18.

"Meninas são tão mulheres, seus truques e confusões..."


Eduardo e Luíza


- Eu não acredito que você está me dizendo isso, depois de tudo que eu fiz por você - Eduardo balbuciou.

Ele não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Luíza não podia estar falando sério.

- Edu, eu... - ela suspirou, deixando os ombros caírem.

- Não me chame mais assim - ele pediu, sério. - Não quero mais que você me chame assim.

- Você não entende! - ela abriu os braços, irritada. - Você não sabe como foi enganar Fabrízio por todo esse tempo! Eu me sentia suja! Ele nunca foi ruim para mim, ele sempre fez eu me sentir amada e especial.

- Mas ele não era o suficiente. Você tinha que transar com o melhor amigo dele também, não é, Luíza? - Eduardo estava disposto a magoá-la como ela o havia magoado. - Você tinha que abrir as pernas para o melhor amigo do seu namorado porque você estava entediada! Porque um cara só não proporcionava a emoção que você queria sentir. Você não estava satisfeita em fazer só um de idiota. Teve que fazer o melhor amigo dele de idiota também!

- Não fale assim comigo... - Luíza pediu com a voz trêmula. As lágrimas voltaram aos olhos, dessa vez com mais intensidade, e as suas pálpebras ardiam. - Por favor, não fale assim comigo.

- Por que eu deveria te tratar bem, se você me tratou feito lixo? - Eduardo quis saber, sentindo-se mal por ter falado daquele jeito com Luíza.

Ela parecia tão frágil naquele momento...

- Eu só quero ficar sozinha até eu me decidir. É só isso - Luíza explicou, abaixando os olhos.

Decidir? Ela ainda tinha dúvidas?

Eduardo só podia estar sonhando. Aquela era a única explicação para o que estava acontecendo ali. Depois de tudo o que ele fez, depois de passar por cima de uma de suas amizades mais antigas para poder ficar com Luíza, ela ainda tinha que pensar no assunto?

- Beleza, eu vou deixar você pensar - ele disse, abrindo os braços em rendição. - Pode pensar bastante, passe o resto do ano pensando! E sabe por que eu vou deixar você pensar tanto?

Luíza não respondeu, ainda encarando os pés.

- Porque a sua decisão não me importa mais. Quem não quer mais nada agora sou eu.

Eduardo deu as costas para Luíza e respirou fundo.

- Edu, eu... - ela ainda tentou falar, mas Eduardo a impediu.

- Já falei para não usar mais esse apelido comigo.

O baterista caminhou lentamente até o carro e o abriu com a chave. Mas, antes de ir embora, ele ainda se virou, só para observar Luíza na mesma posição. Ele ainda conseguiu ver uma lágrima rolar pela bochecha da ex-amante e cair no chão.

- Eu nunca fiquei tão decepcionado na minha vida inteira - ele disse, antes de entrar no carro e arrancar pela rua.


XXX


Eduardo chegou em casa muito rápido; dirigiu feito um louco, costurou a tudo e a todos e estacionou de qualquer jeito na rua. Ele subiu as escadas correndo e abriu a porta fazendo barulho. Ele não entedia toda a pressa que estava sentindo, mas sabia que queria chegar logo em casa.

Talvez fosse porque os homens tinham regras entre si, e ele gostava de segui-las à risca. A regra do momento era: homens só podiam chorar em dois locais, no chuveiro e na cama.

Mas coisas mais importantes o impediram de deitar na cama e chorar como uma garotinha com cólicas. Coisas como o seu melhor amigo e guitarrista da The Corleone sentado no sofá olhando para o nada, parecendo um abacate podre.

- Puta que pariu! - Eduardo exclamou, atônito. - O que fizeram com a sua cara?

- Tá tão ruim assim? - Bruno perguntou, ainda olhando para algum ponto fixo.

- Não tá ruim, tá escroto! - Eduardo respondeu. - Caralho, eu estou com ânsia de vômito de olhar para você! Quem fez isso, um orangotango solto pela cidade?

- O novo namorado da Rebecca - Bruno deu de ombros.

- O que você fez para a pobre coitada dessa vez? - Eduardo foi até a geladeira e voltou com duas garrafas de cerveja. Enquanto estivesse preocupado com Bruno, não pensaria em Luíza. Tinha que admitir que a cara toda estourada do amigo veio bem a calhar! - Você tem que parar de tratar a única garota que te ama de verdade como lixo Bruno, isso não é uma brincad...

- Eu beijei ela - Bruno respondeu, finalmente olhando para Eduardo. Ele parou de falar, interessado na história. - Eu beijei a Rebecca.

- Você não beija ela todos os dias? - o baterista quis saber, tirando o maço de cigarros do bolso e acendendo um.

Bruno pegou um dos cigarros e pediu o isqueiro do amigo. Eduardo não recusou, mesmo sabendo que Bruno havia parado de fumar.

- Eu beijei de verdade, com língua e o caralho... - Bruno deu de ombros, tragando profundamente. - Eu estava bêbado, fiquei alucinado, bati na porta dela, beijei ela e depois tomei a surra do século.

