14.
"I'd give anything again to be your babydoll!"
Fabrízio e Raquel
Fabrízio sentia-se mal por não estar mal.
Claro que ele ficou um tanto quanto surpreso com o pé na bunda que levou de Luíza, e o que ele dissera a morena mais cedo, de não conseguir mais viver sem ela, fora a mais pura verdade; como ele conseguiria viver agora sem ser lembrado todas as noites de fazer as listas de exercício de matemática?
Mas ele não se sentia mal. Não, definitivamente a fossa não o pegou em cheio. Os sintomas ainda não haviam aparecido, e ele desconfiava que nunca iriam.
O baixista estava esparramado no chão da sala, jogando GTA e pensando na vida. A sua mãe lavava a louça na cozinha e o seu pai trabalhava no escritório; um típico dia inútil.
Mas uma coisinha o incomodava naquele dia tedioso: o seu celular estava em cima do colo, e parecia bem mais pesado do que o normal.
Pare com isso, ele pensou, lançando um olhar irritado ao aparelho. Depois, o moreno atropelou alguns pedestres no jogo só por diversão, mas nem aquilo o acalmou.
Pare com isso, filho da puta, eu não vou ligar pra ela, ele se levantou, deixando o celular cair no chão. O barulho alto fez a sua mãe gritar da cozinha.
- O QUE FOI ISSO? FABRÍZIO, O QUE VOCÊ QUEBROU?
O morena suspirou, revirando os olhos.
- Nada - ele resmungou, sentando-se no sofá para ficar o mais longe possível do celular.
- O QUÊ? FABRÍZIO, VOCÊ ESTÁ ME OUVINDO?
- EU NÃO DERRUBEI NADA, MÃE! Caralho, velha chata... - ele completou bem baixinho.
- ENTÃO O QUE FOI ESSE BARULHO? FABRÍZIO PONTES, SE VOCÊ QUEBROU O MEU VASO CHINÊS EU JURO QUE...
- QUE GRITARIA É ESSA AÍ, FABRÍZIO? - foi a vez de seu pai entrar na discussão. - O QUE VOCÊ FEZ PARA A SUA MÃE?
- SANDRO, O FABRÍZIO QUEBROU O MEU VASO CHINÊS! - a sra. Pontes berrou de volta, irritada.
O som do jogo estava alto e Fabrízio derrapava com o carro enquanto ouvia a gritaria. A sua irmã aumentou o som do andar de cima e a casa virou uma loucura só.
- FABRÍZIO, VOCÊ QUEBROU O VASO DA SUA MÃE? - o sr. Pontes berrou, nitidamente não interessado no assunto.
Fabrízio respirou fundo, fixando os olhos na TV. Agora as prostitutas berravam com ele no jogo.
- FABRÍZIO, VOCÊ ESTÁ ME OUVINDO?
- PUTA QUE PARIU! EU NÃO QUEBREI PORRA NENHUMA, FOI O MEU CELULAR QUE CAIU NO CHÃO! - ele berrou a plenos pulmões, jogando o controle longe. - VOCÊS PODEM, POR FAVOR, CALAR A BOCA AGORA?
A casa inteira ficou no mais total silêncio. Até a sua irmã abaixou o som. A única coisa que se podia ouvir era o personagem principal do jogo exclamar "give me back my fucking money!".
A sua mãe colocou a cabeça para fora da cozinha, de boca aberta.
- Isso é jeito de falar com a sua mãe, Fabrízio? - o pai apareceu no topo das escadas.
- Vocês estavam me acusando de uma coisa que eu não fiz! Olha ali o seu precioso vaso, mãe - Fabrízio apontou para o vaso em cima da mesa enquanto pegava irritado o celular do chão.
Depois de pegá-lo, desligou o jogo e bateu os pés até a porta da frente.
- Aonde você pensa que vai? - a mãe quis saber, ainda indignada com a reação do menino.
Fabrízio era sempre tão calmo...
- Dar uma volta - ele respondeu, batendo a porta atrás de si.
XXX
Ventava muito. Aquele tipo de vento de trincar os dentes, mas Raquel permanecia indiferente à bagunça do seu cabelo; os seus pensamentos estavam muito além das sensações corpóreas. Era como se ela estivesse revivendo as lembranças.
Nelas, Fabrízio estava com a cabeça encaixada na cova entre o seu ombro direito e o seu pescoço, e eles assistiam TV de conchinha. Era verão, e os dois corpos nus estavam cobertos somente por um lençol branco.
