2. Segunda-feira
Jeon Jungkook não se considerava alguém intrometido. Não costumava invadir espaços pessoais, ultrapassar limites que não lhe cabiam. Aprendeu a ser cuidadoso nesse quesito depois de se tornar amigo de Yoongi, que lhe ensinou o quanto, às vezes, algumas pessoas precisam ficar sozinhas para lidar com seus próprios problemas. Portanto, tentava sempre não ser invasivo, respeitava as pessoas ao seu redor e seus próprios tempos. Contudo, não conseguia ser assim com Park Jimin. Mesmo ele deixando claro seu desejo de ficar sozinho, Jungkook continuava o seguindo e quebrando seus próprios tabus. Não era capaz de deixá-lo naquele estado, seu senso de dever o impossibilitava de ignorar um ser humano sofrendo e claro; havia aquilo.
Jimin carregava um filho de Junghoon, seu sobrinho legítimo. E laços consanguíneos eram algo importante demais para Jungkook. Mesmo que seu irmão fosse um idiota, que levava a vida do pior jeito, e que não se importasse nem um pouco com a família; Junghoon ainda era seu irmão. E Jungkook não conseguia ignorar isso, assim como não conseguia abandonar Jimin ou aquela criança. Por isso, o seguia pelos corredores do hospital, com os pensamentos correndo mais rápido que carros de corrida na pista. Deveria deixá-lo em paz, Jimin se livraria daquela criança e tudo voltaria ao normal. Não era da sua conta, Jungkook não era responsável pelas atitudes de Junghoon.
Então... Por que não conseguia se afastar?
Ao sair do hospital, Jimin parou e encarou o céu cinzento com um olhar distante. Parecia ver bem mais que nuvens carregadas, seus olhos estavam mais melancólicos que o dia, que, de uma hora para outra, se tornaram assim. Jungkook parou a uma distância respeitosa atrás dele, ocupado em admirar seus traços delicados e sôfregos. Deveria ser considerado crime fazer alguém tão bonito chorar.
— Vai mesmo se livrar do bebê? — Jeon questionou baixinho, incapaz de segurar a própria língua.
Jimin suspirou cansado, ainda sem desviar os olhos do céu.
— Isso não é da sua conta.
— Ele é filho do meu irmão. — ditou, como se isso fosse a resposta para todas as perguntas do universo. Jimin lhe encarou, seu olhar sendo mais cortante que qualquer faca do mundo.
— E daí?
Jungkook bufou uma risada amarga, não acreditando no que estava ouvindo. Seria ele o único que se importava tanto com laços de sangue?
— Você não sente nada por essa criança? Não sentiu nada quando...
— Ah, cala a boca. — Jimin virou-se para ele, os olhos vermelhos brilhando em lágrimas. — Foda-se o que eu senti, caralho. Eu não posso ter um filho do Junghoon, eu vi... porra, eu vi ele espancando alguém com um sorriso no rosto. E se essa... coisa se parecer com ele? Eu não posso. Então cala essa maldita boca e vai para o inferno.
Jungkook suspirou, adquirindo um olhar piedoso. Era a hora de parar, já havia ultrapassado limites demais, e as lágrimas escorrendo pelo rosto de Jimin eram a prova disso. Ele tinha razão, não era da sua conta. Respeitaria sua decisão, deixaria de ser tão evasivo. Abaixou os olhos, envergonhado pelas suas atitudes.
— Me desculpe.
Em resposta, Jimin apenas bufou e virou as costas, afastando-se dele. Quis muito seguir seu caminho e ignorá-lo, mas sabia que não ficaria tranquilo em saber que ele estava sozinho, naquela situação. Por isso, seguiu-o novamente, dessa vez de longe e decidido a não abrir mais a boca para dizer besteiras. Só queria garantir que ele chegaria seguro seja onde quer que estivesse indo, e apesar de não saber ao certo porque temia tanto pela sua segurança, culpou o seu senso de dever.
Jimin perambulou pelas ruas como um zumbi, não parecia ter uma direção a seguir, seus olhos estavam mais vazios que o céu cinzento. Jungkook comprou um guarda chuva quando um trovão cortou os céus, avisando que em breve choveria. Era como se o tempo estivesse sabendo da gravidade da situação, como se o universo concordasse em como aquela pobre criatura de sobretudo cor de rosa estava perdida, triste. As nuvens acumulavam poluição, assim como os olhos grandes e brilhantes de Jimin, o vento frio soprava seu cabelo castanho, deixando o cenário ainda mais dramático. E mesmo em meio a essa densa neblina de tristeza, Jungkook não pôde deixar de notar o quanto aquele homem era belo.
