Castelo de Vidro - Capítulo 4

Nota da autora (booh_Rogue): Voltamos gente! Yeeeey!

Estive ansiosa para postar esse capitulo.. E espero de verdade que gostem dele.

Para os que não sabem.. Eu fiz um grupo no face para ter mais acesso a vocês. Colocarei o link nas notas finais.

Enjoy


Quando abri os olhos, estava em um quarto antigo, com papel de parede floral e móveis de madeira escura. Eu ainda vestia meu jeans preto rasgado e minha blusa cinza que eu havia colocado para viajar confortável. Os grilos lá fora, gritavam enlouquecidos. Onde eu estou? Olhei para o lado, procurando algo familiar. Victor estava sentado a mesa, olhando para seu laptop. Parecia tão concentrado, que fiquei olhando para ele por um bom tempo antes dele levantar os olhos e olhar para mim.

- Chegamos a muito tempo? - perguntei, levantando da cama, indo até minha mala, no pequeno armário e pegando meu casaco branco.

- Acho que uma hora - ele respondeu, se espreguiçando.

- Já vi que não conseguiu nos mudar d quarto - falei, olhando em volta.

Nosso chalé era pequeno e aconchegante. Estava um pouco frio, mas nada insuportável. Tinha uma cama de casal, mini sofá, televisão, mesa de jantar e cozinha americana. Tudo no mesmo cômodo. A única parte separada era o banheiro.

Victor estava na mesa de jantar, mas algo na cozinha estava sendo preparado. Tinha o cheiro muito bom.

- Não consegui. Os quatros duplos estão todos ocupados. Acho que todos nessa palestra estão hospedados aqui - ele disse, levantando e indo até a cozinha - mas não se preocupe, vou dormir no sofá.

Olhei para o sofá, e nem eu dormiria confortável ali.

- Pelo amor de Deus Vic, o sofá é minúsculo - falei, indo atrás dele.

- Só uma noite.

- Eu não me importo de você dormir comigo - falei, parando ao seu lado.

Ele me olhou demoradamente, negando em seguida com a cabeça e voltando sua atenção para a panela a sua frente. Resolvi que não era a hora de falar daquilo.

- O que você está fazendo? - perguntei, me inclinando para sentir o cheiro.

- Molho bolonhesa, para colocar na lasanha. Quero provar?

- Quero, está com um cheiro delicioso - falei, sentando na bancada.

Victor sorriu e pegou um pouco na panela. Ergueu a colher diante de mim e sorriu. Fiquei olhando para seu sorriso. Eram tão raros e lindos que não conseguia pensar em outra coisa, muito menos na temperatura do molho. O provei, ainda olhando para ele, queimando a boca, logo em seguida.

- Hmm, ai. Minha boca - reclamei. Levando a mão ao lábio queimado.

- Meu Deus, Georgia - ele exclamou, pegando o pano de prato e molhando na pia.

Victor parou na minha frente, entre minhas pernas, segurou meu queixo com uma mão e com a outra levou o pano aos meus lábios. Segurei suas mãos, as mantendo ali, sentindo um alivio na leve ardência. Fechei os olhos e respirei fundo. Quando os abri, Victor me olhava com o cenho franzido, parecendo preocupado.

E ali, olhando para seus brilhantes olhos azuis, percebi o quanto eu o queria. Queria seus lábios nos meus, queria sentir sua pele, seus cabelos. Ainda segurando suas mãos, as acariciei levemente com os polegares. Seus olhos foram dos meus para nossas mãos.

Quando ele olhou novamente para meus olhos, sua expressão mudou. Tudo a nossa volta mudou. Victor tirou o pano de meus lábios, o deixando cair em algum lugar sem tirar os olhos dos meus. Com a mão livre, prendeu uma mecha de cabelo atrás da minha orelha e se aproximou, ainda segurando meu queixo com a outra mão.

Sim, sim, sim! Fechei os olhos, esperando por seus lábios nos meu. Sentia todo o meu corpo se arrepiando. Senti o mínimo contato, o leve roçar dos nossos lábios. Coloquei uma mão em suas costas, sentindo os músculos firmes mesmo por baixo do grosso casaco que ele usava.