- Eu não acredito que você está me fazendo assistir a isso - ele resmungou, o hálito morno aquecendo a pele fria da nuca dela.
- Não é isso! É O Diário da Princesa, e é o melhor filme que já fizeram!
A ruiva revirou-se na cama, ficando de frente para o namorado. Ele estava com uma cara de perplexidade jamais vista por ela.
- Melhor filme que já fizeram? - ele perguntou, franzindo o cenho. - Raquel, isso foi praticamente uma blasfêmia!
Raquel gargalhou, juntando mais ainda o seu corpo ao dele.
- Quanto drama...
Fabrízio não sorriu, mas os seus olhos o fizeram. Raquel seria capaz de passar o dia inteiro olhando para eles, tentando descobrir se eram verdes ou azuis. Naquele momento, estavam verdes como os dela.
- Você sabe que eu te amo. Não sabe, Bandeira? - Fabrízio quis saber, beijando-lhe a ponta do nariz.
- Sei. Está estampado na sua testa - ela sorriu desdenhosa. Fabrízio fez uma careta para imitá-la, o que a fez gargalhar novamente. - Eu também te amo, Fabs.
- Eu quero me casar com você - ele sussurrou e Raquel sentiu que não ligaria se morresse naquele momento; pelo menos morreria feliz. - Eu quero ter filhos com você! Quero ser muito rico, comprar uma casa enorme e viver para sempre ao seu lado, com os nossos oito filhos.
Fabrízio sorria com doçura para a namorada, sem nunca perder o ar de gozação.
- Oito filhos? - ela exclamou, todo o encanto do momento quebrando-se em milhões de pedacinhos. - Você acha que eu sou o que, um coelho?
- Você é o meu coelhinho de estimação - ele acariciou atrás das orelhas da namorada. Então apertou os olhos, como se percebesse algo. - Sabe que você tem mesmo cara de coelho?
- Idiota! - ela exclamou, dando-lhe vários tapas ardidos.
- Ei! Agressividade não leva a nada! - ele berrava, enquanto apanhava da namorada. Depois que cansou de fingir estar perdendo a batalha, segurou os pulsos dela e mostrou a língua.
Raquel respondeu erguendo só uma sobrancelha, o que fez Fabrízio se borrar de medo. Ele soltou os braços dela e fez cara de santo.
- Assim que eu gosto - ela comentou, sorrindo por sua vitória.
Fabrízio não respondeu nada. Ele parecia perdido no rosto da namorada, analisando cada detalhe. Aos poucos, a ruiva foi ficando inteira de uma cor só: vermelha.
- Para com isso, Fabs, você sabe que eu não gosto quando fica me olhando desse jeito psicopata - ela pediu, abaixando os olhos.
Fabrízio levantou o queixo de Raquel com suavidade, beijando-lhe os lábios.
- É sério, Quel, eu te amo.
Raquel sorriu acanhada, beijando a testa do namorado.
- Eu também te amo, Fabs.
Raquel foi tirada bruscamente de uma de suas melhores lembranças pelo toque do celular. Pegou irritada o aparelho do seu bolso e mal pôde acreditar ao ver o nome de Fabrízio estampado na tela.
Primeiro pensou estar ficando louca, mas quanto mais o aparelho insistia, mais ela se convencia de que Fabrízio estava mesmo ligando para ela.
- Alô? - ela atendeu, ofegante.
- Raquel? - Fabrízio chamou do outro lado. - Raquel Bandeira?
- Sim, sou eu, Fabrízio - Raquel sorriu sozinha.
Fabrízio sempre dando uma de Fabrízio.
- Ah... é que eu pensei que talvez não fosse o mesmo número... - Fabrízio comentou, dando uma tossa de leve. - Mas, e aí... tudo bom?
Raquel engoliu a seco. Bom bom não estava, e ela desconfiava que nunca estaria.
- Tudo na boa... e você?
Fabrízio ficou mudo. Raquel só conseguia pensar em Luíza terminando com ele; por mais que aquilo a deixasse feliz, sabia que a morena provavelmente era o melhor para ele. Luíza era o que ela nunca poderia ser.
- Nós podemos nos encontrar em algum lugar?
Aquilo pegou Raquel de surpresa. Ela não soube o que responder.
- Hã, Fabrízio, eu...
- É um encontro amigável, nada demais, eu só preciso... conversar - Fabrízio parecia obstinado a convencê-la.
