Parte 2 - Uma pequena revanche...

24 de dezembro de 2016

Era exatamente 16:25. Amélia tinha um sorriso satisfeito no rosto; toda a ceia estava pronta e ela ainda teria um bom tempo para se arrumar. Faltava apenas as rabanadas que era sua receita favorita do Natal. Ela começou a pegar os ingredientes e colocar no balcão onde cozinhava.

- Como vai as coisas aí filha? - seu pai entrou na cozinha, guardando o celular no bolso. Ela tinha ouvido a voz animada dele na sala e estava curiosa para saber com quem ele estava falando.

- Está tudo mais que perfeito. Só vou fazer as rabanadas e então vou me arrumar. - ela responde abrindo a caixa de leite e colocando o líquido branco numa tigela de vidro. - Quem era no telefone?

Seu pai pegou uma colher da gaveta de talheres e foi até o balcão, roubando uma colher do mel que Amélia usaria na rabanada.

- Mauro. Queria avisar que ele e a família já chegaram do aeroporto e estão em casa. - ele terminou de lamber o doce da colher e foi até a pia lava-la. - E também queria confirmar o horário da ceia.

Amélia engoliu em seco. Fazia dez anos que a família Martins não passava o Natal com eles. Não que tivesse algo haver com o desastre de 2006, mas sim com o fato que o Sr. e a Sra. Martins foram cuidar da nova filial da empresa em Nova York. Aquele Natal mesmo havia sido como uma despedida.

Só que agora eles estariam de volta.

Não é que Amélia fosse de guardar mágoa... Está bem, talvez ela guardasse um pouquinho de mágoa. Mas em defesa dela, Felipe estragou seu Natal naquele ano! A data que ela mais ama! Todas as tradições... Não importava que ela já era uma moça madura, Amélia precisava fazer algo para estragar a data para ele dessa vez.

- Você vai colocar nozes na receita? - seu pai perguntou, trazendo ela de volta para a realidade.

Ele estava olhando para o quebra nozes em cima do balcão, o que atraiu a atenção dela também.

- Vou sim, por que?

- Se eu me lembro bem Felipe não gosta... Ou algo assim. Acho melhor não colocar, de qualquer jeito. - ele deu um beijo na bochecha da filha, se despedindo, e saiu da cozinha.

Amélia não resistiu ao olhar para aquele objeto; iria ser uma boa revanche. Então pegou o quebra nozes e começou a usa-lo para quebrar as cascas. Após ter todas as nozes fresquinhas, ela as ralou no leite da rabanada.

Era como diziam, a vingança tem um sabor maravilhoso.

🎄

Amélia estava devidamente arrumada. Ela se olhava no espelho, procurando qualquer erro na sua imagem e sorriu ao não encontrar nenhum. Seu vestido era o que mais lhe agradava; longo, mas de um tecido leve e casual, estampado com pequenas e delicadas flores.

Ela teria ficado mais tempo em frente do espelho, se sua mãe não tivesse entrado no quarto.

- Querida, já estão todos lá embaixo. -sua mãe parou no meio do caminho e sorriu aprovando o visual. - Acho que você já está linda. Vamos descer?

Amélia sorriu e concordou. Saiu do seu quarto e desceu as escadas atrás de sua mãe. Na sala encontrou todos conversando animadamente.

Felipe Martins respirou fundo ao vê-la ali. Ela estava ainda mais linda do que lembrava. Seus cabelos negros continuavam tão lisos quanto antes e seus olhos castanhos ainda tinham o mesmo tom crítico. Ele não entendia bem o porquê, mas sempre gostou do ar imponente que ela tinha.

- Até que enfim filha, achei que tivesse acontecido algo com você lá em cima. - o pai de Amélia falou assim que viu ela.

Amélia deu um meio sorriso contido, observando todos na sala e notando que um integrante da família Martins estava faltando; Murilo.

- Bem, como estava falando, infelizmente Murilo decidiu ficar em Nova York com a namorada. - o Sr. Martins falou como se lesse a mente de Amélia.

Aquilo era meio decepcionante. Amélia tinha pensando que talvez algo proveitoso pudesse ser tirado daquela noite. Não que ela nutrisse uma super paixão por Murilo, mas lembrava que na infância tinha uma queda por ele. De qualquer forma isso não importava mais.

- Esses jovens... - sua mãe comentou e os adultos engataram em outra animada conversa.

Amélia suspirou entediada ao perceber que, ou teria que ficar olhando pro nada e ignorando Felipe, ou iria ter que conversar com ele. Apesar de se sentir tentada a ignora-lo, ela prezou pela boa educação.

- Oi. - ela disse ao parar no lado de Felipe. Ele olhou para ela e abriu um sorriso espontâneo.

Amélia tinha que admitir: o tempo fez bem para ele. Felipe estava uns bons quinze centímetros mais alto que ela, com o porte meio atlético mas ainda meio magro. Seu cabelo castanho era cheio de cachos meio desmanchados mas ainda fofos e ele não tinha mais dente faltando; seu sorriso estava realmente lindo. O que não parecia mudar eram seus olhos que lembravam sempre mel derretido.

- Oi Abelha. - ele falou maroto. Isso também parecia não mudar nunca.

- Sério que ainda vai me chamar assim? - Amélia arqueoou uma sobrancelha.

- Força do costume. - ele deu de ombros, com as mãos no bolso da calça. - Mas então... Soube que fez toda a ceia. Estou ansioso para saber se realmente cozinha tão bem quanto seu pai fala.

- Ah, disso eu não posso discordar. - respondeu sorrindo. Ela não gostava de falsa modéstia. - Minha especialidade é principalmente rabanadas.

Ele tinha ficado curioso, Amélia percebeu pelo olhar dele. Então pediu para ele esperar e foi até a cozinha, onde pegou a tigela que estava cheia de rabanadas. Voltou para a sala com um sorriso estampado no rosto.

- E lá vem a melhor chef que conheço. - o pai da menina falou roubando uma rabanada e comendo com uma cara maravilhada. Todos fizeram o mesmo, sendo Felipe o último a pegar o aperitivo.

- Espero que goste. - Amélia tinha um sorrisinho de canto.

Para Felipe era um tanto estranho aquela situação. Ela estava tão diferente da menina de dez anos atrás... Ele gostava do fato dela estar mais simpática. Apesar de sentir falta das respostas orgulhosas. O que ele não podia negar é que ainda gostava mesmo dela.

Por isso ele comeu a rabanada sem suspeitar de nada.

- Hum... - ele apreciou o sabor. - Isso está maravilhoso.

- Obrigada. - Amélia pôs a tigela com rabanadas na mesa de centro. - Tem um tempero especial.

- Tempero especial? - ele pegou outra após ter terminado de comer a primeira. - Qual?

- Uma coisa bem simples. - ela sorriu para ele ao dizer as próximas palavras. - Eu adiciono nozes no leite.

Felipe se engasgou imediatamente, atraindo a atenção do restante das pessoas na sala. Todos olhavam preocupados enquanto o pai dele batia nas costas do garoto tentando ajuda-lo. Ele se recuperou, mas ainda estava meio vermelho.

- Nozes... Na rabanada... - o garoto pediu com a voz rouca. - Meu anti alérgico, por favor.

Felipe estava ficando cada vez mais vermelho e Amélia mordeu os lábios se sentindo meio culpada. Ela achava que ele simplesmente não gostava de nozes. Agora ele tinha mesmo que ser alérgico a nozes?!

1180 palavras.

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