Capítulo 10: Presas de pedra
Kiere continuou correndo atrás do monstro por cerca de cinco minutos, mas foi progressivamente diminuindo o rítmo devido à fadiga, apesar da capacidade sobre-humana ainda ficava cansada.
"Volte aqui seu desgraçado..."
Xingou o monstro diversas vezes em sua cabeça, com as coisas mais torpes que pôde lembrar ou montar.
O rastro de sangue deixado pela criatura era enorme, e apesar de ter perdido tanto, ela não parecia estar enfraquecida.
Ele continuou fugindo da meia humana até chegar em uma abertura na encosta de uma pequena colina.
"Uma caverna..."
-Então aqui que você e os outros desgraçados estão se escondendo...
Kiere estava com as duas mãos sobre o joelho, recuperando o fôlego.
"Eu deveria esperar aquele cara chegar até aqui?
Mas e se a caverna tiver outra abertura... e se esse não for o lugar?"
Inúmeras preocupações vieram a sua cabeça, ela tremia de ansiedade, sabendo que seria perigoso entrar sozinha, todos os seus instintos diziam isso.
"Se aquela coisa estancar o sangramento e sair da caverna por outro lugar, não iremos mais encontrá-lo."
-Ha, que idiotice estou pensando?
Aquele bicho não pode ser tão esperto assim...
Apesar se ter dito isso, seu nervosismo aumentava à cada instante parada ali.
Não poderia esperar por Zelgle, sabia que aquele maldito desengonçado demoraria... teria que entrar sozinha.
-Tudo bem... se é assim que vocês querem...
Sacou duas adagas da parte de dentro de sua vestimenta, e adentrou vagarosamente a abertura escura na pedra.
Andava cuidadosamente nos primeiros passos enquanto a claridade penetrava de pouco às sombras do lugar, mas depois de alguns metros, o lugar ficou completamente escuro, mas sendo uma meio humana, tinha uma imensa vantagem: conseguia enxergar muito bem no escuro, assim como ouvia ruídos distantes, o que lhe deixava com medo, muito medo, e fazia com que tivesse a vontade de voltar para perto da claridade da entrada.
Enquanto caminhava adentro, um odor estranho ia ficando cada vez mais forte, não sabia o que era, mas estava sendo atraída por ele.
A caverna ficava cada vez mais estreita, mas ainda conseguia ver as manchas de sangue no chão.
"Aquela coisa está por perto..."
Acelerou o passo.
Não sabia se era por medo ou pela vontade de acabar logo com aquilo, mas começou a andar muito mais rápido.
De repente, um odor forte venho ao nariz, forte o suficiente para fazê-la cambalear, quase desmaiou devido ao olfato super afiado.
"O que é-?"
Cobriu o nariz a boca com o braço, na tentativa de acobertar o terrível cheiro, em vão.
Deu mais alguns passos, desajeitada, até que escutou o barulho de alguna coisa ruindo aos seus pés, não conseguia distinguir aquilo das pedras da caverna, e então se abaixou, tentando recolher o que quer que fosse do chão.
Ossos.
Largou rapidamente o que havia pego, não tinha certeza qual osso era aquele, mas sabia que era de uma pessoa, e se alguém havia morrido ali, a tempo de ter se decomposto a ponto de só se sobrar os ossos, aqueles monstros estavam na área à muito tempo.
Prosseguiu, tentando ignorar o que havia visto.
"Espero que ela não tenha ido muito longe..."
Zelgle estava tentando alcançar Kiere, seguindo incessantemente a trilha de sangue deixada pelo monstro, até que enfim, após mais de vinte minutos, finalmente chegou à caverna.
O entorno do morro era estranhamente silencioso, era um campo aberto com uma vegetação alta, distante do vilarejo, e muito mais da cidade.
Sem hesitar, adentrou a caverna, não enxergava nada, não sabia onde estava indo, e para ajudar, sua arma era grande demais, sendo obrigado a quase deixá-la para trás.
Não sabia para onde estava indo, mas continuava andando.
"Espero que ela esteja perto..."
Pensava na companheira, que estava prestes à passar por uma abertura na parede rochosa, até que escutou barulhos, vindo do caminho já percorrido, entrou em posição rapidamente, esperando que algo fosse pular nela, mas ao invés disso, viu uma sombra alta vindo em sua direção, Zelgle.
