36.

"Sing it from the heart, sing it till you're nuts! Sing it out for the ones that'll hate your guts... sing it for the world, sing it for the world!"


Todos


Luíza acordou muito confortável. Os seus pés estavam quentinhos e parte do cabelo cobria todo o seu rosto. Ela suspirou e se virou para o lado, tendo a certeza de que encontraria o encosto do sofá. Mas, ao invés disso, deu de cara com um porta-retratos com uma foto de Eduardo usando um boné e segurando um taco Baseball. Ele sorria e deveria ter uns 12 anos.

- Mas que porra... - ela foi dizendo, enquanto se sentava na cama.

Luíza não precisou quebrar a cabeça para descobrir aonde estava; aquele era o já conhecido quarto de Eduardo. Mas a pergunta de um milhão de reais era: como ela havia ido parar ali?

A morena colocou os pés descalços no chão e andou pelo quarto com o vestido de festa enrolado na metade das pernas. Tinha a certeza de que deveria estar com a pior cara de ressaca de todos os tempos, mas também tinha a impressão de que estava sozinha no apartamento, então não se deu ao trabalho de se arrumar.

Ela foi até a bolsa jogada em cima da escrivaninha e pegou o celular de lá de dentro. Olhou o horário e percebeu que havia uma mensagem nova. Com medo de que fosse o pai querendo saber onde diabos ela havia passado a noite, ela demorou um pouco para ler. Espreguiçou-se e fuçou em volta, querendo saber se algo havia mudado no quarto do baterista, mas tudo parecia igual. Já sem ideias de como enrolar mais um pouco, ela se rendeu e abriu o celular.


Lu, venha até a Hands assim que acordar! É urgente! - Edu


Ah, meu Deus!, Luíza pensou, colocando o celular no decote do vestido e calçando os sapatos com rapidez. O que será que aconteceu com ele? Por que ele não veio para casa? Será que aconteceu alguma coisa?

A morena saiu em disparada pelo apartamento, sem nem fechar a porta de entrada atrás de si. O que ela não se deu conta foi que Eduardo havia colocado "Edu" no final da mensagem, o apelido que só ela usava e que ele a havia proibido de usar quando eles brigaram.

No hall, Phillip recolhia o jornal de cima do tapete e observou a menina passar correndo. Os seus olhos brilharam. Luíza era a sua primeira paixonite de pré-adolescente, mas ele sabia que não podia concorrer com alguém tão legal quanto Eduardo Neves.

- Phillip, o que está acontecendo? - ele ouviu o avô gritar de dentro da casa; ele sempre queria saber o que estava acontecendo quando ouvia barulhos da casa dos encapetados vizinhos adolescentes.

- Nada não, vovô - o garotinho entrou em casa e fechou a porta. O avô estava sentado em uma grande poltrona de couro; ele adorava aquela poltrona. - Trouxe as palavras cruzadas!

- Esses garotos... - o senhor colocou os óculos de leitura e pegou o jornal das mãos do neto. As suas mãos tremiam incontrolavelmente. - Esses garotos ainda vão me matar...

Phillip gargalhou e voltou a jogar vídeo-game.


XXX


Era um sonho colorido. Dinossauros e aves enormes dançavam em um salão de festas de um nobre rei da Idade Média. Raquel estava sentada no trono, com longas tranças vermelhas ao longo de seu corpo, observando a dança.

- Acho que a sra. T-rex escolheu a roupa errada para a ocasião - ela ouviu Ana resmungar ao seu lado. - Teremos que matá-la e servi-la no jantar. Eduardo! Por favor, faça as honrarias!

Eduardo Neves seria o mesmo Eduardo Neves da vida real, não fossem suas roupas de fidalgo e seu braço direito desproporcionalmente maior que o resto do corpo.

Ele arrastou o braço até a sra. T-rex que dançava com um dragão negro e, como se o machado estivesse em sua mão gigantesca o tempo todo, ele deu uma machadada no dinossauro, que caiu inconsciente no chão.

