Hian subia as escadas carregando Violet. Tirando algumas tosses ela continuava inerte.

    Ficou surpreso ao chegar ao Clã e ter tudo preparado esperando por eles. Foram recebidos pela dona Davina que mesmo aflita, os conduziu imediatamente até ali.

   - Esse era o quarto da minha menina, acho que ela iria gostar de acordar ai, mas se o Senhor quiser os levo a outro. É um pouco simples, contudo confortável. Falava sem parar a Senhora Davina enquanto abria a porta do quarto e sinalizava com as mãos o ambiente ao redor.

     Hian percebeu sua ansiedade e logo a tranquilizou.

      -Aqui está ótimo, obrigado!

      - Oh! Me desculpe. A coloque na cama. Eu aqui tagarelando enquanto o senhor está com ela em seus braços. Disse já correndo até a cama e tirando a colcha de retalhos que a cobria. Afofou os travesseiros.

      Hian a deitou gentilmente, com carinho retirou os cabelos que estavam em seu rosto. Ver sua valente esposa tão indefesa era doído. Seu lindo rosto manchado com fuligem, sua respiração pesada, seus pulsos machucados... preferia vê-la brigando com ele com as mãos na cintura. Era pequena, mas tinha um gênio forte...”

    -Mandei preparar um banho para o senhor no quarto em frente. E enquanto se limpa eu cuido dela.

   - Eu cuidarei dela!

   - Mas...mas senhor!

   - Sem mas, não vou sair de perto dela. Prepare o banho aqui, preciso de uma bacia com água morna e um unguento para seus ferimentos, se esse era seu quarto a roupas para que eu possa troca-la. Decretou sem deixar espaço para reclamação.

     - Sim senhor!

   Logo a movimentação de criados que traziam a água cessou. Podia parecer insensível, mas ele não conseguiu tirar os olhos de sua esposa ou parar de tocar nela para olhar para eles ou agradecer.

   - Aqui senhor tudo que pediu. Providenciei algumas roupas do Senhor Comarc espero que sirva. Se precisar é só chamar. A senhora Davina falou saindo do quarto e fechando a porta.

    Hian pegou o pano na bacia e gentilmente começou a limpar o pulso de Violet e conforme via a extensão das feridas seu coração se partia por ela. Finalizou com beijos delicados em seus braços.

    Tirando o vestido com suavidade. Não soube como conseguiu seguir gentilmente pois a raiva borbulhando dentro dele estava prestes a transbordar conforte via os hematomas que se estendia pela pele de sua esposa.

    Suas mãos tremiam, respirava profundamente. “Graças a Deus ela está viva, e aqui comigo”. Tentava manter os pensamentos nas coisas positivas ou o desejo de vingança que rastejava em suas veias se alastrariam...

    Ele a limpou da melhor forma possível e a vestiu com uma camisola. Passou o unguento em seus pulsos e a cobriu. Quando ela acordasse ia querer um banho, lavar o cabelo com certeza, mas por hora estava limpa.

    Hian se banhou rapidamente, a túnica ficou um pouco apertada, mas estava limpa então se vestiu e deitou ao lado de Violet . Seu coração ansiava pela proximidade.

    Já era madrugada. Estava cansado, contudo sabia que não dormiria.

     Quando os primeiros raios do sol apareceram ele ouviu uma batida na porta.

    Hian já sabia quem era e agradecia por ter dado tanto tempo. Soltando Violet de seus braços a apoiou no travesseiro.

    - Como ela está? E você?  Ouviu Kyle perguntar assim que abriu a porta.

    - Está dormindo ainda! Tossindo de vez em quando. Saiu para o corredor e encostou a porta devagar. Passou as mãos pelo rosto. - Eu nem sei como estou, grato por ter ela comigo, furioso  por ter demorado a encontra-la. Uma raiva imensa têm ameaçado minha sanidade. Quero sair e caçar quem fez isso e ao mesmo tempo não quero sair de perto dela. E o pior é que sei que ela ficaria brava comigo por isso.

      - Verdade ela é boa demais. Concordou Kyle com um discreto sorriso, mas que logo Hian viu ser substituído pela expressão do guerreiro que ele era. - Mas não se preocupe, os dois homens estão mortos e a senhora Maísa esta presa.

    - Aquela mulher!

   Quando Hian achou que ia perder de vez as rédeas de seu temperamento um chamado o fez  voltar.

