15.

"I just want your extra time and your... kiss!"


Todos


Só quem já beijou a pessoa amada sabe como é bom. O explosivo encontro das línguas, o calor que sobe e desce pelo corpo, a energia inebriante que parece acordar até as últimas células... um beijo dado com amor sempre foi e sempre será o símbolo das paixões reprimidas, dos sonhos da juventude, da inconsequência.

O beijo.

Sempre o beijo.


XXX


Raquel não quis pensar em nada.

Quando Fabrízio ligou para Raquel mais cedo naquele dia, ele não tinha segundas intenções. Só queria conversar, contar sobre o pé na bunda que havia levado de Luíza, perguntar sobre as provas, divagar sobre o seu dia... entretanto, quando ele se deu conta da proximidade da ex-namorada, as palavras embaralharam-se na ponta da língua. O que aconteceu é que o baixista sempre achou difícil elaborar uma frase coerente quando Raquel o olhava daquele jeito, e ele percebeu, da pior maneira, que nada havia mudado.

De repente, a sua boca tinha coisas muito mais interessantes para fazer do que conversar, e a única reação que ele teve foi a de puxar a cabeça da ruiva pela nuca e beijá-la.

Simples assim.

Ao contrário do que Fabrízio pensou que aconteceria, Raquel não o impediu. Nem ao menos hesitou! Ela simplesmente enrolou os dedos nos cachos escuros do ex-namorado e retribuiu o beijo.

Os dois caminharam sem equilíbrio até encostarem na parede fria da cafeteria. Já devidamente confortáveis, eles abriram as bocas e deixaram as suas línguas se encontraram.

Seria uma mentira deslavada dizer que Raquel não sonhava com aquilo desde que ela foi embora. Era tudo o que ela mais queria! E aquele sentimento só fazia crescer desde que as suas mãos se reencontraram no corredor do colégio, alguns dias atrás.

A sensação de ter novamente a língua de Fabrízio de encontro com a sua era inexplicável. Era exatamente como ela se lembrava, mas completamente diferente. Como ela pôde sobreviver tanto tempo sem aquele beijo?

Eram em momentos como aqueles que Raquel tinha certeza de que os dois haviam sido programados para ficarem juntos. Era simplesmente intolerável a ideia de somente pensar que existisse um beijo mais sintonizado que aquele.

Fabrízio, aproveitando-se de que estava apoiado na parede e que Raquel estava entre as suas pernas, desceu uma das mãos para a bunda dela. Como todo bom homem, o baixista passara noites e mais noites relembrando-se da delicadeza das curvas da ex-namorada, e de como ela se movimentava graciosamente na cama.

Raquel ofegou com o toque brusco e puxou o cabelo do baixista para trás com mais força. Fabrízio, entendendo o sinal, colocou a outra mão em sua bunda e puxou a ruiva para mais perto.

Finalmente, eles eram dois novamente.


XXX


Rebecca não teve tempo de pensar.

Bruno não respondeu nada a pergunta de Rebecca. Bruno? Sim, Bruno era ele, e ele não queria mais agir como um completo imbecil, como um medroso que não tinha a capacidade de segurar Rebecca pela cintura e beija-la como ela gostaria de ser beijada.

Claro que parte daquele desejo todo vinha do fato de que Bruno estava bêbado, e bêbados sempre faziam o que as suas mentes hipócritas os impediam de fazer quando sóbrios. Então, ele apenas se curvou, puxou a amiga pela cintura e a beijou diretamente na boca, sem errar o alvo. Matinha os olhos fechados, apertados em uma expressão irreconhecível, e exalava a whisky.

Rebecca levantou os braços na altura da cabeça em um sinal de surpresa e arregalou os olhos. Ficou sem saber o que fazer por alguns instantes, com uma única frase rodopiando pela sua cabeça: "O que diabos está acontecendo aqui?'

Com um tranco, Bruno puxou-a para mais perto, tirando os seus pés do chão, e, em um movimento automático, Rebecca fechou os olhos e franziu o cenho. Ela sabia que o seu cérebro não conseguiria pensar em mais nada enquanto a língua do loiro estivesse dançando com a sua, então acabou cedendo. Não se importou com a imensa força com a qual ele apertava a sua cintura, nem o quão agressivo era aquele beijo; ela queria ser beijada com toda aquela paixão havia muito tempo, mais precisamente toda vez que o amigo a cumprimentava com selinhos, toda vez que ele sorria para ela.

