Capítulo 12 - O aviso


Abri os olhos aos poucos, e, por um instante, curti o ambiente estranho e desconhecido, tranquilo e sereno. O silêncio me assustou. A luz estava apagada, mas a claridade do sol insistia em invadir o quarto pelas frestas da janela. Sentia-me confortável naquela cama, quando me dei conta de que dormi no quarto de Lúcia. Eu estava só de jeans e avistei minha camisa pendurada na maçaneta da porta logo acima dos meus sapatos.

Lembranças fragmentadas da noite anterior voltavam lentamente para me assombrar. A dançarina da boate, a nossa noite de amor, a briga com Yuri, nossa conversa reveladora. Me contraí por dentro certo da puta enrascada que eu estava metido. Sabia que teria sérios problemas pela frente, mas não podia abandoná-la sabendo que Yuri era capaz de qualquer coisa para poder ficar com ela. Droga!

Olhei para a cômoda. Nela havia um copo de suco de laranja e dois comprimidos. Sentei-me na cama e tomei os dois de uma só vez. Na verdade, eu precisava mesmo de um analgésico, já que minha cabeça doía muito, além do corpo todo.

Ouvi uma batida na porta. Ela abriu e entrou.

− Oi, Bonitão. Como está se sentindo?

Lúcia abriu a janela e a luz do dia me fez estreitar os olhos.

− Não tão bonitão assim.

− Ainda sente muita dor? – ela olhou para mim. Sua expressão preocupada me fez sorrir. Gostei disso.

− Um pouco, mas, vou ficar bem. Que horas são?

− Quase onze.

Mais uma vez, olhei para o rosto de Lúcia e senti aquela paixão ardente no coração. Eu me importava com ela. Talvez a atração e o carinho pudessem se transformar em algo mais.

− Então temos tempo. Vem cá.

Ela se aproximou lentamente da cama e sentou-se ao meu lado.

− Não sei se vai dar certo nós dois juntos, Thomas?

− Você não quer tentar?

− Na verdade, eu estou tão apaixonada que se algo te acontecer, eu não sei o que seria de mim. E não sei se sou forte o suficiente para encarar qualquer coisa que te aconteça.

− E como é que vamos fazer então?

− Você pode sair por aquela porta e viver sua vida sem riscos, Thomas. Pode ser feliz com qualquer mulher que queira. Você é um cara muito legal, lindo e apaixonante. Muitas mulheres dariam tudo para ficar com você.

− Eu não quero outra mulher – meu coração disparou. Um silêncio irritante me incomodou. − É isso mesmo que você quer? Eu devo sair por aquela porta sem tentar fazer qualquer coisa para que Yuri desista de você?

Ela passou a mão pelos cabelos. Seu maxilar estava rígido e eu sabia que aquilo era um sinal de nervosismo.

− Ainda sou uma dançarina de boate, está bem? – ela falou. − Tenho um chefe capaz até de matar qualquer um que se aproxime de mim. Queria muito que fosse diferente, mas é impossível qualquer mudança.

− Nossa, Lúcia! Você não pode viver assim, como uma prisioneira. Deve haver algo que possamos fazer. Uma denuncia, uma chantagem, algum ponto fraco dele que você possa usar a seu favor.

− Eu já tentei de tudo, Thomas. Você não tem ideia das loucuras que já fiz para conseguir sair dessa vida. A primeira vez que tentei me esconder dele, fui para a casa da minha mãe. No outro dia, pela manhã quando saí para comprar pão, ele já me esperava no portão. Viajei para o nordeste com documento falso, mas, depois de três dias ele me achou e me bateu por eu tentar fugir dele. Tentei tirar um passaporte falso, mas Yuri descobriu também, me prendendo em sua casa por uma semana. Parece que todos os estelionatários estão ao lado dele. Não tem como eu sumir. Yuri tem um monte de capangas que me vigiam 24 horas por dia. Tenho certeza que ele sabe que você está aqui. Aliás, você tem a prova disso. Olhe para o seu rosto.

Fiquei imóvel. Meu estômago deu um nó.

− Não sei se seria justo eu te envolver em meus problemas – ela parecia exasperada.

− Eu quero correr esse risco...

− Você não merece passar por nada disso comigo, Thomas.

− Eu sei. Mas, eu queria que soubesse que não vou cometer nenhum erro com você. Não vou repetir nenhum deslize como fiz no meu passado. Vou ficar com você porque estou perdidamente apaixonado e pronto para te ajudar a sair dessa situação. Não sei o que você fez comigo, pois eu não sou assim.