Jimin era lindo, e talvez por isso lhe incomodasse tanto o fato de vê-lo tão devastado. Queria vê-lo bem, conhecer seu sorriso e o som da sua risada. Desejava ter uma solução para seu impasse, apenas para que aqueles olhos bonitos parassem de transbordar. Era insano ter pensamentos assim com estranhos, mas, inexplicavelmente, Jungkook sentia uma necessidade de estar perto, fazer o certo, passar afeto. Como se, a partir do momento que soube que Jimin carregava um pedaço do seu irmão, ele acabou se tornando uma parte sua também. Sabia que não conseguiria ir embora sem pensar nele, que não se concentraria no trabalho e provavelmente até esquecesse o caminho de casa. Portanto, não se obrigou a fazê-lo, continuou seguindo-o pelas ruas e refletindo sobre o que seria depois daquela segunda feira, que de qualquer nada tinha. Algo mudaria depois de saber que Junghoon agora era pai? Ou tudo voltaria ao normal depois da quinta? Nunca pensaria em como seria se aquela criança viesse ao mundo? Jamais fantasiaria se ela teria as mesmas manias de Junghoon, ou os traços que compartilhavam?
Jungkook suspirou, sempre odiou segundas-feiras.
Jimin entrou em um bar e o advogado sentiu o coração afundar dentro do peito. Era real, ele estava mesmo decidido a não ter aquele filho. E mesmo que soubesse disso, que era óbvio o quanto isso era melhor para todos, não deixou de sentir-se um tanto cabisbaixo. Como se, ao ingerir uma gota de álcool, Jimin estivesse matando um pedacinho de si, envenenando seu sangue.
E ele nem era o pai do bebê, imagina se fosse.
Soprou um riso amargo, que ecoou pela tarde de modo duro e frio. As mãos inquietas foram parar nos bolsos da calça social, enquanto os pés andavam em círculos pela calçada, chutando pedrinhas diminutas. Essa era a hora em que ele desistiria daquela maluquice de perseguir um estranho conhecido e voltasse para sua rotina normal, sua mesa do escritório recheada de papéis, seus superiores loucos de raiva, Yoongi com seu olhar doce preocupado. Entretanto, ele não fez o lógico, ignorou a razão e entrou no bar que Jimin estava.
Por quê? Para quê? Não fazia ideia.
Seus pés travaram ainda na entrada, assim que avistou Jimin em uma mesa afastada, num cantinho escuro e solitário. Ele servia a primeira dose de Soju em um copinho, com os olhos vermelhos opacos e as mãos trêmulas. Jungkook observou-o em silêncio, sentindo-se paralisado. Viu Jimin sorver a bebida com os olhos fechados com força, assim como acompanhou a lágrima solitária que escorreu pelo rosto bonito. Algo dentro de si morreu, como uma flor em solo seco, seu interior murchava lentamente. Jungkook apertou o guarda-chuva em sua mão, procurando consolo para voltar a realidade e parar de fantasiar com um futuro que não lhe pertencia, que não cabia a ele decidir. Contudo, não foi o objeto na sua mão que lhe trouxe de volta à vida. Jimin abriu os olhos, cuspiu a bebida de volta no copo e soluçou alto ao cobrir o rosto com ambas as mãos.
Mas o que...
— Desculpe... — ouviu o rapaz murmurar baixinho entre lágrimas e soluços. As pessoas ao seu redor lhe encaravam preocupados, algumas cochichavam entre si apontando na sua direção, mas ele não via, ou se via, não se importava. — Você não tem culpa de nada, me desculpe, me desculpe...
Jungkook franziu o cenho, analisando com atenção a situação e não conseguindo ver com quem exatamente Jimin falava, mas, ao vê-lo tirar uma mão do rosto e colocar na barriga, compreendeu. Era uma cena de partir o coração, na verdade, o advogado se segurou muito para não correr até ele e ao menos deixar batidinhas camaradas em seu ombro como forma de consolo. Jimin chorava como um garotinho, murmurando inúmeros pedidos de desculpas e outras frases que os soluços impediam Jungkook de decifrar, uma mão cobria os olhos, enquanto outra se mantinha firme na barriga. Jeon suspirou, tendo a certeza de que não tiraria aquela cena da cabeça tão cedo.