Gritos de horror começaram a se espalhar pelo salão e ao fundo um choro de bebê ecoava. O choro foi ficando cada vez mais alto, até que Raquel pôde ouvi-lo como se o bebê gritasse ao seu lado.

A ruiva abriu os olhos verdes e encontrou Camila enroscada a ela, chorando a plenos pulmões.

- Ah, puta que pariu - ela xingou, sentando-se na cama e pegando Camila no colo. - Desculpe a mamãe pelo palavrão, querida.

Camila encostou a cabeça no ombro de Raquel e parou de berrar, agora miando baixinho.

- Raquel! - a sra. Bandeira entrou no quarto exasperada e só se acalmou ao ver Camila mais calma e no colo da filha. - Que susto, filha! Pensei que você estivesse sufocando ela!

- Não, nós estamos bem - Raquel foi com Camila até o berço e a colocou lá dentro. A bebê já dormia novamente. Ela se virou para a mãe e suspirou, cansada. - Acho que eu vou tomar um banho. Você fica de olho nela?

- Fico - a sua mãe sorriu. Então olhou para o celular de Raquel em cima do criado-mudo. - Acho que você deveria dar uma olhada no celular antes disso.

Raquel olhou desconfiada para mãe e foi até o celular. Abriu a mensagem que estava piscando na tela e não conseguiu acreditar no que estava lendo.


Nós precisamos conversar, Quel. Sobre a Camila e tudo o mais. Me encontre na Hands assim que acordar... vamos discutir os termos legais e sobre as minhas obrigações a partir de hoje. - Fabrízio


Ela olhou para a mãe, que estava debruçada sobre o berço de Camila.

- Como você sabia disso?

A sra. Bandeira sorriu de um jeito misterioso e deu de ombros.

- Intuição de mãe - Raquel abriu a boca para dizer que a sua mãe estava escondendo algo dela quando a mulher completou. - E eu também ouvi o celular vibrando.

A ruiva fechou a boca. Sem dizer mais nada, pegou duas toalhas no armário e foi tomar banho.


XXX


O barulhinho irritante percorria todo o apartamento e nem era o seu toque de despertador.

Quem era o filho da puta que estava mandando mensagem para Ana tão cedo?

A loira se virou de lado e silenciou o aparelho. Fechou os olhos novamente e estava quase voltando ao lindo sonho que estava tendo com Daniel Azevedo quando ele voltou a tocar.

Ai, meu caralho, ela pensou, pegando o aparelho e abrindo as duas novas mensagens.


Ana, é o Daniel. Eu recebi a sua carta ontem. Olha, nós precisamos conversar sobre isso! Eu preciso esclarecer algumas coisas com você... me encontre na Hands assim que acordar! - Daniel


A outra mensagem era mais curta.


Como eu sei que você vai silenciar o celular, estou te mandando essa outra mensagem. Aparentemente Bruno sabe tudo sobre você. - Daniel


Ana sentiu a cabeça latejar.

Sabia que a carta talvez tivesse sido um pouco demais. Se Daniel estivesse interessado, com certeza agora não iria querer nada com a maluca que havia se declarado para ele.

Bom, pelo menos ela continuava virgem.

A loira se levantou e entrou no banheiro. Retirou o pijama e entrou no chuveiro, girando somente o registro de água quente. Afinal, ela iria precisar de muita água quente na cabeça para ter coragem de ir conversar com Daniel e receber o fora do ano.


XXX


Rebecca acordou sentindo-se um pouco zonza. Abriu os olhos lentamente e sentiu o ombro direito latejar muito.

- Ela acordou! - a morena pôde ouvir a voz do seu irmão mais velho exclamar. Logo, quatro pares de olhos a encaravam. - Rebecca, você está bem? Consegue me ouvir?

- Deixa ela acordar em paz, cara - o seu outro irmão resmungou, sem tirar os olhos aflitos dela.

