausível, não é?
No entanto, ainda assim, Jungkook nega como se fosse a ideia mais absurda do mundo.
— Eu não gosto de futebol e tenho compromisso amanhã. Mas muito obrigado pelo convite. — Com um gesto de despedida, ele diz, antes de virar para ir embora: — Bom fim de semana.
E lá se vai ele, se afastando denotativamente como o fez conotativamente durante os últimos meses.
Observando-o, eu percebo duas coisas. Um, a boa: esse foi o máximo de palavras que trocamos em eras.
Dois, a ruim: foi um completo desastre.
Eu sabia que não deveria dar ouvidos a Yoongi.
Básico, paciente e ponderado é meu rabo.
Jungkook não faz questão nenhuma de me ter de volta em sua vida, isso é óbvio. Então não importa quão básico, paciente e ponderado eu seja, o esforço será em vão.
— Sabe há quantas sextas-feiras esse tal de Jungkook é a pauta trazida por Jimin para nossas reuniões? — Seokjin, mais um dos privilegiados que tiveram acesso à famigerada foto, diz quando estamos reunidos na casa de Hoseok à tarde.
Esse é nosso ritual de toda sexta.
Ok. Toda é uma expressão muito forte, até porque o jovem parece vir com um intrínseco mecanismo de autossabotagem que o força a cancelar compromissos com frequência (sem motivos tangíveis para isso) e a entrar em desespero quando não consegue pensar em novas desculpas convincentes (pega mal usar dor de barriga duas vezes seguidas).
Aí é aquela coisa. Em tese, o ritual é: quatro amigos e o ilustríssimo eu reunidos toda sexta para assistirmos filmes, comer porcaria e jogar jogos ruins enquanto brigamos por causa deles. Às vezes, quando anoitece, seguimos juntos até alguma festa que esteja acontecendo por aí.
Muito show, né?
Pois eis o que acontece de verdade: um sempre falta. Outro sempre dorme durante o filme. Alguém sempre esquece de levar as porcarias comestíveis (ou nem tanto).
Ainda assim, aos trancos e barrancos, temos a ousadia de chamar essa tragédia de ritual.
E, olha, durante as últimas semanas até que estamos fazendo jus à alcunha.
Infelizmente, isso traz consequências indesejáveis.
— Quatro. — Seokjin responde a própria pergunta, que ignorei por ser retórica demais e por estar com vergonha também. — Há quatro sextas-feiras você aproveita qualquer brecha para falar sobre Jungkook. — Para piorar, ele me mostra uma conversa com ele mesmo no aplicativo do chat. — Fiz questão de anotar aqui.
— Me passa essas informações. — Yoongi pede, afofando a almofada em seu colo. — Vou fazer uma planilha e uma apresentação em powerpoint com fonte comic sans tamanho vinte e quatro pra ver se Jimin finalmente entende que talvez esteja na hora de parar de falar e tentar se reaproximar do menino.
— Usa tamanho cinquenta e seis que é pra ele não dizer que não consegue ler por causa da miopia — Hoseok diz, deitado de bruços sobre o tapete felpudo.
Nossa.
Eu não tenho amigos.
Não acredito que mostrei minha foto com a Sailor Moon para esses ingratos.
— Espera — Taehyung se manifesta, pausando sua busca por um filme na Netflix e virando para me encarar com o controle na mão. — Por que ele te faz tanta falta assim? Nossa amizade não é suficiente para você, Park atacante-do-ano Jimin?
— Eu quero a amizade de vocês e quero a amizade dele de volta. — Choramingo, escorregando minhas costas apoiadas na base do sofá até estar quase completamente deitado sobre o chão. — Eu quero Jungkookie de volta...
— Estou anotando sobre essa nova lamentação — Seokjin avisa.
— Não é estranho? — Hoseok pondera. — O cara mais popular da escola sofrendo porque queria ser amigo do menino que todo mundo acha estranho?
— Maior plot twist. — Yoongi se diverte.