Mas o cheiro de queimado tomou o lugar. Nos afastamos repentinamente, olhando par o lado. Metade do pano, que antes estava na mão de Victor, estava em chamas. Ele se afastou, indo até lá para tirar a panela do fogo, enquanto eu descia correndo da bancada para pegar um copo de água. Joguei em cima do pano, apagando as chamas.

Estávamos ambos ofegantes, mas não se por qual dos acontecimentos.

- Pelo menos não queimou o molho - ele disse, passando a mão no cabelo - vou terminar logo isso.

Victor pegou uma travessa e começou a colocar a massa da lasanha e o molho, intercalando. Eu ainda estava estática, ao lado do fogão. Sentia meus lábios formigando pelo contato mínimo com os dele.

- Está melhor? - Victor perguntou - você sabe, do lábio?

- Sim, estou.

- Quando algo está no fogo, ele está quente. Precisa soprar.

- Você podia ter avisado que estava quente.

- Não imaginei que você iria fazer aquilo. Em que estava pensando? - ele perguntou, colocando a travessa no forno.

Em você seu idiota!

- Em nada - respondi, virando as costas - mas o molho estava bom.

- Em nada? - ele perguntou, descrente - você podia ter se ferido seriamente.

- Mas não aconteceu. Porque está falando assim comigo?

- Porque.. - ele bufou, passando as mãos no cabelo - você sempre coloca a culpa em alguém. Para tudo.

- Eu não faço isso - reclamei.

- Você disse que eu devia ter te avisado que estava quente - ele falou, elevando a voz.

- Mas você poderia ter feito isso - elevei minha voz também.

- Nada no mundo é sua culpa não é? Tem sempre algum otário para você usar como tapete.

- Do que você está falando? Eu não te acusei de nada.

- Não estou falando de agora, estou falando de..

- De? - perguntei, cruzando os braços.

- Não importa. Mas isso é algo que você faz. Sempre fez. Nunca se importou em pisar nos outros para conseguir o que quer. O mundo não gira em torno de você Georgia.

- Meu Deus Victor, o que deu em você? Estávamos indo tão bem.

- Acho que me deixei levar pelo momento - ele disse, cruzando os braços.

- Se deixou levar? - perguntei, descrente - está dizendo que se arrependeu de ter me trazido.

Ele ficou em silencio. Não negou nem assentiu. Apenas me olhou, levemente ofegante. E aquilo, doeu mais do que qualquer coisa que eu já tenha sentido. Doeu mais do que fisicamente. Eu me senti tão pequena e indefesa, e não sabia, pela primeira vez, o que falar.

- Vou tomar um ar - falei, desviando o olhar antes que eu desmoronasse.

Coloquei o chinelo e sai. Fora do chalé estava ainda mais frio. Apertei o casaco em torno de mim e respirei fundo.

Frustrante. Isso que você é Victor! Primeiro quase me beija, e depois consegue quase me fazer chorar? Acho que nunca chorei na minha vida. Não por causa de pessoas. Não em minha vida adolescente ou adulta.

Eu não costumo ter esses problemas. Quando me interesso por alguém, normalmente essa pessoa também está interessada. Nunca precisei conquistar ninguém. Mas com Victor está sendo diferente. Ele não me quer da forma que eu o quero. Às vezes eu até acho que ele pode estar afim, mas sempre acontece algo que muda tudo. Talvez seja um sinal. O universo, ou seja lá o que for, está me avisando que é um caminho sem saída. E que não dará certo. Acho que Victor e eu estamos fadados a dar errado.

A porta atrás de mim se abriu, mas eu não olhei, continuei encarando a escuridão a minha frente. Victor parou ao meu lado, colocando as mãos nos bolsos. Ele respirou fundo e olhou para mim.

- Georgia eu.. - ele suspirou e passou a mão no cabelo - o jantar está pronto.

Virei e entrei, sem falar nada. Sentei a mesa, onde estava tudo, e coloquei um pouco da lasanha em meu prato. Victor sentou a minha frente, esperando eu terminar para fazer o prato dele.

A lasanha estava deliciosa, mas não irei admitir isso. Meus lábios ainda doíam, assim como meu coração. Comi tudo sem sequer olhar para Victor, mesmo sabendo que ele me olhava. Quando terminei de comer, levantei e fui com meu prato para a cozinha. Eu acho que nunca lavei louça, o que eu deveria fazer? Não posso largar aqui.

