29.
"And I feel like i'm living the worst day, over and over again..."
Fabrízio e Raquel
Depois que Fabrízio se viu batendo em Eduardo, as coisas saíram um pouco do seu controle.
Ainda perto da confusão, as pessoas tentaram segurá-lo, mas ele se afastou de todos e acabou entrando na área reservada - a famosa "dark room". Lá dentro, ele trombou em alguns casais e teve a ligeira impressão de ter ouvido a voz de Rebecca, mas continuou correndo sem direção. Quando chegou ao final do cômodo, o baixista bateu os olhos em uma porta escondida e a atravessou, saindo do salão. O vento quente de São Paulo chicoteou as áreas onde a sua pele estava exposta, mas ele somente se apoiou nos joelhos e respirou fundo.
Já conseguindo respirar, o baixista pescou o maço de cigarros do bolso interno do terno e acendeu um; ele ainda estava bêbado, com a sensação de que iria vomitar a qualquer momento. Fabrízio suava frio e teve de se apoiar na parede suja e úmida para não acabar caindo no meio fio da rua.
O moreno passou alguns minutos respirando fundo e começou a se sentir melhor... só para se lembrar do dia em que havia pedido Luíza em namoro.
Os dois estavam em uma festa no apartamento de Eduardo e Bruno. 50 jovens do Colégio Vértice lotavam o lugar, que acomodaria no máximo 10, e ele e Luíza estavam sozinhos na varanda, fumando um baseado. Ela estava descabelada e com a maquiagem borrada depois de uma noite tipicamente maluca. Ele a olhava com um sorriso idiota nos lábios. A morena estava apoiada no ferro batido do corrimão que evitava que eles caíssem lá para baixo, o corpo empinado para trás e uma expressão calma no rosto, como se estivesse perdida em pensamentos. O cabelo do baixista voava e ele tragava profundamente o beck.
Luíza era a garota mais linda do mundo para Fabrízio naquele momento.
Raquel não existia mais; e foram poucos os momentos durante o namoro de Fabrízio com Luíza em que ele não pensou na ex-namorada.
- No que você está pensando? - ele quis saber, retirando o cigarro das mãos da então somente amiga colorida.
Luíza virou-se para ele e sorriu, para logo em seguida passar a mão pelo rosto do baixista. Eles estavam ficando havia pouco mais de uma semana e ainda sentiam aquela coisa gostosa toda vez que olhavam um para o outro... o coração palpitava e eles tinham a sensação de que o peito iria explodir de tanta felicidade. Eles eram amigos que estavam transando e ligavam um para o outro todas as noites para desejar boa noite. E todo dia de manhã se cumprimentavam com um beijo e ficavam abraçados durante o intervalo conversando com seus amigos em comum.
Não tinha como ficar melhor que aquilo.
- Acho que no meu futuro... - a morena respondeu vagamente.
- Acha? - Fabrízio soltou a fumaça de maneira despreocupada logo após tragar.
- Sim - Luíza deu de ombros. - Eu sempre penso no meu futuro.
- E você me vê nele? - Fabrízio aproximou-se da amiga e entrelaçou a sua cintura. Depois, ele depositou um beijo em sua nuca descoberta e mordiscou a sua orelha, o que fez com que ela se arrepiasse.
- Eu te vejo nele. Vejo todos vocês nele. Seremos como uma grande família feliz. Eu, você, Daniel, Bruno, Eduardo e Rebecca.
- Então se seremos uma família, acho que você pode começar a namorar comigo - Fabrízio soltou, sem nem ao menos pensar no que estava propondo.
Ele queria aquilo. Não sabia o porquê e nem se os dois teriam futuro, só sabia que queria aquilo.
Luíza olhou surpresa para Fabrízio, mas depois deixou-se sorrir.
- Acho uma ótima ideia.
- O que os dois pombinhos estão conversando aí fora? - Eduardo abriu a janela que dava para a sacada e abraçou Fabrízio e Luíza pelos ombros.
Ele estava bêbado.
Se aquilo estivesse acontecendo duas semanas antes, Luíza se livraria do braço do baterista e iria encontrar Rebecca de cara feia, mas agora ela e Eduardo estavam ultrapassando a barreira do "conhecidos" para se tornarem amigos e Fabrízio estava feliz com aquilo. Sua mais nova namorada e seu melhor amigo se dando bem era tudo o que ele precisava no momento.