Por alguns instantes, Rebecca esqueceu seus votos e não se impôs. Ela só fez o que qualquer garota apaixonada faria; correspondeu ao beijo do cara que amava.


XXX


Luíza não disse o que realmente pensava.

- Nós não temos nada para conversar - Luíza deu de ombros, tentando em vão soltar-se de Eduardo. - Eduardo, me solta, você está me machucando!

- Então acho que estamos quites - ele comentou com ironia, puxando Luíza para mais perto. Os seus dedos estavam realmente machucando a morena, que começou a choramingar de desespero. - Eu só solto se você me der um motivo.

- Você quer motivo melhor do que trair o seu melhor amigo? - Luíza berrou, começando a esmurrar o peito de Eduardo para que ele a soltasse. - Eduardo, eu vou gritar! Você está me machucando!

- Se esse é mesmo o motivo, então porque você resolveu falar só agora? - Luíza pôde perceber que o baterista não estava caindo na sua conversa, mas ela não iria dizer a verdade. Não quando a verdade poderia parecer tão fútil aos olhos do cara que ela amava. - Porque, pelo o que me parece, você não pensava no Fabrízio quando gemia o meu nome na cama.

- Eduardo, por favor - ao ouvir aquelas ofensas, as lágrimas que estavam entaladas na garganta de Luíza subiram aos olhos. Por que Eduardo não podia ser compreensível e entender de uma vez por todas que o que ela estava fazendo era o melhor para os dois? - Eu não tenho outro motivo para te dar.

- Eu sei que não é esse o seu motivo! - Eduardo cuspiu as palavras, dominado pelo ódio, pelo ressentimento. - Me diz, porra, o que eu fiz de errado?

- Você não fez nada de errado! Pare de pensar que a vida é uma disputa de vídeo-game, Eduardo! Você não pode vencer todas! - Luíza gemia de dor, batendo no baterista com toda a sua força. - Me solta, caralho! EDUARDO, ME SOL...

Mas ela não completou o seu grito por ajuda, pois Eduardo enfim soltou o seu braço; só para calar a sua boca com um beijo.

Pega desprevenida, Luíza ainda tentou gritar com a boca colada a de Eduardo, mas o baterista fazia tanta pressão que os gritos dela soavam como gemidos. Os braços dele imobilizavam todo o corpo da morena, que se debatia sem parar. Mas, aos poucos, o abraço dele foi afrouxando e ela parou de tentar fugir.

Os dois abriram a boca ao mesmo tempo, puxando uma lufada de ar e deixando com que as suas línguas se encontrassem. Eles ofegavam, como se estivessem lutando contra eles mesmos para que fossem fortes e separassem aquele beijo, e Eduardo podia sentir o gosto salgado das lágrimas de Luíza.

O beijo mais parecia uma luta. Os dois se movimentavam para frente e para trás, ela tentando em vão se soltar, ele tentando em vão arrancar alguma confissão.


XXX


Ana pensou que estivesse sonhando.

- Já te disseram que você tem lindos olhos azuis? - Daniel perguntou, aproximando-se de Ana.

Ele colocou uma mecha do cabelo dela atrás da orelha e sorriu, mordendo o lábio inferior logo em seguida. Os seus próprios olhos azuis voltaram-se para os lábios da loira, que tremiam de frio e surpresa.

- Er... obrigada - ela respondeu, descendo também os olhos em direção aos lábios de Daniel, onde um sorriso gostoso repousava. Ela mal podia acreditar no quão próximos eles estavam. Quantas vezes havia sonhado com aquilo? - Daniel, você está bêbado - ela balbuciou, debilmente.

Afinal, o que mais ela poderia dizer? Não era do tipo de menina que sabia flertar; nunca fora.

Felizmente, Daniel parecia ser muito bom naquilo.

- E daí? - ele perguntou, diminuindo o espaço entre eles até que os seus troncos estivessem totalmente colados. - Você nunca ouviu falar que os bêbados são sinceros?

Ana corou, abaixando o rosto. Daniel, que enxergava duas Anas, uma mais linda do que a outra, puxou o rosto dela pelo queixo e depositou um beijo suave em seus lábios.

O beijo foi quase como um sopro de beijo, mas o suficiente para deixar Ana tonta. A cartilagem dos seus joelhos transformaram-se em gelatina, e ela poderia desabar a qualquer momento. Felizmente, só o fez quando Daniel a envolveu em seus braços fortes e a beijou de verdade.

