Parte 1 - Uvas-passas chatas.

24 de dezembro de 2006.

Biscoitos. Amélia amava o cheiro de biscoitos.

Ela respirou fundo, sentindo os aromas se misturarem. Baunilha, chocolate, morango, canela... Sorriu pensando que o Papai Noel ficaria muito feliz com seus biscoitos e lhe deixaria vários presentes legais.

- Vamos levar para o papai provar? - sua mãe falou, segurando um pote cheio dos biscoitos.

Amélia abriu os olhos e sorriu abertamente. Antes de deixar os biscoitos pro Papai Noel seu pai tinha que aprovar. Na cabeça infantil dessa garota de sete anos, eles são tipo parentes. Ela diz que, por causa do nome deles serem iguais, eles são meio que irmãos ou algo assim. É por isso que, se seu pai gostar dos biscoitos, o Papai Noel também irá gostar.

- Vamos Amélia? - sua mãe já estava na porta da cozinha, esperando a menina.

- Tô indo mamãe. - Amélia levantou do banquinho e correu para a sala, onde seu pai estava sentado no sofá assistindo televisão. - Cheguei primeiro.

Comemorou rindo, pulando em cima do sofá.

- Então vai ser a primeira a ganhar um ataque de cócegas. - seu pai a pegou no colo, lhe enchendo de cócegas. Ele ria junto com ela, o que só fazia a menina rir mais.

- Está tudo muito divertido, mas seu pai precisa provar os biscoitos, não é? - a mãe lembrou e, fazendo uma cara séria, o pai sentou a pequena Amélia no lado dele e pegou um biscoito de cada sabor.

A menina encarava o pai com os olhos brilhando de ansiedade. A cada mordida que ele dava, ela pensava se o biscoito estava de fato saboroso. Será que ele ia gostar das gotas de chocolate? Será que ela não colocou canela demais? As questões de uma criança são tão singelas.

- E então? - ela perguntou quando o pai experimentou o último sabor.

Ele abriu a boca para responder, mas nesse momento a campanhia tocou. Amélia fez bico emburrada por estarem atrapalhando seu mágico momento dos biscoitos.

- Acho que o pessoal chegou. - seu pai se levanta e, ao ver a cara emburrada da filha, sorri de lado. - Quem sabe eles podem dar uma nota para os biscoitos também?

- O biscoito é pro Papai Noel, não pra eles. - ela cruzou os braços. - E só sua nota importa.

- Não fale isso Amélia. - a mãe fez cara feia. - Lembre que o Papai Noel só vai vim se você for uma boa menina. Além do mais, os biscoitos dele já estão guardados.

- E para você saber os biscoitos estão perfeitos. - seu pai fala por fim, fazendo Amélia sorrir satisfeita.

Seus biscoitos estavam perfeitos e ela jurava ser uma boa menina. Amélia tinha certeza que Papai Noel ia ficar tão orgulhoso que iria lhe encher de presentes.

🎄

O motivo da campainha tocar era a família Martins.

Ao todo eles eram quatro; O Sr. Mauro Martins e a Sra. Denise Martins, e seus filhos Murilo e Felipe. O Sr. e a Sra. Martins eram sócios dos pais de Amélia numa crescente empresa de marketing. Por isso eles quase sempre se reuniam em almoços ou jantares. Mas esse seria o primeiro Natal das famílias reunidas.

A menina até que gostava da família Martins, especialmente de Murilo.

Murilo é dois anos mais velho que Amélia, a própria garota já calculou isso. Ele é muito inteligente e tem um sorriso que faz a menina ficar encantada. Ela gosta muito dele. Já com Felipe Martins a história é outra.

Mesmo com as idades iguais, Felipe e Amélia não tem uma relação perfeita. Na verdade a garota o detesta. Segundo ela, ele é um chato chiclete que não sai do seu pé.

E é isso que ele está fazendo agora. Assim que vê a garota sentada no sofá, ele corre e senta ao seu lado.

- Oi Abelha. - ele fala sorrindo. Ele perdeu um dente, então o sorriso dele fica muito engraçado. Mas Amélia faz cara feia, porque não gosta que ele lhe chame de Abelha.

- Meu nome é Amélia Santos Lira. - fala como sua professora lhe ensinou. - Não Abelha.

- Eu gosto de Abelha. - ele fala e fica vermelho. - O nome Abelha, não Abelha você.

Para Amélia aquilo era um claro sinal de insulto. Ele estava mesmo dizendo que não gostava dela?

- Já que estão todos aqui, podemos iniciar a ceia. - a mãe da menina fala, interrompendo a conversa das crianças, e todos vão para a mesa do jantar.

Amélia senta no lugar dela de sempre e faz careta quando Felipe senta no seu lado. Pra quê ele vive me seguindo?, ela pensa.

Ia falar para a mãe tirar ele dali, mas a mesma começa a oração, então a menina fecha os olhos e reza pedindo para Deus que Felipe parasse de ser tão chato.

Enfim eles começaram a servir os pratos, e ela sorriu por poder se servir sozinha. Como seu pai diz, ela está ficando uma mocinha.

- Me dá a uva-passa mamãe? - Felipe pediu e Amélia fez outra careta.

- Credo. Uva-passa é horrível. - falou. Ainda bem que sua mãe não coloca na comida dela.

- Na verdade é bem legal. - Felipe diz.

- Pra mim é chato, como você. - a menina falou na hora que a mãe dele entregava o pote de uva-passa para ele.

- Amélia! - a voz da mãe da menina tinha o tom sério de recriminação.

Felipe olhou distraído para Amélia e então o pote virou da mão dele e todas uvas-passas cairam na comida da menina.

- Ops. - ele fala e recebe um olhar furioso da mesma.

- Ele derramou de propósito. - atestou cruzando os braço, irritada.

- Foi sem querer Abelha. - ele diz.

- Calma Amélia, dá pra catar. - o pai dela fala catando as uvas-passas do prato.

- Pede desculpa filho. - o Sr. Mauro fala olhando feio pro menino.

- Mas Pai... - ele tenta falar.

- Ele não precisa se desculpar. Foi sem querer. - a mãe da menina tenta intervir.

Então uma série de discussões sobre "quem devia pedir desculpas" começou entre os pais. Enquanto Felipe estava de cabeça baixa olhando o chão e se sentindo culpado, e Murilo comia a comida dele sem se interessar pelo que ocorria. No meio de tudo isso Amélia só pensava no quanto odiava uvas-passas.

E isso tudo era apenas o começo.

1026 palavras.

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