Capítulo Único


Há pouco Constantin sussurrava-me palavras lindas e abraçava-me tão forte que eu sentia o seu desejo fundir-se ao meu. Eu nada dizia, simplesmente apertava o meu abraço após cada palavra sua e vivia a verdade daquele momento. Sorria profundamente feliz com a certeza da sua presença na minha solidão. Agora, ao ouvi-lo pronunciar incertezas, quase sentenças, cheguei a pensar que aquela boca não era daquele que há pouco amei, mas sim a de um estranho que julgava-me, acusava-me até, e soube então que eu afastar-me-ia – olhei assim o aposento com ar de despedida.

Constantin aproximou-se, beijou-me a fronte e perguntou-me por que fora eu ao seu encontro, e eu contestei-lhe: – Por que nossos corações saíram do ritmo, acelerados, quando nossos olhares encontraram-se, e você mergulhou na fundura dos meus olhos e eu na imensidão dos seus?

Ele nada respondeu, porque não sentia com a emoção sublime reservada aos verdadeiros amantes, e deixou apenas o seu olhar vagar disperso até fixar-se em algum ponto desfocado distante. E então perguntei-lhe: – Por que na escuridão da sua insônia você chamava incansável pelo meu nome?, – e ele, ainda com o olhar absorto pelo infinito, disse: – Eu apenas sonhava um belo sonho. O despertar devolver-me-á ao vazio da minha existência. E eu, que mirava-o incrédula, naquele momento sussurrei: – Verdade transitória, mentira eterna.

Constantin acariciou o meu cabelo, afastou-se, dirigiu-se à janela e, tremulante como as folhas em uma tarde de outono antes da tempestade, falou: – Ontem à noite despertei justo quando o meu Pai entrava no meu quarto; exatamente por esta porta!, apontou-a Constantin com o dedo em riste. O meu Pai, continuou, veio seguro na minha direção, o andar pausado, o olhar sereno. Ontem, seu aniversário, ignorei-o. Mas ele não; ele recorreu os seus próprios passos; estou convicto, veio despedir-se. Procurou-me, apesar da minha ausência completar 24 anos. Período longo, muito longo – eu sei, porém jamais procurei-o. Filho pródigo que jamais retornou ao lar.  Sinto agora um enorme vazio tomar conta do meu peito. Ele nos deixou! Eternamente. O meu Pai atravessou o quarto, o caminhar seguro, os seus olhos fixos nos meus, como a fitar-me íntima e profundamente. Era mansidão e volatilidade. Senti a fragrância do Rosmarino e o aroma fresco do orvalho matutito a propagar-se pelo ambiente. E então, a sua imagem nítida começou a esvair-se, lentamente junto ao som dos seus passos e, ao aproximar-se pude ver ainda os seus lábios soletrarem continuadamente o meu nome: C o n s t a n t i n...

Passados alguns segundos quase insustentáveis, rompi o silêncio e afirmei: – Agora o seu Pai é uma estrela a zelar pela sua vida, a velar pelo seu sono, a guiar o seu caminho e a iluminar o seu destino. Um silêncio mórbido saturado de tensão voltou a tomar conta do aposento e envolveu-nos. Comecei, então, a vestir-me e ele fez o mesmo. Preparávamo-nos para sair afundados em pensamentos. Saímos na noite clara calados. Entristecidos. A lua sombreava os nossos passos. Constantin foi quem primeiro falou. Sua voz fraca soava rouca no abandono da noite: – Não sei o que você busca em mim, se nada pode-me oferecer.

Eu pensei: tudo posso-lhe oferecer, poderia começar a enumerar – infindamente, mas nada falei porque esses questionamentos terrenos não deveriam importar-nos; aconcheguei-me no seu ombro e senti o abrigo dos seus braços. Sorri intimamente triste, sabia que este seria nosso último abraço.

                                                                      –The End –

                                                      Muito obrigada pela Leitura!

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