Capítulo 14: Cerco montado

Finalmente chegaram em Nirrat, após aproximadamente meia hora.
Kiere dormiu durante todo o trajeto, acordando apenas quando estavam prestes a passar pelos portões da cidade, onde dessa vez haviam guardas cobrando tributo.
Pagaram individualmen o tributo de cinco moedas de prata para entrar na cidade, e prosseguiram até o prédio da guilda.

Todas as pessoas nas ruas olhavam em direção à Zelgle, por causa de sua roupas estarem destruídas e ensanguentadas, e apesar de perceber a comoção, fez questão de não se importar.

-Você realmente sabe chamar atenção, hein?

Disse a elfa em cima do cavalo, com Kiere enconstada em seu obro, com os olhos semicerrados, como se não estivesse acordada.

-Não é como se eu quisesse andar por ai desse jeito...

Logo eles chegaram no prédio da guilda.
Arlen foi devolver o cavalo ao estábulo, e depois, entrou junto a Kiere e Zelgle no estabelecimento.
Entrou por primeiro, e o abrir da porta de madeira de carvalho, fez com que todos no local olhassem em direção a entrada.
Mas nenhuma palavra foi dita, não até a figura com as roupas completamente rasgadas e cobertas de sangue passasse pela porta.

Todos o fitaram com os olhos arregalados, mas não houve nenhum comentário até os três caminharem até o balcão.

-Esse cara ainda tá vivo?

Disse o aventureiro chamado Zeck, com um olhar de desprezo e surpresa nos olhos e os pés sobre a mesa.

-Então vocês estão bem... eu acho...

Disse a balconista, olhando com os olhos fechados e um sorriso ligeiramente trêmulo para Zelgle.

-Você sabe onde está o senhor Linel?

Disse a elfa, impassiva.

-Eu não o vejo faz algum tempo... mas a senhorita Rozaria está cuidando do recrutamento de alguns novos membros no andar de cima.

-Droga... não é uma boa hora para o senhor Linel estar ausente...

Disse ela, em um tom de descontentamento.

"Acho que não terei escolha..."

-Vocês dois...

Disse a elfa, referindo-se a Kiere e Zelgle, que estavam logo atrás.

-Vocês aceitarão a proposta?

Os dois ficaram em silêncio por tempo, se encarando.
Até que Kiere, por fim, respondeu:

-Olha, foi um dia bem longo... então, podemos descutir isso outra hora?

-Como quiserem.
De qualquer maneira, já está anoitecendo, vocês deveriam ir descansar.
E você, deveria dar um jeito nas suas roupas.

Disse ela, apontando para Zelgle.

-Sim.

Respondeu, com o olhar vazio de sempre.

-Só mais uma coisa.

Enfatizou Kiere.

-Pode nos dizer um lugar para passar a noite?

Encarou os dois por um tempo, imaginou que tivessem um lugar para ficar, depois de tudo, mas se poupou do ato de perguntar algo.

-Vocês poderiam ir para a pousada da Lua, é aqui perto, basta virar a esquerda e seguir até o final da rua.
É uma pousada bem famosa entre os aventureiros.

Respondeu a balconista no lugar de Arlen.

-Obrigada.

-Ótimo, me encontrem amanhã cedo.

Terminou Arlen, e então se virou, tomando rumo as escadas para o andar superior.

Zelgle e Kiere saíram do lugar, sendo bombardeados com olhares de desconfiança.

Kiere andou cambaleando por um tempo, até mesmo se apoiando nas parede.

-Quer ajuda?

Zelgle realmente estava preocupado, apesar de não conseguir sentir qualquer afeição.

-Eu estou bem...vai comprar roupas novas... eu vou cuidar de algumas coisas enquanto isso, nos encontramos na pousada depois.

Então se separaram.
Era incoveniente ter que comprar roupas novas no mesmo dia, pensou Zelgle, mas sabia que tinha culpa em partes, não teve nenhum cuidado durante as lutas.

Se dirigiu novamente a loja de Maoren, a qual ainda estava aberta, mesmo a noite já tendo caído completa.
Foi sorte, pensou, pois como não conhecia a cidade, não queria ter de procurar outra.
Assim que empurrou a porta, adornada com pequenos sinos, que serviam para avisar o vendedor que alguém havia entrado, ouviu uma voz grave mais à fundo.

-Posso ajudar?

Disse Maoren, surgindo pela porta de um outro cômodo do ambiente, provavelmente o estoque de roupas, onde ele ia buscar as peças.
Tinha um sorriso simpático no rosto, até vislumbrar a figura que seria seu cliente.

-Ah, você de novo!?