— Jungkook não é estranho. Aquelas pessoas não sabem de nada. — Suspiro, lembrando do jeitinho único de Jungkookie. — Ele é perfeito.
— Você quer ser amigo ou namorado dele, hein? — Taehyung pergunta, antes de cair na risada.
— Amigo! — Disparo, ultrajado por ele sequer pensar que eu posso ver Jungkook de outra forma.
Quer dizer...
Eu comecei a desconfiar que gostava de meninos porque senti um pouco de atração por ele? Sim. Durou bastante tempo? Talvez. Imaginei por dias e noites como seria ter a sorte de ser o primeiro beijo dele? Nem te conto. Mas isso passou, ficou para trás.
— Claro que amigo, Taehyung! — Reafirmo mesmo que ele já tenha aceitado minha primeira resposta e parado de me dar bola.
— Qual o sabor desse salgadinho, hein? — De repente, Seokjin divaga ao meu lado, analisando a embalagem do petisco que eu trouxe. — Tem gosto de peido estragado.
— Ew.
— É de gergelim. Eu gosto. — Aviso, tomando-o de sua mão.
Que falta de respeito com meu salgadinho gourmet de lojinha de posto.
— Gente, sobre Jungkook. — Yoongi faz questão de retomar o assunto quando percebe que começou a ser deixado para trás. — Ajudem Park atacante-do-ano Jimin a se aproximar desse menino, pelo amor de deus. Vocês não sabem o que eu passo. Eu caí na mesma turma que esses dois e todo dia tenho que aguentar Jimin encarando Jungkook como um doido pra depois aguentar ele se lamentando por isso. É um pesadelo.
— Quantos likes merece esse príncipe sofrido? — Hoseok questiona, gargalhando assim que uma almofada voa em sua direção.
— Eu só queria ver meu filme. E queria ser suficiente! Mas se Jimin está triste por sentir falta do menino Jeon, eu engulo meu orgulho ferido. — Taehyung diz, parecendo ter usado os últimos segundos para planejar o discurso. — E eu tive uma ideia.
— Algo melhor que me dizer para ser básico, paciente e ponderado, por favor. Esse foi o pior conselho que já recebi. Puta conselho bosta.
— Essas palavras são muito familiares, Jimin. — Yoongi resmunga, recebendo uma careta preguiçosa em resposta.
— Minha ideia é perfeita. Sabe por que? Porque você já falou tanto desse cara que eu sinto que o conheço como se fosse o meu melhor amigo de infância. — Taehyung anuncia.
Que tristeza. A que ponto cheguei.
— Presta atenção — Ele volta. — Jungkook gosta de surpresas, não é? E de solucionar mistérios. Então... por que você não começa a escrever bilhetes anônimos e a deixar presentinhos para ele? Eventualmente ele vai descobrir que é você e pimba! Já foi!
— Até que a ideia é boa. — Hoseok pondera, lançando uma olhadela para Yoongi. — Viu? É assim que se faz, Yoon.
— Ai, Hoseok, me devolve aí a almofada que eu joguei em você, na moral. Quero jogar de novo!
— Vem cá pegar de volta.
E lá vão eles.
Esse é meu ciclo mais próximo de amigos, senhoras e senhores. Puro caos.
— Ei. — Enquanto Hoseok e Yoongi começam a se engalfinhar verbalmente, Taehyung volta para sua busca pelo filme e Seokjin me dá um tapinha no braço. Quando olho em sua direção, ele aponta o queixo para a embalagem do salgadinho de gergelim. — Me dá mais um peidinho aí, vá.
Pelas horas seguintes, nós comemos um monte de peidinho, assistimos um filme horroroso que Taehyung escolheu jurando que era bom e incitamos ainda mais farpas entre Yoongi e Hoseok.
Pelo menos enquanto estava lá com eles, rejeitando educadamente os convites para a festa de pessoas de quem gosto num nível mediano, eu me distraí o suficiente para não continuar pensando em Jungkookie.
Mas aí eu voltei para casa.
E tudo voltou junto.
