Capítulo único
O senhor McArthur me procurou por toda a cidade, mas ele não vai me encontrar em nenhum canto daquela metrópole fumacenta. Nesse exato momento, estou indo para o mar para fugir daquela maldita poluição.
E ele nunca vai pegar no que eu tenho lá.
Mas acho conveniente escrever o que aconteceu e o que me motivou a cometer tal imoralidade. Portanto, prestem atenção, apesar de não ser uma história complexa.
Uma vez eu já fui aprendiz do senhor McArthur, no comércio de relojoaria, e o avarento me fazia trabalhar por cada centavo do meu salário.
Sem férias, com um tempo de almoço de míseros dez minutos e uma jornada de trabalho muito desgastante.
Apesar de tudo eu tinha um emprego e era isso o que me mantinha vivo e ocupado.
... até o dia em que ele descobriu que poderia me substituir por uma máquina. No mesmo dia, ele me jogou direto para fora, na rua, sem nem me dar o pagamento do dia.
Eu não sou do tipo que se ajoelharia e imploraria para que ele se dignasse a me permitir ficar. Então eu o amaldiçoei e me levantei da rua solenemente, jurando, a todos os cantos, que ele pagaria.
O senhor McArthur é muito desatento, e ele nunca me viu apoiado na parede quando ele deixava o trabalho à noite e, de vez em quando, até mesmo se esquecia de verificar se a janela traseira da oficina estava fechada.
Não se enganem, eu não sou um ladrão e muito menos um vândalo, mas, vocês precisam me entender, o velho tinha que sofrer.
Porém apenas isso não bastava para o meu ser completamente irado. Eu queria algo mais: eu queria que ele sentisse o que senti e soubesse que fui eu. E eu sabia que seus relógios eram a chave.
Entrando pela janela dos fundos, sentei-me na sua oficina, meus pensamentos correndo com selvageria.
A oficina não era grande, e as diversas engrenagens espalhadas e seus amados autômatos ainda não totalmente construídos que estavam espalhados por todo canto diminuíam ainda mais o espaço.
Naquele momento, senti uma leve nostalgia. Por três anos, o som daquelas engrenagens era presente em cada segundo da minha vida e, mesmo fora da oficina, em minha cama tarde da noite, o som ainda ecoava por meus ouvidos. Às vezes, tinha a impressão de que as engrenagens se moviam no ritmo do meu coração.
Ou o contrário.
De qualquer forma, foi quando meus olhos pousaram sobre o balcão bagunçado, que a minha ideia surgiu.
Olhei para cima e sorri. Sorri porque eu sabia que o tinha e sabia que iria me vingar com estilo.
Posso muito bem lhes afirmar que um relógio é uma coisa poderosa; há uma terrível força nessas molas enroladas. E que o relógio de bolso de um cavalheiro sempre fica guardado perto de seu coração.
E é aí que o dano pode ser iniciado.
Eu posso não ser uma máquina, mas posso funcionar quando eu quiser e, como qualquer um quando se tem algo a provar, meu trabalho é incrivelmente meticuloso.
E foi assim que eu fiquei acordado a noite toda entre engrenagens, molas e parafusos, e não parei até que meu trabalho estivesse completo.
O que eu fiz? Bom, apenas irei me limitar a dizer que montei um relógio para fazer mais do que apenas um sinal sonoro e não hesitei uma única vez durante o meu crime e nem depois. O resto fica por conta de vocês.
Porém, devo dizer, aquela foi a invenção mais perfeita que ainda se conserva imaculada no tempo. Tudo o que o senhor McArthur me ensinara fora usado para aquela vingança.
E essa foi a melhor parte.
Na semana seguinte, olhei os jornais e não contive um sorriso. Naquela manhã um jovem, parado na loja, poliu um relógio e pagou no local.
Quando acabou, o guardou e, às 6 em ponto, ele teve um ataque epiléptico misterioso e permaneceu imóvel depois disso.
Agora o senhor McArthur tem sangue em suas mãos. Ele é um homem arruinado, e certamente sabe que sua queda foi planejada por mim.
E a melhor parte foi que tudo isso aconteceu por causa de um simples relógio de bolso.
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