Capítulo 2 - Curando a alma

Na linha do tempo
O destino escreveu
Com letras douradas
Você e eu
[...]
Você e eu, vou dizer

[...]
Quando te vejo eu me sinto tão completo
Por onde eu vou

E nesses traços vou tentando descrever
Que mil palavras é tão pouco pra dizer
Que um sentimento muda tudo
Muda o mundo, isso é o amor🎶


- Eu preciso de você! - exclamou novamente. Sabia que só ele seria capaz de lhe acalmar.

- Marta o que aconteceu? Por que você está nesse estado?! - o homem perguntou do outro lado da linha aflito. Tentava falar com ela a semanas, mas era ignorado. Não se aproximava porque a respeitava, disse que a apoiaria não importava o que ela escolhesse, ainda que morresse por dentro toda vez que pensava que ela estava longe dos seus braços.

- Eu preciso de você, não posso ir pra casa agora! - estava agoniada! Sem forças para encarar ninguém depois daquela notícia. Já ele, mesmo preocupado com o estado dela, jamais deixaria passar a oportunidade de estar perto novamente! Fazia quase três meses desde a última vez em que estiveram juntos. Para ele, a espera se tornava longa demais, contava as horas para estarem juntos de novo! Mas ele sabia que tinha que ter paciência, afinal, ele a respeitava. Ela estava acima de qualquer desejo libertino que ele tivesse, mesmo que todos envolvessem Marta, não era hora para isso. Na sala onde ele se encontrava, respirou fundo, não querendo mostrar à ela sua ansiedade, mas respondeu depressa.

- Tudo bem, olha, eu estou resolvendo alguns negócios na empresa de um sócio. Estou hospedado em um hotel. Vai pra lá e me espera, eu chego o mais rápido possível. Dispensa seu motorista, desmarca tudo que você tem pra fazer hoje e fica comigo. Eu não sei o que tá acontecendo, mas me deixa cuidar de você. Me deixa cuidar de você! - ele pediu, não importava se tinha que implorar, ele imploraria. Esperou ansioso pela resposta dela.

Ouvir aquilo desarmou Marta de uma forma que ela não esperava. Deixar ser cuidada por alguém. Nunca havia acontecido, jamais, em tempo algum. Sempre foi inabalável, mas naquele momento sentia o peso que havia se tornado sua vida pesar toneladas em seus ombros. Seus olhos embaçaram por causa das lágrimas, mas engoliu o choro e resolveu que mais uma vez se jogaria nos braços dele e deixaria ser cuidada, salva por ele. Aceitando o pedido, respondeu ao homem que esperava afoito do outro lado da linha.

- Tudo bem. - respondeu em um miado de voz, bem baixinho. Estava mostrando a ele um lado seu que era novidade para ela também. Felizmente, ela sabia que realmente podia confiar sua vida a ele. Isso a deixava mais leve. Já ele, estava nas nuvens! Sorria como uma criança que ganhara a presente do natal que sempre havia sonhado! Seu presente era Marta. Com quem havia sonhado a vida inteira. Depressa, achando que ela poderia mudar de ideia, a instruiu:

- Estou no Copacabana Palace. Vou ligar pra recepção avisando e autorizando a sua entrada. Sobe pro meu apartamento e me espera, eu já tô saindo daqui. - falava andando de um lado para o outro, tremia, ansioso para estar com ela!

- Eu vou te esperar lá. - Marta deu um sorriso melancólico, sentia falta dele. Queria seu colo, seu abraço, seu amor, seu carinho. Queria se sentir bem de novo, como se sentiu meses atrás nos braços dele. Queria dar a notícia sobre a gravidez. Queria que ele a protegesse do mundo inteiro. Queria ele. - Preciso de você. - completou baixinho.

- Eu já vou meu amor, vou correndo pra você. Vai pro hotel e me espera. - pediu nervoso, sorrindo, todo feliz.

- Tá bem, vou dispensar meu motorista. Preciso esquecer desse mundo. - desabafou.

- Você vai, nos meus braços eu te garanto, você vai esquecer o mundo. - riu soberbo, sua risada abafada a fez rir também.

- Não quero repetir a dose não, seu libertino. - tentou rir, mas sem muito sucesso. - Preciso de colo. - exclareceu.

- Te dou meu colo, meus braços e o mundo todo se você quiser. - foi sincero. Botaria o mundo aos pés de Maria Marta Medeiros de Mendonça e Albuquerque, tiraria apenas o maldito sobrenome Medeiros, e daria o seu sobrenome à ela, mas tinha que ir com calma, sabia disso.

- Eu vou pro seu apartamento então. Mas preciso de descrição. - foi incisiva. Ninguém poderia desconfiar que estava com alguém, principalmente com ele, ainda não pelo menos.

- Ninguém vai notar a sua presença, apesar de ser bem difícil, você sabe bem, afinal, você não é de passar despercebida por ninguém. - ele falou a verdade. Desde nova, a mulher atraia todos os olhares para si. Sua postura altiva, olhar soberbo e jeito esnobe faziam dela o centro das atenções. Era assim em todo lugar que ia. Ela era como mel, que vivia cercada de abelhas onde quer que fosse. - Mas não se preocupe, você sabe que do jeito certo vou fazer você ser invisível. - ambos riram no telefone. Era assim, mesmo de longe, ele fazia bem à ela. Como uma cura, sua presença alegrava Marta. Até mesmo suas lembranças com ele, que ultimamente era uma das poucas coisas boas em sua vida fazia seu dia melhorar, seu astral subir e seu sorriso aparecer.

- Estou a caminho, não demore. - ela ordenou.

- Estarei lá antes que você sinta minha falta. - brincou. Ele ouviu a ligação encerrar e vibrou. Colocou o telefone em cima da mesa e comemorou. Com um sorriso que quase cortava o rosto, ele andava de um lado para o outro em comemoração.

Estava no escritório de um conhecido acertando algumas negociações. A ligação de sua amada havia lhe deixado flutuando de felicidade. Passou a mão no rosto e pelos cabelos. Feliz. Ansioso. Contente. Aquela era sua chance. Aos poucos, conquistaria sua Marta e casaria com ela. Teria como esposa a mulher que se apaixonara quando jovem e que nunca saiu de sua cabeça desde então. Conquistaria um lugar em seu coração e a tomaria de José Alfredo, que não havia valorizado a joia que tinha ao seu lado. Mas ele sim, a valorizaria, faria dela uma rainha. Sua rainha. Só tinha uma chance. Tinha que tomar cuidado. Qualquer erro e poderia perdê-la.

Mas mal sabia ele, que o destino os juntaria de vez. Mal sabia que, ele e sua Marta, seriam eternizados em um ser, uma vida que haviam gerado juntos. Que crescia forte no ventre de Marta. Aquele dia de fato, guardava para ele muitas surpresas.

O sócio que havia pedido licença a Fernando alguns minutos atrás voltou para continuarem a reunião. Mas Fernando o dispensou rapidamente alegando uma emergência e que outra hora voltariam a conversar . Ele saiu apressado do escritório deixando o homem sem entender nada. Fernando desceu ao estacionamento apressado. Antes de chegar ao local ligou para o recepcionista que o atendia desde que tinha se hospedado no hotel. Explicou ao empregado que Marta chegaria ao hotel e que ela deveria se encaminhar para o quarto em que ele estava hospedado. Pediu ao rapaz descrição absoluta, que o mesmo cuidasse de levá-la ao quarto dele e que o recepcionista seria responsável por fazê-la ficar invisível. O convenceu prometendo que uma alta quantia seria dada ao rapaz como gorjeta pelos serviços prestados, porém, se alguém notasse a presença da imperatriz, ele perderia seu emprego. O jovem garantiu ao milionário que tudo seria feito como o mesmo pediu e que ele não teria reclamações. O mais velho encerrou a ligação e entrou em seu carro, saindo do local em que estava e indo para as ruas do Rio de Janeiro. Infelizmente pra ele, o trânsito naquele horário se encontrava infernal. Com as principais ruas e avenidas absurdamente congestionadas. Demoraria até que ele chegasse no hotel. Praguejou assim que teve que parar o carro não muito longe de onde ele havia saído. Cidade infernal! Enfureceu. Mas ao lembrar de Marta, se acalmou. Podia demorar o tempo que fosse. Valeria a pena. Por ela.

***

Após encerrar a ligação, a imperatriz se encaminhou para o estacionamento do hospital. Olhando o telefone, não encontrou chamadas perdidas, mas sabia que elas não demorariam a aparecer. Não tinha ido a Império. Não estava em casa. Isso levantaria suspeitas, sabia disso. Mas o risco valia a pena. Encontrou Brigel dentro do carro aguardando por ela. Cortou qualquer assunto que fosse. Mandou que ele a levasse ao Copacabana Palace e que depois disso ele estaria liberado, avisou que só precisaria dele no dia seguinte. Avisou que não deveria contar a ninguém sobre a manhã dela no hospital ou isso custaria seu emprego. Ressaltou que não deveria dar explicações a ninguém caso perguntassem algo a ele. O homem concordou com a cabeça e começou a dirigir até o hotel. Não desobedeceria a patroa, gostava do salário e sabia que o melhor era ficar calado e se fazer de cego. Maria Marta poderia fazer da sua vida um inferno e ele não pagaria para ver. Obedeceu a ordem dada pela madame e se manteve calado como sempre, fazendo seu trabalho.

Sentada no banco de trás, Marta se lembrava de como havia chegado naquela situação. Grávida. Por um descuido. Grávida. A palavra martelava em sua mente. Fechou os olhos e encostou a cabeça do apoio do carro. Lembrando com nitidez seu reencontro com Fernando. O início. De como havia chegado naquele estado em que ele a encontrou.

" Toda felicidade que havia sacrificado em nome do amor que sentia por seu marido na vida havia sido recompensada com ele trazendo a amante para dentro de casa. Havia colocado a menina para dormir junto com ele na suíte master, na cama que somente a imperatriz havia deitado com ele. Ela agora morava na mesma casa que a mulher, sentavam na mesma mesa e respiravam o mesmo ar. José Alfredo havia colocado amante e esposa frente a frente.