Olhei por cima do ombro rapidamente, e ao ver que Victor ainda estava sentado, peguei a esponja com certo nojo, tinha comida colada nela. Eca. Olhei para o detergente, quanto disso eu preciso usar?

- Deixe ai que eu lavo - Victor disse, ao meu lado, me fazendo pular de susto e derrubar o prato no chão.

Ele se estilhaçou como se fosse nada, espalhando vidro em volta de mim. Eu estava descalça, mas Victor estava de sapato, o que permitia que ele se movimentasse sem se ferir.

- Não se mexa - Victor disse, abaixando para pegar o cacos grandes.

Ele levantou, os jogando na lixeira e andou com cuidado até o telefone. Discou um numero curto e esperou.

- Boa noite - disse - deixamos um prato cair no chão, quebrou inteiro. Tem muitos cacos pequenos pelo chão. Chalé seis. Obrigada.

Ele desligou e voltou para perto de mim. Mesmo distante, tentou me pegar no colo, eu recuei, pisando em um dos cacos.

- Hmm - reclamei, prensando os lábios.

- Será que poderia parar de se machucar? Pretendo levar você de volta inteira - ele disse, me pegando no colo.

- O que foi? Por acaso eu te acusei de alguma coisa? - perguntei.

- Georgia, escuta. Sobre o que eu disse - ele falou, me colocando na cama e sentando próximo aos meus pés - eu não..

- Não quero saber Victor. Já entendi o recado - falei, puxando meu pé de volta quando ele o pegou para tirar o caco de vidro - e pode deixar que eu me viro com isso.

- Georgia..

Fiquei mexendo no machucado, que tinha uma quantidade anormal de sangue. Mas não consegui nada dali. Victor pegou meu pé de volta e espremeu o local. Gemi de dor, agarrando os lençóis. Quando não senti mais nada, abri os olhos. Victor me mostrou o caco de vidro sujo de sangue em sua mão.

Ele levantou e foi até o banheiro, voltando de lá com um pouco de papel molhado e prensou no ferimento. Não doía mais. Fiquei deitada, olhando para o teto, sentindo suas mãos em meu pé. E pensar que chegamos próximos a um beijo.

Alguém bateu a porta e Victor foi até lá abrir. Era uma funcionária do hotel, que viera para recolher o prato estilhaçado. Ela nos cumprimentou rapidamente e começou seu trabalho. Manquei até minha mala e tirei de lá meu pijama. Fui para o banheiro e tomei banho rapidamente, já que a água não era quente.

Quando sai, a moça já tinha ido e Victor terminava de lavar a louça. Quando acabou, pegou sua roupa e entrou no banheiro.

Mesmo com pijama de frio, eu me sentia gelada. Entrei debaixo das cobertas, na esperança de me aquecer, mas não serviu de muita coisa. Victor saiu do banheiro, parecendo sofrer do mesmo mal. Ele sentou na beira da cama, virado para mim e pegou minha mão.

- Eu não me arrependi - ele disse, cruzando nossos dedos gelados.

Levantei a cabeça para olha-lo. Ele me olhou e suspirou.

- Não me arrependi de ter trago você. Me desculpe pelo que eu disse. Mas eu fiquei nervoso.

- Tudo bem Victor, já passou. Vamos dormir - falei, soltando minha mão da dele e chegando para o lado - e não me venha com "vou dormir no sofá" porque é fisicamente impossível.

Ele deu de ombros e se acomodou ao meu lado, puxando a coberta até o peito. Ficamos olhando para o teto, até eu finalmente levantar a mão e apagar a luz no interruptor acima da cama.

Ficamos em silencio, até ele se mover, virando para o lado. Pensei em todas as perguntas que já havia feito para ele que não obtive respostas. Parecia demais, principalmente agora que estou ferida. Acendi a luz, sem avisar, o fazendo virar para mim.

- O que você quis dizer quando disse que eu sempre uso alguém como tapete? - perguntei, sentando na cama, de frente para ele.

- Nada Georgia. Eu estava nervoso. Falei sem pensar - ele disse, colocando os braços atrás da cabeça.

Só agora reparei no que Victor vestia. Apesar do frio, estava com uma blusa branca puída, de manga, que realçava seus músculos. Quando ele ficou assim? Sempre foi tão magro. Agora está bonito e forte. Opa, preste atenção Georgia, agora não é hora.