Nem nos sonhos mais loucos de Ana ela imaginou que Daniel pudesse ter gosto de bala de goma e cigarro de cravo. Era o tempero mais delicioso o qual ela já havia provado.

O coração da loira mal cabia dentro do peito. Tudo o que ela mais queria era fundir-se ao corpo do guitarrista e ficar ali eternamente. Sim, ele estava bêbado; sim, ele não sabia exatamente o que estava fazendo; e sim, ele não se lembraria daquilo no dia seguinte, mas ela não se importava. Afinal, quem em sã consciência se importaria? Era Daniel Fucking Azevedo!

Daniel Azevedo, dono da voz mais sexy do universo, do sorriso mais doce, da risada mais gostosa, estava com a língua dentro da sua boca! Ele poderia muito bem estar por aí, beijando qualquer uma pela rua, mas não, ele estava na porta do seu apartamento, beijando a sua boca.

Era oficial: Ana poderia morrer feliz.


XXX


Só quem já recebeu um tapa da pessoa amada sabe como é ruim. O explosivo encontro dos dedos na pele fria, o calor que se encapsula no local, a energia ruim que faz os olhos lacrimejarem... um tapa com raiva sempre foi e sempre será o símbolo da rejeição, da raiva, da dor.

O tapa.

Sempre o tapa.


XXX


Fabrízio não entendeu nada.

As coisas estavam esquentando entre Fabrízio e Raquel. As mãos do baixista já passeavam por debaixo da blusa dela, e ela o puxava para mais perto, esfregando os seus corpos sem timidez.

Raquel não podia evitar relembrar-se dos momentos bons que eles passaram juntos. Geralmente, os melhores eram como aquele que estava acontecendo, inesperado. Mas, naquela época, Raquel não tinha medo da intimidade. Ela se entregava sem nenhum pudor, buscando ao máximo satisfazer os seus desejos e os desejos dele. Mas, passado um ano, aquela proximidade a assustava.

Ela queria parecer desencanada, mas só o simples pensamento daqueles beijos transformarem-se em algo a mais a amedrontava. É, Raquel Bandeira não era mais quem costumava ser.

Fabrízio enfim retirou os lábios dos dela e distribuiu pequenas beijos pelo seu pescoço até chegar no ouvido. Lá, mordeu a almofadinha da sua orelha e murmurou.

- Vamos para a minha casa?

Como uma bigorna caindo de 20 andares, Raquel acordou daquele sonho e, sem nem entender a sua própria reação, desferiu um tapa bem dando no rosto do ex-namorado.


XXX


Bruno não teve tempo de se esquivar.

Bruno não estava entendendo nada. Primeiro, estava em êxtase com a língua de Rebecca enroscada na sua e, de repente, cinco dedos frios acertavam o seu rosto.

- O quê... mas que porra foi essa, Rebecca? - ele perguntou, cambaleando para trás e segurando o rosto com as duas mãos.

- Bruno, vai embora - ela ordenou, o peito subindo e descendo em um ritmo descompassado. - Vai embora agora!

Bruno olhou assustado para a morena, não sentindo mais aquele formigamento gostoso proporcionado pela bebida. O efeito colateral do álcool havia sido substituído pelo desentendimento. Ele não conseguia compreender porque os olhos azuis da menina o fitavam com tamanha indiferença.

O loiro jogou uma mecha do cabelo para trás, sem saber o que fazer.

Rebecca continuava encostada no batente da porta, parecendo aborrecida. Mais do que aborrecida, ela transbordava ressentimento.

- Becca, me desculpe, eu não sei o que deu em mim. Eu só... eu nem sei mais o que está acontecendo comigo ultimamente - ele admitiu, aproximando-se com cuidado da amiga. Ela parecia impenetrável, como uma muralha. - Uma hora eu estou pensando em como vou fazer para ter a minha ex-namorada de volta, e na outra estou pensando em você para compor. Eu não sei o que é isso, eu acho que estou ficando maluco!

Rebecca continuava impassível, com os braços cruzados na frente do corpo e os olhos azuis semicerrados.

- Eu preciso de algumas respostas. Eu preciso da sua ajuda - ele sussurrou, sendo sincero pelo menos uma vez na vida. - Eu quero entender o que eu realmente sinto por você, porque, durante todo esse tempo, eu nunca soube explicar o que é isso - Bruno gesticulou, apontando para ela e depois para ele. - O que é isso? Nós não somos amigos, nós não somos namorados. O que diabos nós dois somos?