Ela pensava se o marido a havia amado de verdade um dia. Ela sabia que sim. Mas o tempo havia passado, ambos tinham mudado. Quando foi que ele passou a odia-lá tão profundamente a ponto de colocar Maria Ísis embaixo do seu teto? Os filhos, apesar de não gostarem da amante do pai e desprezarem a mais nova, não deram a Marta o apoio que ela precisava. Não deram à mãe nenhum abraço, nenhuma palavra de apoio. Nada. Marta sempre acabava sozinha em seu quarto no fim do dia, ela chorava sozinha, escondida de todos. As trocas de farpas entre os moradores da casa contra a garota eram um tormento agonizante para a imperatriz. Pois Zé sempre saia em defesa da mais nova, ele não percebia nos olhos de Marta a dor que ela mostrava. Ele não percebia o quanto aquilo a machucava.

E foi assim que ela quebrou, recebeu todos os golpes possíveis nos últimos meses, aguentava os desaforos e o desrespeito dos filhos e todo desprezo de Zé Alfredo. Descobriu sobre Cristina, a filha de um grande amor do passado do comendador. Via o quando a moça era parecida com seu marido. Era lógico que nenhuma esposa recebia com flores filhos bastardos, mas Cristina havia sido concebida antes mesmo de Zé conhecer Marta. Então não sentia por ela um ódio mortal. Apesar de sua relação nada agradável da filha bastarda do marido, Marta via nela a força de vontadede vencer na vida que o próprio Zé Alfredo tinha na idade dela. Descobriu sobre Cora, a aspirante a amante do comendador. Ria dela. José Alfredo não se interessaria por aquela cobra. Um alívio de fato, mas nunca disse isso a ninguém. Apesar da desaforada tirar a paciência da imperatriz, Marta nunca se preocupou com ela de verdade. E teve Ísis, essa sim, a menina que havia lhe roubado o amor do seu marido. Mas hoje a imperatriz questionava se um dia esse amor havia sido seu de verdade. E então conheceu Maurílio, que se apresentou para ela em uma exposição de pedras em que resolveu acompanhar Maria Clara. Enquanto a filha fugia de sua presença, o homem galante tentava ganhar sua atenção de todos os jeitos. Saiu com ele algumas vezes depois daquele encontro, mas nunca haviam chegado as vias de fato. Trocaram beijos e carícias quentes, mas nunca foram para cama. Seu amor por Zé era maior, assim ela pensava, usou o rapaz para tentar provocar o marido. E conseguiu. Poucas vezes.

Isso até Zé começar a ficar mais paranóico com todos os assuntos relacionados a empresa. Colocou Cristina, Amanda, e João Lucas dentro da para trabalhar com ele. Substituiu as funções de quase todos e passou a tratá-los desconfiança e desprezo. José Pedro e Maria Clara foram os que mais sofreram com a distância do pai. O filho mais velho resolveu atacar o pai sempre que tinha chance e José Alfredo começava a entristecer com o desprezo e a indiferença de Clara. A situação toda era muito suspeita. Até ela e os três herdeiros pegaram por coincidência o comendador, Josué e Cristina discutindo sobre as ameaças de um tal Fabrício Melgaço. Naquele dia as cartas foram colocadas na mesa. E agora eles lutavam juntos para combater quem quer que estivesse ameaçando a empresa. Isso até uma pista os levarem até Maurílio. E todos passaram a culpar Marta por se envolver com o suspeito.

Mas a imperatriz serviu de espiã para a família enganando Maurílio até eles finalmente terem certeza que o mesmo se tratava de Fabrício Melgaço. Infelizmente, tardiamente. Após descobrirem sobre seu casamento com Silviano e que ele era pai de Maurílio, descobriram que a empresa havia sido roubada, junto com o diamante rosa e a conta na Suíça de Zé Alfredo tinha sido completamente zerada. Os Medeiros agora trabalhavam todos juntos para reerguer a Império, sempre de olho no que Maurílio poderia fazer.

Mas a imperatriz mais uma vez tinha sido desprezada. Não foi dado à ela nem o mérito de ter ajudado a desmascarar Maurílio. E ela se encontrava mais sozinha do que nunca. Seu marido estava com a amante, seus filhos com seus respectivos parceiros, sua sobrinha que agora cuidava da própria vida e ela, novamente, exilada em seu quarto, onde sentia que estava protegida de tudo. Mesmo sabendo que não era verdade. Havia amanhecido sozinha na mansão aquele dia. Seus filhos dormiram todos fora, Zé levou Ísis para jantar na folga da moça e Marta dormiu e amanheceu sozinha na mansão. Foi a empresa, recebeu a indiferença como tratamento dos filhos e do marido. Amanda sempre ficava ao lado dela, embora isso não diminuia sua dor de mãe e de esposa. Mas naquele dia ela sentiu que seu lugar não era mais ali.

Após almoçar, foi em casa e fez uma pequena mala. Avisou a Brigel que iria para Petrópolis, avisou Claraíde e desligou o celular. Choveu a durante toda tarde e parte da noite. Ela cochilou no carro e acordou pouco antes de chegarem em sua mansão na cidade. Sua primeira ação foi tomar um banho e depois dispensou Brigel, saindo sem dizer mais nada. Pegou ela mesma o carro e dirigiu até a Catedral de São Pedro de Alcântara. Precisa ficar sozinha. Saiu do carro e entrou no local, sentou no último banco, aguardando um pequeno grupo de pessoas que estavam conversado com o padre se afastarem. Ao se ver sozinha na igreja, aproximou-se do altar e se ajoelhou, com as mãos cruzadas na frente do corpo, olhou para o bonito vitral e orou.

- Sei que não tenho sido exatamente a serva mais devota, ou uma boa samaritana. Mas as forças pra suportar o inferno que se tornou a minha vida já me faltam. Eu não consigo mais, por favor. Eu preciso de ajuda. Me matem de uma vez, ou me ajudem... por fa-favorrrr... - se curvou em um pranto tão sofrido, de alguém que não aguenta mais, de alguém que já não suportava mais a solidão. - Eu tô tão sozinha, tão machucada, por favor... - era uma súplica. Queria sair daquela situação, há um limite de sofrimento para cada coração, aquele era o seu. - Por favor meu Deus. Eu já não suporto mais. - parou de falar. E chorou. Muito. Até se sentir mais leve. Até se sentir melhor. Levantou a cabeça e olhou novamente o vitral. Parecia mais brilhante, parecia mais bonito...

Sorriu, com o rosto banhado em lágrimas. Chorava todas as noites sozinha em seu banheiro, debaixo do chuveiro para não ser escutada. Chorava só, ninguém limpava suas lágrimas. Mas ali, mesmo sozinha fisicamente, sentia que suas lágrimas eram enxugadas por alguém. Sentia que tinha sido ouvida. Podia ser loucura, mas ela sentia que devia confiar. A paz que sentia a fez sorrir, estava bem melhor. Levantou-se, falou com o padre e deixou com ele um cheque, como fazia todos os meses, a diferença é que dessa vez entregava pessoalmente. Saiu do local mais contente. Ao pisar na calçada, com vestígios de lágrimas nos olhos, pensou estar enganada ao ver uma pequena borboleta azul voar a poucos metros dela. Era linda!

Seus instantes de distração provocados pelo pequeno inseto deixaram-na desatenta. Não viu o carro que se aproximava em alta velocidade. Apenas sentiu ser agarrada por alguém mais forte que só a largou quando ambos chegaram do outro lado da rua. Ela ouviu o barulho do carro e percebeu que não o tinha visto, procurou pela borboleta e não a viu. Em um centésimo de segundo percebeu que poderia estar morta naquele momento se não houvesse sido salva por alguém, nostálgica, lembrou que foi assim que conheceu José Alfredo, ele a salvou de ser atropelada. Tratou de esquecer aquilo rapidamente, e ao se virar para agradecer e conhecer seu salvador, perdeu a fala e tomou um susto.

- Obrig... - arregalou os olhos os olhos em choque.

Fernando Zurique Marsalla.

O primeiro amor nunca é esquecido. As pessoas podem ter inúmeros durante a vida, mas o primeiro, será sempre o primeiro. O mais importante. O mais inocente. Alguém apaixonado jamais esquece da primeira vez em que sentiu os tradicionais sintomas do amor. Mãos suadas. Pernas trêmulas. E as eternas borboletas no estômago. Descobriram juntos o prazer que dois corpos febris tem quando se encontram. Foram os primeiros na vida de ambos. Para ele a primeira mulher. Para ela seu primeiro homem. Perderam juntos sua virgindade. Se aventuraram juntos nos prazeres do sexo, tomaram sua primeira taça de vinho juntos. Nunca tiveram nenhum relacionamento sério. Apesar da paixão que era latente em ambos. Eram apenas dois jovens descobrindo seus próprios corpos. Dois jovens que eram felizes na companhia um do outro, sem outros sentimentos, o amor era puro. Sem promessas de um amanhã, era carpe diem.

Fernando assim como ela vinha de uma família aristocrática de origem suíça. Eram investidores desde o princípio, sempre buscando expansão e diversificação para seus negócios. Eram gigantes do ramo da exportação, a principal forma de economia da Suiça. Mas a jóia da coroa da família Marsala era sua sociedade com a Montblanc. Elegância, sofisticação e refinamento. Definitivamente essa era a imagem que a família de Fernando passava. Vinham de ambientes familiares parecidos, ela e ele se entendiam. Buscavam refúgio um no outro. Eram refúgio um do outro. Isso até ela sair do seio da família e desbravar o mundo sozinha. Ele acompanhava a vida dela através das notícias dos sites de fofoca, nunca tendo coragem de se aproximar. Apenas quando viu que o casamento dos Medeiros estava abalado por uma suposta amante do comendador. Ali ele viu uma chance, e voltou ao Brasil, para além de seus negócios quem sabe encontrar com ela. Mas antes de planejar qualquer coisa que fosse, a vida a jogou nos braços dele, ele a viu ali, tão pequena em seus braços, tão frágil e tão carente. Ele se entristeceu por ela, mas que ela o perdoasse por isso, porque ele estava radiante ao reencontra-lá, mesmo naquele estado. Naquela mulher adulta, ele enxergou sua Marta, sua pequena, amada e abusada Marta. Ele queria lhe agarrar e não soltar nunca mais, mais ao ver aqueles olhinhos azuis que ele tanto amava vermelhos, brilhantes por causa das lágrimas, tudo que ele fez foi dar à ela seu mais brilhante sorriso.