- Eu ofereceria o meu quarto, mas Bruno já está lá com a Carol! - o baterista continuou, sem perceber que aquele comentária havia sido um pouco desconfortável.
Afinal, Fabrízio e Luíza estavam começando o namoro e não tinham assim tanta intimidade com o resto dos amigos como casal para que eles já partissem do pressuposto que os dois estavam transando.
Claro que Rebecca sabia pois Luíza havia contado, e claro que o resto da banda sabia pois Fabrízio havia contado, mas a informação deveria ser tratada como sigilosa até que os dois se tornassem um casal desnecessário como Bruno e Carolina, que anunciavam quando iam transar.
- E a Rebecca? - Luíza perguntou apreensiva quando recebeu a informação de que Bruno havia sumido com a namorada.
A amiga sempre ficava mal e acabava...
- Ah, por aí com algum cara... - Eduardo respondeu o que Luíza temia.
Rebecca era sempre tão previsível quando se tratava de Bruno.
- Puta que pariu... - Luíza sussurrou.
Então a morena beijou de leve a boca de Fabrízio e se livrou do braço pesado de Eduardo, olhando para o baterista de relance com um sorriso amigável nos lábios.
E, ao que Fabrízio se recordava, aquele olhar não havia revelado nenhuma emoção que não apenas uma nova amizade.
Luíza saiu da sacada falando que precisava encontrar Rebecca e deixou os dois amigos sozinhos. Eles seguiram a morena com os olhos; Fabrízio percebeu que Eduardo parecia bem interessado na bunda da garota, mas resolveu deixar para lá - afinal, o amigo era conhecido como o tarado do grupo e estava bêbado. Além do mais, o baixista gostava de saber que a sua mais nova namorada era cobiçada.
Lembrando-se de que ela era agora sua namorada, Fabrízio pigarreou para contar a novidade.
- Pedi ela em namoro.
- Aaaah, moleque! - Eduardo exclamou, abraçando o amigo. Depois o soltou e ficou sério. - Espera. Ela aceitou, não é?
- Claro que sim, babaca!
- Então nós vamos bebemorar! - Eduardo abriu a porta de vidro e berrou para alguém que estava preparando as bebidas atrás do balcão da cozinha americana. - Robb, traz a garrafa de tequila porque o nosso Fabrízio aqui está na coleira!
Fabrízio se lembrava de muito pouco do resto daquela noite, mas lembrava-se que a fechou com chave de ouro na cama de Luíza. Entre risadas eles transaram, e ele gostava de voltar em pensamentos para aquela noite quando sentia que Luíza estava distante...
Agora ele entendia o porquê da distância, e se sentia um idiota. Sabia que naquele momento ela e Eduardo ainda não tinham nada, mas, mesmo assim, só a lembrança do olhar que eles trocaram antes de Luíza sair da sacada era como um soco no estômago.
Duas decepções em tão pouco tempo. Fabrízio era muito azarado mesmo...
XXX
- Meu amigo, eu vou te contar... nunca confie em ninguém. Em ninguém! - Fabrízio curvou-se sobre o bar, derrubando metade da bebida dele em cima do bartender que trabalhava distraído. Ele o olhou de cara feia. - Mas, principalmente, não confie em mulher. Mulher nenhuma! São todas umas... umas... vagabundas...
- Com quem você está falando, camarada? - o bartender quis saber, entregando um copo de cerveja para um cara que já estava esperando havia muito tempo na fila e começava a ficar impaciente.
Fabrízio olhou para cima e abriu a boca, para depois fechá-la. O bartender retirou a copo de bebida de Fabrízio e o colocou do outro lado do balcão.
- O que você está fazendo? - ele perguntou, tentando em vão alcançar a bebida. - Ei! Era minha! Eu paguei por ela!
- Você já bebeu demais, colega. Vá para casa, vá dormir, os seus pais devem estar preocupados... - o bartender respondeu com um forte sotaque pernambucano.
- Eu cuido dele - Fabrízio ouviu uma voz feminina atrás de si, mas não se deu ao trabalho de olhar.
Sentiu então alguém se sentar ao seu lado e apoiou a cabeça no bar, fechando os olhos.
Tudo estava rodando.
Rodando...
