Capítulo Único

Lembro-me de ter respondido à minha mãe "não tenho certeza", sobre a viagem que fazíamos nas férias de janeiro. Na época, Clarice, uma de minhas melhores amigas havia acabado um relacionamento de uma modo muito mal-resolvido. E o melhor jeito de reverter a situação, sem resultar em uma grande ressaca parecia fazer uma viagem bem mal-planejada.

Rúbia, a melhor motorista entre nós dirigia uma Kombi 1996, herança de nossa amiga Fernanda, que consolava Clarice no banco de trás. Enquanto eu, vestida como uma hippie dos anos 70, ouvia rock nacional dos ano 90, fingindo que estava numa comédia romântica do início de 2000. Quando Fernanda se esvaziava das palavras de consolo e incentivo, nós trocávamos de lugar, embora a brisa na autoestrada não me fizesse enjoar tão facilmente da minha fantasia.

O dia parecia perfeito. O sol no topo do céu não parecia demasiadamente abrasivo, e quanto sentíamos o calor do asfalto subindo, um vento logo passava para aliviar a situação. Eu havia apostado que em duas horas Clarice se acalmaria, Rúbia apostou dois dias, o que eu achava um completo absurdo. Se os próximos dias fossem tão bonitos quanto aquele, com certeza Clarice esqueceria mais infortúnios além do namoro infeliz que deixara para trás.

Só uma coisa não parecia certa. Como uma boa copiloto eu não queria falar que estávamos perdidas, mas como uma boa copiloto eu precisava falar que estávamos perdidas. Dois dos quatro celulares já estavam sem sinal, outro deles desligado de propósito e o meu, sem bateria desde a primeira parada. Por sorte, éramos precavidas, e tínhamos um mapa! Mas para nosso azar eu não era a pessoa mais ávida pelas aulas de geografia da escola, o que me fez deixar um conhecimento ou dois escapar... Nada que comprometesse a viagem por completo. E foi o que eu disse quando a Rúbia surtou percebendo que o que eu falava e o que ela vislumbrava no mapa, não parecia fazer o menor sentido com o que ela se lembrava do caminho.

Aí foi uma gritaria. Eu tentando defender o método de viagem livre, que não impunha caminhos tão... tão... Fixos. A Fernanda completando que embora eu fosse uma "completa idiota" palavras dela, talvez fosse possível fazer um retorno que não nos atrasasse muito. Clarice comentando que nunca era tarde demais para voltar. Todas nós veementemente negamos. Sim, era tarde demais para voltar! Essa foi a única coisa em que conseguimos concordar no meio da confusão.

Uma dica que aprendi em viagens, e que pode parecer muito boba é: nunca descole os seus olhos da pista. Porque, sim, pode ser que você esteja perdida no meio do nada, e não tenha visto outro veículo há horas, e o dia pode estar tão claro que seja praticamente impossível não ver uma folha voando na sua frente. Mas não pare de olhar para frente! Porque quando você voltar os seus olhos para o lugar de onde nunca os deveria ter tirado, uma pessoa pode ter aparecido ali. Uma pessoa que saiu literalmente do nada! E você vai ter a sensação de quase atropelar uma pessoa, o que eu não sei descrever como é, então pergunte para a Rúbia.

- Caramba! Olha o que você me fez fazer, Débora! - Foi a única coisa que pudemos ouvir após a freada brusca.

Eu nem sequer respondi. Desci do carro rapidamente para verificar se a pessoa estava ferida. Ela estava no chão, sentada, parecia confusa, assim como eu que, com o susto, não tinha certeza se havíamos batido nela ou não.

- Moça tá tudo bem? - Me aproximei com medo, já que a mulher estava  com uma das mãos encostada numa das têmporas. Eu tinha certeza que ela iria gritar comigo.

- Não - disse um pouco aérea - Eu estou bem... - Mas ela não parecia nada bem.

- Ótimo! - disse cerrando os dentes e já entrando em pânico. - Podemos te ajudar com alguma coisa então?

- Eu estou... Perdida

- Eu tô... Tô percebendo - acrescentei com um sorriso forçado, enquanto via as meninas acenando desesperadamente para que saíssemos da rua, embora não viesse nenhum veículo em nossa direção.