- Porra, Bruno, você tá zicado - Eduardo puxou o cinzeiro da mesa de centro para mais perto e bateu as cinzas do cigarro nele. - Primeiro a Carol te troca por uma mina, depois a Rebecca arranja um namorado novo.

- É, eu sei, você não precisa me lembrar disso - Bruno comentou, sarcástico. - Eu não vou conseguir escrever uma música que fale de perdão quando quem mais tem que ouvir isso sou eu.

Eduardo engoliu a seco. Havia se esquecido completamente da competição, mas se tinha alguém ali apto para escrever uma música sobre perdão era ele mesmo.

Será que Fabrízio algum dia o perdoaria?

- Quem precisa ouvir desculpas é a coitada da Becca que te aguentou a vida inteira só para ser trocada todas as vezes por algo que te "agrade" mais - Bruno tomou um tapa com luva de pelica de Eduardo e não quis responder.

Ao invés disso, mudou de assunto.

- Aonde você estava? - ele perguntou. - Sumiu depois da prova...

- Eu fui procurar a Luíza - o baterista respondeu sem pensar.

Depois se ligou da burrada que havia feito e olhou com o canto dos olhos para Bruno. Ele não parecia ter se abalado, mas mostrava-se curioso.

- O que você queria com a Luíza? - o loiro quis saber, e Eduardo suspirou.

- Ah, merda... - ele disse, afundando-se no sofá. - Se eu vou mesmo te contar isso, precisamos de alguma coisa mais forte que cerveja e cigarro.


XXX


Eduardo e Bruno estavam sentados na mesa da cozinha, viajando. Haviam fumado um baseado cada um do estoque de Eduardo. Ele não costumava dividir a sua erva, pois era das melhores, mas Bruno talvez estivesse precisando mais do que ele.

Afinal, para o que mais serviam os amigos se não dividir um baseado?

- Acho que você já pode me contar o que está rolando - Bruno comentou, dando um gole na quinta garrafa de cerveja.

Mal os sintomas do whisky haviam passado e lá estava ele, embebedando-se de novo.

Mulheres...

- Eu e a Luíza estamos juntos há mais ou menos um mês - Eduardo contou, acendendo outro cigarro. - Você deve estar me achando um filho da puta agora, e provavelmente está certo em achar.

- Estou - Bruno confirmou, soltando uma risada logo em seguida. - Mas que se foda. Eu também sou um grandessíssimo filho da puta.

- Ela me deixa louco! - Eduardo exclamou. - O jeito que ela anda, o jeito que ela coloca o cabelo atrás da orelha... eu não queria ficar com ela! Nossa, só eu sei o quanto eu lutei contra...

- Cara, com aquele par de peitos, nem eu aguentaria por muito tempo... - Bruno riu novamente.

Bruno sempre fora mais fraco que os outros para as drogas.

- O jeito que ela diz o meu nome! Meu Deus, o jeito que ela abre a boca para falar "Edu" me faz querer arrancar as roupas dela! - Eduardo sentia um alívio imenso em contar aquilo para alguém depois de quase um mês escondendo.

Bruno começou a lembrar de como Rebecca falava o seu nome. Ela sempre fazia um biquinho durante o "o" de "Bruno", e depois os seus lábios se curvavam em um sorrisinho malicioso.

- Essas meninas... - ele murmurou, apontando para Eduardo. - Essas meninas vão acabar matando a gente.

- Vão - Eduardo concordou. - Se já não mataram.

Os dois ficaram em silêncio, encarando a mesa. Bruno arregalava e cerrava os olhos sem parar, mas nem percebia. O cigarro de Eduardo estava apagado no cinzeiro, mas ele não deu importância.

- O que você vai fazer em relação ao Fabrízio? - o silêncio foi cortada por Bruno, que levantou o rosto.

- Não faço a mínima ideia, cara - Eduardo respondeu, dando de ombros. - A mínima ideia.


XXX


- Alô? - Raquel atendeu o celular assim que terminou de assoar o nariz. A sua mãe havia acabado de deixá-la sozinha, e ela só queria morrer. Estava em seu quarto, chorando baixinho, mas não queria que ninguém soubesse daquilo, nem mesmo o anônimo que estava ligando.

No fundo, ela tinha esperanças de que fosse Fabrízio ligando. Na verdade, ele queria desesperadamente que fosse Fabrízio ligando.

- Raquel? - não era Fabrízio, mas sim a última pessoa com quem ela gostaria de falar no momento.

Era Luíza.

- Luíza? - ela perguntou, incrédula, esquecendo-se de que há dois minutos atrás estava chorando como uma noiva deixada no altar.

- Eu posso conversar com você? - Luíza perguntou, e Raquel começou a ficar apreensiva.

Meu Deus, ela sabe!, a ruiva pensou, sentindo o coração disparar dentro do peito. Ela sabe que eu beijei o Fabrízio!

Mas como ela poderia saber? Será que Fabrízio seria filho da puta a esse ponto?