- Não vou te deixar dormir enquanto não falar - reclamei - estou de saco cheio das suas insinuações e ausência de respostas.

- Minhas insinuações? E quanto as suas? - perguntou, sentando.

- Minhas? Eu nunca fiz insinuações a seu respeito.

- Pode não ter feito a meu respeito, mas se insinuou para mim.

- Eu não.. - comecei a falar, mas ele me interrompeu, ficando mais próximo.

- Ficava me provocando durante o trabalho, me puxou para dançar com você, ficou dando papo para desconhecidos na minha frente, me agarrou na sua cama..

- Eu estava bêbada - o interrompi, mas isso não o fez parar de falar.

- E o pior de todos, quando disse "Vem calar". Eu devia ter feito.

- Como quase fez quando discutíamos na nossa sala? Ou quando estávamos dançando? Ou quando estávamos no meu quarto? Ou agora na cozinha?

- Eu não estava.. - ele disse, ficando de joelhos na cama.

- Ah, vai negar? - perguntei, também ajoelhando, nos deixando mais próximos.

- Foi você que começou, em todos os casos.

- Eu não fiz nada.

- Jogando a culpa sobre mim outra vez?

- Isso é muito narcisista da sua parte Victor - falei, cutucando seu peito.

- Ah, eu que sou narcisista? Não é você que estava..

- Eu não estava tentando nada. Não queria "te provocar" - o interrompi - Isso está somente na sua cabeça.

- Somente na minha cabeça?

- É!

- Tem certeza? - perguntou, se aproximando até seu nariz tocar o meu.

Minha respiração falhou, me denunciando. Vi a sombra de um sorriso surgir nos lábios de Victor antes de sentir uma de suas mãos agarrando meus cabelos em minha nuca e a outra segurando minha cintura. Só tive tempo de agarrar seus braços antes dele exigir meus lábios com os seus. Intenso desde o primeiro instante.

Ele agarrou meus cabelos com mais força, puxando minha cabeça para trás e expondo meu pescoço. Desceu seus beijos, indo avidamente até minha orelha e em seguida para meu colo.

Ele me puxava para si, com a mesma vontade que eu o puxava para mim. Travávamos uma batalha pelo poder, nos tocando, apertando, puxando e arranhando. Preciso sentir sua pele, simplesmente preciso. Mas antes que eu pudesse agir e tirar sua blusa, ele me surpreendeu, me jogando com força na cama e deitando sobre mim. Beijou meu pescoço enquanto levantava minha blusa. Envolvi sua cintura com minhas pernas enquanto terminava de tira-la para ele.

Victor se ajoelhou, tirando a sua e me dando um belo vislumbre de seu tronco forte. Estiquei o braço e toquei seu peito, sentindo seus pelos macios acariciarem a palma da minha mão.

- Sempre que perguntei se você ainda a tinha - falei, tocando a pequena chave tatuada em seu peito, próximo ao coração.

- Você não retirou a sua - ele disse, acariciando minha primeira tatuagem. Um pequeno coração com uma fechadura, em meu braço.

- Nunca tive coragem - admiti.

- Nem eu.

Sorri, me sentindo estranhamente tímida, como se nunca tivesse estado com um homem antes. Ele sorriu de volta, deitando sobre mim lentamente e sem tirar os olhos do meu. Me senti envolta por seus braços, sentindo sua pele contra a minha.

Acariciei suas costas, enquanto ele descia seus beijos pelo meu corpo, até alcançar minha calça. Me deixei levar, sem me preocupar com mais nada. Deixei Victor me conduzir até o sentir voltando para cima de mim, me olhando com aqueles olhos azuis que me causavam ao mesmo tempo carinho e raiva.

Nada mais estava entre nós, nada nos impedia.

E assim eu o senti, calmamente, me fazendo subir.

Ele não tinha pressa, e parecia querer fazer aquele momento durar. Eu me senti tão bem por estar ali, em seus braços, que quando chegamos lá, eu não queria soltá-lo.

Ficamos um tempo abraçados, ofegantes, curtindo um pouco mais de intimidade antes dele sair de cima de mim e deitar ao meu lado.

