Capítulo 2: Como as coisas são
"Mais um. É mais um dia nessa cidade infernal! O que posso fazer pra escapar dessa mesmice?"
Pensava uma garota, em cima do telhado de uma casa, olhando a cidade. Haviam crianças maltrapilhas correndo de um lado para outro, tendas de vendedores clandestinos por toda parte, o movimento era constante, mas mesmo assim, algo naquela cidade a fazia parecer morta.
Talvez a guerra depois de tudo, já que no seu decorrer, todas as cidades fronteiras dos reinos de Minandre se tornaram pontos de atuação do mercado negro, tanto de artefatos mágicos quanto escravos.
-Nós pobres sempre nos daremos mal depois de tudo.
-Sim, enquanto nós estamos aqui conversando, aqueles nobres desgraçados e mesquinhos comem as nossas custas. Ah, que raiva...
Um grupo de trabalhadores conversavam durante uma pausa.
"Nobres, é? Não preciso deles, só preciso saber qual o próximo otário que vou enganar."
A garota se pôs de pé, procurando atentamente aos arredores.
"O que temos de bom hoje? Hum, aquilo brilha bastante. Deve ser caro..."
Ao longe, ela pôde avistar um homem comandando pessoas que puxavam várias carroças em fileira, as carroças estavam cheias de pessoas, todas cobertas com panos velhos e surrados, que nunca poderiam ser chamados de roupas de verdade.
"Um vendedor de escravos é?"
O que havia chamado a atenção da garota anteriormente era na verdade anel que o homem usava, com uma gema incrustrada nele. Era vermelha, provavelmente um rubi, de qualidade aparentemente, valeria uma fortuna se vendesse corretamente no mercado negro.
"Bem, vamos começar..."
A garota puxou para trás o capuz que estava usando, revelando orelhas
parecidas com de um felino na parte de cima da cabeça, seus olhos também eram parecidos com olhos de felino, na cor azul, eles brilhavam, expostos à luz, que acertava contra a retina, e seu curto cabelo na tonalidade rosa a deixava com um ar feminino, apesar das roupas velhas e desbotadas.
Mas então, a garota se preparou, e agilmente saltou para o telhado de uma construção próxima. Sua velocidade era alucinante, podia cobrir uma distância de metros em poucos segundos, seus pulos ágeis e precisos permitiam que atingisse com perfeição o local em que desejava cair, e seus olhos permaneciam atentos à tudo, desde movimentos estranhos à outros objetos brilhantes que pudesse encontrar. Se aproximou o máximo que pôde do mercador de escravos, em cima de um telhado, ela permanecia à espreita.
O homem estava acertando com um chicote um dos escravos que puxava uma das carroças contendo mais pessoas.
-Quem disse que você podia descansar?
As costas do homem que estava sendo violentado estava em vermelho vivo, o sangue escorria até as pernas, manchando ainda mais as calças imundas que ele vestia.
-Lixo...
A garota em cima do telhado segurou raiva, enquanto cerrava o punho e controlava a vontade de não pular em cima do homem e contar-lhe a garganta.
"É assim que as coisas são, não é?"
A raiva desapareceu aos poucos, conforme ela respirava fundo para se acalmar. Então, ela sacou uma adaga que estava mantendo escondida na manga e em mais um movimento extremamente ágil, ela pulou e arremessou a lâmina contra o vendedor, acertando o braço em que segurava o chicote, perto do pulso.
-Aaargh!
Grunhiu o homem enquanto se ajoelhava. Quando olhou para cima, ele viu algo vindo em sua direção. A garota lhe acertou com um chute que o arremessou na parede de uma construção próxima. E então rapidamente se aproximou, retirou a adaga cravada no braço do homem e também pegou o anel em seu dedo.
"Pronto."
Já estava concluido, não havia mais nenhuma necessidade de permanecer naquele local por mais nenhum instante... é o que ela gostaria de pensar, mas assim que olhou dentro de uma das carroças, viu uma menina pequena, entre os dez à doze anos, provavelmente teria o destino de ser comprada por um depravado e ser usada como escrava sexual até que o dono ficasse entediado. Após ver aquilo, não conseguiu ignorar as pessoas nas carroças, ela tomou a decisão de libertá-las.
Em uma ação rápida, ela conseguiu abrir duas das cinco carroças, mas não teria mais tempo de destravar os cadiados pesados. Podia escutar passos próximos, muitos passos.
"Guardas... droga!"
Não podia ser pega, pois se fosse, seu destino seria tão ruim quanto o de todas aquelas pessoas, então em disparada, ela correu.
-Peguem aquela vadia...
O vendedor de escravos estava tentando se levantar, mas com dificuldades.
"Preciso me esconder, preciso me esconder..."
Logo, ela chegou em um beco mais estreito, parou para recuperar o fôlego por um momento, mas quando percebeu estava cercada, não conseguiu raciocinar, e então pode ver, o mercador de escravos se aproximando junto aos guardas.
-"Como eles me encontraram tão rápido?" É isso que está pensando, não é? Idiota. Saiba que o anel que você roubou tem magia de rastreamento.