- Ciao, amore mio ( olá, meu amor ). - o sorriso brilhante dele e profundos olhos azuis a reconfortaram. Ela lembrou do colo do jovem que era seu refúgio, o refúgio do qual ela havia se afastado, mas que agora, agora se convertia no remédio que ela tanto precisava.

- Ciao, mio amato Fernando ( olá, meu amado Fernando ). - ela respondeu com os olhos se enchendo de lágrimas novamente. Atirou-se nos braços dele e os corpos se fundiram em ternas lembranças que ambos tinham um do outro. O cheiro, o toque terno, nada tinha mudado. Os corpos não se sentiam estranhos, se reconheciam ao se tocarem.

- O que... "

- Já chegamos dona Marta. - avisou Brigel tirando Maria Marta de suas lembranças. Ela nem havia percebido que o carro havia estava parado em frente ao hotel.

- Ótimo. - a mulher rapidamente havia saído do estado de transe em que se encontrava, colocou o óculos escuro e a bolsa de baixo do braço, virou para o motorista e avisou. - Está dispensado. Deixe meu carro na mansão e esteja pronto no horário de sempre amanhã de manhã. Não dê uma palavra sobre onde estivemos pra ninguém, lembre-se que sou eu quem paga seu salário. Uma palavra sobre esse dia pra quem quer que seja e rua! - saiu do carro sem esperar que o empregado respondesse e foi em direção a porta. O motorista seguiu seu caminho e nem olhou para trás. Não queria problemas.

Marta entrou no hotel e rapidamente foi abordada por um recepcionista que a aguardava por ela próximo à entrada do hotel.

- Senhora Maria Marta, sou Jorge, estou a serviço do senhor Marsala que me pediu para cuidar da sua estadia em nosso hotel. - o mais jovem andava com ela tranquilamente até que chegaram próximo ao elevador sem fazer levantar suspeitas dos outros hóspedes e dos demais funcionários que nem mesmo os notaram. Marta, atenta, acompanhou o rapaz entendendo a jogada dele. Ele a estava tratando como uma hóspede qualquer do hotel. Mais próximos ao elevador, o menino lhe entregou uma chave e logo explicou. - Suíte 602, último andar. - ficou ao lado do elevador já apertando o botão.

- Perfeito. - encarou a chave e depois o rapaz, entrando no elevador vazio. - Descrição. - avisou curta e grossa. O recepcionista sorriu.

- Faz parte do meu trabalho senhora, espero que sua estadia seja agradável. No que precisar estamos aqui para lhe sevir. - viu a mesma acenar a cabeça e a porta do elevador fechar.

Marta soltou o ar que havia prendido desde que tinha passado pela porta de entrada do hotel. Enconstou a cabeça da parede do elevador sentindo o mesmo subir e instantes depois abrir. Andou pelo corredor vazio e encontrou a suíte, entrou e trancou a porta. Olhou em volta perdida. Tirou os saltos e os jogou próximo à porta. Andou pela suíte até chegar ao quarto, largou a bolsa e o óculos de sol em cima do criado mudo ao lado da cama e sentou na mesma. Quanto tempo demoraria até que ele chegasse? Pensou em olhar o telefone, mas lembrou que o desligou assim que entrou em seu carro no estacionamento do hospital, não queria ser importunada, por isso o desligou.

Sua mente a lembrou do porquê estava ali. Gravidez. Meu Deus! Será que Fernando aceitaria isso? Não tinha parado pra pensar naquilo. Pensou em correr para os braços dele pedindo abrigo, mas não em sua reação quando contasse a ele. Será que ele aceitaria? Será que ele acreditaria que o filho era dele? E seus outros filhos? Como reagiriam à aquela gravidez? Naquela altura da vida teriam outro irmão? E Zé Alfredo? Cortaria a cabeça dela e colocaria em uma bandeja, com certeza. Ele podia ter uma amante, mas quando era com ele, simplesmente não aceitava. Era um machista sem dúvidas. Mas e Fernando? E o pai de seu bebê? Será que ele aceitaria?

Não tinha pensado em nada disso. Deitou na cama, agarrando um dos travesseiro e começou a chorar. Não aguentaria passar aquela gravidez sozinha, sem ajuda. Não aguentaria! E só de pensar que Fernando poderia rejeitá-la, era uma dor que chegava a partir seus ossos! O que faria? Meu Deus? Até quando suportaria?

Calma Marta, apesar dela mesma duvidar de seu destino, ele estava finalmente tomando o rumo certo. Ela veria que ainda poderia ser muito feliz. Dependia inteiramente dela.

***

Fernando chegou na frente do hotel, saindo do carro com pressa e entregando a chave ao manobrista sem nem se dar conta do que estava fazendo. Entrou na recepção e parou, varendo o local com os olhos. Viu Jorge com um papel nas mãos se aproximando dele.

- Esses papéis foram entregues hoje de manhã, senhor Marsala, em seu nome. - chegou perto do homem mais velho e falou um pouco mais baixo. - A senhora Medeiros já está em sua suíte senhor. Chegou pouco antes do senhor. Tudo foi feito conforme me pediu. - o menino falou polido, havia cumprido sua missão, esperava agora por seu pagamento.

- Não a chame assim! - disse rudemente. Não suportava aquele sobrenome, indicando a posse que outro homem tinha sobre sua Marta. Tomou das mãos do mais novo os papéis e tirou de dentro do terno um cheque e colocou no bolso da frente do uniforme do empregado. - Fique atento, ainda vou precisar dos seus serviços. De onde veio esse tem muito mais. - encarou o garoto que acentiu e voltou a fazer o seu trabalho. Fernando foi até o elevador entrando no que havia acabado de chegar na recepção.

Ele suspirou ansioso. O trânsito estava infernal e tomou muito do seu tempo. Mas ele finalmente havia chegado para consolar Marta do que quer que a estivesse machucando. Estava eufórico, ela havia procurado por ele! Mesmo meses depois do único encontro que tiveram depois de todos aqueles anos. Ela havia pedido por ele, e aquilo o encheu de esperança. Lutaria por ela. Acharia uma brecha e por menor que ela fosse, passaria por ela e faria morada no coração de Maria Marta! Pensou convicto. Saiu do elevador e foi até seu quarto. Entrou olhando por todo local e não a encontrou.

- Marta. - chamou, mas não ouve resposta. Ao fechar a porta viu um par de saltos próximo a entrada. Sorriu, ela estava ali. Jogou os papéis que tinha nas mãos em qualquer lugar. Foi até o quarto e a encontrou deitada em posição fetal abraçando seu travesseiro. A olhou encantado. Aquele era o lugar dela, na cama dele, na vida dele, em tudo dele. - Meu amor. - chamou terno. Viu o corpo dela virar para ele e outra vez viu o rosto da mulher que tanto amava marcado pelas lágrimas. Foi até ela e abraçou firme, cheirando seu cabelo e beijando sua testa. - O que aconteceu?

Ela não respondeu, apenas o abraçou mais forte deitando a cabeça em seu ombro e voltou a chorar. Ele acariciava suas costas com paciência, com carinho. Ela sentia o cuidado que ele tinha com ela. Em seu íntimo, sabia que tinha ido ao lugar certo e que não haveria melhor pai para o seu bebê. Bebê! Ao pensar nisso novamente seu corpo tremeu. Fernando abriu os olhos preocupado com os sinais que o corpo dela passavam a ele. Eram indícios de pânico. O que poderia ter acontecido com ela? Será que o Medeiros havia descoberto sobre a noite dos amantes em Petrópolis? Várias coisas passavam por sua cabeça. Mas nada era certo. Embora não ligasse, contanto que sua amada estivesse em seus braços, o mundo poderia desabar que ele simplesmente não ligava. Nada era mais importante do que tê-la ali com ele. Bom, isso era o que ele achava. Logo descobriria sobre alguém que também não poderia viver sem. Ele viu que ela tinha se acalmado, apesar de não solta-ló, tomou coragem e sem a encarar, perguntou:

- O Medeiros descobriu sobre nós? - quis saber. Torcia para que sim, isso aceleraria as coisas e facilitaria o seu lado. Sentia orgulho de ter sido amante de Marta, ainda esfregaria isso na cara de José Alfredo Medeiros. O veria com uma expressão de trouxa que seria impagável. Diria a ele que sua esposa já havia sido sua mulher. Nada afagava mais seu ego do que esse fato. Ela o soltou devagar e balançando a cabeça em negação, olhando em seus olhos.

- Não. - respondeu limpando os vestígios de lágrimas do próprio rosto.

- Então, o que foi? O que te deixou nesse estado? - perguntou cuidadoso. Sabia que tinha que conter sua ansiedade. Não poderia assustá-la. Ele havia entendido que Marta fazia dele seu refúgio, assim como era na adolescência dos dois. Ele era para ela seu ponto de paz. Não poderia perder isso. Era a única coisa que a fazia estar ali com ele, pelo menos era isso que ele pensava. Ela respirou fundo tomando coragem, arrancaria o curatico de uma vez! Se tinha que falar, falaria!

- Há algum tempo eu não venho me sentindo muito bem. - começou com cuidado, sem tirar os olhos dos dele. - Muito cansaço, fadiga, sono e um apetite inconstante. - falava dos sintomas relembrando do que sentia a algum tempo. - Não achei que merecia atenção. Provavelmente uma gastrite nervosa ou menopausa precoce, de qualquer maneira não tinha tempo pra pensar nisso e nem vontade. - relatou ao homem a sua frente que ouvia calado o que ela dizia procurando entender. Apesar de ser muito confuso. Ela estava doente do estômago, será que era muito grave? Por isso foi até ele chorando daquele jeito?

- Entendi, mas, como você falou pode ser uma gastrite. Olha, eu sei de ótimos médic... - foi interrompido por ela, que rapidamente olhou para cima como se pedisse força aos céus e depois para ele novamente.

- Eu achava que era isso, até hoje de manhã. - exclareceu e ele a observou com mais atenção. - Eu acordei cedo, com fome. Comi até sentir meu estômago revirar. Só tive tempo de chegar no meu banheiro e vomitar tudo o que tinha acabado de colocar na minha barriga. - ela respirou fundo, sem deixar de olhar para ele, mas ele percebeu que os olhos dela estavam mais focados nele do que nunca. Aquilo era muito estranho. - Sou uma mulher vivida Fernando, fazia uma ideia do que seria isso. - ela contou. Ele ficou mais confuso ainda.