Quando Jimin finalmente parou de chorar, depois de muitos "me desculpe" e "eu sinto muito", levantou-se com uma expressão diferente de quando entrou. Ainda parecia meio fora de órbita, mas seu olhar não era tão vago, parecia ter um lugar para ir. Pagou pela garrafa intocada de Soju, ignorou os cochichos dos demais clientes do bar, e passou por Jungkook como se ele fosse invisível. Por um momento, pensou ter sido ignorado de propósito, mas depois percebeu que ele realmente não havia visto o advogado plantado na porta feito uma estátua. Talvez pensou que ele fosse parte da decoração do estabelecimento. Jungkook seguiu-o até o lado de fora, surpreendendo-se com a chuva que despencava dos céus, e mais ainda pelo fato de que Jimin simplesmente saiu no relento, como se ficar molhado não fosse nada demais. Jungkook, como um perfeito cavalheiro, apressou-se em abrir o seu guarda chuva e correu até o homem bonito que fisgara sua atenção pelo resto do dia.
Quando as gotas cessaram sob sua cabeça, Jimin pode finalmente notar a presença de Jungkook. Ele não disse nada, apenas ficou encarando o advogado com aqueles olhos enormes e brilhantes, fazendo o homem de terno esquecer-se, mesmo que momentaneamente, o próprio nome. Seus dedos apertaram o cabo do guarda chuva com força, ao ponto das pontas se tornarem brancas. Ele engoliu em seco, incapaz de ficar calado por muito tempo e acabar despencando no abismo do olhar castanho de Jimin.
— Você pode pegar um resfriado. — foi o que a boca patética de Jungkook exclamou. Jimin, nada disse, mas nem precisou tanto.
Seus olhos falavam mais de mil palavras.
Jeon suspirou, cansado de correr em círculos e resolveu ouvir a razão que gritava na sua cabeça para ele ir embora e deixar o pobre homem em paz. Contudo, permitiu-se uma dose de ousadia ao pescar um cartão de visita do bolso, e segurar as mãos de Jimin, obrigando-o a segurar o cabo do guarda-chuva e prendeu o cartão entre seus dedos pequenos. Park obedeceu-o como se fosse um boneco, ainda encarando Jungkook com um olhar intenso e brilhante.
— Eu sei que não tenho o direito de pedir para revogar sua decisão sobre não ter o bebê, e não vou fazer isso. — mesmo quando Jimin passou a segurar o objeto com força, Jungkook ainda permaneceu com as mãos nas suas com certa delicadeza. Incapaz de encará-lo, focou sua atenção nos dedos curtos adornados por anéis de prata. — Mas quero que saiba, que se mudar de idéia, você não estará sozinho nessa. Se precisar de algo, estarei sempre a uma ligação de distância.
Ele fitou-o nos olhos uma última vez antes de retirar as mãos dele, e virar as costas, correndo na chuva gelada.
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e aí, o que achou do capítulo? o que esperam para o futuro dos nossos protagonistas? comente sobre tudo, irei amar ler. ou use a tag #gemeobonzinho no x
ah, gostaria de frisar (acho que não falei sobre isso antes), que o aborto na coreia do sul é legalizado, como já deixei bem claro aqui. mas, como aqui na nossa sociedade, sei que isso é um tema delicado, gostaria de esclarecer algumas coisas. não tenho a intenção de fazer apologia ao aborto, tenho sim minhas crenças e opiniões a respeito disso, mas não quero trazê-las a tona pois acho totalmente desnecessário. com essa fanfic, não quero dizer que as pessoas devem ou não abortar filhos indesejados, porque essa é (ou pelo menos deveria ser) uma escolha de cada um. a mensagem que quero passar com isso é que a vida é feita de escolhas, e você não é bom ou mau por escolher aquilo em que acredita, aquilo que seu coração mandar.
sei que todos têem opiniões diferentes, e pensando nisso, evitem discussões e comentários a respeito. okay?
por enquanto é só, nos vemos na semana que vem!
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