Porque tudo entre nós dois mudou, menos uma coisa: ele ainda é meu vizinho.
Assim que desço do elevador, meus olhos viajam até a porta de seu apartamento, com um novo tapete de boas vindas e uma planta de plástico cuidadosamente posicionada ao lado.
Era o meu refúgio, mesmo com seu pai meio estressado e sua mãe um pouco neurótica com limpeza.
Quando nós estávamos em seu quarto e nos escondíamos numa barraca feita com lençois e travesseiros, eu sentia que nada de ruim no mundo poderia me atingir.
Não pelo local. Mas pela companhia. Era Jungkookie quem me fazia sentir seguro quando eu levava bronca de meus pais, brigava com meus irmãos ou levava bomba na escola — até então, os maiores problemas da minha vida.
Jungkook sempre estava lá. Literalmente. Ele sempre foi muito caseiro, então era fácil achá-lo em casa.
E eu o procurava com frequência.
Quando eu batia em sua porta com os olhos inchados pelo choro ou a expressão furiosa, ele nem dizia nada. Só segurava minha mão, me puxava para seu quarto e, quando ficávamos sozinhos, me abraçava forte.
Ali, meu coraçãozinho estilhaçado se refazia inteiro.
Quando meu mau humor melhorava um pouco, ele apertava minha mão, sorria com aqueles dentinhos de coelho e dizia:
— Eu não suporto librianos. Mas você é diferente. Você é meu libriano favorito, hyung.
Sempre. Toda vez. Eu simplesmente sabia que, quando precisasse de alguém, de um ombro amigo e de um sorriso sincero, ele estaria lá.
Hoje, Jungkook não está mais.
E eu amo meus novos amigos. De verdade, valorizo cada um. Mas um espacinho do meu coração sempre vai esperar ser a causa do sorriso de dentinhos de coelho mais uma vez.
Por isso, às onze e trinta da noite, cansado depois de uma sexta-feira de aula, treino e encontro com meus amigos, eu decido lutar por aquele que me faz falta de domingo a domingo.
Sentado diante de minha escrivaninha, sob a luz amarelada da luminária, eu rasgo cuidadosamente um pedaço de papel e escrevo um bilhete que parece satisfatório depois de várias tentativas frustradas.
Eu sei que deveria deixar algum mistério no ar, mas não resisto e dou uma dica que facilmente fará Jungkookie reconhecer o autor. Porque eu estou com pressa. Eu quero meu melhor amigo de volta o mais rápido possível.
E eu vou recuperá-lo ou não me chamo Park atacante-do-ano Jimin, o orgulho da família.
☆☽☀☾☆
Oi, nenéns. Essa era a última parte da promessa: a shortfic nova. Vou só dar alguns avisinhos sobre ela, ok?
☆ Lá no comecinho vocês podem assistir o booktrailer da história, caso tenham passado direto por ele
☆ Apesar de ser short, como a ideia é ter atualizações bem rápidas, pensei em falarmos sobre a história la no twitter usando a hashtag #LibrianoFavorito
☆ Os capítulos são alternadamente narrados por Jimin e por Jungkook e o narrador é identificado pelo signo da previsão do dia.
☆ Essa história é bem clichê. De verdade, é um aglomerado de clichê sem fim, e é bem levinha porque acho que estamos precisando disso nesse momento
☆ Ela é comédia romântica mais voltada pro fluffy, então não esperem conteúdo sexual explícito
☆ Já tenho alguns capítulos prontos. A ideia é fazer como foi feito em pump-a-kim: atualização dia sim, dia não
Esse último ponto vai depender do quanto vou conseguir escrever nos próximos dias agora que to com a cabeça cheia de preocupação. Como essa é uma história bem leve, eu me sinto muito bem escrevendo e espero que ela ajude a me distrair e a me dar sensações melhores, mas não vou fazer garantias por enquanto ):
É isso. Espero que gostem de mais esse clichêzão, que se divirtam e sintam coisas boas agora que tudo conspira pra gente se sentir sobrecarregado. Até o próximo! <3
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