- Calem a boca vocês dois - o pai ralhou, segurando a mão esquerda de Rebecca. - Querida, você consegue falar?

A mãe chorava baixinho do outro lado.

- O que aconteceu? - Rebecca perguntou, sentindo a ponta da língua formigar.

- Você tomou um tiro no ombro, querida, perdeu bastante sangue. Aquele seu amigo Bruno te salvou!

Aos poucos, a imagem de João levantando-se em meio a fumaça branca com a arma em mãos se materializou em sua mente. Ele olhava de modo assassino para ela. Rebecca, sem nem pensar duas vezes, pegou a placa de madeira que Bruno havia batido em João instantes antes e o acertou em cheio, mas não sem antes receber um tiro no ombro direito.\

Depois daquilo, as coisas se tornavam um pouco turvas em sua memória. Mas ela conseguia se lembrar de estar deitada no colo de Bruno.

- E onde está ele? - ela quis saber, arregalando os olhos. - Ele está bem?

- Sim, sim, ele está ótimo, sem nenhum arranhão! - o sr. Prado confirmou, dando tapinhas amigáveis na mão de Rebecca. - Ele teve que dar uma saída, mas pediu para que nós te avisássemos que ele quer te encontrar assim que você receber alta.

Rebecca apertou os olhos.

O que diabos poderia ser mais importante do que a melhor amiga baleada para ele ir embora daquele jeito?

- Hm... - ela sussurrou e ouviu o celular vibrar no criado-mudo ao lado. - Alguém pode, por favor, pegar o meu celular?

O irmão do meio pegou o celular e o entregou para Rebecca, que o pegou com a mão esquerda e leu uma mensagem de Bruno.


Me desculpe por não ficar aí com você. Eu precisava resolver alguns assuntos... se você estiver bem o suficiente para sair do hospital, será que poderia me encontrar na Hands? - Bruno


- Aí está a nossa sobrevivente! - Rebecca abaixou o celular e observou um médico de meia idade e cara de louco vir em sua direção. - Como você está se sentindo, Rebecca?

- Eu estou bem - a morena olhou para o curativo em seu ombro direito. - Eu só estou sentindo latejar, mas não estou com dor.

- Também, depois de tantos remédios! - o médico exclamou e pegou a prancheta na frente da cama de Rebecca. - Nós só precisamos fazer mais alguns exames e já podemos te dar alta.

- Já? Ela tomou um tiro! - a sra. Prado exclamou, limpando as lágrimas debaixo dos olhos.

- Eu estou legal, mãe - a morena sorriu. - De verdade. Foi só um arranhão!

- Na verdade, a bala atravessou o seu ombro - o médio comentou, ficando sério repentinamente. - Mas atravessou só a pele, foi totalmente superficial. Uma bala de "raspão", como diriam os leigos. Você deveria agradecer a péssima pontaria da pessoa que te deu um tiro.

E, rindo, o médico saiu do quarto.

- Foi ele que me operou? - Rebecca quis saber.

- Sim - o seu pai respondeu, também olhando para a porta.

- Então vamos agradecer ao destino por eu ainda estar viva - ela comentou, e todos no quarto caíram na risada.


XXX


Luíza chegou na esquina da Hands e ficou abismada com a quantidade de pessoas. O estúdio havia levantado uma grande tenda branca e a rua estava fechada para circulação de carros; somente pessoas poderiam entrar ali.

O sol já estava na metade do céu, brilhando e aquecendo a todos, pronto para começar a sua descida rumo ao começo da tarde. O calor dos raios aqueceu os ombros nus de Luíza e ela caminhou até a maior concentração de pessoas.

- Com a composição "Me Perdoe", temos a banda Mon Amour!

- Nossa, que título original! - ela pôde ouvir alguém gritar ao seu lado.

A morena estava com muita ressaca, então saiu do meio da multidão e sentou-se embaixo de uma grande árvore na calçada, já afastada da muvuca. Ela podia ouvir a música nitidamente, mas não enxergava a banda no palco.