Era importante tentar evitar outros acidentes, por isso, caminhei com a estranha até nosso carro. É. Eu caminhei com a estranha até o carro. Para evitar acidentes. Brilhante ideia!

- Meninas, - disse entrando com a estranha - essa aqui é a... Puxa, não perguntei seu nome...

- É Liz - respondeu quase que num bocejo.

Normalmente, nós não damos caronas para estranhos, principalmente em lugares em que estamos perdidas, mas ela parecia tão perdida quanto nós. Perguntamos para onde ela estava indo, mas ela não soube responder. Procuramos em sua bolsa alguns documentos, para ver se algo ali poderia nos ajudar, porém também não obtivemos sucesso. A única coisa que havia ali eram alguns objetos estranhos como conchinhas de praia, flores secas, pequenos ramos e umas pedras estranhas.

- Por que ela está chorando? - Liz perguntou vendo os olhos marejados de Clarice. Sua pergunta direta era tão sensível quanto a curiosidade de uma criança.

Eu pensei que isso deixaria minha amiga irritada, mas aquilo havia sido tão espontaneamente engraçado que Clarice respondeu com um meio sorriso: término recente de namoro, o meu ex é um idiota.

- Ah! - exclamou a estranha. Aquelas poucas palavras pareciam ter lhe explicado tudo - Homens! -  completou com a voz cheia de desgosto o que fez com que todas nós rissemos muito, até Rúbia, que nesse momento já havia voltado a dirigir em paz.

- Vocês têm água? - Liz perguntou com a voz mais doce do mundo.

- Claro! - Fernand respondeu, passando rapidamente uma garrafinha de plástico para outra.

Para a nossa surpresa, nossa nova amiga nem sequer tomou um gole, ela virou um pouco do líquido da garrafa em um pequeno frasco que retirou da bolsa, e que de algum modo eu não havia encontrado antes. Fiquei com vontade de falar que ela poderia beber da própria garrafa, que havia mais água para nós, mas achei melhor não prolongar a situação estranha.

- Ei! - Rúbia gritou - Será que tem alguém aí que gostaria de ser copiloto?

Antes que eu pudesse responder ela completou: "Menos a Débora!" O que obviamente me fez revirar os olhos.

- Para onde estamos indo? - Liz perguntou animada, saindo de seu lugar e ficando de joelhos, atrás do banco do motorista.

- Mas que diabos! - Rúbia retrucou- Debbie, você não prendeu ela com o cinto.

E eu, olhando para a minha cintura, também sem cinto, fui lá prender nossa convidada. Não se esqueçam do cinto, crianças.

- Nós vamos para São Caetano das Flores. Você vai para perto? - Fernanda perguntou.

- Onde vocês pararem está ótimo. Eu só estava cansada de andar. Tive um problema com a minha condução..

- Carro quebrado? - perguntei.

- É. - ela respondeu olhando para todos os lados, exceto para o meu - Carro.

- Mas se passarmos do seu ponto, você não vai ter que andar mais de toda forma? - questionou Clarice.

- Não. Não vou andar mais. - Liz respondeu de um jeito tão estranho que ninguém resolveu questionar os seus motivos.

Eu e Rúbia estávamos quietas, tentando focar na estrada para não cometer besteira. Mas Fernanda e Clarice estavam animadas, partilhando com Liz mais do que deveriam, cada detalhe das nossas adolescências sórdidas. Cada boca que não deveríamos ter beijado, cada festa que deveríamos ter pulado, e as que não deveríamos ter faltado também. Liz falou menos, falou que tinha muitas irmãs, o que às vezes era bom e outras não; também falou o quanto a mãe lutava para que todas as competições entre elas fossem saudáveis, ainda assim, disse que se considerava competitiva, de um jeito "acima da média."

O clima estava ótimo e a paisagem ajudava. Quando a conversa esfriava Clarice puxava um karaokê, o que às vezes me distraia. E entre um Paralamas e um Kid Abelha eu tentava manter atenção no  mapa. Maldito mapa! Parecia tão desnecessariamente confuso e colorido. E colorido e confuso. Todas as ruas pareciam se embolar e depois chegar a lugar nenhum.

- Não me diga que você não sabe ler um mapa? - Liz provocou. E eu duvidava que ela soubesse também.

- Ela vai errando enquanto o tempo deixar - Clarice parafraseou a frase que tocava. O que me fez soltar uma careta.