- É, mais eu não. Gastrite causa vômitos? - questionou confuso. O que ela estava tentando dizer?

Era riu com o comentário dele e se acalmou, essa era uma das principais coisas que lhe atraiam em Fernando. Ele era seu calmante natural. A tranquilizava e a mantinha segura. Segurança. Uma palavra que se convertia em uma sensação que ela já não conhecia mais. Sentia-se segura estando só consigo mesma. Partilhar desse sentimento com alguém era uma terra desconhecida. Mas no caso de Fernando, era uma terra antiga, jamais desconhecida. Tomou coragem e falou:

- Eu tinha um palpite e não quis esperar mais para ter certeza. - ela apertou as mãos dele, que estavam unidas as suas com força, buscando um apoio não verbal que precisava para continuar falando. O homem retribuiu apertando as mãos dela com mais firmeza sem machucar. Incentivando sem palavras que ela podia confiar nele para falar o que fosse, porque ele lhe daria todo apoio que ela precisasse. A troca de olhares por alguns instantes foi intensa, até que Marta arrancou coragem de suas entranhas e finalmente disse, de uma vez só: - Fui até o hospital e pedi um exame de Beta HCG. - falou de uma vez. Viu o homem na sua frente perder a cor, mas precisa terminar o que havia começado. - O resultado foi positivo. Estou grávida de 11 semanas. - falou de uma vez observando atentamente a reação que ele teria, temendo o pior.

Nenhum dos dois era formado em medicina, mas como as duas pessoas cultas que eram bastava meia palavra para que entendessem o que fosse. Fernando perdeu a cor, a fala, seus pensamentos estavam um caos. 11 semanas. ONZE. Era exatamente esse o tempo em que haviam ficado juntos. Séria possível? A vida seria extraordinária aquele ponto? Teria um filho! Seria pai! O sonho de uma vida seria realizado! Um sonho que jamais pensou ser possível! Ser pai de um filho de Marta! Da mulher que amava e que havia esperado a vida inteira!

Olhando para ela com um semblante surpreso que após os instantes em que aqueles pensamentos o invadiram se tornou o sorriso de felicidade mais genuíno e belo que Marta viu em toda sua vida. O coração dela se acalmou, ele não deu uma palavra, mas seu coração estava em paz. O homem passou as mãos no rosto que foram para os cabelos e em seguida caiu de costas na cama em que estava sentado. Ele começou a rir, rir por uma felicidade que ele achou que nunca sentiria na vida. Cobriu o rosto com as mãos ainda deitado e sua risada alta se transformou em um choro que deixou a imperatriz confusa. Ele a levantou e a abraçou com cuidado, continuava chorando, não olhava em seus olhos. A soltou e se ajoelhou no chão, na frente dela. Rodeou sua cintura com as mãos e colocou sua cabeça na barriga dela. A beijando com tanto cuidado, com tanto amor. Tinha recebido a notícia mais importante de sua vida. Séria pai de um filho de Marta! Havia entendido o porque daquele estado em que a tinha encontrado. Ela seria mãe de um filho seu e não de José Alfredo. Era lógico que não poderia contar para família ainda. Ele entendeu e não a julgou. Ele, que tinha a cabeça voltada de frente para barriga dela, onde dava suaves beijos, sentiu as mãos dela acariciando seus cabelos e foi só então que ele resolveu olhar nos olhos dela. Marta viu aqueles olhos dele, tão azuis quanto os seus, refletirem como duas grandes safiras brilhantes. Ou um oceano que transbordava. As lágrimas dele ajoelhado em sua frente, seu sorriso brilhante, aquela imagem valia mais de mil palavras. Ele havia entendido que o filho que ela carregava era dele e, pelo visto, tinha se alegrado. Mais faltariam palavras para descrever a reação dela assim que ele voltou a falar.

- Você está me fazendo o homem mais feliz de todo esse mundo meu amor! - sorria para ela, a olhava como se ela fosse a coisa mais preciosa do mundo. Mas ela era, de fato, a coisa mais preciosa do seu mundo! - Eu vou ser pai! Pai de um filho seu! Isso era o que eu mais queria a vida toda, ter uma família com você! - ele a abraçou novamente e dessa vez quem tremia era ele! Chorava de alegria. Ela retribuiu o abraço sorrindo. Ele estava feliz, feliz com a notícia! Ela nem precisou falar mais nada, ele confiava! Acreditava nela. Ela se sentiu tão bem com isso. Foram longos minutos com eles ali abraçados, com Fernando extasiado já sonhando com aquela criança, agradecendo a Deus por aquela bênção que jamais pensou que receberia na vida! Ele a soltou e a encarou, tocou o rosto de sua amada com suas mãos grandes e o acariciou, agradecendo a ela, a sua mulher que geraria seu filho. - Você acabou de me dar a notícia mais importante de toda a minha vida! - seus rostos estavam próximos, era azul olhando no azul. - Desde que éramos jovens, eu sabia, sempre soube que você era a mulher da minha vida. Que seria minha esposa para vida toda e mãe dos meus filhos. Mas a vida te levou pra longe de mim, interrompeu nosso destino. Mas isso não importa mais. - beijou as mãos dela em um gesto de devoção. - Quando retornei ao Brasil, meses atrás, foi pensando em te reencontrar pra achar um espaço no seu coração, por menor que ele fosse, eu queria fazer parte da sua vida. Mas antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa pra me aproximar de você, eu te encontrei na porta daquela igreja. Você estava na minha vida de novo. Aquela noite de reencontro e a nossa despedida foram as melhores coisas que aconteceram na minha vida em muito tempo. E mesmo quando você foi embora, mesmo quando você não atendia as minhas ligações e mostrava que me queria longe, algo, alguma coisa me mantinha aqui, me convenceu a ficar e a te esperar. E agora, meu amor, agora mais uma vez você me fez o mundo mais feliz do mundo. Obrigada meu amor, por ser a mãe do meu filho! Por me dar o melhor presente que eu poderia ganhar na vida! - ela beijou, foi um beijo íntimo, sensual, as bocas se movimentavam famintas. Era saudade, era gratidão, era algo mais que Marta não sabia dizer o que era. Mas ela descobriria que se tratava de amor. O beijo se encerrou pela falta de ar de ambos, mas ele não se fez de rogado e dava nela vários selinhos. Sem fôlego, com os lábios e vermelhos e o coração feliz, ela o afastou e eles se encararam. Fernando não tirava a mão grande do ventre de Marta, constatando que ali havia uma vida, vida essa que era parte dele também, que ele havia ajudado a gerar. Um filho que seria sangue do seu sangue e carne da sua carne. Mais importante que isso, seria o seu sangue e o de Marta que constituiriam uma nova vida para aquele mundo. Os olhos deles brilhavam e ele se sentia no céu, completamente extasiado.

- Me perdoa por ignorar você depois daquela noite Fernando. Você foi tão bom pra mim e eu simplesmente te dei as costas. Eu não devia ter te destratado assim, me perdoa... - Marta começava a falar o que sua consciência acusava a tempos.

- Não importa como chegamos aqui, definitivamente não. Sou a grato a Deus por Ele ter feito as coisas desse modo porque de fosse diferente, talvez não estivéssemos vivendo isso nesse momento. - ele falava convicto. - O que importa agora são vocês. - rio bobo ao constatar o fato da gravidez de sua mulher. Sim. Sua. Porque agora nem mesmo que ela o mandasse para longe, ele ficaria ali, junto dela, junto à família que formariam. - Vocês estão bem? O que o médico disse? - perguntou de uma vez. Teria que cuidar dela a partir de agora.

- Bem, ele disse que eu e o bebê estamos bem. - ela lembrou que só havia ouvido isso, de tudo que o médico recomendou.

- Ele falou mais alguma coisa? Sobre alimentação, remédios, cuidados? Mais nada? - ele estranhou.

- Ele falou, mas eu parei de escutar depois dele dizer que eu... bom, que nós estávamos bem. - ela corrigiu, estava se acostumando com a ideia de uma nova gravidez. - Eu fiquei totalmente aérea depois disso. Não ouvi mais nada. Ele passou algumas vitaminas, pediu pra procurar uma obstetra e tomar cuidado. - falava vagamente. Seu coração havia começado a apertar novamente. Ele percebeu e logo perguntou.

- O que te preocupa, hein? - apertou as mãos dela novamente, dando o apoio que ela buscava. Maria Marta olhou para cima, fechou os olhos tentando conter o choro que veio mesmo assim.

