Capítulo 34: A fase eliminatória

—Senhoras e senhores! Eu gostaria de pedir perdão pela demora, porém, o torneio finalmente está prestes a começar!

Todos os participantes na arena estavam olhando para um lugar elevado nas arquibancadas, perto de onde ficavam o espaço dos nobres. O mesmo homem que havia dado instruções anteriormente estava falando lá de cima, aparentemente os perigos do torneio eram tantos que eles nem ousavam contratar mais de um funcionário para fazer as apresentações e dar início ao evento.

"Essas pessoas vão ficar bem?"

Se perguntava Zelgle olhando as arquibancadas, pois em breve, aquele local se tornaria um campo de batalha, com armas e ataques mágicos voando para todos os lados, as pessoas não pareciam ter ciência do perigo que corriam estando ali. Entretanto, a parte dos nobres parecia estar sendo guardada por um mago, caso alguma coisa viesse a acontecer.

—E aqui vamos nós! Hoje temos cento e trinta e sete participantes, vinte à mais do que o ano passado! Portanto, esperem ainda mais emoção nessa fase eliminatória. Lembrando que apenas os oito restantes serão classificados!

A postura do apresentador havia mudado totalmente, seu ar triste de antes fora substituído por uma euforia irritante e exagerada.

"Não aguento mais ouvir esse desgraçado falar..."

"Ele" parou e observou os dois adversários promissores de antes. Talvez aquela demora toda valesse a pena.

—Ei, Tol, se afaste de mim, não quero ter que lutar com você.

Hylia riu para o cavaleiro sério.

—Nem pensar! Você pode acabar se ferindo, vou protegê-la durante essa primeira fase. Se tivermos que lutar na segunda, eu desisto, tudo bem assim?

—Você está acabando com minha diversão.

A garota soltou um suspiro e olhou o entorno. Até que o apresentador começou a contagem.

—Um!

Todos na arena se encaram, olhares raivosos e fixos em oponentes específicos, embora, quando a luta começasse, não existiriam combates um a um.

—Dois!

Os participantes ficaram a postos. Espadas foram desembainhadas, adagas foram cruzadas, escudos foram erguidos.

—Três!

Gritos raivosos ecoaram pela arena, junto aos gritos de empolgação da platéia que assistia a cena nas arquibancadas.

—Comecem!

Não demorou mais de três segundos para a arena se transformar num verdadeiro caos. Clangores metálicos e gritos ressoaram por todos os lados, as pessoas eram arremessadas ou se jogavam da arena, para salvarem a própria vida. A torcida da arquibancada se tornou turbulenta e furiosa. As pessoas gritavam com vigor, clamando por mais barulho, elas iam à loucura com cada golpe, com cada grito, cada gota de sangue caindo no chão.

—É a porra de um circo.

Sussurou Kiere para ela mesmo, mas a garota ao lado conseguiu ouvir com clareza.

Zelgle estava parado desde que tudo havia começado, observando as coisas acontecerem. Ninguém teve a audácia de se aproximar dele logo de cara, seu tamanho e arma assustavam as pessoas. Alguns mais jovens pensavam em partir para cima, mas encaravam seu rosto sem expressão e desistiam no mesmo momento. Ele pôde ver ao longe o cavaleiro e a garota de antes. Um monte de pessoas haviam se amontoado sobre eles, porém todos estavam sendo repelidos pela lança do cavaleiro. Ele estava com a lança sobre o escudo, protegendo a garota logo atrás. As pessoas na platéia começaram a vaiar os dois pela aliança.

—Chega disso Tol, siga seu rumo.

E ela correu para longe do companheiro.

—Hylia, ei, espera!

Gritou ele, pensando em ir atrás dela, porém, o monte de pessoas acumuladas em cima dele percebeu a brecha. Ele bloqueou vários ataques com o escudo, sem perder o equilíbrio e em seguida, apoiou a pesada placa de aço no chão, e empurrou com força, em um avanço furioso. Deu um berro de fervor quando o escudo se chocou na multidão a frente. Várias pessoas foram arremessadas. Algumas desmaiaram pelo impacto, outras acabaram com membros quebrados e começaram a se arrastar para fora da arena antes que alguém viesse e terminasse o trabalho com eles desprotegidos, e alguns não tiveram a sorte de se salvar desse destino.

Hylia que corria para longe de Tol ia passando pelos golpes com movimentos precisos e artísticos, como se estivesse realizando uma dança em volta da arena. Quando alguém aparecia à sua frente para desafia-lá, ela não presicava de mais de dois movimentos para jogar o sujeito ao chão. Não conseguia segurar o sorriso de empolgação, como se estivesse esperando aquilo por um longo tempo.

