eu estou cansada. então, não se assuste se eu, de repente sumir. ou quem sabe, ruir em meu próprio casulo feito de pedra. tenho estado casada do mundo, da vida e das pessoas. tenho sentido falta da velha eu, da garota que um dia fui, mas que hoje pouco me lembro dos seus gracejos. então, não se surpreenda caso um dia eu desistir, caso um dia eu não retornar, caso um dia... não se assuste.

dias nublados me deixam inspirada a escrever, e por isso, o arquivo do meu livro ganhou muitas palavras novas. mas, dias nublados também me deixam cinzenta. os respingos da garoa que embaça o visor dos meus óculos, me lembram que aqui dentro, também chove assim. e por isso algumas palavras surgem em um papel amarelado, porque não tenho mais a sensibilidade para chorar, nem sentir nada além do vácuo do meu coração. então as lágrimas jorram pelas letras, formando um redemoinho de emoções, que, ao serem transpassadas para o papel, não são tão insignificantes quanto se fossem ditas em voz alta.

me sinto anestesiada, a dor, ela sumiu, mas ainda falta algo. algo que me faz perder noites acordada, mas também me faz dormir por um dia inteiro. algo que me tira o ânimo, que leva meu apetite, mas me faz comer compulsivamente. algo que me deixa louca, acelera meu coração, me faz ruir em pedaços e querer arrancar meu coração com as unhas. existe uma coisa aqui dentro que me faz sentir estranha, um alienígena, ou quem sabe, alguém doente. me sinto doente.

não espero compaixão, não gosto de abraços, não quero ouvir palavras clichês como "vai ficar tudo bem". eu quero apenas... eu não sei. não sei o que quero, me sinto perdida. talvez eu precise de uma bússola, uma estrela guia. eu preciso de alguma coisa.

[15/09/22]