Não esperei que ele me puxasse ou algo assim. Deitei sobre seu peito e dormi, ouvindo seu coração bater acelerado.

Acordei com um movimento sob mim. Eu estava praticamente sobre Victor, com o rosto em seu pescoço, o braço em seu tronco e a perna envolvendo seu quadril. Ele por sua vez, não estava diferente. Com o braço que estava sob meu pescoço ele me prendia contra si e com o outro braço ele segurava minha perna que estava sobre ele.

Victor ainda dormia, mas se mexia levemente em minha direção.

Está aí algo novo para mim, estar com alguém que eu me importe o suficiente para não aproveitar o momento e ir embora, estar com alguém que eu goste o suficiente para ficar ali observando.

Ele abriu os olhos e encontrou os meus. Nos rolou na cama, me pegando completamente de surpresa, de forma que fiquei novamente sob ele.

- Bom dia - ele disse, sorrindo.

- Bom dia Vic.

- Dormiu bem?

- Muito bem. E você?

- Não tenho do que reclamar.

- Porquê não admite que está feliz por minha causa?

- Não te darei essa satisfação - ele respondeu, me olhando desafiadoramente.

- E nem precisa. Seu corpo fala por si - falei, me mexendo sugestivamente sob seu corpo.

Ele riu, corando levemente antes de me beijar. Isso está mesmo acontecendo? Estou toda boba por ter acordado ao lado de alguém?

- Vamos - ele disse, encerrando o beijo e levantando.

- O que? Por quê? - protestei, tentando o puxar de volta.

- Está na hora do café da manhã. É servido no prédio principal. E logo será a primeira palestra - ele disse, colocando uma cueca.

- Palestra? - perguntei, me jogando de volta na cama.

- Viemos aqui para isso - ele disse, rindo e debruçando sobre mim.

- Sim, mas surgiram outras coisas interessantes para fazer.

- Temos tempo - ele disse, me beijando - mas eu quero ir a essa palestra.

- Tudo bem - grunhi, rolando para o outro lado para levantar - vou tomar banho. E acho que deveria se juntar a mim.

- Naquela água gelada? - ele perguntou, indo para a cozinha - acabaríamos congelando antes de conseguirmos fazer qualquer coisa.

- Chato - reclamei, entrando no banheiro.

O dia foi bem cansativo. Mesmo que o assunto da palestra fosse muito interessante, eu me distraia a cada quinze minutos. Victor teve que muitas vezes me cutucar p eu pelo menos olhar para frente. Ele anotava muitas coisas enquanto eu ficava intercalando minha atenção entre o palestrante e a careca brilhante a minha frente.

Quando ele disse palestras, ele não estava brincando. Era uma depois da outra, com pausa para refeições. A ultima delas terminou as sete da noite. Fomos para o quarto, nos preparar para ir embora.

- Posso ver meus emails no seu computador? Minha internet do celular não pega - perguntei, quando Victor entrava no banheiro.

- A internet daqui é lenta, mas pode tentar - ele respondeu lá de dentro.

Liguei o notebook e fiquei esperando a internet carregar a pagina inicial. Eu não pretendia fuxicar nada, mas aquele ícone parecia piscar para mim. Olhei furtivamente para o banheiro e ele ainda tomava banho.

Quando o arquivo abriu, vi o modelo 3d de um edifício. Parecia comercial, pois era todo de vidro e bem alto. Era incrível. Não acredito que Victor está desperdiçando esse talento. Consegui conectar meu email e mandei uma cópia daquele arquivo para mim mesma, preciso ver com mais calma. Assim que eu terminei, ele abriu a porta.

- Conseguiu? - perguntou.

- Sim. Demorou um parto, mas abriu.

- Esperando algum email importante?

- Não. Só queria ver se Melissa tentou entrar em contato.

- Entendi - ele disse, fechando sua mala - podemos ir?

Assenti e desliguei seu notebook. Pegamos nossas coisas e caímos na estrada.

Eu tentava manter um assunto com ele, mas sempre acabávamos discutindo. Ele comentava de coisas que foram ditas na palestra que eu não recordava. Isso acabou virando um jogo de viagem, que ele chamou de "Em que ela prestou atenção". Fomos quase o caminho todo jogando nosso jogo, que mudou de cenário, indo para a empresa também.