Raquel ficou em silêncio pelo o que pareceu uma eternidade. O que ela poderia responder? "Sim, Fabrízio, vamos nos encontrar, toma um café e agir como se nada tivesse acontecido entre nós!" Ela havia feito aquilo por alguns dias, mas não queria mais agir como se fosse a pequena miss sunshine.
- Bom, pode ser... - Raquel cedeu e olhou para trás, analisando o mais completo silêncio da casa. - Aonde quer se encontrar?
- Pode ser em frente à Starbucks da Santos? Nós podemos tomar um café, dar uma volta... - Fabrízio parecia ansioso.
- Claro. Chego lá em 20 minutos - Raquel olhou no relógio, dando-se conta de que o ônibus só passaria no ponto em frente a casa dos avós em 15 minutos. - Ou melhor, em meia hora.
- Beleza! Até daqui a pouco, Quel.
- Até daqui a pouco, Fabrízio.
XXX
Bruno deu play no filme A Pequena Sereia e ajeitou-se no sofá. Aproveitando-se da ausência de Eduardo, usava a TV de plasma da sala, grande o suficiente para que ele assistisse sem perder nenhum detalhe. Mas, por mais incrível que pudesse parecer, nem o seu filme favorito da Disney estava conseguindo tirar a imagem de Rebecca com o motoqueiro fantasma de mais cedo.
Ele tinha o direito de se sentir enciumado. Rebecca era a sua amiga de longa data! Ele tinha certa autonomia para saber quem era ou não bom para ela. Daniel era bom para ela, o motoqueiro vampiro não.
O loiro deu o primeiro gole na garrafa de Jack Daniel's que repousava entre suas pernas e sentiu o whisky descer queimando pela garganta. Fez uma careta e sentiu-se mais leve. Bruno nunca tinha problemas; a bebida sempre estava lá para apagá-los da sua memória.
Lá pela metade do filme, após muitos goles na garrafa de whisky, a pequena sereia tornou-se um tanto quanto borrada, e incrivelmente parecida com Rebecca.
Seria loucura ou o efeito da bebida? Ele não tinha como saber... só se fosse até a casa dela!
Aquilo lhe parecia uma ótima ideia! O apartamento de Rebecca não era longe. Só algumas... quantas quadras mesmo?
Bruno levantou-se e sentiu o mundo dar um 360 flip twist carpado. Desligou a TV, pegou uma blusa de frio e saiu de casa. Descendo as escadas, esbarrou com a vizinha chata do andar de cima.
- Boa tarde - ele desejou, sorrindo.
- Boa tarde - a mulher de uns 50 anos respondeu, surpresa por Bruno estar sendo simpático.
Ele geralmente era mal humorado e mal educado.
- Tenha um bom resto de tarde solitária com os seus gatos! - ele desejou, não percebendo o olhar de indignação da mulher ao ouvir aquele comentário.
O loiro saiu para a rua e quase nem sentiu o vento cortante. Caminhou aos trancos e barrancos até a esquina e ficou uns bons cinco minutos tentando adivinhar se tinha que pegar a direita ou a esquerda. Decidiu-se pela esquerda, e fosse o que fosse.
XXX
- Esse é o meu apartamento - Rebecca sorriu, apontando para o pequeno espaço de 90 metros quadrados. Era uma pequena caixa de fósforo - maior que o apartamento de Daniel pelo menos - mas ela o amava como se fosse um palácio.
- Muito legal - João comentou, segurando entre os dedos as tulipas que Bruno lhe dera, agora murchas e sem vida. - É adepta da arte morta?
- Ah, isso aí não é nada... - a morena comentou, indo até João e pegando o vaso nas mãos. Abriu o lixo com os pés e, sem pestanejar, jogou as flores lá dentro, com água e tudo. - Com toda essa loucura de provas, me esqueci de jogá-las fora.
João sorriu de lado, saindo da cozinha e sentando-se no sofá. Deu dois tapinhas de leve ao seu lado e Rebecca se juntou a ele. O moreno colocou a mão na parte interna da sua coxa e ela sentiu um frio esquisito subir pela espinha.
Por mais que quisesse, ainda não se sentia confortável o suficiente com o novo affair.
- E aí, quer assistir a algum filme? Eu tenho vários! - ela exclamou, levantando-se com um pulo. Caminhou até a estante de filmes e passou o dedo pelas lombadas estampadas com títulos desde Star Wars até O Máscara.
