28.

"Don't trust a hoe, never trust a hoe!"


Eduardo e Luíza


Mel já havia ido embora, assim como Lisbela, Ana Julia e Anna Carla, mas nenhuma delas havia despertado qualquer coisa além de um desejo passageiro em Eduardo.

E então lá estava ele, parado com cara de idiota no meio do salão, observando Luíza pegar uma bala da mão de uma amiga e a engolir inteira. Ela já estava bem chapada, e aquilo completaria o seu quadro de loucura completa.

Luíza, Luíza, Luíza... só Eduardo sabia o quanto ele queria tomá-la nos braços e beijá-la pelo resto da noite, levá-la para casa e passar o resto do final de semana no quarto dele, fazendo em todas as posições e curtindo a melhor fase de suas vidas. Juntos.

Ali perto, Fabrízio pegava uma cerveja no bar e percebeu seu melhor amigo parado a poucos metros. Abriu a boca para gritar seu nome, mas a fechou no meio do caminho. Como um sexto sentido, ele resolveu ficar quieto e observá-lo. Eduardo parecia prestes a chorar.

O baixista então seguiu a direção do olhar do amigo e encontrou Luíza dançando com algumas amigas. A sua ex-namorada parecia linda, e ele só a ficou observando por alguns instantes. Mas então algo em sua cabeça estalou e ele deixou a cerveja em cima do bar e correu até Eduardo. O baterista foi pego de surpresa pelo amigo, que o segurou pelo cotovelo.

- Ah, Fabrízio! - ele exclamou, virando-se completamente para ele. - Caramba, onde você se meteu? Te procurei a noite inteira! Peguei umas meninas que você não tem ideia...

- Eduardo, o que 'tá rolando?

- Ah, não sei, acho que eu estou mais bonito do que o normal hoje...

- Não, não isso... entre você e a Luíza.

Eduardo engasgou e tossiu algumas vezes. Deu um passo para trás e se soltou de Fabrízio.

- C-como assim?

- Eu já venho reparando há algum tempo... - Fabrízio olhou de relance para Luíza e Eduardo fez o mesmo. - Você está apaixonado por ela ou algo do tipo?

- Fabrízio, não... você tá viajando cara! Por que acha isso? - Eduardo precisava fumar.

Naquele instante.

- Eduardo, cara, eu sou o seu melhor amigo. Só me fala, não tem problema...

- Caralho cara, não, eu não estou afim da Luíza! Eu nem estava olhando para ela...

- Eu falei alguma coisa que você estava?

Eduardo olhou de novo para Luíza.

Ele estava fodido. Fodido, fodido, fodido. Havia se entregado.

- Cara, não...

- Ah, Eduardo, vai se foder... - Fabrízio exclamou e foi embora, sumindo entre as pessoas.

Estou a salvo, o baterista pensou, soltando o ar.

Mas ele não estava. Na verdade, toda a merda da noite estava apenas começando.


XXX


Luíza estava em outro mundo, viajando, viajando, viajando... até que sentiu alguém segurar o seu braço.

Virou-se bruscamente e deu de cara com Fabrízio.

- Fabs! - ela exclamou, abraçando o ex-namorado. - Bela música você cantou lá em cima. Para quem foi?

- Depois eu te conto, Lau. Vem comigo agora, eu preciso esclarecer algumas coisas - Fabrízio disse sério, puxando a morena da pista de dança.

E ela foi atrás despreocupada, sem nem imaginar o que estava por vir.


XXX


Eduardo assistiu a tudo de camarote. Fabrízio pegando Luíza pelo braço, o abraço, os dois trocando meia dúzia de palavras e Fabrízio rebocando-a para perto do baterista.

Ele estava bêbado e já havia fumado haxixe com Bruno antes do amigo desaparecer.

Estava encurralado. Não tinha para onde fugir.

- Pronto, Eduardo - Fabrízio puxou Luíza para mais perto e a morena arregalou os olhos. - Agora vocês dois vão me contar o que está acontecendo.

E antes que o baterista pudesse contornar a situação, Luíza caiu no mais profundo choro, repetindo sem parar.

- Ah Fabrízio, Fabrízio... me desculpe! Por favor, nós não fizemos por mal!

- Luíza, cala boca... - Eduardo sibilou, mas Fabrízio passou por cima da sua voz, quase gritando.

- Não fizeram o que por mal? O que vocês estão escondendo de mim?

Luíza parou de chorar e Eduardo olhou para os pés.

- Caralho, falem de uma vez o que está rolando! - o baixista berrou, assustando os dois com a súbita agressividade; ele era sempre um cara muito calmo.

- Eu e o Eduardo ficamos enquanto eu e você ainda estávamos namorando! - Luíza berrou de volta, voltando a chorar. Agora ela olhava para Eduardo. - Me desculpa, eu não aguento mais guardar isso, eu precisava... eu precisava contar... não dava mais, Eduardo... não dava mais...