Zelgle observava as pessoas ao redor, e muitos eram impressionantes de verdade, um deles era um homem mascarado usando um capuz negro, enfrentando um amontoado de gente ao mesmo tempo, e desarmado. Mas não parecia fazer grande diferença. Ele desviava dos ataques direcionados a sí, e os redirecionava a alguma das pessoas que haviam se juntado ao ataque. Um dos adversários tentou o surpreender com uma espada curva, mas ele segurou o ataque de outro oponente e colocou seu braço no meio, o pobre gritou ao ter o membro decepado, após isso, levou um chute na têmpora direita que o fez voar por uns três metros, desacordado. Em seguida, um homem alto e musculoso venho tentar acertá-lo com uma lança, mas ele desviou, segurou a aste da arma e a fez penetrar a barriga de um homem adjacente. O indivíduo arqueou com a ponta de metal atravessando seu corpo, o portador da lança parecia tão confuso que havia parado de se mover. Em mais um movimento ágil, o homem de capuz arrancou a arma da mão do inimigo, e colocou-a sobre os ombros, e em um giro ele acertou todos que estavam o cercando no rosto. As pessoas caíram e começaram a ser pisoteadas por outras pessoas. Procurou mais um alvo naquela bagunça enorme. Olhou na direção do cavaleiro de armadura, que também estava lutando com um batalhão de gente ao mesmo tempo. Era hora de tirar a prova. "Ele" fez um arco estóico com o corpo, e arremessou a lança na direção do cavaleiro.

Tolfret percebeu o projétil vindo em sua direção na velocidade de um relâmpago. Rapidamente curvou o corpo para trás, a lança esbarrou no seu escudo, fazendo fagulhas voarem e sendo redirecionada alguns centímetros. Cravou fundo na perna de uma garota que estava tentando acertar Tolfret com uma espada curta, a garota urrou e foi lançada no chão pela força do arremesso. Tol virou na direção de onde aquilo venho, um homem de capuz com os braços estendidos no meio da multidão, rindo como uma hiena.

"Desgraçado filho da puta!"

Tolfret acabou deixando um sorriso escapar.

"Vou acabar com você depois, seu merda."

Ele voltou para as pessoas à sua frente mais uma vez.

Zelgle já estava parado fazia bastante tempo, distraído com a batalha nos arredores, e sem nem mesmo perceber, acabou sendo cercado. Um homem com uma maça d'alva em punhos o desafiou, olhando em sua direção pronto para lutar. Mas antes que o gigante pudesse fazer um movimento sequer, alguém o apunhalou pelas costas. Ele viu a lâmina fina atravessando a lateral inferior direita de seu corpo.

—Isso!

Gritou o homem da frente, sorrindo.
Zelgle olhou para trás para encarar quem havia feito aquilo, era um garoto novo, parecia uma criança ainda. Ele fez a mesma coisa com o mercenário de antes: agarrou a mão do garoto, antes que ele conseguisse puxar a lâmina de volta, mas sem ele notar, o homem com a maça havia se aproximado, Zelgle olhou para frente a tempo de bloquear o golpe do martelo. Os espinhos se cravaram em seu braço, mas ele sequer gemeu. O homem puxou a arma, tentando desprende-la, mas Zelgle não parecia estar nem sentindo dor.

Kiere parecia tranquila com a cena, enquanto Lauren, ao seu lado, a observava pensando se ela estava com medo de acabar perdendo o companheiro ali. Mas ela não demonstrava um traço de surpresa sequer. Tolfret e Hylia observavam a cena de longe, junto ao homem de capuz.

"Lá se vai um dos promissores."