João colocou os braços atrás da cabeça e cruzou as pernas.
- Escolhe algum aí - ele sorriu, não se mostrando decepcionado pelo "chega pra lá" dado por Rebecca.
A morena passou os olhos ágeis pelos filmes, demorando-se na Pequena Sereia. Respirou fundo e pegou o filme ao lado.
- Pode ser O Exterminador do Futuro? - ela perguntou, mostrando a capa para João.
- Claro! Quanto mais explosões, melhor - ele brincou, e Rebecca agachou-se para colocar o CD no DVD. Pegou o controle, ajustou as configurações e deu play.
Ela se sentou ao lado de João e ele a abraçou pelos ombros. Nada de mão na coxa, e Rebecca respirou aliviada.
O filme marcava 25 minutos quando João cansou de bancar o bom moço. Ele começou por tirar o braço das costas de Rebecca, fingindo um bocejo. Depois, abaixou os braços e colocou a mão no joelho dela, que olhou de soslaio, desconfiada.
Ele então começou a beijar o pescoço da morena que, por um momento, deixou-se levar. Quando os beijos ficaram perigosamente perto na linha do busto, ela começou a empurrar a cabeça dele delicadamente.
- Qual é, Becca? - ele sussurrou, subindo os beijos pelo seu queixo. - Não estou fazendo nada de errado.
- Mas está pensando em fazer - ela comentou, sendo interrompida pelos lábios do garoto.
É só um beijo. Não é nada demais, ela pensava, enquanto com uma das mãos ele acariciava o seu joelho e com a outra segurava a sua nuca. Qual é o seu problema? Não gosta mais de se amassar com um cara gato?
Lentamente, João deitou Rebecca no sofá. Ela queria estar aproveitando, queria estar curtindo, mas não conseguia. Alguma coisa estava errada. O jeito que ele a beijava era esquisito; não era ruim, só parecia treinado. Parecia que João sabia como Rebecca beijava e estava fazendo exatamente a mesma coisa.
- Relaxa, Becca - ele murmurou em seu ouvindo, mordendo a almofadinha da sua orelha esquerda. - Eu não vou fazer nada. Só... relaxa.
- Eu estou relaxada - ela mentiu, passando as mãos pelas costas do garoto.
João estava prestes a colocar a mão por debaixo da blusa da morena quando eles ouviram batidas na porta. Ele bufou, irritado, e Rebecca sentou-se, respirando fundo.
- Estava esperando por alguém? - ele perguntou, lançando um olhar desconfiado para a porta.
- Não... - ela respondeu pensativa. Não se lembrava de ter combinado nada com ninguém, mas quem quer que fosse, a salvara, e ela seria eternamente grata. - Não que eu me lembre.
A morena caminhou até a porta sentindo o coração martelar no peito, ainda recuperando-se da sessão pegação com João; ela teria que pensar em alguma desculpa muito boa para mandá-lo embora, isso no intervalo de tempo em que atendia a porta, despachava o visitante e voltava para o sofá.
Às vezes, ela gostaria de pensar mais rápido.
Ao chegar na porta, ela resmungou baixinho por não ter um olho mágico e a abriu de supetão.
Quem estava do outro lado não era exatamente quem ela esperava encontrar. Pensou em se tratar de alguma vizinha para reclamar do barulho alto ou talvez o síndico trazendo a correspondência que precisava da sua assinatura. Mas nunca, nunquinha mesmo, imaginou botar os olhos em...
- Bruno?
XXX
Só faltaram as lentes de visão noturna para Eduardo sentir-se um completo espião russo. O céu já estava escuro e ele deveria estar em casa estudando para a prova do dia seguinte, mas acampar na casa de Luíza parecia bem mais sensato.
A luz do quarto dela estava acesa, e a sua sombra movia-se de um lado para o outro. Eduardo só queria entender o porquê daquele ponto final, o porquê da mudança repentina. Pensou que ela o amasse, pensou que tudo iria se resolver com Fabrízio e que os dois seriam felizes para sempre.
Ele não podia ter pensado tão errado assim, podia? Luíza era uma excelente atriz, mas não poderia ter mentido para ele. Ele podia sentir que ela o amava.
De repente, as luzes do quarto se apagaram, e ele não pode ver mais nada. Suspirando, acendeu outro cigarro e apoiou-se na mureta do outro lado da rua.