- Acho que você já bebeu demais - a voz feminina falou, e ele negou sem coordenação com a cabeça ainda apoiada no bar molhado e sujo. Metade do seu cabelo estava ensopado de álcool. - Bebeu sim. O que aconteceu? Quer me contar?
Fabrízio abriu os olhos para encontrar duas meninas na sua frente usando a mesma máscara. Ou seriam duas máscaras usando a mesma cabeça?
Ele não saberiam dizer.
Ela era ruiva.
Ruiva como Raquel.
- Raquel... - ele balbuciou.
- Quem é Raquel? - a menina quis saber, tirando o cabelo dos olhos de Fabrízio com delicadeza.
- Raquel Bandeira, a menina mais linda do universo... - ele respondeu, fazendo uma careta. - Ela me deixou... nós éramos namorados. Eu amava muito ela... muito...
- Como assim ela te deixou?
- Eu não sei, um dia ela estava aqui, no outro ela estava no México...
Fabrízio parecia uma criança, mas não tinha consciência daquilo.
- No México? Por que ela foi para o México? - a menina parecia curiosa demais para o gosto dele.
- Sei lá, sei lá! Acho que ela só quis me deixar... eu amava ela demais talvez... talvez ela tenha se sentido sufocada...
- Não acho que seja isso.
Fabrízio apertou os olhos, tentando parar de ver duas meninas na sua frente.
- Quem é você para achar alguma coisa?
- Por que você a amava? - a menina ignorou a pergunta mal educada de Fabrízio, sem tirar o sorriso carinhoso dos lábios.
Fabrízio tossiu e fechou os olhos. Então começou a viajar nas lembranças. Luíza se confundia com Raquel, e ele não sabia mais quem era quem.
- Ah, ela era muito linda... eu lembro... a primeira vez em que eu a vi... - Fabrízio apertou os olhos, tentando relembrar com nitidez. Afinal, tudo o que lhe restava era relembrar. - Ela entrou no colégio de trancinhas... quem usa trancinhas aos 12 anos, afinal? Nós já estávamos começando a pensar em sexo e ela usava trancinhas!
- Ela me parece adorável - a menina passou o polegar pela bochecha de Fabrízio, que não se importou com as carícias da estranha com quem desabafava.
- Ela estava acompanhada pelo Bruno, sempre o Bruno... parece que ele tem o dom de rastrear meninas bonitas! - Fabrízio sorriu com o próprio comentário, sentindo uma nostalgia gigantesca. - Os dois estavam rindo e eu cutuquei Eduardo do meu lado, aquele filho da puta... e eu... e eu perguntei: "Eduardo, quem é aquela ruiva?" e ele me respondeu "Ela se mudou esses dias para cá... me passa a mostarda?"
Fabrízio riu mais uma vez, a vontade de vomitar apoderando-se do seu estômago novamente.
Mas ele não parou de contar a história.
- Então os dois se aproximaram. Bruno apresentou ela para mim e sabe o que eu disse? Sabe?
- "Oi. Você sabia que eu toco baixo?"
Fabrízio levantou a cabeça do bar com rapidez, a água do cabelo pingando em sua roupa. O seu estômago deu uma volta e ele quase vomitou, tendo de fazer muita força para que o vômito não escapasse.
- Como você sabe disso? Quem é você?
Então a garota retirou a máscara e Raquel se materializou na sua frente, o cabelo curto em um penteado bonito.
- Sou eu, Fabrízio.
- Raquel - o baixista sussurrou. Então ele segurou as mãos da ruiva entre as suas. Os dois estavam muito próximos, e não existia mais Luíza nem Eduardo. Somente os dois ali. - Você gostou da música que eu cantei para você?
- Eu amei - Raquel franziu a testa e Fabrízio teve a impressão de que ela iria chorar. - Eu amo você. Eu amo tudo o que você faz.
Fabrízio sentiu um soco no estômago. Mas um soco bom dessa vez... apesar de todas as frustrações da sua noite de formatura, se ela acabasse com Raquel em seus braços tudo teria valido a pena.
- Eu também te amo, Quel... eu sempre te amei... - o baixista se curvou para beijar a ex-namorada, mas esta o impediu.