Distraída, e portanto, sem escolha, perdi o mapa para Liz, que me tirou o objeto das mãos rapidamente. Apontando para uma das trilhas, ela tentou me explicar um caminho como se aquilo fosse simples. E eu, nem dei bola, porque meus olhos já estavam cansados de percorrer os mesmos lugares sem achar uma solução. Mas quando ela me devolveu o mapa, percebi que de alguma forma os caminhos já não pareciam tão confusos assim e por um milagre eu consegui ler!

- Rúbia, dá uma olhada - disse passando o GPS arcaico para ela.

- Não acredito que a Liz tinha um mapa bem melhor que o nosso!

- Pois é... - murmurei sem jeito, olhando nossa convidada que sorria triunfante.

As outras duas nem pareciam prestar atenção, continuavam cantando, não tinham visto que o mapa havia se transformado por completo.
Mesmo assim, eu disse:

- Acho que ele nem é tão diferente assim, Rúbia. Acho que foi a minha péssima leitura. E o sol, acho que esse calor está atrapalhando os meus pensamentos.

- Tem razão - minha amiga concordou - ,parece que esquentou muito! Não que admira que seus neurônios estejam derretendo. Nossa, como eu adoraria encontrar uma lanchonete agora.

- Que tipo de lanchonete? - nossa convidada perguntou.

- Ah, uma que tivesse sorvete, água de coco...

- E cerveja! - exclamou Clarice subitamente.

Vocês acreditam que em menos de cinco minutos estávamos todas belas e felizes, saindo de uma lanchonete que aparecera magicamente, carregando sorvetes, caixinhas de água de coco e cervejas, bom, exceto a Rúbia.

- Que providencial! - Fernanda comentou enquanto voltávamos para a Kombi.

- É, providencial mesmo... - retruquei encarando nossa estranha companhia e pensando nas possibilidades de eventuais propriedades mágicas que ela poderia carregar.

Eu poderia estar cansada. E agora levemente bêbada, mas a mudança súbita dos caminhos do mapa e a aparição mágica da lanchonete providencial não pareciam acaso. Mas nenhuma das outras, aparentemente, parecia ter a mesma dúvida. Rúbia contava para Liz detalhes da sua graduação e Fernanda discutia quais museus e pontos turísticos iríamos visitar em São Caetano. Clarice tentava puxar um assunto comigo sobre praia, mas no momento estava indiferente. Só pensava em uma coisa.

- Liz, você se considera uma pessoa de sorte? - perguntei me ajeitando no banco do carro.

- Ih, começou! - Fernanda reclamou - Ela adora fazer essas brincadeiras, viagens, dias de chuva, aulas de muito tédio, encontros ruins...

E era verdade, eu poderia ser boa em entreter as pessoas, principalmente se quisesse muito.

- Eu faço a minha própria sorte! - Liz respondeu. Ótimo! Ótimo mesmo.

- Olha, só! Uma adversária à altura! - Nanda provocou.

- Ótimo! Então eu vou te desafiar para um duelo épico - nesse momento todas as outras já seguravam o riso, sabendo o que estaria por vir - uma emocionante e honrosa batalha de vida ou morte: cara ou coroa! - O barulho das gargalhadas foi estrondoso nesse momento.

- Vida ou morte? - Liz perguntou entretida.

- Metaforicamente! - Fiz questão de explicar. Vai que ela realmente era uma dessas criaturas mágicas que entendem tudo de um modo muito literal - Ah, mas a parte da honra é verídica.

Tirei a moeda do bolso. As meninas não paravam de rir. Minha visão era de sorrisos em meio a uma paisagem verde e azul. Liz estava mais séria. Ela era cara, eu, coroa. Joguei. A primeira deu cara. Sorte, balbuciei. Mas as próximas três jogadas também deram cara. Então trocamos. Eu era cara, e ela coroa. Então as três próximas jogadas saíram coroa.

- Que falta de sorte - a voz de Clarice revelava sua falsa piedade.

É, falta de sorte de uma, ou a grande ajuda sobrenatural de outra. Mas eu seria uma idiota por falar que a estranha no carro detinha poderes mágicos só porque estava ganhando um jogo com moedinhas. Eu seria mais do que uma idiota.

- Nossa, estou com fome - disse Clarice.

