Planos e conversa

Clã Rocco
Clã Rocco

  Maisa interceptou a resposta de Hian, e ao ler, traçou seus próprios planos. A risada sinistra dela pôde ser ouvida pelas empregadas que se arrepiaram, pois sabiam do que ela era capaz.

   Aquela noite o estado de saúde do Senhor Comarc piorou. Maisa, aproveitando da situação, chamou Everi a sua sala privada.

    — Me chamou, mãe? — Everi estranhou quando soube que sua mãe a chamava, mas sabendo que deveria fazer a sua vontade, foi ao seu encontro.

   Sua mãe vivia em uma ala isolada com um quarto enorme, duas salas privadas e uma bela sacada com vista para um belo jardim, com rosas de várias cores. O que era uma pena já que Maisa não dava valor a nada

que não fosse ouro, prata ou seda.

  — Sim, querida, sente-se. Seu pai antes de ficar pior havia enviado uma mensagem ao senhor do Clã Donald. Nessa mensagem seu pai ofereceu dar as terras na parte sul se o Senhor Hian concordasse em casar com você, e hoje recebi a resposta. O senhor Hian aceitou a proposta de seu pai.

    Everi ficou surpresa. Seu pai não tinha comentado nada com ela.

   Sua mãe, vendo a dúvida em seu rosto, entregou a ela o rolo com a resposta de Hian.

   Everi já tinha ouvido falar dele.  Ele, era implacável. Muitos louvavam a ele por sua coragem e determinação.

   Hian estava a frente do Clã há uns 15 anos. Ela tinha 22, ele devia ser no mínimo dez anos mais velho que ela, mas confiava em seu pai e honraria sua vontade. Ele deveria ter buscado concelho antes de tomar essa decisão, e conhecendo O conselheiro de seu pai ela estaria segura.

  — Quando será o casamento?

  — Simples assim? Não achei que fosse aceitar tão fácil. — Questionou sua mãe.

  — Confio no meu pai.

  Maisa ficou com raiva, entretanto seu plano estava funcionando perfeitamente, ela só não podia permitir que Comarc melhorasse. “Ele ia ter uma bela surpresa…”

  Everi saiu dos aposentos de sua mãe e foi a cozinha. Era seu lugar preferido do castelo, havia uma paz naquele cômodo e ela precisava dessa paz após permanecer no ambiente

opressor que era o lugar de sua mãe. 

      Dona Davina era como sua avó, foi ela quem a ensinou que a vida é muito mais que brigas e ressentimentos, que há muito mais do que nossos olhos limitados podem ver.

   Violet estava ali também, ela era como se fosse sua irmã mais velha, apesar dos dois anos que as separavam Violet parecia muito mais velha, à vida dela não tinha sido fácil.

Perdeu a mãe ainda bebê, foi criada aqui na cozinha por dona Davina.

    As duas se tornaram

inseparáveis para desespero de sua mãe. Elas compartilhavam dos ensinamentos de dona Davina.

  Ali naquela cozinha aprenderam sobre a dor, o perdão, o amor, a fé, a lealdade, o respeito, a cozinhar, assar, a rir quando deu errado e a tentar de novo e de novo quando fosse preciso. E agora ela estava ali pedindo para orarem por ela, pois sua vida ia mudar muito.

  Everi confiava nelas e em seu pai com sua vida, mas naquele momento seu pai não estava bem.

                  🌿🌿🌿🌿

No castelo todos estavam apreensivos com a saúde de seu senhor. Ele era justo com

todos, independente da quantidade de bens que se tinha. Julgava as causas de seu povo com retidão e bondade. Cuidava das viúvas e dos órfãos.

    Com seus atos o senhor Comarc tinha conquistado a lealdade e a admiração de todos. Por isso ninguém estranhava quando via alguém orando por ele, ou algum camponês passava pela muralha do castelo apenas para perguntar por sua saúde.

  Um mês havia se passado e o estado de saúde do Senhor Comarc não melhorava. Ele estava cada vez mais fraco, não estava mais lúcido e passava quase o tempo todo dormindo.