Já devidamente instalada embaixo da sombra, ela mandou uma mensagem avisando a Eduardo que já estava na Hands e deu a sua localização. Fechou o celular e apoiou a cabeça no tronco da árvore, tomando um gole da água que havia comprado em uma loja de conveniência.

Após receber a mensagem de Eduardo, Luíza voltou para casa para trocar de roupa e tomar banho. Chegando em casa, ela tomou a bronca do século do seu pai, que estava puto por ela não ter dormido em casa e por ter encontrado Fabrízio Pontes no corredor pela manhã. A morena trancou-se no quarto após trocar meio dúzia de palavrões com o pai e tomou um banho demorado. Ao sair, ela secou os longos cabelos negros e maquiou-se caprichosamente. Colocou um vestido florido bem decotado, calçou as suas botas marrons de cano baixo e jogou uma jaqueta de couro preta por cima. Perfumou-se e saiu do quarto. O seu pai estava assistindo Tv na sala e a mãe falava ao telefone com alguma amiga. Como uma sombra, ela passou pelos dois e saiu de casa. Com muita sorte, o ônibus não demorou nem cinco minutos para chegar no ponto e, antes que os seus pais se dessem conta de que ela havia saído, Luíza já estava descendo no ponto de ônibus da rua da Hands.

- Luíza! - ela ouviu alguém berrar o seu nome e abriu os olhos sob os óculos escuros.

Ana veio correndo em sua direção e agachou-se ao seu lado.

A loira usava um shorts jeans de cintura alta e regata branca estampada com a bandeira britânica enfiada dentro dele. O seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo alto e todo desfiado. Ela também usava óculos escuros, mas eles não eram grandes como os de Luíza; eram de modelo retrô.

- Ana! Nossa, o que você está fazendo aqui? - Luíza perguntou, beijando a amiga no rosto.

- Daniel me mandou uma mensagem - a loira deu de ombros.

- É, o Eduardo também - a morena repetiu o gesto da amiga. - O que será que eles querem da gente?

- O Eduardo eu não sei, mas o Daniel provavelmente vai me entregar uma ordem de restrição para que eu não me aproxime mais dele - Ana resmungou, abrindo a mochila e retirando um baseado de dentro de um maço de cigarros. - Tá afim?

- Agora não - a morena foi sincera, olhando em volta. - Estou preocupada com o Eduardo. Ele não voltou para casa ontem.

- Ah, qual é... o que poderia acontecer com o Eduardo que não aconteceu até hoje? - Ana riu, acendendo o baseado. Ela adorava aqueles grandes eventos; ninguém estava nem aí se você estava fumando maconha no meio da rua. - Se nós formos pensar em todas as merdas que esses caras já fizeram, é praticamente um milagre eles ainda estarem vivos.

- Pensando por esse lado... - Luíza olhou para frente e avistou Rebecca perdida em meio a multidão.

Ela apertou os olhos e viu um grande curativo em seu ombro direito.

- Rebecca! Aqui, Becca! - ela berrou, assustando Ana, que deixou o beck caiu no chão.

Rebecca virou-se lentamente para aonde ouvira o seu nome e avistou Luíza e Ana sentadas no chão. Ela então caminhou até elas, sorrindo.

A morena também havia voltado para casa, mas não para o apartamento da mãe no qual morava praticamente sozinha, mas sim para a casa do pai e dos irmãos. Lá, ela tomou banho com a ajuda da mãe e depois comeu a lasanha que o seu pai havia feito.

Fazia tempo que ela não se sentia parte integral de uma família inteira, então aproveitou ao máximo aquele momento.

E então, depois de muito argumentar e negociar, a sua mãe permitiu que ela fosse se encontrar com Bruno; mas só um pouco, pois depois elas teriam que ir para a delegacia prestar queixas formais contra João.

Rebecca estava saindo para pegar um ônibus quando a mãe saiu correndo e gritando de dentro de casa; ela estava louca em pegar um ônibus naquelas condições? A sra. Prado então deu uma carona para a filha até o centro.