    - Hian??? A voz estava rouca e baixa, mas ainda era a voz da sua amada.

     Ele entrou apressadamente no quarto e encontrou os olhos ainda vermelhos de sua esposa.

    - Com quem você estava conversando? Espera, estou no meu antigo quarto ? Eu não posso ficar aqui! Ela ... Ela...

     - Calma amor! Aquela mulher esta presa e não vai te fazer mais nada. Você está segura. Eu estou aqui. Ele a puxou para seu colo e a segurou firme enquanto falava baixinho em seu ouvido a acalmando.

     Uma batida soou a porta e logo a Senhora Davina entrou com uma bandeja de comida. Kyle que tinha permanecido fora do quarto se colocou a porta. Hian viu uma pitada de tristeza nos olhos dele que logo se foi.

     - Acordou minha menina , como está se sentindo? Perguntou se aproximando e pegando uma mão de Violet . -Tudo vai ficar bem!

    - A senhora Davina eu tive tanto medo. Começou a falar, mas um acesso de tosse a impediu.

    - Calma amor! Respira devagar!

    - Eu trouxe um caldo que vai ajudar a limpar e curar sua garganta. A senhora Davina destampou o caldo e trouxe até ela, mas o cheiro a fez enjoada.

   - Acho que prefiro um banho primeiro. Meu cabelo fede a fumaça. A senhora Davina a olhou estranho, mas concordou.

    -  É bom te ver acordada e bem Violet. Vou esperar no salão. Kyle se despediu.

     Enquanto Violet se banhou, Hian comeu um pouco enquanto explicava o que tinha acontecido.

    Porém a fome se foi e um no fechou sua garganta ao ouvir tudo que Violet tinha passado.

    Ele ajudou ela a se vestir. E a fez comer um pouco também.

    Um pouco mais tarde Hian e Violet  entraram no pequeno quarto. Amarrada a uma cadeira estava Maísa. O olhar dela continha tanto ódio, tanto desprezo que o estômago de Violet revirou.

    Contudo o seu rosto estava firme ela não deixaria Maísa perceber o quanto a afetava. Antes de vir até ali eles tinham conversado muito. Hian não queria sua esposa perto daquela mulher novamente. Não concordava com a decisão, mas apoiaria Violet, ele admirava as suas convicções.

     - Veio rir de mim? logo você uma ninguém. Eu exijo que me soltem! Sou a Senhora do clã Rooco, sou sua sogra Hian. Everi deve estar se revirando de desgosto, essa imprestável feiticeira te enfeitiçou. Você é um líder não tem vergonha de segurar a mão dessa aí, seus pais devem...

    - Se você quiser continuar viva é melhor se calar! Bradou Hian enfurecido. - Primeiro você foi a Senhora do Clã Rooco apesar de não merecer, porém não é mais. Segundo como você nunca foi uma mãe para Everi não a considero minha sogra. Terceiro, Everi amava Violet tenho certeza de que desejaria sua Felicidade. E quarto, Violet é tudo o que meus pais queriam para mim. Ela me ama. Ama e cuida do nosso povo, é  leal, tem o maior coração que já vi e o mais importante me faz feliz. Você que não é digna nem de falar dela muito menos dos meus pais.

     Violet o olhava com os olhos brilhando, ele estava com as mãos serradas ao lado do corpo. ela podia sentir a raiva emanando dele, mas por ela, ele se controlava.

   -Não vim rir de você. Vim dizer que te perdoo! Eu sei o quanto foi difícil para você ter que mudar totalmente sua vida. Eu tenho pena de você, me viu como uma ameaça mesmo sendo inocente. Você poderia ter sido tão feliz, Comarc te amava. Deus te abençoou com uma filha, você tinha riquezas, mas mesmo com tudo isso você só olhava para o quê tinha deixado para trás. Deixou a raiva por seu marido crescer dando lugar a amargura. Eu não vou ser assim! Sou grata por cada pequena coisa e isso me faz feliz e me ajuda a viver com o que não tenho ou com o que não posso mudar. Vou te dar uma escolha. Primeiro você pode escolher voltar para viver com seus pais e ter sua vida de volta. Segundo você escolhe ir para outro lugar bem longe daqui, vou te fornecer a casa e alguns empregados e você pode levar o que quiser de sua ala. Só uma coisa você nunca mais poderá voltar aqui.