Resmungou baixinho... mas sem nem esconder o descontentamento.

-Desculpe o encomodo.
Vim comprar roupas novas.

Disse Zelgle, apesar de seu objetivo ficar bem óbvio ao olhar para suas roupas atuais.

-Deixa eu advinhar... cervos de novo?

-Dessa vez eram lobos.

-Que seja... e então, o que vai levar dessa vez?
Acho que vai precisar de mais do que sobretudo...

Começou a procurar por roupas que gostasse, revirando as peças expostas pelos cabides.

Maoren observava toda a ação apoiando o rosto com a mão, e o braço sobre a mesa.

-Por sinal, cadê sua amiga esquentadinha?

-Ela se feriu durante a caça hoje...

Os olhos do homem reluziram entre as lentes do óculos de armação quadrada.

-Isso é uma pena, espero que não tenha sido nada sério...
O que eu acho que não seja o caso, olhando para o seu estado.

-Não se preocupe, eu estou bem.

-Não é esse o ponto...

O vendedor estirou-se sobre o balcão de madeira.
Zelgle finalmente havia escolhido suas roupas, não todas claro, diferente das que estava usando no momento, essas não pareciam sacos de batata.
Escolheu uma camisa branca e uma calça preta, manteve as botas sujas a qual estava usando.
Entrou no provador, e começou a se trocar se encarando no espelho.
Logo ao tirar a comisa, percebeu uma enorme cicatriz em seu peito.

"Isso é de quando eu morri..."

Pensou consigo mesmo, tocando a região estranhamente pálida em volta da cicatriz vertical.

-Que lugar dramático para sofrer um ferimento tão sério.

-Disse alguma coisa?

Perguntou Maoren, confuso, do lado de fora do provador.

-Não foi nada.

Gritou de dentro do apertado cômodo.

"Se essa cicatriz ainda está ai, é porque meu corpo só deve conseguir se regenerar até o meu ponto atual... esquisito."

Concluiu, e não pensou mais nada sobre aquilo, apenas terminou de mudar de roupas.

-Você tem algo parecido com isso?

Perguntou enquanto saia do provador, mostrando para Maoren o sobretudo.

-Sim, só um momento...

Foi novamente a pequena sala ao lado esquerdo do balcão, e de lá voltou com um novo sobretudo, desta vez com adornos dourados em torno das pontas.

-Tudo vai ficar em torno de cinquenta moedas de prata.

-Claro.

Enquanto Zelgle tirava o dinheiro do bolso, sem estar vestido com o sobre tudo ou algum manto, que cobrisse seus braços, Maoren pode ver seu bracelete prateado.

-Você é um aventureiro?
Não tinha percebido isso...

-Nós estramos hoje, eu e Kiere.

-Hm... agora sei porque ela se feriu, é um trabalho perigoso, tomem cuidado.

-Sim, obrigado...

Zelgle continou se olhando no espelho por um tempo, não parecia tão ruim quanto antes, a única coisa que o encomadava era o seu cabelo, antemão castanho queimado para preto, as longas mechas jogadas para trás, se perguntou se elas voltariam ao ponto atual se ele tentasse cortar o cabelo.
Virou-se para Maoren, depois de alguns momentos se fitando no espelho.

-Aqui está.

Entregou o dinheiro contado com exatidão para o homem.

Zelgle vestiu o sobretudo, extremamente parecido com o anterior, mas bem menos ofuscados devido aos detalhes dourados.
Não queria estragar aquela roupa tão rápido, pensou, então teria mais cuidado dali pra frente.

-Muito obrigado.

-De nada, tenha uma boa noite... e diga para sua amiga que mandei um oi.
Apesar de não fazer muito tempo desde que nos vimos...

-É claro, até mais.

Saiu da loja, percorrendo entre a rua vasta do centro comercial de Nirrat.

"Aquele ferreiro disse que a minha arma nova estaria pronta em três dias, então não poderei abusar muito dessa daqui durante esse meio tempo."

Divagou enquanto olhava para o machado, lascado em algumas partes da lâmina, e com um pedaço grande faltando perto de uma das extremidades, foi de quando golpeou o pescoço do Damacrix.

Ia caminhando em meio as tendas de comerciantes de comida e outras coisas, apesar de toda a pobreza do lugar, ainda era um centro comercial, depois de tudo.
Se deparou com uma pequena tenda de uma senhora, com a aparência de uns sessenta anos.
Ela vendia algumas frutas, além de espetinhos de legume e carne.

"Não comemos nada desde manhã... acho que vou levar alguns pra Kiere..."

Aproximou-se da tendinha, e foi recebido pela mulher com um sorriso caloroso no rosto, o sorriso a qual não pôde devolver.