Chegando lá, a mãe de Rebecca quis morrer ao ver o tanto de pessoas que circulavam, e foi mais um parto para que ela deixasse Rebecca sair do carro.

Mas ali estava ela; cabelo lavado, corretivo por cima das marcas da mordaça, camiseta larga que caia sob o ombro direito para não entrar em contato com o curativo, shorts preto de alfaiataria e chinelos.

Os seus olhos azuis estavam escondidos pelo RayBan modelo aviador que ela usava.

A morena caminhou lentamente até as amigas. Luíza já estava de pé, berrando.

- O que diabos aconteceu com você?

Rebecca, rindo, deu um beijo no rosto de Luíza e um no rosto de Ana, que permaneceu sentada e fumando.

- Ah, é uma longa história... - a morena suspirou. - Vamos sentar que eu preciso estar confortável para contá-la.


XXX


- Eu te disse! Eu te disse que era perigoso sair por aí conversando com estranhos! Eu sabia que tinha alguma coisa muito errada com esse tal de João! - Luíza estava inconformada após ouvir toda a história da melhor amiga. - Nós deveríamos ter ido prestar queixa contra ele antes do baile! Meu Deus, eu sou a pior amiga de todos os tempos!

- Lu, por favor, cala a boca... - Rebecca revirou os olhos, dando um pega no baseado de Ana. - Já passou, foi só um tiro de raspão, eu já estou bem e é isso que importa! Agora o João está preso e nós vamos processá-lo. Ele não deve pegar mais do que 3 anos e sair em menos de seis meses, mas já é alguma coisa...

- Caramba... - Ana assoviou, cruzando as pernas como uma índia. - Olha, eu sabia que o Bruno tinha uma enorme consideração por você, mas depois dessa nós podemos dizer que ele te ama mais do que a si próprio. E que ele tem probleminhas mentais, também.

Rebecca sentiu o coração esquentar depois do comentário da loira.

- É, talvez isso possa ser verdade - ela sorriu, lembrando-se do discurso do melhor amigo no baile de formatura. - Mas nós ainda precisamos conversar direito. Não sei como as coisas vão ser daqui pra frente... ei! Olha a ruiva ali!

Os três rostos se viraram para Raquel, que se encontrava perdida no meio da multidão. Ela usava um shorts jeans escuro, uma segunda pele de alcinhas e uma camisa xadrez verde e preta. Nos pés, usava All Star de couro branco e um grande óculos Prada cobria metade do seu rosto.

A ruiva olhou para o lado e encontrou as três amigas. Sorriu para elas, mas viu que Luíza não sorria de volta; ela com certeza já estava sabendo que Raquel havia transado com Eduardo.

As fofocas se espalhavam muito rápido.

Ela caminhou até as três meninas e antes mesmo de cumprimentá-las começou a se explicar.

- Escuta, Luíza, eu sei que eu não tenho o direito, mas eu só queria pedir perdão...

Luíza levantou-se e, num ato totalmente inesperado, abraçou a ruiva.

- Não precisa me pedir perdão - ela murmurou, dando tapinhas amigáveis nela. - Eu já te perdoei.

Então, numa súbita explosão de sentimentos, Raquel caiu no choro. O mais sincero e sentido choro. Abraçada a Luíza, ela soluçava, e a morena tentava acalmá-la.

- Ah, meu Deus... - Ana resmungou, levantando-se. - Hoje é o dia nacional do "vamos nos abrir e contar os nossos sentimentos?"

- Cala a boca, Ana - Rebecca pediu, olhando sem entender para Luíza e Raquel.

Quando a ruiva se acalmou, as duas se separaram e ela secou as lágrimas da bochecha e pescoço.

- O que houve com o seu ombro? - ela quis saber quando percebeu o grande curativo em Rebecca.

- Eu tomei um tiro - a morena disse com casualidade, como se ela tomasse tiros todos os dias. - Por que você está chorando?