   Everi, Violet e a dona Davina ficavam o maior tempo possível no quarto com ele, oravam, às vezes liam para ele e em outras vezes Everi só segurava sua mão.

      Era difícil para ela ver seu pai, o homem mais forte que Everi conheceu, o mais gentil e carinhoso, que a ensinou a cavalgar, ensinou a distinguir as constelações e a levava para pescar com Violet, debilitado daquela forma.

   

     Ele parecia estar sumindo, estava fraco, emagreceu muito e ainda por cima a tosse o debilitava cada dia mais.

  Everi o queria com ela em seu casamento, queria que ele conhecesse seus filhos, pois sabia que ele seria um excelente avô, mas com o passar dos dias seu cérebro estava aceitando que isso não ia acontecer, apesar de seu  coração gritar o contrário.

    Conforme os dias passavam ela se agarrava em sua fé. Cria no melhor para ele, mesmo que esse melhor fosse sua partida desta terra. Doeria, sim muito.

   Ao mesmo tempo, em outra ala do castelo, Maisa, escrevia uma mensagem para Hian, Senhor do Clã Donald, o convidando para uma visita. Ela queria que o casamento fosse realizado quanto antes…

             🌿🌿🌿🌿

CLÃ DONALD

   Hian estava em seu escritório fazendo contas, esse ano eles tiveram uma boa colheita, os tosquiadores também haviam dado a ele uma boa notícia, a lã das ovelhas deste ano era de ótima qualidade. Seus animais estavam se reproduzindo bem, e ele já tinha compradores para quase todos os potros que nasceram.

   Naquele momento estava planejando o que fazer com a lã, quando soou uma batida a porta de seu escritório e seu comandante e melhor amigo entrou.

— Hian, estava vindo te ver quando chegou um mensageiro do clã Rocco. Aqui tomei a liberdade de pegar a mensagem e trazê-la para você.

   Se fosse outra pessoa, até poderia ficar bravo, mas kyle era seu segundo e dependendo do que estivesse escrito nesse rolo ele ia ter que falar com ele mesmo.

   Kyle observava Hian desamarrar, abrir e começar a ler a mensagem.

    Estava preocupado, algo estava acontecendo com seu amigo. No último mês estava distraído, fechado e Kyle podia jurar que tinha algo a ver com o clã Rocco, essa era a segunda mensagem em menos de dois meses.

   Ele conhecia Hian, cresceram juntos, descobriram que a bebida não compensava juntos, aprenderam a lutar juntos, eles eram os melhores, mais desejados e invejados guerreiros da região.

   Estava planejando alguma coisa e Kyle estava magoado porque achava que ele não confiava mais nele, por não ter contado o que estava acontecendo.

   Kyle se dirigiu a um aparador de bebidas no canto e se serviu.

   — Bem Hian, ha algo que preciso saber? — Kyle perguntou não aguentando mais o silêncio no escritório.

   — Vou me casar! — Falou Hian, rindo ao ver o amigo engasgar com a bebida que tinha acabado de beber.

   — Você está brincando! Isso não se faz Hian, eu estou aqui todo preocupado e você brincando comigo!

   — Eu vou me casar Kyle, não estou brincando, o senhor Comarc me ofereceu aquelas terra do lado sul com aquelas nascentes, se eu aceitasse me casar com sua filha e eu aceitei.

    — Como assim Hian, você não conhece a moça, você é muito novo, você nem comentou nada comigo, tem alguma coisa errada, aquelas terras valem muito.

    Kyle andava de um lado para o outro, quando parou e olhou para o rosto de seu amigo, viu que a decisão já tinha sido tomada, e não voltaria atrás. Balançando a cabeça, ele se sentou na confortável cadeira em frente ao seu amigo e perguntou:

    — OK! Qual é o plano? O que diz a mensagem?

    — Só pra constar eu não sou mais tão novo, nem você, aliás eu tenho 32 anos, meu pai com essa idade já me tinha.  A mensagem é um convite para um jantar no próximo sábado, para selar o acordo e me apresentar como noiva sua filha, que agora sei que se chama Everi. E também para marcar a data do casamento.