Pensaram os três juntos. Mas Zelgle não foi eliminado. Ele desistiu de segurar o garoto e agarrou o braço do homem, largando o machado no chão, e acertando um soco no meio do rosto do sujeito, ele saiu voando a alguns metros. A maça continuou presa ao braço de Zelgle, e antes de retirá-la, ele se virou para o garoto, mas ele não estava mais lá. Ele havia corrido na direção do homem. Zelgle retirou a adaga e o martelo presos em seu corpo e os jogou na direção da dupla. Várias pessoas observavam a cena aterrorizadas, e se juntaram na esperança de derrubar Zelgle, vendo que ele podia se tornar um incômodo mais tarde. O gigante recolheu o machado do chão e o empunhou  com as duas mãos. O garoto e o homem também recuperaram as armas do chão e estavam encarando Zelgle com raiva. O rosto do homem estava vermelho depois da pancada. Eles se levantaram e partiram na direção de Zelgle, o garoto contornando pela esquerda e o homem de frente. Zelgle ignorou o flanco, e foi na direção do oponente com o martelo, segurou um golpe da maça com a mão nua e pagou o preço por isso, os espinhos penetraram a palma de sua mão de uma maneira extremamente dolorosa, enquanto o indivíduo fazia força para recolher a arma. Ele chutou Zelgle, que foi empurrado para trás e ficou desequilibrado, o garoto venho por trás mais uma vez e tentou acertá-lo, mas o gigante só fingiu que não o via, e quando ele se aproximou, Zelgle se virou rápidamente fazendo um arco com o machado, teria partido o adversário no meio caso tivesse acertado. Por sorte, o garoto estava abaixado, o machado imenso passou por cima de sua cabeça e ele ficou sem entender, até que percebeu que Zelgle havia se virado e estava indo em sua direção, mas foi acertado pelas costas pelo homem com a maça, ele se curvou com o ataque, dando um brecha para o garoto avançar. Ele ia cravar a adaga na cabeça de Zelgle, se o gigante não tivesse bloqueado com a palma da mão, que foi atravessada pela lâmina.

—O que há com esse desgraçado? Ele não sente dor?

Gritou o homem atrás dele golpeando mais vezes com a maça. As costas, o braço e a mão esquerda de Zelgle haviam se tornado uma massa vermelha, com o sobretudo negro rasgado e encharcado no próprio sangue, e ao contrário do que aqueles dois estavam pensando, aquilo doía, e muito. Zelgle se levantou rapidamente, fazendo o garoto pular para trás com o susto, mas ele segurou seu pulso antes dele se afastar demais.

"Merda!"

Zelgle girou, e acertou o corpo do garoto no adversário das costas. Os dois urraram e foram arremessados em direção a parede da arquibancada. Bateram com força contra a superfície de concreto, e caíram na areia. Nenhum dos dois se levantou.

"Espero que não estejam mortos."

Pensou Zelgle, mas não teve certeza se desejava isso mesmo ao olhar para o próprio corpo, completamente destruído depois de alguns minutos de luta, e haviam mais pessoas se juntando em volta dele. Pegou o machado do chão. Não podia brincar mais.

Tolfret e Hylia pareciam estupefatos com a cena, apesar de separados. Hylia havia dito que sentiu algo estranho vindo daquele homem, talvez agora Tolfret entendia o que ela quis dizer. Já "ele" estava gargalhando e aplaudindo a cena. Um sorriso vasto se estendia na boca coberta pela máscara. Seu corpo estava ficando quente, não aguentava mais a empolgação, queria sair rasgando tudo naquele lugar, mas iria esperar. É muito mais divertido no mano a mano.

Uma pessoa cometeu o erro de se aproximar dele, não sabia se ela tinha tendências suicidas, mas não queria saber. Ela tentou cravar uma adaga em suas costas, mas "ele" se virou para o lado com um giro, e segurou a nuca do sujeito com a mão direita, jogando-o de cara no chão. Pôde ouvir o nariz do imbecíl quebrando no choque contra a superfície sólida, mas isso era culpa dele, e ainda não havia acabado. "Ele" acertou a cabeça do oponente no chão repetidas vezes, até o rosto ficar desfigurado a ponto de ser irreconhecível.

—Você não.

Mais uma pancada contra o chão de pedra, e então "ele" largou o corpo da pessoa no chão, sem se importar. A arena estava quase limpa. Apenas algumas pessoas bem separadas permaneciam de pé, e um bolo delas em cima do cara do machado. Ele estava sendo cada vez mais reprimido, mas ainda sim dando conta.

"Talvez esse ai."

Zelgle continuava sendo pressionado pelo grupo de pessoas que estavam tentando tirá-lo da competição a todo custo. Ele estava bloqueando vários golpes com o cabo do machado, mas eram muitas pessoas. Ele pensou em acertá-las todas de uma vez com um golpe, mas não queria matar ninguém, não sem precisar. Seria difícil não matar ninguém com aquela arma. Desistiu do machado e se abaixou um pouco, e então forçou através da multidão com uma ombrada. Ele passou por cima de várias pessoas e fez outras voarem. Ficou quase no centro da arena, e se virou em direção ao grupo que estava o pressionando antes, vendo a situação, a maioria das pessoas se jogou para fora da arena, amedrontadas. Sobraram apenas três, até que uma derrubou um deles no chão e chutou o outro para fora, em seguida, arrastou o caído para a borda também. Zelgle parou, observando a cena. O homem que havia feito aquilo acabara de previnir a própria eliminação traindo alguns dos comparsas. Confiança em coisas assim é algo estúpido, concluiu Zelgle.