- É que... - parou, engoliu o choro e recomeçou, mesmo com a voz trêmula. - Eu não fui uma boa mãe pros meus outros filhos. - desabafou, não viu nada além da compreensão oferecida pelos olhos dele e seu silêncio paciente, que sem palavras pedia para ela continuar. - A minha vida tá um completo caos. Eu não tenho paz na minha própria casa, que continua servindo de teto pra amante do comendador. - relatou amarga. - Os meus filhos mal falam comigo, desde que a empresa foi roubada, parece até que foi eu que abri a porta do cofre pro Fabrício Melgaço levar tudo que tínhamos. Não consigo trocar uma palavra com ninguém sem ouvir desaforos. - seus olhos se fecharam tentando conter as novas lágrimas que se formavam, fungou o nariz e voltou a olhar pra ele mostrando toda sua dor. - Meus filhos me odeiam, essa é a minha grande verdade. Eu devo ter sido uma boa mãe até certo ponto, mas depois eu só jogava pra cima deles as minhas frustações matrimoniais, exigia demais, cobrava demais. Eu coloquei a empresa, a Império acima da minha família, dos meus filhos e hoje eu tô colhendo o que eu plantei. - baixou a cabeça, era difícil falar, mas ela precisava. E como precisava desabafar. - Eu tive pré-eclâmpsia na minha última gravidez. Eu quase morri junto com meu caçula. De todos os meus filhos, ele sem dúvidas foi com quem eu mais errei. - a essa altura ela chorava sem nenhum pudor, nenhuma vergonha. Estava mostrando a ele suas inseguranças, seus medos e seus erros. - Eu não quis ter mais filhos depois disso. Não queria passar pela mesma coisa de novo, por aquele mesmo pânico. O Zé Alfredo fez vasectomia uns anos depois, ele tinha os casos dele por aí e não queria que um suposto herdeiro aparecesse reclamando seus direitos na Império. - relatou. - Acho que foi aí que tudo na minha vida começou a mudar. Eu não procurei ajuda psicológica depois do parto, nada. Eu não queria chegar perto do meu próprio filho, tinha medo. Eu não conseguia ser uma boa mãe. Vivia ouvindo pelos corredores sobre os casinhos do Zé e me sentia rebaixada, como esposa, como mãe. Eu amava aquele desgraçado, mas não importava o que eu fizesse, nunca consegui ter ele de volta. Nós fomos nos afastando cada vez mais. Até chegarmos a uma separação de corpos, mesmo que eu ainda mendigasse o amor e a confiança dele. Busquei conseguir mais poder na empresa para controlá-lo, tentei tirar a presidência dele. Aí a guerra começou. Enquanto isso, meus filhos escapavam pelos meus dedos e eu simplesmente não ligava, estava cega. O José Pedro, é mais fechado, hoje em dia não perde a oportunidade de discutir com o pai pelas humilhações que ele fez o menino passar. A Maria Clara, nem me chama mais de mãe, definitivamente é a que mais me odeia. E o João Lucas... - ela sentia vontade de gritar, falar sobre seu filho caçula era bem mais difícil do que falar dos mais velhos. - até um tempo atrás eu ia atrás dele de madrugada, procurava por ele e via meu filho se drogando por essas boates da vida. As vezes ele voltava machucado, eu e o Zé cansamos de trazer ele pra casa totalmente dopado de drogas. E era sempre em mim que ele descontava a raiva. Mas eu não o culpo, se fui uma mãe ruim pros outros, pra ele nem mãe eu fui. Ele só entrou na linha quando começou a namorar uma menina meio esquisita, mas ela faz bem a ele. E tem a Amanda, minha sobrinha, criei ela como filha depois do acidente dos pais dela. Ela é a minha cara. - riu em meio às lagrimas. - Sempre me defende. - ela sentiu as mãos de Fernando enxugando suas lágrimas, a olhando com carinho, sem recriminações. - Essa é a mãe que você quer pro seu filho? - voltou a chorar e ele imediatamente a abraçou. A embalou em seu colo e a tratou de conforta-lá.

- Você estava só meu amor, e carregou o mundo nas costas. Passou por um trauma e não teve ajuda do homem que deveria ter te dado todo suporte que você precisava. - ele acariciava suas costas e a embalava com cuidado, sentindo o corpo dela junto ao seu, ele teve certeza construiria uma vida ao lado dela. - Nenhuma mãe é perfeita Marta, principalmente quando faz tudo sozinha. Você vai ter seus filhos de volta, mas precisa cuidar desse aqui agora. - acariciou a barriga dela. - Eu tô aqui meu amor, não vou sair daqui. Não vou sair do seu lado, conta comigo meu amor, conta comigo. Nós vamos caminhar juntos a partir de agora, só depende de você. Fica comigo Marta, vamos criar o nosso filho juntos, vamos dar ao nosso bebê um lar Marta, o lar amoroso e feliz que nós não tivemos. Sai daquela casa, vem morar comigo, vem viver a sua vida comigo. Casa comigo, Maria Marta de Mendonça e Albuquerque. Vamos ter a vida que sempre deveríamos ter tido. - ele falou nervoso, estavam próximos, ele olhava dentro dos olhos dela, suas mãos suavam, mas ele sabia que o momento era aquele. - Casa comigo, il mio cielo ( meu céu). - a chamou como ele a chamava quando eram jovens. Ela riu, não acreditava no que estava escutando.

- Como você pode pedir uma mulher casada em casamento? - continuou rindo, limpando o rosto das lágrimas e se sentindo mais leve. Ele a queria? Era isso? Queria casar com ela?

- Eu tô pedindo em casamento a mulher da minha vida. - exclareceu e isso a fez perder a fala. Ele se ajoelhou na frente dela e segurou as mãos dela, unindo as dela com as dele. - Eu não tenho um anel pra te dar agora, mas eu tenho pra você a promessa da vida que nós devíamos ter tido juntos. Eu quero perder você de novo. Marta, vem viver comigo, seja minha mulher, a mais importante da minha vida. - ele declarava e ela o olhava apaixonada, jamais tinham dito à ela palavras mais amorosas, ela estava caidinha por ele. Por aquela nova chance de ser feliz ao lado de alguém que a amava. - Eu quero que você tenha meu sobrenome, que seja minha esposa. Eu quero gritar aos quatro ventos que você é minha. Vem ser feliz comigo Marta, eu preciso de você, nós precisamos de você. - tirou os olhos dos dela por um segundo, desceu os mesmos até o ventre dela onde aquele milagre da vida estava sendo formado, tocou a barriga dela com sua mão grande e acariciou o local voltando a olhar pra ela de novo. - Vem ser feliz comigo, com a família que podemos ter. Vamos ser felizes juntos. - suplicou a ela.

- E-eu... eu... - não sabia por onde começar, queria ir com ele. Decidiu! Iria! Se daria essa oportunidade de amar e ser amada de novo! Largaria tudo se fosse preciso. Mas para começar uma vida nova, faria do jeito certo. - Eu amei o José Alfredo por muito tempo e de uma forma que eu jamais que amaria alguém de novo. - ela puxou Fernando, que estava ajoelhado em seus pés para se sentar novamente na cama, assim que ele o fez, olhando nos olhos dele, ela continuou. - Eu não sei se o que eu sinto por você é amor, mas o que eu sei é que é algo forte demais para ignorar. Desde aquela noite eu não te tiro mais da minha cabeça. - ele sorriu com a confissão dela. - Eu acordo querendo você do meu lado como naquele dia. Eu durmo pensando em você, eu me pego divagando, lembrando da nossa juventude, dos nossos momentos juntos. Eu sei que eu te quero comigo, quero muito. - falou tudo de uma vez só. Em um fôlego só. Ele a beijou, estava finalmente completo. Eles se agarraram, fundindo seus próprios corpos sem deixar espaço entre eles. As bocas se queriam, se encontravam de forma violenta. A saudade fazia tudo ser mais intenso. E a possibilidade de uma vida juntos, eternizava aquele momento como o início de tudo. - Tenha paciência, por favor... - ela pediu a ele assim que o beijo cessou. - Por que eu vou precisar mais de você do que você de mim. A minha vida está em cacos...

- Mas eu vou te ajudar a colar cada pedacinho deles, por menores e mais trabalhosos que eles sejam. Eu quero você inteira Maria Marta. Com seus filhos, seus problemas, seus tormentos. Quero você inteira. Com toda bagagem de sua antiga vida. - ele voltou a acariciar seu rosto com devoção. Passando a ela toda confiança que necessitava.

- Por favor não se arrependa. - pediu ela bem baixinho de cabeça baixa. Ele tocou o queixo da amada e a fez olhar em seus olhos.

- Eu me arrependi quando não fui atrás de você anos atrás. Quando não lutei para que você ficasse ao meu lado e te perdi, eu me arrependi todos os dias. Mas agora, eu não vou te deixar ir. E eu me comprometo a te fazer feliz para o resto da minha vida.

- Eu acredito em você, com a minha vida, eu acredito em você. - ela acariciou os cabelos dele e ambos se abraçaram. Aquele abraço era uma promessa sem palavras do que ambos fariam tudo que pudessem, para terem um novo recomeço.

- Você aceita ser a mulher da minha vida, só minha, desde hoje até o fim? - ele fez o pedido sem tirar seus olhos dos dela. Ele conseguia ver a verdade no fundo da alma da mulher que amava.

- Eu aceito. Ser sua mulher pro resto de nossas vidas. Quero começar de nova Fernando, com você, ao seu lado. - foi sincera. Sua jornada com Zé Alfredo fora boa, mas estava cansada de só receber espilhos daquela relação. Sempre achou que morreria sem ele, se um dia ele a deixasse, mas ela sentia que morreria se continuasse com ele. Seu coração não se apertava ao pensar em deixar Zé Alfredo, mas ele dava saltos ao pensar em Fernando. Então decidiu, de uma vez por todas, se entregar a aquele amor e deixar que ele curasse todas as feridas abertas do seu coração. Viu Fernando sorrir pra ela mais uma vez naquele dia. Viu seus olhos brilhando como se as estrelas morassem lá dentro. Ela não precisou de uma palavra. Ela sabia que havia encontrado um novo lar.

- Você já se alimentou hoje? Comeu algo quando saiu do hospital? - ele perguntou quando a largou. Agora olhava para ela preocupado.

- Não, na verdade agora que você falou, eu me toquei que não comi nada o dia todo.

- Precisa se cuidar mais Marta, nosso filho precisa de você forte e saudável. Vamos, vamos a um restaurante. Você precisa se alimentar direito. Sabe que... - ele foi cortado por ela.

- Fernando, eu já passei por isso 3 vezes. Não sou marinheira de primeira viagem, mas... - ela resolveu emendar o que havia dito por causa da maneira contrariada que ele a olhava. - eu sei que você tem razão e que está certo. Pode deixar que eu vou me cuidar mais e me alimentar direito. - garantiu. Ele desfez a feição contrariada e a olhou de forma mais serena.

- Pode deixar que eu vou me encarregar de marcar pra você os melhores médicos desse país pra cuidar de você e do nosso filho, farei isso hoje mesmo. Temos que iniciar seu pré-natal o quanto antes. Meu amor, você sabe que daqui pra frente você não pode se exaltar e nem...

- Eu sei Fernando, pode deixar, ao que depender dos meus esforços, você não terá queixas de mim. Agora, se o convite pra almoçar ainda está de pé eu vou aceitar. Estou realmente com fome.

- Seu desejo é uma mais que uma ordem, é uma lei. Vou ligar pra recepção mandar o meu carro pra frente do hotel. - deu a volta na cama e pegou o telefone no criado mudo que tinha acesso direto com a recepção.

- Certo. Eu preciso usar o banheiro, não posso sair nesse estado. - sorriu para ele e entrou no cômodo anexado ao quarto.

Em questão de instantes eles saiam pela porta da frente do hotel, com uma distância saudável um do outro para que não fossem vistos tão próximos a ponto de que algum boato maldoso fosse espalhado. Quando saíram do quarto e entraram no elevador, Fernando agarrou Marta pela cintura e lhe deu um beijo apaixonado. A mulher que fora pega de surpresa se derreteu ainda mais por ele. Ele não gostou de ter que se manter longe dela, mas ele estava de tão bom humor, que não seria isso que estragaria o dia mais feliz da sua vida.