-Vou querer esses, por favor.

Disse enquanto apontava para quatro espetinhos, de batata e carne.

A mulher rapidamente coletou a comida de uma pequena cesta a qual estava sendo mantida, e colocou em um pequeno saco feito de pano, além disso, Zelgle também comprou algumas frutas.
Isso custou-lhe trezentas mordas de cobre, caro, para uma comida tão simples.

Tudo que tinha que fazer agora era achar a companheira na pousada.
Desde de que separaram-se, uma hora havia se passado.
Estava quase chegando no lugar.

Atravessou um beco escuro, até chegar em uma rua iluminada por algumas tochas aparadas por pedestais de metal.
Finalmente pode ver a fachada da pousada.
Entrou no lugar, indo rapidamente até o balcão, andando sobre o tapete felpudo de cor vermelha.

-Como posso ajudá-lo?

Perguntou um homem baixinho sentado em uma cadeira, o recepcionista.

-Acredito que uma companheira alugou um quarto aqui há pouco tempo.

O homem arrumou o óculos, e abriu a gaveta que ficava um pouco abaixo de onde ele estava sentado, tirou da gavetinha vários papéis, o registro de clientes, e respondeu:

-Vai me desculpar, mas nossos últimos quatro clientes foram homens, além disso, todos estão aqui desde manhã.

"Ela ainda não chegou?"

Perguntou-se Zelgle.

-Bem, nesse caso, você tem algum quarto com duas camas disponíveis?

O homenzinho encarou Zelgle por um momento

-Sim, nós temos um no andar de cima.
A noite custa dez moedas de prata.

"Que caro..."

Pensou consigo, mas sabia que os preços em Minandre eram abusivos, não só por conta da guerra, mas também devido a estrutura governamental do reino.
Pagou pelo quarto e recebeu as chaves, e só então subiu para o andar de cima, segurando sem machado com cuidado, de forma que não acertasse nada.
Como o estabelecimento era usado principalmente por aventureiros, armas não eram proibidas.

O quarto a princípio era o número trinta e cinco, usou a chave que tinha recebido para abrir a porta.
Assim que entrou, colocou o machado encostado na parede, com cuidado, e a comida sobre uma mesinha que ficava perto a uma das camas, com lençóis brancos.
A luz da lua entrava no quarto através de uma janela que ficava na parede do fundo, ao contrário das camas que ficavam coladas nas duas paredes paralelas à de entrada.
Pegou no saco de pano um dos espetinhos que havia comprado, e foi até a janela, deu uma mordida na comida, mas logo desistiu de continuar.

"Eu realmente não sinto mais o gosto das coisas..."

Pensou enquanto encarava a lua, janela a fora.
Estava preocupado com Kiere, mas imaginou que a companheira logo chegaria, e que estaria se preocupando atoa.
Procurou se deitar, não dormia a muito tempo, não precisava, depois de tudo, já que não se cansava.
Deitou-se na cama da direita, onde tinha seu machado encostado do lado da parede.
Ficou estático, olhando para o teto por um longo tempo.

                                 ***

Kiere estava longe da pousada, nas ruínas de uma pequena casa.
A antiga casinha havia sido queimada até os alicerces, o lugar perfeito para se esconder algo.
Kiere puxou uma das largas tabuas queimadas do chão, e retirou do vão, um pequeno baú de madeira com adornos de metal.
Tirou do bolso, uma pequena chave, a qual abrira o cadiado que trancava o baú, dele ela tirou um pequeno saco de couro com algumas moedas, e um colar prateado, com a pedra azul em um encaixe aparado pela corrente.
Guardou os itens no bolso da capa e deixou o lugar.

"Finalmente vou dar adeus à esse lugar de merda..."

A noite já havia caído sobre Nirrat.
As ruas mal iluminadas escondiam qualquer coisa da visão, Kiere era uma delas.
Com sua capa escura e seu silêncio ela caminhava ligeiramente entre os becos apertados, tentando chamar o mínimo de atenção que pudesse.

Continuou caminhando até um lugar amplo no meio da cidade, mas ainda não estava no centro comercial.

Continou andando, até que percebeu que alguém vinha atrás de si, estremeceu ao pensar que a pessoa poderia estar a seguindo, mas ao invés de olhar para trás, ela continuou em frente.

Mais alguns passos, e virou em uma rua para a esquerda, mudando o rumo do lugar para onde deveria ir, pensou ter despistado o sujeito, mas ele continuava atrás dela.
Começou a virar em ruas aleatórias, a espera de que ele parasse de segui-la.