   - Que lindo discurso! Só não bato palmas porque minhas mãos estão amarradas. Onde está o perdão?Questionou deboxada. - E se eu não quiser nenhuma das duas opções... Quem você pensa que é pra decidir meu futuro.

    - Eu não penso, eu sou a Senhora do Clã Donald e como madrasta e guardian da pequena Hope sou a Senhora do clã Rooco até ela se casar, então sim eu posso decidir seu futuro! Eu te perdoo por tudo o que você me fez. Porém isso não significa que eu tenho que conviver com você. Estou te dando a chance de recomeçar e espero do fundo do meu coração que você aceite e mude de vida, busque forças em conhecer a Deus e peça o perdão dele e se perdoe também. Agora com relação à última pergunta se não escolher uma das opções vou deixar o seu destino nas mãos do nosso chefe da guarda e por ver você ai amarrada acho que ele não gosta muito de você ou do que você fez. Ela fez uma pausa dando tempo a Maísa para processar o que ela tinha dito e esta agora a olhava com receio e algo que não estava claro, seria reconhecimento...

    - Enfim estamos esperando qual vai ser sua escolha? Hian perfuntou impaciente.

    -Muito bem, vou voltar para a casa de meus pais e ter minha vida agitada e glamorosa de novo e esquecer esse fim de mundo e todos vocês!

     - Estarei orando por você. Declarou Violet. E enquanto falava ela viu Hian acenar para Kyle que se manteve a porta o tempo todo. Ele saiu e voltou com dois soldados que desamarraram Maísa e a acompanharam para arrumar tudo para sua partida, Hian a queria fora da propriedade aquele dia mesmo...

     Da janela de seu quarto Violet observava as carruagens saindo pelo portão. Maísa levava praticamente a ala inteira. Era triste ver alguém que morou por quase três décadas em um lugar ir embora e não ter ninguém para se despedir, ninguém que vá sentir sua falta. A verdadeira felicidade está em ter alguém com quem dividir a vida, não só alegrias, mas as tristezas também.

    Deus não fez o homem para estar só. Ele os fez para serem seus amigos e serem companheiros uns dos outros. Ainda assim, muitos valorizam mais as coisas que as pessoas e com suas atitudes acabam se isolando em uma existência vazia. Violet orava para que Maísa compreendesse isso antes que fosse tarde demais...

    
    Maísa estava com raiva, estava furiosa por ter sido expulsa do Castelo. Já fazia horas que se encontravam na carruagem em direção à casa de seus pais. Estava virada para a janela desde que passou pelos portões, porém não via a paisagem, presa na amargura e na raiva demais para apreciar algo tão simples. Não aceitava que aquelasinha tivesse decidido o seu futuro.

   Ela repassava a conversa em pensamentos e ficava cada vez mais irritada. Em meio ao caos que eram seus pensamentos uma frase se fixou. “ Ter sua vida de volta.”  E de repente o medo e a ansiedade começaram a sufocá-la, fazia quase trinta anos que ela saíra daquela vida. “E se eles não gostassem mais dela, e se eles não estivessem mais lá”. Pensava entrando em desespero.

   Até aquele momento na sua mente tudo iria continuar igual ao passado, como se todos estivessem parados esperando por ela, mas agora a realidade de que seus amigos, os admiradores, as pessoas de seu círculo que a admiravam e a valorizavam poderiam não estar esperando por ela a apavorava.

     Sua mente sobrecarregada começou a lhe pregar peças, onde ninguém a reconhecia ou ocasiões em que a ignoravam, riam dela. Em meio aos seus delírios ela surtou.” Não posso voltar! tenho que sair daqui! “ Ela começou a falar baixinho como um mantra e depois foi aumentando como sua angústia aumentou o tom de voz.

   O guarda que a acompanhava percebeu a mudança, a Senhora movia a cabeça de um lado para o outro, apertava as mãos tão forte sobre o colo que os dedos estavam ficando brancos.  Mexia os lábios, mas ele não conseguia entender o que falava. Derepente ela focou o olhar nele e o que ele viu o arrepiou, aquele era um olhar de alguém que estava fora de sua mente. Havia loucura, desespero e uma urgência que ele não entendia.

    Ela continuava falando sem parar e quando ele conseguiu compreender o que ela dizia não conseguiu impedi-la..
    
   
   

  
    O que acharam da decisão de Violet???
     Perdoar ñ é fácil!