Seria pai de um filho de Marta. E agora, ela havia aceitado passar o resto da sua vida com ele. Não tinham discutido os detalhes do que iriam fazer. Mas ele não precisava de meias palavras. Sabia que tudo se acertaria, e ele correria contra o tempo para dar à ela tudo que precisavam.

Eles foram para um restaurante não muito longe dali. Fernando não queria que ela demorasse tanto para comer, afinal, já passava do meio dia e Marta não havia feito uma refeição descente. O que era inaceitável. Mas devido aos últimos acontecimentos, ele nem sonhava em brigar com ela por isso. O lugar era elegante, sofisticado, tinha um excelente chefe e o mais importante: era bastante reservado.

Ao chegarem na porta a recepcionista ficou de prontidão para que tudo o que eles pedissem fosse feito. A mulher trabalhava ali tempo suficiente para reconhecer pessoas com classe e muito dinheiro. Ela os levou até a mesa mais discreta, a pedido deles mesmos e logo a comida já estava na frente deles. Cheirava muito bem e estava com uma cara ótima, constatou Marta que se pôs a comer assim que o prato chegou. Fernando a acompanhava, não tinha a mesma fome que a dela então tratou de não distrai-lá, deixando que sua mulher comesse em paz. Sua mulher. Ele se alegrou com esse pensamento. Nada tiraria aquelo sorriso do rosto dele, pelo menos por hoje.

Eles pediram a sobremesa e Fernando olhava satisteito Marta se deliciar com um mousse de maracujá que era a taça mais cara do restaurante. Ele riu quando ela terminou do comer a dela e pediu a dele.

- Eu acho um pouco deselegante uma mulher comer tanto assim na frente de um homem, mas dadas as minhas condições eu realmente não posso me desculpar por isso. - ela riu começando a devorar a sobremesa que ele lhe dera.

- E eu jamais teria a falta de tato do questionar a quantidade de comida que uma mulher grávida precisa para se alimentar corretamente. Eu realmente não cometeria uma gafe dessas. - ele a tranquilizou dando uma risada.

- Muito educado da sua parte. - ela falou antes de outra colherada.

- Você tinha me dito que o médico te receitou algumas vitaminas. - ele viu ela balançar a cabeça em afirmação. - Assim que sairmos daqui eu paro na primeira farmácia que encontrar. Quero você tomando essas vitaminas a partir de hoje, e não aceito objeções. - adiantou logo para ela. - Vou entrar em contato com algum corretor para comprar uma casa para nós o mais rápido possível. - falou despreocupado. Ela tomou um susto.

- O quê? - perguntou limpando a boca com um guardanapo.

- Nós não podemos ficar em uma suíte para sempre. Vou procurar um lugar maior para ficarmos até eu comprar um lugar digno. Temos um pouco mais de seis meses para darmos um lar estável para nosso filho. - falou como se fosse óbvio. - Eu sei que você não vai sair de casa agora Marta, e entenda que eu não estou cobrando isso. Mas preciso saber o que você vai fazer agora. - disse cuidadoso.

- Primeiro, terminar essa taça de maracujá que está deliciosa. - falou irônica. - Depois passar o resto deste dia com você. - piscou para ele que riu da careta que ela fez. - E por fim, pensar no que você acabou de falar. Não posso sair de casa assim, sem explicações e de qualquer jeito. O que eu quero agora é um bom advogado para dar início ao meu divórcio. - exclareceu primeiro e ele pareceu aliviado. - Assim que estiver com os meus termos na mão eu saio daquela casa.

- E quais são os seus termos? - ele quis saber.

- Primeiro, que nossos nomes voltem a ser como os de solteiros. Pretendo tirar o Medeiros e vou exigir que ele tire o De Mendonça e Albuquerque. - empinou o nariz.

- Justo. Tenho um advogado especialista que vai cuidar de tudo pra você. - ele mal podia ver a hora de dar a Marta o seu sobrenome, que sempre deveria ter sido dela. Ela assentiu e continuou.

- Bom, eu realmente preciso pensar se ainda vou querer a minha parte na Império ou se vou vendê-la.

- Tem que pensar nisso com cuidado Marta, é seu trabalho também. Seu patrimônio, seu nome e sua imagem. - disse preocupado. Não estava esperando ouvir aquilo dela.

- Você tem razão, mas quando uma coisa te faz mais mal do que bem, é necessário ponderar. - empurou a taça vazia para o meio da mesa. - Já que você falou em se mudar para um lugar temporário antes de acharmos uma casa, eu preciso falar logo com um advogado. Quero colocar as cartas na mesa com Zé Alfredo. Não posso esperar a barriga aparecer para contar a ele e aos meus filhos.

- Você tem toda razão. Vou falar com um amigo que tem como agilizar pra você essa separação, vai estar pronto em questão de horas. - ambos sorriram concordando com os planos. - Eu preciso de uma semana para encontrar um apartamento, contratar alguns empregados e preparar a nossa moradia temporária. - disse animado.

- É esse tempo que vou usar para preparar o terreno com os meus filhos e colocar os papéis do divórcio nas mãos do meu futuro ex-marido. - ela riu. Quando imaginava que depois de tantas vezes que José Alfredo lhe pediu o divórcio seria ela a colocar nas suas mãos os documentos? - Em relação a minha parte na empresa eu ainda preciso pensar, mas antes de falar com o advogado sem dúvidas vou saber o que eu quero. Minha única exigência além da retirada dos sobrenomes vai ser a minha mansão em Petrópolis. Os poucos bons momentos em família eu tenho com meus filhos se passaram naquela casa. - falou nostálgica. Eram boas lembranças. - Vou deixar as minhas jóias também. Ele gosta de dizer que eu só gasto o dinheiro dele, como se eu fosse uma descerebrada que não tem a mínima capacidade de fazer nada sozinha. - tomou um gole de água na taça ao lado da de vinho que tinha a sua frente. - Não quero nada dele, e quer saber? Vou começar por agora. - Fernando a viu tirar as jóias que usava e jogá-las dentro da bolsa, entendeu a atitude dela e decidiu fazer algo a respeito.

- Uma mulher como você não precisa se encher de jóias Marta, mas não é adequado que uma imperatriz ande sem elas. Vamos. Vou dar um jeito nisso agora mesmo. - ele levantou e estendeu o braço para que ela o acompanhasse.

- O que está aprontando? - perguntou assim que agarrou o braço que ele lhe oferecera e se encaminharam para a saída do restaurante.

- Nada que você não vá adorar, eu garanto. - deu a ela um sorriso galante que ela retribuiu feliz.

Pagaram a conta e, assim como Fernando havia prometido, ele parou na primeira farmácia que viu para comprar as vitaminas dela. Ela o viu sair do carro assim que lhe entregou a receita e observou o mesmo entrar no estabelecimento. O que para ele era algo insignificante, afinal era apenas o ato de comprar um frasco de vitaminas que qualquer um poderia realizar, para ela foi algo que lhe tocou profundamente. O cuidado que ele se preocupava em ter com ela. Ela suspirou verdadeiramente apaixonada. Ali estava ela, na presença de um homem que fazia seu coração dar pulos. Alguém que fazia questão de estar na presença dela. Ela percebia o amor dele em seus pequenos gestos. Gestos esses que nenhum homem havia lhe oferecido. Ele não a cobrava. Ele a protegia. A respeitava. A queria e a amava. Estava disposto a esperar e fazer tudo por ela.

E foi no estacionamento daquela farmácia que ela decidiu mudar sua vida! Já havia resolvido se divorciar, deixar Zé Alfredo, que para ela que jamais imaginava viver sem ele, mesmo com todas as humilhações e desprezo, era um grande passo! Mas ela resolveu fazer mais do que deixar o futuro ex-marido, naquele instante Maria Marta decidiu também deixar a Império! Deixar seu nome, seu prestígio e sua imagem construída ao longo daqueles anos todos para se dar mais uma chance. Queria ser a mulher de Fernando Zurique Marsala. Queria dormir e acordar junto a ele todos os dias que ainda lhe restavam viver naquela Terra. Seria uma mãe melhor para seus filhos e tentaria fazer diferente com o que ainda estava em sua barriga. Em um gesto involuntário acariciou a própria barriga. Foi naquele momento que percebeu que não tinha nada no mundo que não fizesse por aquele serzinho. Sorriu. Feliz. Feliz como não era a muito tempo.

Tomou aquela decisão nos poucos minutos que ficou naquele carro. Não teve dúvidas a respeito do que havia decidido fazer, mas ao ver Fernando sair daquela farmácia com uma sacola na mão e sorrindo pra ela conforme se aproximava do veículo, ela sentiu o coração aquecer. Havia tomado a escolha certa! Minutos depois que ele entrou no carro, lhe roubou um selinho e lhe entregou o frasco com o medicamento eles voltaram para as ruas do Rio de Janeiro.

Ele não disse onde iam, o que fez Marta se sentir uma adolescente ansiosa para ganhar o presente do namorado. Ele entrou em um shopping e estacionou. Como um perfeito cavalheiro ela deu a volta no carro após sair e abriu a porta para ela oferecendo seu braço. Ela sorria boba com aqueles gestos já esquecidos por si mesma. Esquecido o que era ser tratada como uma dama. Ele a guiou pelo shopping até chegarem a uma das joalherias mais caras do cidade.

- Você não... - ela tomou um susto assim que entendeu a intensão dele.

- Na minha humilde opinião, não são as jóias que fazem de uma mulher uma rainha, mas o fato é, que uma rainha jamais deve ficar sem usar as mais belas e finas jóias. - ele sorriu galante pra ela. Eles entraram na loja e ele abriu os braços. - Pode escolher, o que quiser e quantas quiser.

- Você tá louco, eu não... - ela estava sem ação.

- Minha mulher não vai andar por aí sem ser o que ela é. Uma rainha! E já vou logo avisando que nós não vamos sair daqui sem levar nada. - levantou a sombrancelha em sinal desafio. Ela adorou a forma como ele se referiu à ela. Marta descobriu que gostava dos pronomes possessivos naquela relação. Não soava como se ela fosse uma propiedade. Ela se sentiu como o mais precioso tesouro dele.

- Eu vou falir você. - brincou.

- Vai ser um prazer ver você tentar. - provocou usando o mesmo tom que ela.