Não podia ser. Fabrízio não era do tipo fofoqueiro. Ele podia ser tudo, menos fofoqueiro. Além disso, o que contar sobre o beijo para Luíza acrescentaria em sua vida? Ele só sairia perdendo; seria odiado por Raquel e por Luíza.

- Pode, claro - foi tudo o que ela respondeu.

- Me desculpe por estar ligando tão tarde - Luíza parecia receosa. Mais do que isso, parecia estar falando contra a sua própria vontade. - Sei que nós não somos assim tão próximas, mas eu precisava falar com alguém, e eu e a Rebecca brigamos, então eu só pensei que, sei lá, nós pudéssemos conversar... eu não tenho muitas amigas mulheres, sabe...

- Pode falar, Lu - a ruiva incentivou, começando a ficar curiosa.

O seu coração não batia mais tão rápido; ela confiava demais em Fabrízio e não acreditava que ele pudesse ter feito uma escrotice daquelas.

- Bom, eu... - a morena respirou fundo do outro lado da linha. - Olha, por favor, não me julgue antes de ouvir toda a história.

- Pode ficar tranquila.

E então Luíza contou. Mas ela não contou tudo; omitiu o fato de que era perdidamente apaixonada por Eduardo. Fez parecer que ela só ficava com ele porque estava entediada. Ela não entendeu porque fez aquilo, mas achou mais propício - Raquel também não precisava saber de tudo.

No meio da história, a morena começou a chorar, e só parou quando terminou de contar.

- E é isso... - ela fungou. Raquel estava muda, sem saber o que falar. Luíza, do outro lado da linha, soltou uma risada anasalada. - Eu sou patética.

- Não, não é não - a ruiva sentia uma empatia gigantesca por Luíza naquele momento.

Luíza era uma garota que provocava diversas sensações nela. Primeiro, gostou muito da morena, pois fora a única garota do colégio que fora simpática com a "nova aluna". Depois, ficou chateada em saber que ela estava com o seu Fabrízio. Aí passou para o ódio completo, ao descobrir que ela traia Fabrízio com Eduardo - ela podia suportar Fabrízio feliz com outra, mas não podia aceitar que qualquer vagabunda sem coração magoasse o baixista. E então, naquele momento, queria abraçá-la e dizer que tudo daria certo, embora tivesse certas dúvidas quanto a isso.

- Ah, meu Deus... - Luíza ria e chorava. - Por que tem que ser tudo tão difícil? Eu não quero magoar nenhum dos dois!

- Luíza, no fundo você sabe de quem realmente gosta - Raquel murmurou, rezando mentalmente para que ela não respondesse "É verdade, eu sei que no fundo eu amo o Fabrízio! Meu Deus, como eu fui burra, vou ligar para ele agora e pedi-lo de volta!"; se ela dissesse aquilo, Raquel subiria para o quarto dos avós, pegaria o pote de veneno de rato na segunda gaveta do armário e tomaria com leite.

- Eu não sei - Luíza mentiu. Era claro que ela sabia. - Eu só sei que não quero magoar o Fabrízio.

- Você só vai magoar o Fabrízio se não abrir o jogo com ele - a ruiva aconselhou. - Ele precisa ficar sabendo, e ele vai te perdoar.

Assim espero, ela pensou.

- Ele sempre foi tão bom comigo! Ele não merece esse tipo de tratamento - Luíza choramingou. - Além do mais, eu não quero ser julgada por algo que eu não sou. Você sabe como é fácil conseguir fama entre as pessoas!

Ah, como Raquel sabia daquilo... na verdade, a possibilidade de ser conhecida por algo que ela não era a amedrontava mais do que ela podia suportar; a ruiva vivia com medo da temida "fama", e conseguia entender o que Luíza estava sentindo. Mas, como boa hipócrita que era, ela usou o mesmo conselho que a sua mãe cansou de dar a ela.

- Você não pode se importar com o que os outros pensam, Lu! O que importa é o que você sente!

Ah, é, até parece.

- Você bem que podia me ajudar, não? - Luíza subitamente mudou de humor.

Ela parecia afoita.

- Eu posso te ajudar a contar, sem problemas...

- Não, com outra coisa.

Raquel ajeitou-se no colchão e franziu o cenho.

- Não estou entendendo, Luíza.

Luíza ficou um pouco em silêncio, deixando Raquel confusa do outro lado da linha.

- Bom, você e o Fabrízio foram namorados - ela começou cautelosa, mas Raquel entendeu de primeira aonde ela queria chegar.

- Sim, fomos...

- Então... vocês bem que poderiam tentar de novo - a ruiva deixou o queixo cair. - Sabe como é, se ele estivesse feliz com outra, não seria tão difícil assim receber a notícia de que a ex-namorada o traiu com o melhor amigo dele!

- Luíza, eu...

- Não precisa responder agora! Afinal, eu nem sei se você ainda sente alguma coisa por ele... - a boca de Raquel recusava-se a se fechar. - Mas pense nisso. Por mim.

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