Fazia tempo desde que havíamos comido algo substancial, o que excluia os sorvetes da lanchonete mágica. E já passara da hora do almoço.

- O que você gostaria de comer? - Liz perguntou como se fosse capaz de realizar todos os nossos pedidos.

- Algo com muita gordura. Um churrasco talvez...

Nem preciso dizer que poucos minutos depois encontramos uma churrascaria. Ninguém pareceu achar estranho, mas eu fiquei inquieta. As meninas desceram do carro, eu peguei minha bolsa, mas fiquei em silêncio, esperando todas entrarem no restaurante. A Rúbia seria a última a descer para trancar o carro. Eu teria que falar com alguém e teria se ser com ela, mesmo que ela me olhasse com aqueles olhos grandes com o semblante de "o que foi?", que me fazia sentir totalmente errada sem precisar falar nada.

- O que foi? - dessa vez pelo menos ela disse.

- Você não notou nada de errado com a... Com a...

- Deus! Você tem até medo de falar o nome dela! Achei que tinha revido a bolsa para ver se não tinha algum objeto pontiagudo.

- Não estou com medo dela. Acho que ela é inofensiva, é só que...

- Se com algo de errado você quer dizer meio confusa, ou até doente. Sim, talvez. A menina não tem nenhum documento, não sabe muito bem para onde vai, e nem faz muita questão. Talvez a gente devesse deixar ela em algum posto de saúde ou algo do tipo.

Cruzei os braços. Ela claramente não estava me entendendo. Olhei para trás, nenhuma das meninas por perto. Eu não poderia soltar, mas eu precisa partilhar minhas suspeitas com alguém. Então eu soltei.

Veio um silêncio, depois uma gargalhada.

- Debbie! Presta atenção no que você está dizendo! Aquela garota, uma bruxa? Vamos lá, acho que você precisa de mais um pouco de cerveja, toma por você e por mim.

Ela colocou um dos braços em volta do meu pescoço e me arrastou para a churrascaria. As meninas já haviam escolhido o lugar, e as companhias. De longe eu havia percebido que Clarice flertava com um rapaz da mesa ao lado. Ela finalmente estava de volta! Fernanda e Liz também estavam ocupadas, conversando freneticamente. Eu me sentei desconfortável, bem na frente de Liz, Rúbia ao meu lado, tentando não dar risada.

Tentei me concentrar no almoço, mas a minha curiosidade se tornava um monstro, uma sombra atrás de mim, que todos poderiam enxergar. Quando alguém olhava para mim, era como se estivesse lendo a minha mente. E eu me encolhia constrangida e culpada. Mas se eu perguntasse para ela. Qual a pior coisa que poderia acontecer? Ela iria rir como Rúbia fizera e só seria uma estranha rindo de mim.

Clarice deixou a mesa, cortando a minha linha de raciocínio. Decidi correr atrás dela. No banheiro feminino, enquanto minha amiga passava batom, eu fingia ajeitar meu cabelo. Achei melhor revelar minha ideia para Clarice, ela sempre foi menos cética do que a Rúbia e mais inclina a acreditar em qualquer história absurda do que qualquer uma de nós. Não teria de convencê-la de nada, se acreditasse seria por ela mesma, se não, paciência.

- Hmmm - ela murmurou depois que eu expliquei da melhor maneira possível que Liz era uma bruxa, não com essas exatas palavras, mas com palavras próximas o suficiente para passar essa mensagem.

- O que você acha, Clarice? - perguntei sem paciência.

- Eu acho - respondeu em meio à maquiagem -, que ela deveria fazer mais do que apenas ganhar de você no cara ou coroa.

- O que você sugere? Par ou ímpar ?

- Hmmm. Pedra, papel ou tesoura seria mais difícil. - Subitamente ela parecia realmente engajada em achar uma solução, o que fazia sentir mais tola ainda, tenho certeza que soltei um olhar triste, o que a fez rir - Estou brincando, Débora! Você se preocupa demais!

E com essa, ela me deixou sozinha no banheiro. Por um minuto ou dois, fiquei parada, pensando o que Liz teria de fazer para convencer as outras. Até que percebi que não poderia ter deixado Clarice voltar desacompanhada com as informações que havia lhe dito, ainda mais sem especificar a descrição que eu procurava mantar com a minha paranóia fantasiada. Mas quando eu voltei, já sabia que ela havia aberto a boca. Sentei no meu lugar com um sorriso amarelo.