Fabrízio abriu a boca. Depois respirou fundo algumas vezes e perguntou, com um pouco mais de calma.

- Quantas vezes?

Nenhum dos dois o respondeu.

- Quantas vezes, porra?

Agora todos em volta olhavam para a briga e cochichavam. Ana, Daniel e Raquel se aproximaram do grupo.

- Fabrízio, por favor... - Luíza tentou, mas Fabrízio mostrou-se impassível.

- Quantas. Vezes?

- Durante um mês - Eduardo respondeu, sem emoção.

- Você comeu a minha namorada durante um mês, Eduardo, é isso? - o baixista aproximou-se do amigo, com um ar de lunático preso aos olhos.

Daniel aproximou-se dos dois, preocupado.

- Fabrízio, calma cara, você tá bêbado... - ele tentou puxá-lo para trás, mas Fabrízio desvencilhou-se do guitarrista e apontou o dedo na cara dele.

- Você sabia disso, Daniel? Sabia?

- Todos nós sabíamos, Fabrízio - Ana entrou no meio, apontando para Eduardo e Luíza. - Sabíamos que eles estavam juntos, mas não queríamos magoar você. Queríamos que os dois te contassem... não seria certo se nós te contássemos...

- Fica fora disso, Ana - Eduardo rosnou.

- Então todo mundo sabia, menos eu? - a voz de Fabrízio estava tremendo. Ele olhou um por um, ofegante. - Todo mundo sabia, menos eu? O corno foi o último a saber, é isso?

- Fabrízio, cara, por favor, eu ia te contar, nós íamos te contar, mas nós entramos em provas, nós não... - Eduardo tentou, mas Fabrízio virou-se para Luíza.

- Sua vagabunda - ele disse simplesmente, sem emoções. - Queria saber quem era melhor na cama, não é? Quem mais você pegou? O Daniel, o Bruno, a porra da banda inteira?

- Não fala assim com ela cara, ela cometeu um erro... - Daniel tentou apaziguar as coisas, mas a bomba já havia explodido, e não havia mais nada a ser fazer.

Luíza ficou quieta, ouvindo tudo com lágrimas escorrendo pelo rosto e sem esboçar qualquer reação. O que mais temia estava acontecendo diante dos seus olhos; ela seria julgada e mal falada pelo resto da vida. Nada do que havia feito para impedir havia dado certo.

- Cala a boca, Pontes - Eduardo sibilou, trincando o maxilar ao ouvir o amigo falar daquele jeito com Luíza. - Cala a porra dessa boca!

- Ah, agora você está se sentindo ofendido? Ofendi o seu amor? Agora me diz uma coisa: ela não é uma vagabunda? Ela deu para você enquanto estava comigo. Que eu saiba, essa é a definição exata de uma vaca completa.

E então o que veio a seguir aconteceu muito rápido. Eduardo partiu para cima de Fabrízio, mas este já estava preparado, e, com uma rapidez surpreendente, desferiu um soco certeiro no nariz do baterista, que caiu para trás num baque surdo.

Luíza gritou, Ana curvou-se para ajudar Eduardo, Daniel tentou segurar Fabrízio e Raquel colocou as duas mãos na boca. As pessoas em volta emudeceram e Fabrízio saiu correndo, trombando em todo mundo que se colocava em seu caminho, inclusive em Raquel.

A partir daí, tudo virou um pandemônio. Luíza e Ana ajudaram Eduardo a se levantar e o carregaram para fora e Daniel foi atrás de Fabrízio, enquanto as pessoas começaram a fofocar sobre a briga, e ela logo já era o tópico mais comentado da festa.

Somente Raquel ficou parada no mesmo lugar, perplexa e sem saber o que fazer.


XXX


- Ana, entra lá e acha alguma coisa para a gente limpar o sangue dele - Luíza pediu assim que as duas colocaram Eduardo sentado na calçada.

O baterista pegou o maço de cigarros de dentro da calça e acendeu um, trêmulo. Não se importava com o sangue que pingava do nariz; ele só precisava fumar um cigarro.

Sem suas respostas irônicas de sempre, Ana obedeceu e voltou para o salão, deixando os dois sozinhos do lado de fora, com alguns bêbados vomitando em volta e alguns seguranças com cara de mau.

Luíza suspirou e também pegou um cigarro do maço de Eduardo, sem pronunciar uma palavra. Pegou o isqueiro do chão e o acendeu. Tragou profundamente e soltou a fumaça. Então puxou a cabeça de Eduardo para si e ele deitou-se no colo da menina, fechando os olhos. O nariz sangrava e pingava no terno dele.

Os dois ficaram do lado de fora sem dizer nada, fumando e perdidos cada um em seus pensamentos.

Eles não precisavam dizer nada.

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