A garota respirou fundo, buscando uma saída rápida. Confiando na sua agilidade, ela saltou, tentando atingir o mais alto que pudesse, mas antes que conseguisse, algo à atingiu em pleno ar. Ela caiu no chão com uma pancada muda. Uma pontada de dor lancinante repentinamente emergiu das costas.
-Achou que podia se safar? Não pense bobagens, eu estava preparado agora.
Disse o mercador, ela sabia o que tinha a atingindo: magia. Se aproximando, o homem agarrou seus cabelos e puxou com força, forçando a garota ao encarar.
-Uma meio hamana, hein?
Uma meio felino ainda, que sorte, mesmo que eu tenha perdido alguns escravos e sentido um pouco de dor, você vai retribuir o prejuízo.
A garota então olhou para o braço do homem, o ferimento que ela havia causado já não estava mais lá.
"Droga..."
-Ham, se você não tivesse me feito perder tantos escravos, eu mesmo ensinaria a você uma lição.
Eu queria ver você pagar de espertinha enquanto está amarrada à uma cama, sua vadia.
E então, ele deu um soco na cara da garota.
-Que sorte a sua, nem te marcar eu posso, se não perderia valor...
Antes que o homem pudesse falar qualquer outra coisa, um barulho metálico repercutiu no local fechado.
Na direção deles, vinha um homem alto, não, um gigante coberto com trapos longos, enrolando o corpo aqui e ali. Ele usava um capuz que impedia o seu rosto de ser visto enquanto ele olhava para baixo. Mas era possível ver algo brilhando no escuro do capuz, algo com uma coloração púrpura. Seus olhos.
Junto à isso tudo, ele ainda carregava um enorme machado, tudo isso o deixava com estranhamente intimidador, mas bizarro de certa maneira.
Os guardas entraram em posição enquanto ele se aproximava, porém, ele simplesmente passou direto, ignorando o que estava acontecendo.
-Ei, não está vendo o que está vendo isso aqui? Me ajude!
Disse a garota caída no chão.
-Cale a boca vadia!
O mercador pisou na cabeça da garota. O homem parou, e lentamente se virou na direção do pedido de socorro.
-Falou comigo?
-Está vendo mais alguém aqui?
O mercador forçou ainda mais o pé na cara da garota.
-Se você não quiser confusão, é melhor continuar andando.
Disse um dos guardas, com a espada em mãos.
-Por que? Vão me matar se eu não o fizer?
-Sim, é isso mesmo.
Nesse momento, o homem com o machado avançou rapidamente na direção do guarda.
-Eu disse para você cair fora!
Grasnou o guarda com a espada fina tremendo nas mãos. Uma camada fina de suor surgiu em sua testa.
-Então anda, me mata.
-Mas que merda? Você é louco desgraçado? Ou acha que estou brincando?
-Nenhum dos dois. Só preciso que me mate, como disse que faria. Eu já tentei antes, mas não consegui...
O guarda então perdeu a paciência, e avançou contra o homem, com um movimento vertical, acertou o ombro do estranho, dilacerando a carne até a região do tórax.
"Merda, por que minha última chance tinha que ser um lunático suicida?"
Pensou a garota, mas assim que o guarda recolheu a espada, um brilho roxo envolveu o ferimento do homem do homem com o machado. Uma espécie de chama começou a arder das gotas de sangue caídas no chão, e na região em que o ferimento foi causado.
-O que é isso?
Os guardas se assustaram, perdendo a formação.
-É o que eu imaginava, mesmo se for outra pessoa, ainda acontece isso.
O homem se virou novamente, na direção que estava indo anteriormente, mas antes que pudesse tomar rumo, algo o acertou nas costas.
-Hm?
O mercador tinha tirado o pé de cima da cabeça da garota, que sorrateiramente rolou para o lado.
-Mas o que diabos é você? Matem, matem essa coisa!
Os guardas avançaram todos juntos para cima do homem, que sequer reagia enquanto era golpeado.
"Obrigado idiota, salvou minha pele!"
Os ferimentos no corpo do estranho se fechavam praticamente na mesma hora que eram abertos, enquanto os guardas só ficavam mais cansados.
-Eu já disse, vocês não vão me matar assim. Se vocês não pararem, eu vou ter que reagir...
Os guardas continuaram o atacando, sem parar.
-Que seja...
Então, empunhando o machado com as duas mãos, o estranho golpeou.
O primeiro golpe, na horizontal, cortou no meio três guardas, e enquanto ele realizava o movimento, seu capuz do manto se deslocou para trás, mostrando seu cabelo negro e seu olhar sem vida, o segundo golpe, na vertical, destroçou mais dois dos homens, deixando os corpos completamente irreconhecíveis.
O restante deles fugiram, sobrando apenas o mercador, que estava sentado no chão, aterrorizado.
O homem se virou, tomando rumo, deixando o homem amedrontado de lado, quando ele ouviu passos.
-Seu merda!
A garota que havia pedido socorro agora estava espancando o mercador. O homem gorducho afundou no chão com os inúmeros socos e pontapés que a garota deu. O estranho estava observando a ação da garota, que no fim, usou outra adaga oculta e cortou a garganta do mercador.
—Pedaço de merda imundo...
Ela estava ofegante, devido ao nervosismo.
-Ei, obrigado, mesmo que sua intenção claramente não era de me ajudar...
-De nada, eu acho.
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