− Assim como?

− Bem... Se fosse em outra época, com outra garota, eu jamais me arriscaria para ficar com ela. Eu não estaria aqui. Acho que enlouqueci – os olhos dela ardiam em chamas, com uma intensidade que me tirou o fôlego.

Eu a abracei e colei meus lábios nos dela, em um beijo calmo e apaixonado. Apertei Lúcia contra meu corpo e senti seus dedos enlaçarem meu pescoço possessivamente.

− Relaxe, Lúcia. Eu quero você.

Então, ela se levantou e se afastou de mim. Lentamente tirou o vestido amarelo, ficando apenas de calcinha. Linda demais. O cabelo escuro e liso caía como um tecido escuro sobre seus ombros. Ela olhava para mim com um olhar meigo, caminhando devagarinho em minha direção. Segura, sensual, olhos em brasa, e meu coração começava a palpitar. O sangue latejava em minhas veias e lá embaixo eu já estava duro como uma rocha. O desejo palpável e quente se concentrava em minhas entranhas. Absolutamente sexy. Uau!

− Posso tirar sua calça? – ela disse baixinho e já abrindo o botão e o zíper. Em questão de segundos, eu estava só de cuecas. − Tem ideia do quanto eu quero ficar com você, Thomas? – murmurou.

Não conseguia tirar os olhos dela. Seu corpo perfeito, seu seio redondo me dando sinal de desejo. Ela esticou o braço e correu os dedos macios devagarinho pelo meu rosto até o queixo.

− Eu quero tentar. Mesmo que seja a maior loucura da minha vida.

Inclinando-se sobre mim, ela me beijou. Seus lábios estavam exigentes, firmes e lentos, moldando os meus. Assim, o desejo aumentando, o beijo ficou obstinado, sua língua e lábios adulando os meus.

− Ah, Lúcia. Você é muito gostosa!

Gemi e minha língua encontrou timidamente a sua. Eu a envolvi em meus braços e a arrastei para cima de mim sobre a cama, apertando forte seu corpo contra o meu. Mantive uma mão em seu cabelo macio e cheiroso enquanto a outra desci pela sua coluna até chegar ao quadril. Parei ali e apertei com vontade. Ela gemeu e aquilo me levou ao delírio.

Suspirei em sua boca. Mal conseguia conter meus sentimentos que me percorriam desenfreados. Rolamos na cama e eu fiquei sobre ela. Lúcia ficou imóvel, me encarando, os olhos brilhando em desejo. Me levantei, tirei a cueca, peguei o preservativo na carteira, e depois de colocá-lo tirei sua calcinha quase explodindo de tesão. Cada detalhe do seu corpo era perfeito. Cada curva, o arrepio da pele, o olhar de desejo por mim. Debrucei-me, pairando sobre o corpo quente de Lúcia, olhando-a nos olhos, a mandíbula cerrada, os olhos ardentes.

E quando a penetrei fundo, com a boca entreaberta, a respiração áspera, Lúcia gemeu. A sensação era avassaladora e instrutiva de estar dentro dela. Ela se movimentava para frente extremamente devagar, com os olhos fechados e gemendo. Tornei a penetrá-la, mexendo sem parar. E pela primeira vez em anos, me sentia completamente feliz, quando chegamos juntos ao êxtase total.

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Agora eu sabia. Eu sabia como era segurá-la e tocá-la como eu sempre quis. Agora eu sabia como era ter a mulher mais gostosa do mundo em meus braços, olhando em meus olhos enquanto eu me deliciava dentro dela. Ela me desejando. Eu dando o meu melhor para satisfazê-la.

Olhei para o lado e lá estava ela, dormindo como uma princesa. Uau, que vista. De frente para mim, eu podia contemplar sua beleza em cada detalhe. Seu rosto jovial, mais relaxado pelo sono, me dava vontade de nunca mais parar de olhar. Seus lábios carnudos ligeiramente entreabertos, e seu cabelo limpo gloriosamente bagunçado. Deveria ser proibido por lei, uma mulher ser tão bonita assim. Era tentadora a ideia de acordá-la para mais uma transa quente, mas o meu estômago já reclamava. Eu não comia desde o jantar e a fome já me incomodava. Talvez eu pudesse buscar comida para nós dois, já que eu não tinha coragem de acordá-la daquele sono tão gostoso.