Quando ele parou na porta da minha casa, eu não sabia se perguntar se ele iria entrar soaria estranho. Não sabia se ele já pretendia passar a noite lá, e eu perguntar poderia o deixar sem graça por eu não perceber.

Ah, que bobeira. Eu quero que ele entre? Sim. Vou ficar de mimimi? Não. Virei para ele e o puxei para um beijo. Victor não se opôs. Ele me envolveu, me puxando para seu colo. No meio daquela bagunça de beijos, puxões, abraços e mais beijos, Victor acabou me prensando contra o volante.

Sim, a buzina soou alta e fez o carro do meu pai disparar o alarme. Que. Merda. Tentamos nos separar o mais rápido possível, mas aquilo pareceu piorar. Acabamos deitados, embolados e ofegantes nos bancos da frente, enquanto meu pai saia de casa vestindo seu hobbe por cima do pijama, assim como minha mãe.

Ela reconheceu o carro, claro. Veio correndo e abriu a porta para mim. Por sorte já tínhamos conseguido nos recompor. Meu pai já tinha desligado o alarme e nos esperava no gramado próximo a varanda.

- Finalmente vocês chegaram - ela exclamou, vindo até nós - já estava achando que vocês ficariam mais um dia lá.

Quando saltei, fiquei levemente sem graça. Minha mãe acha que Victor e eu estamos namorado, mas será que estamos? Nunca namorei ninguém sério, como posso responder a essa pergunta?

Peguei minha mala e olhei para Victor. O que ele vai fazer?

- Vocês devem estar cansados - minha mãe disse, arrumando meus cabelos - vamos entrar que vou preparar um leite morno. Ajuda a relaxar os músculos depois de horas de viagem.

- Hm, na verdade eu.. - Victor disse, meio sem graça.

- Prefere chá? - minha mãe perguntou, com um sorriso esperançoso no rosto.

Victor a olhou demoradamente antes de suspirar e dar de ombros.

- Leite está bom - ele disse, pegando sua mala e fechando o carro.

Minha mãe sorriu e nos envolveu pela cintura e nos puxou para dentro, nos bombardeando de perguntas sobre a viagem até a hora que nos despedimos para ir dormir.

- Estou tão feliz - minha mãe disse,e vindo atrás de nós - sempre achei vocês dois muito bonitos juntos.

- Tudo bem mãe, calma - falei, tentando disfarçar.

Victor estava pouco atrás de mim, e minha mãe tinha passado a nossa frente.

- Vocês me darão netos lindos - ela disse, ao chegar no fim da escada.

Ouvi Victor tropeçar atrás de mim e virei. Ele já estava de pé novamente, com os olhos arregalados. Precisei fazer muita força para não rir. Principalmente quando vi a cara de poucos amigos de meu pai, que vinha devagar atrás de nós. Nos despedimos deles e eu abri a porta para que Victor entrasse na frente. A fechei, já não conseguindo conter o sorriso. Olhei para Victor, que estava jogado na minha cama.

- Eu amo a sua mãe - ele disse, virando para me olhar - mas ela sabe me deixar constrangido.

- Foi você que a encheu de esperanças com essa viagem - falei, sentando ao seu lado na cama.

- Deu certo, não é?

Fiquei em silencio. Como eu inicio esse assunto? Me parece tão constrangedor.

- Quanto a isso - falei, olhando para meus dedos - eu acho que.. Bom, o que eu quero dizer.. Vic.. Eu não sei nem começar.

- Tudo bem - ele disse, sentando - já entendi.

- Mesmo? Então me diz o que vai ser.

- Se você quiser passar uma borracha nisso tudo e continuarmos como estávamos..

- O que? Não!

- Não?

- Eu não acho.. Eu.. - gaguejei - porque é tão difícil eu conseguir falar sobre isso?

Victor sorriu e pegou minha mão.

- Vou perguntar, e você só diz sim ou não, pode ser?

- Sim - respondi, sorrindo.

- Boa garota - ele disse, sorrindo - você se arrependeu?

- Não.

- Se sua mãe não tivesse praticamente nos obrigado a estar juntos aqui agora, você iria querer?

- Sim.

- Quer continuar com isso?

- Sim - respondi, depois de alguns segundos.

Ele sorriu de lado e entrelaçou nossos dedos.

- Quer que seja algo que todos saibam?

- Não.