-Ah, te encontrar foi mais rápido do que pensei.
-Como pode já ter chegado?
Tenho certeza que corri bastante para chegar aqui...
Disse isso, mas tinha conciencia que diminuiu bastante o rítmo enquanto perseguia a criatura, além de ter deixado o seu medo lhe atrasar enquanto cruzava a gruta.
-Bem, eu só cheguei.
Respondeu Zelgle, sem qualquer afinco.
-Mas antes gostaria de saber:
como você está enxergando?
Perguntou ele, à companheira.
-O qu- esper... quer dizer que você percorreu todo esse caminho sem ver nada? Você é idiota?
-Bom, eu não tinha como fazer uma tocha ou algo assim, então basicamente, foi isso.
A garota deixou um riso escapar, estava mais tranquila, se sentindo muito mais segura que antes.
-Você realmente não é normal...
Mas bem, como sou uma meio humana, uma felina mais precisamente, eu enxergo perfeitamente no escuro, satisfeito?
-Parece bem útil.
-Pode acreditar que sim.
Zelgle estava com pressa para continuar, mas não queria prosseguir no escuro.
-Kiere, você ainda tem aqueles seus punhais de antes?
A garota estranhou a pergunta, mas logo à respondeu sacando uma das pequenas lâminas das mangas e entregando à Zelgle.
-Eu ainda às tenho, mas pra que você a quer?
Não respondeu, apenas cravou o punhal na palma de sua mão esquerda.
-O que voc-
Kiere gritou, surpresa com a ação do companheiro.
Zelgle perfurou sua própria mão até que a lâmina a atravessasse.
"Eu queria testar isso faz um tempo..."
Logo, uma chama púrpura emergiu do ferimento, estancando o sangramento, porém, ela não se apagou como de costume, ela continuou queimando, a faca impedia a regeneração, só restava saber se ia voltar ao normal depois.
"Não vai ser legal se eu ficar com um buraco na mão depois... mas é o único jeito..."
-Isso não dói?
Perguntou Kiere, incrédula.
-Dói.
Mas não importa, agora, posso pelo menos ver alguma coisa.
Zelgle continuou andando normalmente, Kiere, logo atrás.
Apesar de Zelgle ser quase como uma estátua ambulante, sua compainha era agradável, pensou Kiere, era muito melhor do que andar por uma caverna escura sozinha, fora que antes, uma estranha corrente de ar passava pela caverna, trazendo uma sensação gélida a pele, mas ao seu lado, tinha quase uma tocha animada, e apesar daquela chama negra ser estranha, ainda era quente.
"Uma presença que aquece é?"
-Não acho que era isso, mas serve.
Disse a garota, e então riu, baixinho.
-Hm?
Disse alguma coisa?
-Não nada... só estava pensando...
Essa chama ai, é bem bonita, não?
-Você acha?
-Claro, é deslumbrante... mas é muito esquisito como você se regenera com isso.
-Hum... eu só tenho achado irritante...
Olhou para a mão em chamas.
"Afinal, essa coisa não me deixa morrer..."
Continuaram andando por um tempo, usando a luminosidade provinda da chama para enxergar.
Até que enfim, chegaram em um lugar amplo, mas não era possível enxergar as paredes do local, mesmo com a luz bruxuleante na mão de Zelgle.
-Espere... tem alguma coisa aqui...
Kiere continuava com a mão sobre a boca e o nariz, mas parecia quase acostumada com o cheiro da caverna, que, acabara de ficar mais forte.
A garota olhou para o chão, o rastro de sangue continuava à frente, mas Kiere não queria prosseguir.
No caminho atrás dos dois, um barulho estranho surgiu.
Kiere olhou para trás rapidamente.
-Há algo aqui...
Disse ela, o olhar afiado como uma lâmina, mas não podia esconder o nervosismo atrás de seus olhos, então era inútil.
Zelgle continou encarando a escuridão à sua frente, até que, estendeu a mão em chamas, iluminado alguns metros adiante, só assim, para conseguir ver as várias criaturas que estavam à sua frente.
Kiere também percebeu os monstros na retaguarda.
-Zelgle...
-Sim, era uma enrascada o tempo todo.
"É difícil imaginar que monstros não humanóides montariam uma armadilha, mas pelo visto... é verdade."
-O que vamos fazer?
Perguntou Kiere, sem nenhum propósito, sabendo que o único jeito de escapar dali era passando pelas criaturas.