- Eu transei com o Eduardo e tenho uma filha do Fabrízio - a ruiva respondeu com a mesma casualidade.

As quatro ficaram em silêncio, sem saber o que dizer.

Foi Ana quem o quebrou.

- Eu escrevi uma carta para o Daniel dizendo que eu o amo desde... bom, desde sempre. E agora tenho quase certeza de que ele me chamou aqui para me dispensar.

- Eu dei em cima do Daniel na última balada que nós fomos, mas ele não quis me beijar quando olhou para você - Luíza disse sem olhar para Ana. - E eu também traia o Fabrízio com o Eduardo.

- Isso é notícia velha - Rebecca comentou, mordendo a ponta da unha do dedão. - Mas já que estamos brincando disso, eu nunca gostei do Daniel como mais que um amigo, embora eu tenha dito que sim. Eu só queria magoar o Bruno.

- E você realmente achou que nós acreditávamos em você? - foi a vez de Luíza ser sarcástica.

- Eu secretamente sempre te odiei - Ana olhou para Rebecca e sorriu. - Talvez eu ainda te odeie, vai saber.

- Eu tenho certeza que você não me odeia mais, afinal, o Daniel não quer mais saber de mim desde que você entrou de paraquedas na vida dele - Rebecca sorriu também.

- Eu estou genuinamente agradecida por ter vocês como amigas, por mais que nós quatro sejamos quatro cobras traiçoeiras que apunhalam umas as outras pelas costas - Raquel sussurrou, e os três rostos se viraram para ela. A ruiva chorava novamente. - Porque, afinal, se não fosse assim, nós não seríamos amigas de verdade.

As quatro caíram na risada e se abraçaram em conjunto - Luíza tomou cuidado para não encostar no ombro direito de Rebecca.

Foi ali, no meio de um festival de bandas alternativas, após o baile de formatura do Ensino Médio, que as quatro adolescentes se tornaram melhores amigas.

Elas ainda riam juntas quando a penúltima banda acabou de tocar e a última começou a ser anunciada.

- Agora, a nossa última banda do dia! E eles escreveram a música hoje! Com "Perigosamente Perto", a The Corleones!

As meninas se entreolharam e saíram correndo para chegar perto do palco.


XXX


Eduardo estava sentado atrás da bateria sem enxergar quase nada.

- Ei, Bruno! Sai da frente! - ele pediu, fazendo um gesto com a baqueta para que Bruno fosse para a direita.

Assim que a sua visão ficou livre de loiros queixudos, o baterista avistou Luíza no meio da multidão. Ela estava atrás de Rebecca e impedia que qualquer pessoa chegasse perto da amiga e de seu enorme curativo no ombro direito. Ana estava de um lado e Raquel do outro, e as três pareciam as seguranças particulares da morena, que olhava apaixonada para Bruno.

- Bom dia, São Paulo - Bruno desejou ao microfone. Eduardo não podia ver para onde ele olhava, mas do jeito que Rebecca sorria, ele com certeza estava sorrindo para ela. - Nosso guitarrista aqui compôs a música essa madrugada e nós acabamos de finalizá-la, então se ocorrerem erros, nós já nos desculpamos de antemão.

Eduardo não sabia para onde Luíza olhava, pois ela era a única que ainda usava óculos escuros.

Mas ele olhava para ela sem se importar em ser pego.

- Cada parte dessa música tem um significado especial para nós quatro - Daniel continuou, ajeitando a guitarra nos ombros. Ana olhava para os próprios pés -, e a mensagem principal é um pedido de desculpas para quatro garotas maravilhosas.

- Nós só queríamos que elas nos perdoassem por sermos tão imaturos e idiotas na maior parte do tempo - Fabrízio sorriu para Raquel, que tinha lágrimas nos olhos. - Então, nós esperamos que todos vocês gostem da música mas, mais do que isso, esperamos que essas quatro lindas garotas possam nos perdoar.

Eduardo contou três tempos na baqueta e a música começou.

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