Rebecca abriu a boca para responder, mas a fechou. Abriu novamente, repetindo o movimento. O que ela poderia responder? Estava tão emocionada com aquelas palavras que poderia arrancar as roupas e fazer amor com Bruno ali mesmo, no hall do andar. Mas ela não podia. Ela não havia prometido a si mesma que seria forte? Que esqueceria Bruno e que encontraria um novo amor? Cair em tentação nas primeiras palavras bonitinhas dele não era o sinônimo de ser forte!

O seu coração implorava por aquilo; a sua mente queria desesperadamente seguir o coração.

Por que era tão difícil assim negar qualquer coisa para Bruno?

De repente, lembrou-se de um diálogo que ouvira em Glee, enquanto peregrinava pelos canais de televisão em um dia tedioso de chuva. "Por que você não esqueça essa garota? Ela te traiu, ela só fez mal a você!" perguntou a protagonista. Como viu que não obteria resposta, ela mesma respondeu a pergunta. "Eu sei porque... porque nós perdoamos qualquer coisa do nosso primeiro amor".

Rebecca sentiu uma dor esquisita no peito; ela não queria ser assim. Justo ela, a miss independent, presa ao seu primeiro amor?

- Rebecca, diz alguma coisa, por favor - Bruno pediu, dando dois passos em sua direção.

Rebecca abriu a boca para responder, mas o baque surdo do corpo do garoto ao aterrissar no chão a impediu.


XXX


Eduardo sentiu mais dor com as palavras.

Luíza só foi domada por alguns instantes. Assim que percebeu que Eduardo havia amolecido, soltou-se dos pulsos de ferro dele e deu-lhe um tapa bem dado no rosto.

Eduardo curvou-se para frente, xingando baixinho e esfriando o local com as mãos frias.

- Por que você fez isso, caralho? - ele perguntou, irritado.

- Você me deu outra opção? - Luíza afastou-se dele, com medo de ser presa novamente.

- Dei! A opção da explicação! - ele berrou, arrumando a postura. - Porra, Luíza, eu só quero entender!

Luíza limpou com as costas da mão as lágrimas que molhavam o seu rosto e encarou as suas pantufas de ficar em casa.

- Não tem nada para entender. Será que você não entende isso?

- Não, não entendo! - ele suspirou, derrotado. - Você disse que ia terminar com ele, disse que ficaríamos juntos depois do baile. O que mudou? Por que você não quer mais ficar comigo?

- Porque eu não quero carregar o sentimento de culpa pelo resto da vida! - ela berrou, finalmente se abrindo. Eduardo não ia desistir, e ela só queria que ele a deixasse em paz para chorar pelo resto da noite. - Eu não quero construir um relacionamento baseado em uma mentira! Eu não quero ser chamada de vaca por todo mundo! Eu não quero ser a outra, aquela que não tem conteúdo algum e sai por aí abrindo as pernas para qualquer um! Porra, Eduardo, eu não quero ser quem eu estou sendo agora!

Eduardo olhou embasbacado para Luíza, não acreditando que aqueles eram mesmo os seus motivos.

Então tudo o que eles passaram juntos era facilmente descartado por vaidades de uma menina mimada?


XXX


Daniel não teve tempo de sentir.

Ana estava curtindo cada vez mais o beijo, e o calor que sentia era uma prova disso. Ela sabia que faria alguma besteira se Daniel continuasse a acariciar a sua cintura delicadamente. Sabia que não conseguiria se controlar se ele continuasse a morder o seu lábio inferior de um jeito totalmente enlouquecedor. Sabia que teria de juntar todas as suas forças para evitar uma catástrofe se Daniel não parasse de pressionar o seu corpo contra o dela.

Infelizmente - ou felizmente -, no final, nem foi tão difícil assim reunir forças para se controlar; Daniel Azevedo cavou a sua própria cova com um só deslize.

- Hm... você tem gosto de hortelã, Becca... - ele murmurou no ouvido de Ana, em um dos poucos momentos em que eles separaram as bocas para respirar.

Ana arregalou os olhos no mesmo instante e o empurrou para longe; antes mesmo que pudesse pensar direito, espalmou os cinco dedos no rosto quente de Daniel, que caiu desfalecido no chão.

"Ai meu Deus! Eu matei Daniel Azevedo!"

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