Delicadamente, Raquel empurrou Fabrízio para trás e focou os olhos alguns segundos no piercing em seu lábio inferior. Mas então voltou o foco da atenção para os olhos dele, que estavam verdes naquela noite.
- Fabrízio, eu preciso te contar uma coisa. Duas coisas, na verdade.
Fabrízio ficou mudo, esperando que ela continuasse. Mas alguma coisa lhe dizia que não eram boas notícias.
- Eu... bom, eu vou dizer de uma vez, se não vou perder a coragem.
Raquel estava pálida e trêmula, e Fabrízio de repente sentiu-se como se não quisesse ouvir o que ela tinha a dizer. Mas mesmo com aquele sentimento, ele a incentivou com a cabeça.
- Estou ouvindo - disse com a voz embolada.
A ruiva respirou fundo e mandou de uma só vez.
- Fabrízio, eu fui para o México porque fiquei grávida. Grávida de você.
Soco no estômago. E não um bom dessa vez.
É engraçado como a primeira coisa que as pessoas pensam quando recebem uma notícia bombástica é no óbvio. E com Fabrízio não foi diferente, pois a primeira coisa que ele pensou ao receber a notícia foi: eu sou pai?
- Onde... cadê... o que... - o baixista tentou organizar os pensamentos, mas fez um esforço ridículo e não conseguiu falar nada que fizesse algum sentido.
- Espera, ainda não acabou - Raquel pediu, e Fabrízio observou uma lágrima escorrer pelo rosto da ruiva, levando um pouco de rímel preto com ela. - Eu voltei para te contar, mas não estava conseguindo, e você queria voltar comigo, e eu estava ficando maluca... então nós brigamos aquele dia na sala de aula e eu troquei de sala. Eu cai ao lado do Eduardo, e nós voltamos juntos para casa...
Então Eduardo sabe que eu sou pai? É isso o que ela vai me contar?
- ...e então eu fui até o apartamento dele, sem nenhuma segunda intenção, e...
Então ela viu Eduardo com Luíza? É isso o que ela vai me contar?
- ...e Bruno não estava lá...
Então ela acha que Bruno estava com Rebecca? É isso o que ela vai me contar?
- ...e eu acabei transando com o Eduardo.
Fabrízio gelou inteiro. Todos os poros do seu corpo congelaram.
- Eu estava tão brava, Fabrízio! Eu só queria me vingar, eu não pensei, não significou nada, eu não queria... Fabrízio? Fabrízio, diz alguma coisa!
A voz de Raquel estava distante... distante... o estômago do baixista parecia ter se transformado em uma uva passa e todo o conteúdo antes depositado em seu tamanho normal estava vindo com força por seu esôfago, boca e...
Colo de Raquel.
- Puta que pariu! - a ruiva exclamou, levantando-se e deixando parte do conteúdo do estômago de Fabrízio cair no chão.
Todos em volta olhavam e riam, e o bartender estendeu um pano sujo para Raquel, que esfregou o vestido com nojo.
- Onde está? - Fabrízio berrou, levantando-se com pressa. - Onde está o meu filho? Eu quero ver ele agora! Onde ele está?
- Eu não vou te levar para ver ninguém! Não nesse estado! - Raquel apontou para Fabrízio, que cambaleava de um lado para o outro sem perceber.
- Mas é o meu direito! Eu tenho o direito de ver o meu filho! Eu tenho... você transou com o Eduardo! O Eduardo que transou com a minha namorada, também transou com a minha ex-namorada! Você... eu...
As pessoas em volta não riam mais; elas agora cochichavam.
Raquel tem um filho do Fabrízio?
Ela transou com o Eduardo? Ah, meu Deus, mas que vaca!
Ele teve um filho aos 15 anos?
Coitada dessa criança!
Tudo o que Raquel menos queria, tudo aquilo com o que ela tinha pesadelos constantemente, estava acontecendo. Julgada, ridicularizada, odiada... tudo.
As lágrimas que desciam como uma cachoeira impediam que ela visse as feições de Fabrízio, mas ela desconfiava que não eram das melhores.
Os cochichos estavam cada vez mais alto e ela começou a tremer. Esfregava o pano sujo com força pelo vestido vomitado, ouvindo a voz distante de Fabrízio balbuciar que queria ver o seu filho.
Então ela jogou o pano sujo no chão e não aguentou mais, berrando para que todos ouvissem.