Passados alguns minutos, a porta se abriu, e ele estancou. Luíza saiu para a rua arrastando um saco preto de lixo. Ela ouvia música no iPod e tinha a feição tristonha. A música estava alta e ele pôde ouvir nitidamente Brighter Than Sunshine do Aqualung, a música que ela costumava dizer que descrevia os dois.
O baterista desencostou-se da mureta e caminhou até ela.
XXX
Luíza odiava colocar o lixo para fora pois ficava fedendo depois, mas a sua mãe estava tão ocupada com a janta que ela resolveu fazer aquele favor. Qualquer coisa que a tirasse do próprio quarto, em que guardava recordações tanto de Fabrízio quanto de Eduardo.
Ela saiu distraídapela porta, ouvindo a mesma música pela décima sétima vez. Avistou os outros sacos de lixo e foi até eles. Depositava o novo ao lado dos irmãos quando sentiu cinco dedos envolverem o seu braço. Com o susto, ela derrubou o saco, que fez um barulho alto de garrafas de vidro se quebrando.
Eduardo estava parada ao seu lado, cheirando a cigarro. Os seus olhos estavam muito vermelhos; ela não o julgaria se ele tivesse fumado um. Afinal, ela havia pensado em fazer o mesmo, mas não tinha mais com quem arranjar, já que Fabrízio era quem sempre comprava para ela.
- Vamos bater um papo, Luíza? - ele pediu, sem soltar o seu braço.
XXX
- Ana! Ana, abre aê, pô! - Daniel esmurrava a porta da vizinha, sem se importar com os outros vizinhos, que provavelmente estavam ouvindo a todo aquele pampeiro. - Abre aê, preciso falar com vocêêêê!
Quanto mais ele batia, mais a vontade de falar com Ana crescia. Ele não se lembrava de como chegara até ali; a única coisa que conseguia se recordar era de uma mulher ruiva tê-lo colocado no banco de passageiro do próprio carro. Qualquer que fosse a história daquele noite, provavelmente era muito louca.
- Ana! Ana! Ana! - o guitarrista havia desistido de esmurrar a porta, e agora estava com a bochecha colada na superfície áspera de madeira, sussurrando o nome da amiga e babando.
De repente, ele se viu sem apoio, desequilibrando-se a caindo aos pés de alguém.
XXX
Ana estava em sua cama, jogando Playstation na TV de LED. As cobertas cobriam o seu corpo até o pescoço e os seus olhos seguiam Poseidon, quem ela deveria matar. Ela não estava tendo muito sucesso, já que estava tão frio que os seus dedos não tinham a agilidade necessária para vencê-lo.
A loira estava tão concentrada no jogo que, por um instante, havia esquecido do bolo que levara de Daniel; aquela era a sua nova ideologia: não se importar. Depois da bronca que levara de Luíza e Raquel, resolveu obedecê-las. Afinal, as duas sempre se deram bem, enquanto ela... bem, ela só sonhava acordada com Daniel Azevedo.
Ela jogava distraída quando começou a ouvir o seu nome. Primeiro, pensou que estava ouvindo coisas, mas a voz começou a ficar tão nítida que ela teve de pausar o jogo. Mal pôde acreditar em quem chamava por ela; a voz rouca e melódica de Daniel era reconhecível.
Levantou-se, ignorando o fato de que estava de baby doll vermelho de seda, e correu até a porta, pois do jeito que o guitarrista berrava, acordaria o prédio inteiro. Abriu a porta com tudo, e ele caiu aos seus pés, rindo.
- Daniel, você está louco? Quer acordar o prédio inteiro? - ela perguntou, irritada.
Daniel levantou-se com dificuldade e olhou com intensidade para a loira, sorrindo com doçura.
XXX
Raquel mordia o lábio inferior e procurava apreensiva por Fabrízio. Aonde ele estava? Já havia se passado meia hora, e ela estava com medo de ter levado um bolo; aonde ela estava com a cabeça em ter aceitado aquele pseudo encontro? Nem deveria ter atendido o celular, para começo de conversa. Sentia-se idiota e fraca.
De repente, sentiu dez dedos gélidos cobrirem os seus olhos, e os segurou entre as suas próprias mãos, alarmada.
- Quem é? - ela perguntou, por mais que já soubesse a resposta.
- Sou eu - Fabrízio sussurrou em seu ouvindo, arrepiando o seu corpo por inteiro.
Raquel tirou as mãos do garoto de seu rosto e virou-se para trás. Fabrízio estava perto.
Perto demais.
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