Decidiu então, correr, nunca conseguiria alcançá-la devido sua a agilidade, imaginou, mas estava errada, o homem era quase tão rápido quanto ela.
Não teve escolha, subiu em cima do telhado de uma casa e foi pulando por cima dos demais, sem parar.

Até que algo lhe acertou o joelho, não sabia o que era, até cair no chão, de uma altura de mais de sete metros.
Foi ao chão, com muita dor, tanto que não conseguiu se levantar de imediato.
Olhou para a perna na qual havia sido acertado, a direita.
Uma flecha, que havia atravessado o joelho, podia ver algo pingando da ponta da flecha misturado ao seu sangue.

"Droga..."

Gritou e xingou diversas vezes em seus pensamentos, mas não ousou dizer nada, não queria fazer barulho.

Tentou continuar andando, mas uma onde de exaustão e dor tomou conta de seu corpo.
Quase caiu de joelhos depois disso, mas continuou andando vagarosamente, até que ouviu passos, era a mesma pessoa de antes.

"Merda..."

Kiere entrou em posição de combate, apesar de estar enfrentando uma dor terrível.

A pessoa de antes ficou parada por um tempo a sua frente, e apesar de conseguir ver no escuro, não via o rosto da pessoa, devido ao capuz que estava usanso.

-Quem é você?
O que quer?

Perguntou a meio humana de forma rispida.
A pessoa não respondeu, o que só deixou Kiere ainda mais furiosa.

Pensou em avançar sobre o sujeito, mas escutou mais passos vindo em sua direção.
Quando percebeu, estava cercada por um grupo de mais de doze homens, todos armados.
Mercenários, com certeza.

-Agora sim podemos começar.

Disse a pessoa a sua frente, enquanto tirava o capuz, era um homem, alto com cabelos escuros, aparentava mais de quarenta anos de idade

-Nós estávamos caçando você faz tempo... deveria tomar mais cuidado ao se mostrar, meio humana.

Kiere congelou ao ouvir tais palavras, e lembrou-se dos dois únicos momentos onde deixou suas características de meio humana serem expostas: no teste de admissão da guilda e naquela taberna.

-Eu imagino o quanto vamos lucrar vendendo alguém como você...
O comércio de escravos meio humanos está dando muio mais dinheiro últimamente, sabe?
Sendo uma garotinha como você então, estaremos feitos...
Agora, por que não se rende de uma vez?
Não quero danificar uma mercadoria tão preciosa.

-Seu filho da p-

Antes que pudesse completar, alguém tentou lhe atingir pelas costas, mas foi mal sucedido, além disso, ela ainda cortou a sua perna, fazendo-o se ajoelhar, e quando ia lhe acertar na cabeça, outro golpe foi lhe desferido, tentando lhe acertar com uma maça na cabeça desta vez
Desviou deslizando para trás rapidamente.

-Ei ei, cuidado ai!
Se você machucar ela demais, vai acabar perdendo o valor!

Kiere tinha um olhar afiado no rosto, sua respiração estava acelerada, a ponto de quase não conseguir respirar.
Continuaram atacando sem parar, um atrás do outro, Kiere não tinha mais forças para contra atacar, então estava apenas se esquivando.
Seus movimentos estavam cada vez mais lentos, tinha tremenda dificuldade para respirar e sua visão estava escurecendo aos poucos.

-Vamos garota, desista logo... você sabe que não vai ganhar de tantos assim.

-Você fala de mais amigo, acabo de me aborrecer!

Disse ela, com uma expressão raivosa no rosto.

Mas sabia que ele estava certo, não conseguiria vencer, não naquele estado, não lhe restava escolha, teria que fugir.

Olhou para todos os lados, procurando pelo arqueiro que havia acertado ela antes.
Finalmente o encontrou, era um homem bem menor que os demais, vestia uma armadura de corpo que cobria apenas a parte de cima do peitoral, para ter mais mobilidade, provavelmente.

Lentamente, ela tirou do bolso da capa o outro punhal, que havia lhe sobrado após emprestar o outro a Zelgle e ele não devolver.
Arremessou com precisão contra o homem, acertando lhe no tórax, e a armadura de couro não foi o suficiente para parar a afiada ponta so punhal, ele caiu morto no chão.
E então, Kiere rapidamente pulou para cima, na tentativa de alcançar novamente algum telhado, já que o arqueiro estava morto, mas antes que pudesse fazê-lo novamente foi derrubada, dessa vez, algo a atingiu nas costas.
Foi ao chão mais uma vez, com os olhos fechando lentamente, prestes à apagar, mas antes que acontecesse, pôde ver vários vultos se aproximando, e então, desmaiou.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top