- Vão para o inferno, seus filhos da puta!
Todos pararam de falar, boquiabertos. Ela então apontou para Fabrízio, falando com a voz chorosa ao invés de gritada.
- E você não precisa mais falar comigo. Não precisa mais olhar na minha cara. Você tem esse direito, e eu mereço isso.
A ruiva saiu correndo em direção a saída, deixando todos com a satisfação de ter visto o barraco mais espetacular da noite.
Deixando Fabrízio com lágrimas nos olhos.
Mais uma vez.
XXX
- Fabrízio! - Daniel avistou o baixista quando saia do banheiro. Ele o puxou pelo braço e Fabrízio limpou o rosto com as costas da mão, virando-se para o lado para impedir que Daniel o visse chorando. - Qual é, Fabrízio, te procurei pela festa inteira!
- É, já achou. Fala logo, o que você quer?
- Você 'tá melhor?
- Não, não estou melhor, Daniel - Fabrízio encarou o amigo com os olhos vermelhos. - Eu pareço melhor para você? Porque agora, além de tudo, eu descobri que sou pai!
Daniel arregalou os olhos. Então Raquel havia contado. Será que ela também havia contado que...
- Eu sei de tudo agora, de tudo... sei também que o Eduardo furou os meus olhos duas vezes, e que você...
- Sim, eu participei do nascimento do seu filho, Fabrízio, mas foi uma coincidência do destino, eu nem te conhecia naquela época, e eu...
- Você o quê?
Ih... ela não contou isso...
- Não era isso o que você ia dizer? Que sabe que eu conheci a Raquel no dia do parto?
- Não! Eu ia dizer que sabia que você sabia do Eduardo e da Luíza! O que mais falta eu saber hoje à noite? Que você come a minha mãe?
Bem que eu queria..., Daniel pensou em dizer, mas achou melhor não brincar naquele momento.
- Calma, cara, deixa eu te explicar! - Fabrízio então ficou impassível, olhando para Daniel com cara de psicótico.
Ele estava tão anestesiado pelas notícias da noite que nem reação tinha mais.
Daniel respirou fundo e começou a contar a história.
- Eu conheci a Raquel no Hospital São Luiz. Ela estava esperando para fazer a cesariana e eu estava acompanhando o meu avô em um transplante de rim. Eu vi que ela estava sozinha, sem ninguém, nem os pais, nem o marido ou namorado, sem uma amiga, e ela era tão novinha... nova que nem eu! Então fui conversar com ela, porque eu havia fumado muito e estava amoroso, você sabe como eu fico amoroso quando fumo...
- Continua, Daniel - Fabrízio pediu, fechando as duas mãos em punho.
- Bom, então ela contou toda a história! Contou que havia ficado grávida do namorado, mas que não queria estragar a vida dele, porque algum dia ele seria um grande músico, e ele só tinha 15 anos, assim como ela. Contou que os pais não sabiam que ela estava grávida, só os avós, e que ela havia contado para todos do colégio que estava indo fazer um intercâmbio no México, mas que, na verdade, deixaria a criança com os avós e moraria um ano com uma tia no interior de Goiás. Então ela começou a chorar, nós nos abraçamos e ela disse que estava muito assustada, que os avós estavam cobrindo aquela mentira para os pais, mas que ela estava sozinha no hospital sem amigos e com muito medo, e eu, já bem louco e um pouco tocado, disse que diria aos médicos que era o seu namorado e participaria do parto para segurar a sua mão. E foi isso o que eu fiz.
- E por que caralhos você nunca me contou essa história?
Fabrízio não conseguia acreditar no que os seus ouvidos estavam captando. Aquilo não podia ser verdade.
- Ah, cara... ela me pediu para não contar! Ela implorou! Depois que ela foi para Goiás, eu entrei no colégio Vértice - mais uma artimanha do destino - e contei a ela por e-mail que havia entrado em uma banda com um cara chamado Fabrízio... só então eu soube que você era o pai, mas eu não podia fazer nada, eu não podia trair a confiança dela assim! Ela é minha melhor amiga!
- Ah, cara... - Fabrízio sentou-se no chão no meio da balada, enfiando a cabeça entre as mãos. Daniel ficou em pé ao seu lado, sem saber o que fazer. - 'Tá tudo errado, 'tá tudo errado...
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