- Apenas amigos e família?

- Sim.

- Então está decidido. Vamos dormir?

- Não - respondi, sorrindo de lado.

- Você não tem jeito mesmo - ele disse, antes de eu o calar com um beijo.

Esse final de semana pareceu um sonho. Estávamos muito bem, passamos o domingo com a minha família, tendo mais momentos constrangedores. Mas agora, aqui estou eu, acordando segunda feira de manhã. Voltei a realidade e tenho que encarar novamente o gigante com rodas, com todos os seus filhotinhos fedorentos.

Victor não dormiu aqui, porque disse que precisava ir para casa por causa do trabalho. Não sei como ele irá agir em ambiente de trabalho. Mas o final de semana foi tão bom, que evitei encher minha cabeça com pensamentos negativos. Tenho planos para hoje.

Coloquei um vestido comportado preto, escondendo maior parte das tatuagens e me despedi de meus pais na cozinha. Quando sai, Victor estava na minha varanda, o que me fez quase enfartar de susto.

- Bom dia - ele disse, sorrindo - trouxe café para você.

- O que faz aqui? - perguntei, pegando o copo de sua mão e bebendo - que delicia de café. É de onde?

- Da minha mãe - ele respondeu.

- Sua mãe sempre soube fazer o melhor café do mundo.

- Feliz em me ver?

- Sim. Só me pegou de surpresa.

- Achou que eu iria deixar você ir de ônibus quando posso te buscar?

- Você fez isso até agora.

- Mas a situação mudou. Vamos?

Assenti, sorrindo e comecei a andar em direção ao carro. Victor segurou meu braço e me fez voltar, me envolvendo e me beijando.

- Uau - falei, interrompendo o beijo - assim iremos nos atrasar.

- Por mim tudo bem - ele disse, me beijando de novo.

- Mas por mim não. Tenho planos para hoje - o interrompi novamente - vamos?

- Planos? Que planos?

- Surpresa querido.

Ele tentou me convencer a falar algumas vezes durante o trajeto, mas não me deixei levar. Quando chegamos ao prédio, tentei disfarçar, mas assim que ficamos sozinhos no elevador, o joguei contra a parede e o beijei. Victor segurou meus cabelos com uma mão e a outra me envolveu firme. Só paramos quando o elevador apitou no nosso andar.

As portas se abriram, nós já estávamos separados e olhando para lados diferentes. Mas assim que passei pela mesa de Melissa, ela estava quicando de alegria ao nos ver chegando juntos. Rolei os olhos e entrei na sala.

Mas eu não podia me esconder da Melissa para sempre. Alguma hora eu teria que enfrentar as muitas perguntas dela. Ainda mais para meus planos. Respirei fundo e levantei da minha cadeira. Melissa já me olhava com expectativa desde já.

- Pelo amor de Deus, pelo menos disfarça - pedi.

- Vocês chegaram juntos! - ela falou, eufórica.

- Coincidência - falei, sentando na beira da mesa.

- Não. Eu sei que não é! Ambos estão diferentes. Me conte tudo, por favor!

- Calma mulher.

- Foi bom? Como era o chalé? Ele ficou até agora na sua casa? Seu pai pegou vocês no flagra de novo?

- Obrigada por me lembrar disso.

- Conta logo!

- Primeiro, quero que abra a agenda da empresa e veja se tem horário para uma reunião.

- Tudo bem - ela começou a digitar - tem um horário para as três da tarde.

- Marca para mim. Com os representantes de todos os setores. Principalmente com o de marketing.

- Vai apresentar sua proposta? - ela perguntou, sorrindo.

- Vou sim.

- Agendei. Agora me conte como foi a viagem.

- As palestras foram interessantes.

Melissa me olhou com tédio, o que me fez rir. Olhei para trás e Victor estava nos olhando, de sua mesa. Pisquei para ele e virei novamente para Melissa.

Foi diferente - falei - estávamos indo bem. Conversando. Minha mãe me fez passar vergonha porque achou que fosse uma viagem romântica. Eu dormi no caminho e acordei já na cama.

- Ele não mudou de quarto?

- Não tinha nenhum disponível.

- Que inesperado!

- Não começa.

- Mas quando rolou mesmo? Pintou um clima e foi inevitável ou foi meio que premeditado?

