Capítulo 18 - É melhor esquecer o que vivemos
Me enfiei no trabalho para não pensar em Lúcia o tempo todo. Eu sabia que minha fuga não duraria muito tempo. Nem mesmo um dia glorioso de São Paulo me deixava alegre. O sol entrando pelas janelas do escritório até o teto inundava o ambiente com uma claridade muito forte.
Caminhei até a janela e observei a vista soberba da silhueta de São Paulo. A vida nas nuvens com certeza era bem mais tranquila que a minha. Mesmo quando vinha a tempestade, a fúria não se comparava aos problemas com cafetões, violência e ameaças. Estremeci ao pensar no que eu me meti ao me envolver com Lúcia. E o pior, foi envolver a minha família toda nessa história.
Ironicamente, eu havia encontrado a mulher perfeita para mim. Carinhosa, linda e simpática, mas que vivia em um mundo paralelo ao meu. Totalmente desgarrado da realidade. Uma realidade sem acordos, sem amor, com traição que não fazia parte de minha vida em nada. Mas, a situação de estar tão apaixonado me fez perder completamente a noção do perigo. Sei que traí Olívia durante dois meses e talvez eu estivesse pagando todos os meus pecados por isso. Tudo bem que eu merecia passar por coisas muito piores, mas será que tinha coisa pior do que se apaixonar por uma mulher proibida para mim?
Bebi uma xícara de café, antes de voltar para minha mesa e me enfiar novamente em meus processos, mas então meu celular tocou.
− Pai?
− Estou te esperando no Lellis para almoçar comigo – afirmou, meu pai.
Nem me dei conta de que já era hora do almoço.
− Estou cheio de trabalho, não posso parar agora – na verdade, eu não queria ver ninguém, muito menos meu pai. Ele notaria na hora que estou com problemas. E para mim, seria meu maior problema.
− Uma hora vai ter que parar, meu filho. Então é melhor que seja agora, antes que fique doente.
− Mas...
− Sem "mas". Estou te esperando e não aceito não como resposta.
###
Uma das partes boas de ser convidado pelo meu pai para almoçar em um restaurante de São Paulo em plena sexta-feira era que era possível chegar despreocupado sem esperar a vida inteira por uma mesa. Ele tinha a sua mesa vip e claro já me esperava sentado nela.
Meu pai me viu e era bom vê-lo também tão sorridente e feliz. Não sei se era por causa da noite mal dormida, das leituras longas dos processos que eu me enfiei nesses dois dias ou por causa de toda a situação tumultuada que passei com Lúcia esses dias todos, mas assim que meu pai me abraçou eu estremeci.
− Obrigado por me tirar daquele escritório. Eu precisava mesmo de ar fresco e boa companhia.
− Ah, filho.
Sentamos e meu pai me observou.
− Então, Thomas... me conte sobre essa mulher que está deixando você nessa confusão toda.
Ai, droga! Como meu pai poderia saber? Não podia contar nada sobre Lúcia, pois eu sabia que ele não me perdoaria. Ainda mais por ela ser uma Stripper complicada e envolvida com um cara capaz de matar todos nós por causa dela. Mas será que não seria uma boa eu poder desabafar um pouco com ele, pelo menos contar quem era Lúcia?
− E então? – ele me provocou.
− O nome dela é Lúcia. Ela é linda. O senhor a conhece. É a irmã da Olívia.
Ok. Eu fiquei feliz com minha síntese precisa e acurada sobre Lúcia. Bebi um pouco de água. Ele me olhou com aqueles olhos azuis profundos.
− Bom saber que estamos todos em família. Mais uma vez.
− É, mas eu acho que não vai dar certo.
− Por que?
− Ah, pai, ela não está tão a fim de mim como eu gostaria.
− Você gosta dela?
− Gosto demais.
− É mesmo?
Ele me olhou boquiaberto. Talvez por eu estar me abrindo pela primeira vez.
− Sim, pai.
− As mulheres são como uma caixinha de surpresas. São como cristais. Normalmente se quebram apenas com uma palavra errada na hora errada. E a gente passa horas tentando consertar as coisas, quando está na cara que não tivemos culpa de nada. Se eu fosse você, eu tentaria entender melhor o que essa moça quer. Isso poderia ajudar.
Parecia um bom conselho, mas chegou tarde demais. Lúcia me traiu com Yuri. Ela beijou aquele escroto como se fosse completamente apaixonada por ele.
Olhei para meu pai. Desde a morte de minha mãe, ele não vivia uma fase tão boa como essa. Sua vida havia ficado perfeita ao lado de Flávia. Talvez soubesse alguma coisa sobre as mulheres afinal de contas.
− Quase todas as mulheres são difíceis de entender. Umas mais, outras menos. Pense na sua mãe, por exemplo...
Ele ficava com um olhar meigo e tristonho sempre que pensava em minha mãe. Aquela mulher cautelosa e sorridente que infelizmente foi arrebatada por um câncer cruel ainda tão jovem. Uma parte minha achava que meu pai procurou em Flávia essa jovialidade que a vida tirou de minha mãe.
− Eu achava que sua mãe sempre tentava me deixar feliz. Até mesmo naqueles dias mais difíceis – ele suspirou. – Nós só queríamos estar juntos.
Talvez ai estivesse o nosso problema. Lúcia não queria ficar comigo. Se quisesse não teria beijado Yuri.
− Flávia quer ter um filho meu.
− Sério, pai? Ela finalmente resolveu aceitar uma criança nova naquela casa?
Sorri para ele.
− Eu nem sei como vai ser – ele sorriu. − Mas, eu vou adorar começar do zero de novo.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top