Ainda faltavam nove pessoas, Zelgle, Tolfret, Hylia, "ele", a pessoa que havia traido os comparsas no cerco contra Zelgle, estava segurando duas espadas curvas, uma em cada mão, uma arqueira que estava longe de todos, um guerreiro enorme com um martelo de guerra, alguém vestindo um chapéu pontiagudo e uma garota segurando um báculo.

Vendo que a platéia esperava eufórica e ainda faltava alguém a ser eliminado, todos os participantes remanescentes se encararam. Até que a garota com o báculo bateu a extremidade do cajado no chão e invocou uma enorme bola de fogo, com uns cinco metros. Inicialmente ela buscou um alvo enquanto todos estavam confusos sobre o que ela faria, e no momento seguinte, ela lançou a esfera em direção a Hylia, que era a pessoa mais próxima. A maga ficou surpresa com a decisão, que não era nada sábia. Ela sorriu, e calculou o que fazer, mas logo ela notou que a esfera ia ficando menor a cada metro que percorria, porém, acelerava de uma maneira insana, quando ela se aproximou de Hylia, ela estava do tamanho de uma criança. Só teve tempo de saltar para o lado, o que foi suficiente para escapar. Mais ao fundo estava Tolfret, que não estava preparado para aquilo. Quando ele notou a magia vindo em sua direção, ela já tinha o tamanho de um barril. Surpreso, ele segurou a alça do escudo com as duas mãos, e bloqueou o ataque. Uma enorme explosão ocorreu, uma ventania forte soprou na arena, junto a uma cortina longa de poeira e fumaça que se formaram, obstruindo completamente a visão da platéia e dos outros participantes. Hylia olhou na direção de Tolfret apreensiva, e Lauren nas arquibancadas estava com um sorriso enorme.

A fumaça abaixou após alguns segundos, e Tolfret continuava de pé, no escudo, uma grande mancha negra, e o rosto coberto por fuligem. O cabelo meio queimado. A garota com o báculo entrou em desespero, deveria ter usado toda a mana restante naquele ataque, e não conseguira derrubar ninguém, seria um alvo fácil agora. Mas para sua surpresa ninguém se moveu. Todos ficaram parados observando o cavaleiro coberto de cinzas.

Lauren olhou bem para o irmão das arquibancadas, e então soltou uma gargalhada extremamente exagerada.

—Combina com você, Tol!

A platéia seguiu a linha e começou a gargalhar junto. Hylia permanecia observando o cavaleiro tensa. Foi então que Tolfret retomou a postura, enquanto ouvia a platéia rir. Jogou a lança e o escudo no chão, com raiva. Buscou algo no chão, e viu a lança que atingiu a garota antes, a mesma já havia se jogado da arena fazia tempo. Ele recolheu a lança com a ponta coberta de sangue, fez uma postura de arremesso curvando o corpo. Nas arquibancadas as pessoas continuaram a gargalhar, como se a fúria repentina de Tolfret fosse comparável ao de uma criança, já Hylia sabia que não era assim, a expressão em seu rosto era de raiva verdadeira, e ela já havia visto a mesma expressão antes algumas vezes, sempre que alguém tinha a brilhante idéia de mexer com ela ou Lauren, ele entrava naquele estado, e nunca era muito bonito.

Ele deu um berro, um urro com tanta força que se sobressaiu sobre todas as gargalhadas e as suprimiu, as pessoas ficaram surpresas com o grito estridente do homem. Ele arremessou a lança na direção da garota, e ela passou numa velocidade tão grande que foi quase impossível de se acompanhar com os olhos, cruzando a arena em linha reta de maneira imparável, a maga não teve nem chance de reagir, e simplesmente foi acertada no ombro e jogada para fora da arena, ela bateu contra a parede de concreto. A lança afundou na superfície de maneira que não era mais possível ver a ponta. A garota desmaiou com o choque, e ficou pendurada pela lança se projetando do ombro. Toda a platéia havia ficado em silêncio, surpresos com a cena brutal. Lauren parecia irritada agora também.

—Esse idiota não consegue levar nada na brincadeira...

Disse ela, Kiere ouviu ela falando, mas ainda estava boquiaberta com a cena, aquele homem era incrivelmente habilidoso. Foi uma das coisas mais lindas que ela havia visto na vida, um movimento provocado por puro instinto.

Tolfret estava ofegante, parecendo furioso. Recolheu as armas do chão e voltou a postura de antes. Observando onde a lança acertou, era possível concluir que ele havia errado de propósito, poderia ter matado a garota, mas decidiu não fazê-lo, apesar do surto de fúria.

"Interessante."

Concluiu "ele". E agora, apenas os oito classificados jaziam de pé na arena.

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