- Não sei. Primeiro eu queimei a boca com o molho. Dai ele veio me ajudar e nós meio que nos olhamos tipo "vou te beijar".

- Ai, que lindo.

- Dai quase colocamos fogo no chalé.

Melissa fez cara de espanto, sorrindo.

- Seus safados!

- Não Melissa. Literalmente. O pano caiu na grelha do fogão e pegou fogo.

- Ah, que droga.

- Dai nos brigamos e eu fiquei sem falar com ele até a hora de dormir.

- Estou chocada - ela disse, entediada.

- Dentre um grito e outro, aconteceu.

- Quem beijou quem?

- Não sei. Quando dei por mim já estávamos..

- Tudo bem, sem muitos detalhes.

- Ué? Você não queria saber?

- Só o principal.

- Pois agora eu vou contar tudo!

- Não! - ela gritou, tampando o ouvido enquanto eu me inclinava sobre ela para falar mais coisas.

Eu normalmente não teria vergonha de falar abertamente sobre os homens que eu saí. Mas estranhamente, eu percebi que não queria compartilhar nossa intimidade. Fiquei muda, com o cenho franzido, olhando para Melissa, que estava de olhos fechados e tampando os ouvidos. Quando ela abriu o olho e viu que eu estava quieta, voltou a sua postura normal e ficou me olhando.

- Georgia? - ela chamou, me acordando do transe- está tudo bem?

- O que?

- Você ficou muda. Está tudo bem?

- Está. Eu só preciso ir ao banheiro.

Levantei apressada e voltei para minha sala. Passei batida por Victor e me tranquei no banheiro.

- Essa não - resmunguei, apoiando as mãos na pia - essa não. Não pode ser. Isso não pode estar acontecendo.

- Georgia? - Victor chamou, batendo na porta - está tudo bem?

- Porque as pessoas ficam me perguntando isso?

- Porque você passou correndo por aqui e nem respondeu minha pergunta.

Abri a porta e o encarei, séria.

- Que pergunta?

- Foi você que agendou uma reunião para hoje?

- Foi.

- E não vai me contar sobre o que é? - ele perguntou, se aproximando.

Cada passo que ele dava para frente, eu dava um para trás. Ele fechou a porta atrás de si e me olhou demoradamente.

- Não vou deixar você sair enquanto não me contar.

- O que os funcionários irão pensar?

- Eu deixei a parede opaca antes de vir.

- Não posso contar Victor. É surpresa.

- Isso é tortura Georgia - ele disse, com os lábios próximos aos meus.

- Você saberia se tivesse me ajudado no começo.

Victor suspirou, me deu um beijo rápido e abriu a porta para mim, indicando para que eu saísse. Sorri antes de sair. Preciso preparar tudo para a reunião. Estou morrendo de medo, mas não deve ser difícil.

Sentei em minha cadeira e abri meus documentos, revisando tudo. Melissa fez um ótimo trabalho nas partes que eu pedi ajuda para ela. Incrível como estou cercada de pessoas talentosas. E eu fico boba ao ver que a maioria está na área de atuação errada. Victor principalmente. Ele tem um talento incrível e está o deixando de lado para ficar atrás de uma mesa, olhando tabelas e documentos chatos.

Mas conforme for, irei dar uma de super Georgia e ajudarei a todos com isso.

A parede ficou opaca a maior parte da manhã. Assim, Victor e eu pudemos fugir um pouco da rotina e dar uns amassos. Almoçamos na sala mesmo, já que eu queria ficar o máximo de tempo me preparando para a reunião. Victor fez até a gentileza de sair um pouco da sala para que eu pudesse treinar com a Melissa.

Quando deu o horário da reunião, recolhi tudo e fui. Ansiosa como nunca. Insisti para que Melissa fosse junto, afinal, ela também trabalhou nisso.

Quando entramos, todos já estavam lá. Melissa sorriu para Cristiano e sentou em uma das cadeiras da cabeceira, ao meu lado.

Muito bem Georgia, hora de fazer história.


Nota final da autora: Victor sendo fofo? O que? Quem diria hein? hahaha

Eu já disse que amo a mãe da Georigia? haha!

O link do grupo, espero ver voces lá hein.

https://www.facebook.com/groups/413253115520888/

Amanhã tem mais..

Bjoooos :3

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