- Debbie, você é doida! - Fernanda comentou.

- Mas ela tem razão! - Liz comentou, o que me deixou em dúvida sobre quem ela estava se referindo. Nem tive tempo de perguntar.

Liz se levantou e caminhou lentamente na direção do rapaz que Clarice flertava. Como se aquilo fosse... Ah, normal. Todas nós ficamos estáticas, incapazes de falar ou fazer qualquer coisa. Ela passou o dedo indicador no pescoço do moço, até encostar no ombro dele. O que fez com que ele se levantasse. Pronto. Iríamos armar o maior barraco no restaurante. Mas quando ele olhou para nós, não parecia com raiva, ou disposto a arrumar uma briga.

- Olá, ah... Amigo. Qual o seu nome? - Liz perguntou como se ele fosse uma criança.

- Rodrigo.

- Rodrigo! Ótimo, querido, agora pode dizer para a minha amiga aqui o porquê você está a fim dela!

Nesse momento, mais um sobressalto. O que estava acontecendo?

- Pra sair da seca. - ele respondeu mecanicamente, claramente enfeitiçado. Mas a minha amiga nem quis saber, Clarisse se aproximou lhe deu um tapa na cara.

O tapa acabou despertando o rapaz, que confuso e com dor, voltou a atenção para os seus amigos para saber o que raios havia acontecido. Os outros olharam para nós assustados e até vi um deles correndo para pagar a conta, o cartão de crédito tremendo na mão.

- Essa foi ou não a melhor coisa que aconteceu hoje? - exclamei com os braços para cima.

- Não... - Clarice murmurou observando atentamente a mão vermelha.

Olhei para Rúbia:

- Talvez...

- O que mais você pode fazer? - perguntei para Liz - Pode nos teletransportar para o nosso destino?

- Eu meio que já fiz isso. Se vocês olharem nas placas lá fora, vão perceber que eu teletransportamos
150 quilômetros para chegar aqui.

- Quê? - Rúbia gritou - Como você pode fazer isso sem que a gente notasse?

- Ah, é que eu sou muito ágil em teletransportes. - comentou sem graça.

- Placas? - debochei - Quem precisa de placas! Liz, você pode reviver o meu celular, tô com saudades do meu GPS!

E com um estalar de dedos, ela fez. Meu celular estava agora com a carga completa! Incrível!

- E porque uma pessoa capaz de fazer isso ia querer andar de carro com a gente?

- Eu gosto de estrada. A música tava boa e vocês são legais. Claro que eu preferiria não ter me teletransportado bem no meio da rua. Mas um dia eu vou ser tão boa quanto rápida. - respondeu sorrindo.

- Espera, você pode fazer a comida sair de graça? - perguntei.

Mas ela não respondeu, e as outras já andavam em direção ao caixa.

- Sério? Você conseguiria?

- Débora, isso seria antiético. - ela respondeu sem olhar para trás.

- E o que você vai fazer agora?

- Eu vou embora, Débora. Já me diverti bastante. Aproveitem a viagem.

E antes que eu pudesse me despedir a figura sorridente de Liz desapareceu bem na minha frente como a mágica protagonista de um filme que todos gostam. Minutos depois, as outras voltaram para continuar a viagem. Eu acho que fiquei parada olhando para o nada, cada um desses minutos, mas não tenho certeza.

- Cadê a Liz? - Clarice perguntou.

- Acho que enjoou da gente. Imagino que ela pensou que fosse nos assustar mais. E ela disse que não iria precisar andar mais.

- É, talvez ela só tenha ficado cansada de usar o mesmo truque e resolveu descansar com a gente. - Fernanda perguntou.

- Bom, ninguém vai acreditar na gente  mesmo...

- Nem eu vou acreditar em nós, Clarice - emendou Rúbia - e eu estava lá!

- Pelo menos a parte do tapa vamos poder explicar. É só eu omitir umas coisinhas aqui e ali, mudar outras, aí não vamos parecer malucas. Não completamente... - eu disse.

Todas acharam graça. O resto da viagem foi tranquila. Boa música, boa companhia. São Caetano das Flores também foi muito legal. Nos divertimos bastante, tanto quanto no caminho. Mas essa aí já é outra história.

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3330 palavras

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