Deslizei pela cama, vesti minhas roupas e fui ao banheiro. Olhei no espelho em cima da pia, e meu rosto parecia uma máscara de Halloween. O olho esquerdo havia inchado ainda mais, com um hematoma roxo na bochecha, um corte no lábio e outro no supercílio. Belo trabalho o Yuri fez comigo. Fiz uma careta ao me olhar no espelho. Teria sérios problemas se continuasse com ela. Honestamente, não tinha cabimento me apaixonar por uma mulher deslumbrante, mais linda que Afrodite, a deusa da beleza, mas que era stripper em uma boate onde o seu chefe a proibia de namorar, por se dizer apaixonado por ela. Estremeci. Me sentia perturbado e confuso. Meu cabelo desalinhado pós-foda me entregava para qualquer pessoa. Molhei as mãos na água da torneira e tentei colocar em ordem o caos que se formou em minha cabeça. Peguei o pente apoiado na janela e fiz o melhor que pude para melhorar o visual.

Voltei para o quarto. Lúcia ainda dormia um sono profundo, então, calcei os sapatos e fui comprar comida para nós dois.

Desci pelo elevador, e fui num passo decidido para o restaurante japonês mais próximo do prédio. Lá fora, o sol brilhava e havia pouco tráfego. Virei à esquerda e caminhei até a esquina, onde esperei o sinal abrir. O sinal abriu e eu continuei a caminhar procurando por um restaurante limpo, descente e com comida de qualidade. Não conhecia aquela região e não tinha nenhuma ideia do que eu poderia encontrar. Até que eu entrei em um restaurante japonês bem simpático. Era quase uma hora da tarde e o local não parecia estar tão cheio. Pedi dois pratos de yakisobas de frango para viagem e em menos de meia hora estava de volta ao apartamento de Lúcia.

Assim que abri a porta, ouvi o barulho do chuveiro desligar. Deixei a sacola com a comida na mesa e me sentei no sofá para esperá-la. Apanhei o celular do bolso e logo vi que tinham três mensagens. Duas do João e uma de um número desconhecido.

Então, curiosamente, abri primeiro a mensagem desconhecida. Eu podia ouvir o barulho do caminhão de coleta de lixo lá na rua, o som do avião passando por nós lá no céu. Lúcia abriu a porta do banheiro e eu fiquei paralisado com a imagem linda dela, com a pele corada, usando o mesmo vestido amarelo e os cabelos presos em um coque alto. Ainda segurava o celular, mas não consegui ler nada do que tinha ali. Na verdade, ela me hipnotizou com sua beleza.

− Comprei comida para nós dois. Está com fome?

− Muita – disse com um olhar intenso para mim.

Lúcia foi até a cozinha, colocou dois pratos na mesa, com os talheres ao lado e pegou um refrigerante na geladeira.

− Trouxe Yakisoba. Gosta?

− Adoro.

Pousou dois copos sobre a mesa e me esperou para sentar.

− Vamos comer Thomas?

− Claro – agradeci com um gesto de cabeça enquanto ainda segurava o celular.

− Está esperando alguma ligação?

− Não. É que recebi uma mensagem de um número desconhecido e... – olhei para o visor e meu sangue sumiu totalmente do meu corpo. Lá estava a foto do meu pai, de Flavia ao lado de Olívia e Fred com meu sobrinho Ítalo no colo.



Eu conheço todos eles e sei onde moram.

Deixe a Lúcia agora, ou vou me divertir muito com sua família.

É o meu último aviso.

Yuri.



− O que foi, Thomas? Você está pálido.

Fiquei imóvel. Senti um frio na barriga de repente.

− O que aconteceu? Algum problema?

Estiquei o celular e dei para Lúcia ler a mensagem.

− Eu sabia que ele iria fazer isso.

− O quê? – eu não conseguia respirar.

− Ele estava no aeroporto quando você voltou de Nova York. Eu só não esperava que ele fosse capaz de seguir todos os seus passos e descobrir tudo sobre você. Não tem pra onde correr, Thomas. Ele vai cumprir o que prometeu.

Soltei o ar. Eu não poderia envolver minha família nessa história. Mas Lúcia... Ela precisava de mim, principalmente para sair dessa situação. Uma parte de mim queria ir embora e salvar a minha família das garras de Yuri. Porém, olhando para Lúcia, com a expressão preocupada, aflita e desamparada, sentia que não poderia abandoná-la, simplesmente. Suspirei.

− Droga! Fodeu. 

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