Eles saíram daquele clima descontraído quando uma vendedora os abordou. Eles olharam várias peças, mas a que mais interessou Marta foi um lindo anel de um par de safiras com alguns minúsculos brilhantes trabalhados junto com a prata. Aquele anel lembrou os olhos de Fernando, com um azul muito mais intenso que os dela. A vendedora o tirou do mostruário e colocou na mão da imperatriz que se encaixou perfeitamente. Ela sorriu e olhou para Fernando que não tirava os olhos dela, completamente hipnotizado.

- Só vai levar esse?

- Por hoje, só. - a mulher respondeu sem tirar os olhos do anel que enfeitava sua mão. - Mas não se preocupe. Vou cobrar mais passeios como esse e fazer um belo desfalque no seu cartão. - eles riram juntos.

- Não mais do que eu farei mimando você, pode ter certeza. - acenou para vendedora que se retirou por um instante e logo voltou segurando com ela duas caixas de veludo azul escuro. - Considere esses os primeiros dos muitos presentes que eu vou te dar para o resto da vida. - pegou da mão da vendedora a caixa maior com um conjuntos de um colar e brincos feitos unicamente por pedras de Turmalina Paraíba e se regozijou com a expressão surpresa dela. - Notei esses aqui enquanto você flertava com aquele anel. A cor me lembrou os seus olhos e a preciosidade me recordou a sua importância na minha vida. Turmalinas Paraíba estão entre as jóias mais preciosas do mundo. Use-as lembrando que você é a coisa mais importante do meu mundo. - colocou a caixa com as joias em cima do balcão e deu um beijo nela. Ele se afastou vendo que a feição de surpresa ainda não havia fugido da face dela. Riu. Puxou a outra mão dela para si, a que estava sem o anel de safiras e abriu a caixinha menor que a vendedora havia deixado em cima do balcão e se afastado, dando privacidade ao casal. Ele colocou em seu dedo um anel de Turmalina Paraíba com alguns brilhantes, parecido com o conjunto que havia dado a ela anteriormente. - Quero que você saia daqui com eles. - ele a virou de costas para si e colocou nela o colar, em seguida oferecendo os brincos também. A observou por um instante ela através do pequeno espelho do balcão. Sua mão com anel que tinha a Turmalina Paraíba tocava o colar feito com a mesma pedra em seu colo com adoração. Encantadora, pensou ele. Enquanto que Marta estava sem palavras com aquele gesto. Se sentia amada. Amada de verdade por alguém. Finalmente.

Ele chamou a atendente e pagou pelas jóias que Marta nem tirou, saiu dali as exibindo. Se sentia a mulher mais feliz do mundo. Não pelas jóias, mas pelo cuidado que ele deu à ela. Enquanto que Fernando, caminhava ao seu lado exibindo seu maior e melhor sorriso. Ele agora tinha tudo o que sonhou em ter na vida. Faltava apenas que Marta saísse dos domínios do comendador e passar viver definitivamente com ele. Mas ele poderia esperar, afinal, nada tiraria a alegria dele naquele dia. Deram voltas e voltas no shopping até acharem uma pequena padaria onde Fernando comprou uma caixa inteira de macarons para Marta, doce esse que ele lembrava ser o preferido dela. Marta ao seu lado ficou toda sem jeito, ele não havia esquecido seus gostos.

Fernando não havia feito nenhum gesto considerado grando dentro dos padrões dele próprio, mas só a forma como Marta se sentia com aqueles pequenos gestos a faziam não querer sair do seu lado nunca mais. Quando poderia imaginar que sua vida mudaria em menos de 24 horas. Havia dormido sem nada, mas ao terminar do dia seguinte, deitaria na cama sabendo que agora ela tinha tudo que precisava e muito mais também. Quando ela reclamou de cansaço, eles voltaram para o hotel. Deitando os dois lado a lado na cama, descalços e sem as roupas pesadas de antes. Ela, sem o casaco que fazia parte do conjunto que usava e ele, sem paletó com as mangas da camisa social dobradas até os cotovelos alguns botões abertos. A caixa de macarons estava no colo dela, que comia apoiada no peito dele. Estavam sentados com as costas apoiadas no estofado da cama king size, com uma manta sobre as pernas mas com os pés de fora. Relaxados e completos na presença um do outro. Completos. Era assim que se sentiam quando estavam juntos.

- Eu não acredito que você se lembrou. - riu ela comendo outro macaron da caixa.

- Nunca esqueci de nenhum dos seus gostos. E eu pretendo satisfazer todos eles. - puxou o rosto dela para um beijo. Quando ele foi descendo a mão para sua cintura e os beijos já estavam em seu colo ela o parou.

- Eu faria exatamente o que você está querendo, se essa fadiga não estivesse me matando. - ela cessou o contato dele colocando a mão em seu peito o afastando alguns centímetros, colocou a caixa de doces em cima do criado mudo ao lado deles e deitou e voltou a deitar a cabeça no peito dele, com preguiça.

- Então quer dizer que o meu filho já está cansando a mãe dele desse jeito a essa altura do campeonato? - brincou sorrindo e cheirando os cabelos dela que também sorriu.

- Acho que ele vai herdar essa sua tranquilidade. Quase dois meses sem nenhum sintoma. - apontou ela.

- Ele só resolveu se fazer presente no momento certo, igual o pai dele.

- Tem razão. - ela olhou pra ele e lhe deu um celinho. - Me acorde mais tarde, tá? - ela se deitou na cama e ele permaneceu na mesma posição velando seu sono. Ele permaneceu lá, velando o precioso sono dela. Olhou para barriga dela e a adorou aquele receptáculo da vida onde o filho deles estava sendo gerado. Não conteu o sorriso, acariciando o ventre dela.

Não imaginava que sua vida daria aquele salto. Nunca foi de dar ouvido as fofocas publicadas pela mídia, mas ao saber do boato que o casamento dela estava balançando por uma possível amante do comendador, ele não esperou para confirmar. Começou a encontrar motivos para vir ao Brasil, e talvez, só talvez, se o boato fosse verdade, ele teria alguma chance? Poderia se aproximar dela, relembrar dos velhos tempos, apelar para as memórias dos dois juntos, quem sabe assim, encontraria uma brecha e nem que fosse só um amigo com quem ela desabafasse, acharia um lugar para ele na vida dela?

Não. Definitivamente não. Ele recebera muito mais do que aquela altura ele esperava receber. A mulher que amava não só havia escolhido ser dele, como ela também carregava seu filho! Sabe, ele tinha vergonha de admitir até para si mesmo, e talvez nunca falasse o fato nem em voz alta. Mas, na noite que passaram juntos, o fato dele esquecer que deveriam se proteger não foi proposital, mas antes de iniciarem o ato ele lembrou. Mas se manteve em silêncio. Bem lá no fundo ele torcia para que ela ainda fosse fértil o suficiente para engravidar dele. Isso a manteria perto dele caso acontecesse. Ele teria algo dela para toda vida se ela não quisesse ficar ao seu lado. Mas nunca esperou que isso acontecesse de verdade.

Só que de fato, a vida tinha mais mistérios do que ele poderia entender. Mas agradecia a Deus por aquela dádiva. A mulher da sua vida, grávida dele, gerando seu filho, ao seu lado na cama e em breve por toda vida, era muito mais do que ele poderia pedir.

A via ali. Serena ao seu lado. A protegeria de tudo. Absolutamente tudo! Dos inimigos, dos filhos que estavam em uma fase difícil com ela e principalmente do futuro ex-marido. Seria seu cavaleiro, fiel escudeiro e protetor. Não deixaria a mulher da sua vida sofrer por mais nada que ele pudesse evitar. Assim como daria à ela todo o apoio que precisasse quando o assunto seria sua família. O caminho ia ser duro, teria muitas pedras, ele sabia. Mas nenhum monte era alto demais para se escalar quando o assunto era ela. Pensou que agora teria uma família. Seria pai. Aproveitaria cada momento, mínimo que fosse. Teria uma casa com sua família, não teria apenas ele e seus empregados. Sua esposa, amada, desejada e que seria sua companheira. E seu filho, ou filha. Rio bobo de novo. Um filho, independe do sexo, queria que ele tivesse os olhos de Marta. Os belos olhos da mulher da sua vida. Sua mulher. Sua Marta. Jamais se cansaria de repetir, pra ele mesmo, para o mundo inteiro!

Ele rapidamente se lembrou que precisava agilizar alguns passos importantes. Não daria margem para que Marta tardasse muito em ficar com ele. A deixou dormindo na cama e foi até a sala fazer uma ligação. Ao chegar na varanda discou o número de um amigo e logo foi atendido.

- Fernando! - respondeu o homem surpreso do outro lado da linha.

- Joaquim Pinheiro Santerro. - chamou. - Preciso da sua ajuda em um caso urgente! - falou afobado.

- É só falar.

Joaquim Pinheiro Santerro era um velho conhecido de Fernando. As empresas de Fernando só eram representadas pela firma de advocacia de Joaquim. Sócios nos negócios que se tornaram bons amigos há mais de vinte anos. Joaquim conhecia bem Fernando, sabia do passado dele com Marta. Por isso ficou alegre pelo amigo.

- Preciso que você ajude uma mulher com um processo de divórcio! - foi cirúrgico. Tinha pressa!

- O quê?!

- Vou dar o seu contato pessoal para ela. Eu peço em nome da nossa amizade que você mesmo cuide desse caso! Quero que esse divórcio saia o mais rápido possível. Fale com juízes, desembargadores, ministros e quem for preciso! Eu tenho pressa! - falava afobado. Ele olhava da sacada do apartamento em que estava o por do sol. O primeiro que passava com Marta ao seu lado.

- Posso fazer isso. - assegurou ao amigo. - O que você tem a ver com isso Fernando? - perguntou desconfiado. Havia felicidade em demasia na voz do seu amigo. - De quem se trata?

- Se trata, meu amigo, de Maria Marta Medeiros de Mendonça e Albuquerque. - disse soberbo. - Em breve, Maria Marta Marsala de Mendonça e Albuquerque. É por isso que eu quero que esse divórcio saia em questão de horas, se possível.

- Você tá querendo me dizer que...

- Que essa mulher agora é minha e que eu vou casar com ela! - ele gargalhou alto! Queria mostrar ao mundo sua alegria, sua felicidade!

- Como isso acont... - foi logo cortado.