   Hian podia ver que Kyle estava pensando, procurando o que poderia dar certo ou errado, ele era desconfiado por natureza e isso fazia dele o melhor estrategista que conhecia.

    — Você vai aceitar o convite, é claro. — Kyle se levantou e andou pelo escritório. — Já que aceitou o acordo, vou com você e também selecionarei mais alguns homens para fazer sua escolta. Você terá que levar um presente para sua noiva, por ser relativamente perto podemos voltar na mesma noite. Kyle parou e se virou para o amigo que o olhava divertido.

    — E o mais importante redija um contrato claro e limpo e o leve com você, não assine nada que não pareça claro o suficiente.

   — Calma, Kyle, é só um jantar. — gargalhava da forma que o amigo divagava, mas era sempre assim, ele só saía com tudo planejado.

   — Concordo com você, pode organizar tudo. Agora o presente vai ser difícil, já que não conheço a moça.

— Você tem que levar o anel da sua mãe, e acho que flores será um bom presente, pois mulheres sempre amam ganhar flores.

    Hian respondia ao convite, enquanto pensava nas palavras de seu amigo, ele se lembrava do casamento de seus pais, começou com um contrato também, mas eles passaram a se amar, se tornaram amigos. Quase podia  vê-los ali, no escritório. Seu pai sentado à mesa trabalhando e sua mãe na poltrona próxima à lareira lendo e ele ainda pequeno brincando no tapete aos seus pés.

Seus pais se entendiam com um olhar, onde eles estavam juntos era sempre possível ouvi-los rindo. Desejava um casamento assim.

Hian queria uma esposa que ficasse emocionada quando ele voltasse de uma viagem, mas também que fosse beijá-lo e pedir para que ele tomasse cuidado quando saísse, uma esposa que goste de tocar nele e ficar no mesmo ambiente.

Alguém com quem possa rir e também alguém que seria capaz de ouvi-lo falar dos seus encargos à noite quando

precisar compartilhar.

Queria uma mulher forte que pudesse seguir e tomar decisões quando ele não estivesse presente, mas que também o deixasse comandar quando estivesse. Queria uma parceira. Suspirou sentindo a solidão bater de encontro a ele com um ressoar insistente.

Agora era torcer para Evelyn ser pelo menos um pouco parecida com a mulher de seus sonhos.

Hian não voltaria atrás o povo dele precisava daquela água, sua Terra era boa, mas, na região sul quase não havia água. Com a posse daquelas terras as famílias daquelas região vão poder produzir mais e vão poder ter uma vida melhor, com menos sacrifícios.

    Um bom líder não pensa só em si mesmo, ele pensa no seu povo.

   — Você sabe o quanto aquelas nascentes vão beneficiar as famílias que moram no lado sul. A vida delas não têm sido fáceis pela falta de água, e com isso eles são mais pobres que as outras famílias que moram em outras direções, você sabe que eu os ajudo, mas nem todos aceitam e eu entendo. — se levanta e caminha em direção à janela. Quando volta a falar se volta para o amigo. — Os homens querem poder dar uma vida melhor a sua família por eles mesmo, por isso preciso aceitar. — explica endireitando a postura.

Kyle ali pôde ver que não estava sendo assim tão fácil para seu líder.  


     — Eu já havia tentado comprar aquela terra, porém Comarc não quis vendê-la, então ele sabia que estava fazendo uma boa jogada ao fazer a proposta, ele é inteligente. — Seus olhos vão para a paisagem a frente. Ele engole seco, fecha as mãos em punho.

   — Realmente foi uma jogada com certeza da Vitória — balança a cabeça admirando a estratégia — eu ainda acho que tem alguma coisa por trás dessa proposta — Kyle sabia que algo não estava certo, só não sabia o que era, há não ser que a moça fosse realmente feia, ou fosse terrivelmente tediosa, ou insuportável, mas ele ia descobrir.

   Ele fazia questão de estar naquele jantar. Enquanto pensava se despediu, foi entregar a resposta ao mensageiro e começar preparar tudo para acompanhar Hian ao jantar de noivado que aconteceria em cinco dias.




Oiiii! O que estão achando?
Esse Kyle é desconfiado gente 😂

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