-Não há outra maneira, vamos ter que abrir caminho entre eles.
-Fácil falar... você não conseguiu matar um deles sozinho, imagina tantos de uma vez!
-É... eu sei...
A garota não estava errada, certamente não dariam conta de escapar dali com tantos monstros os emboscando.
Zelgle empunhou o machado com as duas mãos, sentiu certa dificuldade, por conta de ter um punhal atravessando lhe a mão.
Mas algo estava estranho, eles não atacavam, o que estavam esperando?
Uma ordem?
Monstros?
Cada segundo que se passava deixava a difícil situação mais estranha e desconfortável, para Kiere, claro, já que Zelgle estava apenas intrigado com a estranha atitude dos monstros, além de não conseguir sentir qualquer nervosismo ou desconforto.
Depois deles esperarem por mais de dez segundos, algo perfurou a escuridão e o cerco de criaturas, entrando no entorno iluminado criado pela fantasmagórica chama na mão de Zelgle.
"Esse é..."
-Ei, Kiere...
-O que foi?
Respondeu a garota sem olhar para trás.
-Lembra do monstro diferente que aquele senhor havia citado... acho que encontramos.
A garota arregalou os olhos, lembrando-se da descrição do homem sobre o monstro, mas não se virou para fitar a criatura
-É só o que me faltava...
Com um rosnar forte e aterrorizante, as criaturas pularam para cima da dupla de aventureiros de uma vez, apenas a criatura diferente, que era o aparente líder da matilha não seguiu o movimento sincronizado dos companheiros.
Kiere pulou para cima num instante, seus insintos já a haviam avisado do súbito ataque, já Zelgle não teve a mesma sorte, e estava sendo mastigado e dilacerado pelas criaturas, até que brandiu o imenso machado, mas no seu movimento circular, que não acertou nenhum dos alvos, o machado bateu em uma parede próxima, fazendo com que a força do impacto do próprio golpe o lançasse ao chão.
O lugar era amplo, mas usar uma arma tão longa, não deixava de ser uma clara desvantagem em uma caverna.
As criaturas logo se juntaram em cima de seu corpo novamente.
Mordidas e mordidas.
Uma dor insana.
Mas nem um único suspiro sequer para queixar-se.
Kiere que estava a mais de cinco metros do companheiro olhava a cena em choque, com uma expressão de terror no rosto.
-Ei!
Gritou ela, na tentativa de obter alguma resposta do companheiro caído.
Não pôde falar mais nada, um dos monstros venho em sua direção.
Cerrou os olhos e apertou o cabo das adagas com mais força, e voou na direção do inimigo, um corte rápido no pescoço, um corpo no chão.
O ritmo de sua respiração acelerou, não sabia dizer se foi por conta da manobra abrupta ou por conta do medo de Zelgle não se levantar.
Mas não conseguia mais forças para gritar para o companheiro, não enquanto tantos monstros se amontoavam em cima de sí mesma.
"Droga!"
Continuava retalhando os monstros com sua velocidade absurda, não podia se dar ao luxo de desperdiçar movimentos, não enquanto haviam tantos para matar.
Já devia ter dado cabo de mais de quatro deles, e no quinto, cravou ambas as adagas nos dois olhos da criatura, tão fundo e com tanta fúria que quase ficou com pena do ininigo por um momento, apenas quase, já que logo em seguida forçou as lâminas para os lados, abrindo ambas as órbitas do pobre diabo, para os dois lados.
Já estava ofegante, mas ainda haviam mais de seis monstros em torno dela.
"Aquele velho maldito, ele devia ser realmente cego..."
-Esses desgraçados são azuis!
Zelgle já estava caido no chão a mais de trinta segundos, sem se mexer, apenas sendo estraçalhado pelo bando de coisas indescritíveis pela sua visão distorcida. Seus olhos estavam cobertos de sangue, mas a visão vermelha passou para um forte roxo rapidamente.
Os monstros saltaram para longe, assustados.
Levantou-se do chão, coberto com as efêmeras chamas púrpuras, apoiando-se no cabo do machado, não tinha sustentação na perna direita, já que faltavam vários pedaços da mesma.
-Está tudo bem, Kiere.
Disse para tranquilizar a companheira, que estava parada, junto as criaturas, observando o brilho no meio do salão de pedra.
"O que diabos é esse cara?"
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