- Eu não tenho tempo para te explicar agora. Logo ela vai te ligar e pedir os seus serviços. Tudo o que ela exigir dê a ela, e coloque tudo na minha conta, é uma ordem! Eu preciso que esse processo saia logo, esperei por essa mulher a minha vida toda meu amigo. Não vou deixar ela escapar de mim agora. Preciso da sua ajuda, dos seus contatos e de muita rapidez. - exclareceu.

- Quando à valores fique despreocupado. Eu não pretendo cobrar um único centavo. E vou representar Marta nesse processo com muito prazer. Não pela nossa amizade, mas pelo prazer que eu vou ter de voltar naquela empresa e humilhar José Alfredo Medeiros e aquele advogadozinho de meia tigela . - em tempos passados, Joaquim havia tido alguns desentendimentos com o comendador e fora humilhado por ele. Aguardava por uma oportunidade de se vingar. - Mas não pense que não vou cobrar de você uma explicação. Estou muito curioso.

- Garanto que logo eu e você estaremos juntos e vou contar a você o que aconteceu. Mas agora, posso contar com sua ajuda?

- E você ainda pergunta? É lógico que sim. É você que está me proporcionando uma oportunidade imperdível. Vou aguardar a ligação da sua dama. - fez o amigo rir.

- Obrigado por isso! Agora preciso ir.

Finalizou a ligação e voltou para dentro da suíte. A encontrou do jeito que a tinha deixado. Sorriu. De novo, naquele dia. Ele não lembrava de quando havia sorrido tanto. Interfonou pedindo ao restaurante do hotel o jantar. Pediu algo leve pensando nela. Pediu um jantar completo. Com entrada, prato principal e sobremesa. Logo ele recebeu a refeição para dois em sua suíte, os pratos perfeitamente posicionados sob um carrinho e devidamente coberto com tampas reluzentes.

Com tudo preparado ele foi até a cama king size onde a amada se encontrava, salpicou em seu rosto e colo beijinhos e logo ela se virou sorrindo para ele que também sorriu para ela. Naquele instante, sentiram a conexão que tinham se fortalecer. Ela o abraçou pelos ombros e o beijou, ele a levantou com cuidado e ao cessar o beijo eles se abraçaram. Ela que tinha os olhos fechados ainda com preguiça, resolveu e abri-lós e tomou um susto ao ver a escuridão através da janela.

- Meu Deus! A hora! Por que você não me acordou?

- Por que você merecia um descanso depois da nossa tarde agitada.

- Isso não é desculpa. - ela se afasta dele esfregando os olhos, mas estava visivelmente mais relaxada. - Só que... tudo bem. Eu admito. Precisa descansar. Obrigada por esse dia tão bom. Há tempos não me sentia leve desse jeito.

- Se você se sente leve, eu estou nas nuvens. Vêm. - levantou da cama lhe estendendo a mão que ela sorrindo aceitou e viu ele lhe guiar até a mesa na antesala. Onde eles sentaram e desgustaram aquele pratos refinados do jeito que ambos gostavam. Uma entrada de camarões com molho branco bem leve, seguido de um salmão com aspargos grelhados e para sobremesa um suflê de chocolate meio amargo. Ele já havia terminado sua refeição e a via terminar a sua. Após alguns assuntos leves e descontraídos sobre excelente comida servida ela resolveu falar de algo que já estava decidido.

- Vou abrir mão da Império. - ela viu ele tomar um susto.

- Como? Você não disse que ia pensar melhor no assunto?

- Sim, acontece que eu já pensei melhor. Vou abrir mão da minha empresa. Estamos elaborando os detalhes de uma coleção que vai ser lançada em semanas. Escuta o que eu planejei. - ela colocou os talheres em cima da mesa indicando que havia terminado e ele se atentou ainda mais ao que ela dizia. - Vou continuar na Império até o lançamento da coleção, e a minha parte com meu trabalho vai ser dada a Império para recuperarmos o que foi roubado. Eu vou dar as minhas ações para os meus filhos, para Cristina e para Amanda. Eu preciso fechar esse ciclo. Preciso abandonar o que me adoece. O que eu ainda tenho que fazer pela Império eu vou fazer logo. Vou formalizar a minha demissão em um acordo a parte do divórcio e vou dar a eles a minha parte nos lucros.

- Tem certeza?

- Absoluta. Depois dessa coleção eu lavo as minhas mãos. E o Zé Alfredo não vai poder jogar na minha cara que eu abandonei um barco furado, ainda mais com eles praticamente me acusando de furar esse barco. - revirou os olhos e continuou. - Ele que sempre jogava na minha cara que eu só gastava o dinheiro dele. Hum. Eu quero mais é que essa coleção faça bastante sucesso e eu possa enfiar esse dinheiro nele guela a baixo! Já deu pra mim, sabe? Eu reconheço que errei em muitas coisas e muitas vezes. Mas já chega de humilhar pra todos eles e mendigar perdão. Eu vou fazer a minha parte e entregar aquela empresa brilhando nas mãos dele. Vou abandonar a minha carreira na Império e vou seguir a minha vida com você. - segurou as mãos dele sobre a mesa e sorriu.

Nenhum dos dois fez cobranças ou exigências. Eles se completavam e se sentiam bem. Cada um fez o que achava melhor por aquela relação. Era recíproco a vontade que ambos tinham de viver aquele amor interrompido no passado e passarem o resto da vida juntos. Eles e o filho que logo chegaria. Ele beijou as mãos dela e disse olhando em seus olhos.

- Que nós possamos retomar de onde paramos no passado meu amor. A felicidade nos aguarda. - ele não precisava de uma prova de fidelidade maior da parte dela. Ela resolveu abandonar tudo e recomeçar com ele! - Eu não vou te deixar escapar de mim nunca mais! - segurou as mãos dela com mais força em uma brincadeira. Sorriu.

- Se eu em algum momento tentar, me tranque no quarto até que possa retomar as minhas faculdades mentais e cair em mim mesma para reconhecer uma loucura dessas. - riram. - O nosso caminho agora vai ser de onde nós paramos meu amor. - novamente o silêncio. A promessa silenciosa de uma nova vida que começariam juntos. - Eu preciso de um táxi.

- Nada disso, eu te levo até em casa!

- Ficou louco? E se pegam a gente? Nem pensar. Ainda não é hora de dar essa notícia aos meus filhos. Vou preparar o terreno e assim que os papéis do divórcio estiveram nas minhas mãos e eu comunicar o Zé Alfredo da minha decisão, conto tudo aos meus filhos e saio daquela casa. Mas não antes disso.

- Nesse caso, toma, antes que eu me esqueça. - tirou do bolso da calça um cartão e deu à ela. - É do meu advogado aqui no Brasil. O melhor. Vai cuidar pessoalmente do seu divórcio com a maior rapidez possível. Já deixei ele ciente do seu caso.

- "Joaquim Pinheiros Santerro". - leu o cartão. - Realmente, um dos melhores. Ligo pra ele amanhã mesmo e marco um horário. Quanto antes eu der entrada nesse processo mais rápido eu termino com isso.

Ele ligou para recepção novamante naquele dia pedindo um táxi. Depois de acertar os pequenos detalhes ele desligou o aparelho e foi até Marta a abraçando.

- Eu não queria ter que te deixar ir agora.

- Não é uma despedida querido, é uma até logo. Almoça comigo amanhã? - pediu ela ainda nos braços dele.

- Claro. Tudo pra ficar mais perto de você. - ele a beijou.

- Logo logo seremos só nois dois na nossa casa esperando a chegada desse bebê. Você tem razão, temos que correr para que tenha um lar descente antes dele nascer.

- Pode apostar que ele terá. - pararam de se encarar quando ouviram o som do telefone. Ele atendeu e agradeceu, desligou e se virou pra ela. - O táxi já está lá em baixo, vamos? - se encaminhou para abrir a porta mais parou no meio do caminho ao escutar a voz dela.

- Nem pense nisso! E se formos pegos por algum desses abutres da impresa? Não posso ariscar um vexame antes da coleção da Império sair, meu amor.

- E você vai descer sozinha?

- Lógico, eu tenho duas pernas e depois de todos os seus cuidados me sinto ótima. - riu dando uma voltinha para ele ver. - Vêm, me acompanha até o elevador pelo menos.

Saíram do lugar e caminharam pelo corredor do hotel de mãos dadas até chegarem ao elevador e ele apertar o botão solicitando o mesmo.

- Eu te amo. - disse ele parado na frente dela.

- Eu também meu querido. Em breve, vamos poder gritar isso para os quatro cantos do mundo. - eles se agarram dando um beijo de despedida digno das novelas. O encaixar perfeito das bocas, as mãos do casal acariciando o corpo um do outro. Era um amor lindo de se ver é verdade. E em breve o mundo todo saberia, o quanto se amavam, o quanto se queriam. Soltaram-se ao ouvirem o barulho das portas de elevador se abrindo. Deram um selinho e ela se afastou dele entrando no elevador. O sorriso de ambos um para o outro era lindo. - Eu te ligo antes de dormir.

- Vou esperar por você. - disse antes que as portas de metal de fechassem. Ele virou de costas passando a mão no rosto, vendo se era uma sonho. Era real, mas também era a concretização do seu maior sonho.

Vários andares abaixo dele, Marta deixava o hotel e entrava no táxi que aguardava por ela. Deu o endereço para o motorista que calado começou a dirigir. Ela encostou a cabeça no banco e suspirou. Sua vida era um sonho. Sorriu. Divagando sobre aquele dia. Tocava o colar sobre o colo lembrando das palavras do amado. Via os anéis em seus dedos e repassava aquele dia em sua mente. Alegre. Ah, como estava alegre. Sentia que poderia voar de tão leve.

Mas assim que viu se aproximar de casa, respirou fundo, não poderia se extressar. Não podia se dar esse luxo. Pensou em seu bebê e acariciou a barriga de maneira involuntária. Pagou o motorista e saiu do carro. Passou pelo portão de entrada da sua casa e conforme chegava perto da porta, se preparava para ouvir os vários questionamentos sobre seu sumiço. Que Deus lhe desse força. Ela ia precisar.

[...]
E o desejo em seu olhar
As flores no altar

Véu e grinalda, lua de mel
Chuva de arroz e tudo depois
Dama de honra pega o buquê
Ninguém mais feliz que eu e você 🎶

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