Eu tinha ligado para a Soph, para me resolver com ela. Mas não sei se deu certo, porque ela não pareceu acreditar, então eu fiquei de mandar um vídeo no Whats de nós dois pra ela. Não falei do beijo. Se ela não acreditava que ele estava passando as ferias aqui, porque acreditaria que eu beijei ele? E eu tinha vergonha. Ainda mais por ele ter namorada.

E com a Fer...

Bom, eu mandei uma mensagem pra ela me desculpar mas que eu tinha grandes motivos, e que era pra ela vir aqui a noite que eu contava. Ela também ficou meio cautelosa.

E quanto ao Justin...

Ele não apareceu até agora, e já estou fazendo o almoço. Isso estava me agoniando.

- O Justin não vai vir hoje? - Miguel perguntou atrás de mim.

Suspirei, sem tirar os olhos da panela.

- Não sei.

Por um momento, só se ouvia o arroz que eu estava mexendo.

- Vem cá, o que aconteceu ontem hein?

Paralisei. Mas alguns segundos depois, voltei a mim.

- Nada. Por que a pergunta? - tentei não parecer nervosa.

- Ontem você ficou toda estranha quando acordou e hoje ele não apareceu ainda e você ainda está estranha.

Bufei.

- Tá imaginando coisas Miguel. Tá tudo certo.

- Uhum, sei.

- Pense o que você quiser.

- Eu não disse nada, só concordei com você.

Olhei pra ele, lhe fuzilando com os olhos, e ele riu.

Parecia que os minutos se arrastavam, toda hora eu olhava para o relógio e para a porta. E nada. E o Miguel no pé. Eu não ia mandar mensagem nem ligar, não quero pressioná-lo.

Mas e se ele se afastar de mim pra sempre?

Eu tenho medo de ainda ser só mais uma belieber. Será que ele tá indo embora?

- Aargh! Cansei! - me levantei do sofá e larguei o controle de lado.

Eu estava tentando jogar com o Miguel, pra me distrair, mas não funcionou. Fui até meu celular na mesa e o peguei, pude ouvir Miguel fazendo um muxoxo, mas nem liguei. Fui nas mensagens e digitei:

"Fer, pode vir agora? Por favor!" - mandei mordendo a boca ansiosa.

Demorou um pouco, e eu fiquei me controlando pra não roer as unhas.

" Ok, estou indo."

Suspirei aliviada. Assim eu me distraia, me acertava com ela, e ainda desabafava. Três em um.

Me sentei emburrada no sofá e Miguel me olhou balançando a cabeça.

- Com certeza aconteceu algo.

Só ignorei e fiquei olhando pro nada.

Uns dez minutos depois de pura vegetação da minha parte, Fernanda chegou e eu fui abrir a porta pra ela.

Parte de mim dizia e desejava que fosse o Justin, mesmo que algo me avisasse que ele não viria hoje.

- Ooi Fer! - abri os braços e pulei no pescoço dela, lhe abraçando de um modo sufocante.

Ela me retribuiu, mas de um jeito xoxo.

- Você vai me entender, vem. - peguei a mão dela e fui puxando-a para o meu quarto.

- Oi Miguel. - ela disse a caminho, ouvindo um "oi" dele em seguida.

Entramos no meu quarto e eu fechei a porta.

Me sentei na cama e bati a mão pra ela se sentar ao meu lado. Ela se sentou e me olhou com olhar duro.

- Ainda estou furiosa com você.

- Desculpa, eu sei. Mas você vai me entender. Ou espero. Vai ter que ser paciente, é muita coisa.

- Pode começar. - disse inflexível.

- Ok. - respirei fundo, me preparando.

A reação dela era engraçada. A descrença era visível, mas as provas estavam ao meu favor, ainda mais o fato de eu chorar, me emocionando. Tomei fôlego ao chegar em ontem no almoço.

- Cara, o que foi isso? É história? Meu Deus! - ela disse com a mão na boca - Virou melhor amiga dele?! Nossa, e você não me conta! - ela me deu um tapa - E ainda se esqueceu de mim! - mais um.

Eu ri.

- Desculpa. Você tinha que ver ele e o Miguel.

- Eu sei! Mas espera, por que ele não veio hoje? Já foi embora? Foi por isso que me chamou agora né? Desnaturada. - mais um tapa - E aquilo de quase beijo na terça foi real?!

Eu ri.

- Eu não disse que era quase beijo, só te descrevi como foi.

- E cara, isso foi quase beijo.

Sorri pra ela e ela paralisou.

- Tem mais.

Arqueei a sobrancelha, surpresa e meio assustada.

- Como sabe?

- O teu sorriso. Anda, fala! O que foi?

Mordi o lábio, com hesitação.

- Eu não terminei de contar. - pigarreei - Ontem, o Miguel foi pra casa do Lucas, outra vez, a gente estava conversando no sofá, e ficamos nos olhando de um jeito que não sei te explicar. Era... não sei. Só sei que eu estava olhando ele por achá-lo lindo e.. porque me apaixonei.

Ela gritou, gritou e sorriu. E me abraçou, e me chacoalhou. Enquanto eu ria e pedia pra ela parar.

- VOCÊ ESTÁ.... - tapei a boca dela.

- Dá pra calar a matraca?! Quer que o Miguel ouça sua louca?

Ela riu e eu tirei a mão da boca dela.

- Posso continuar?

Ela assentiu, ela mesma tapando a boca e sorrindo, eufórica.

Onde fui me meter.

Não contei pra Soph também, a parte que eu estava apaixonada por ele. Eu não estava pronta para falar isso, se nem que ele está vindo aqui ela acreditou.

- E... - corei - as luzes se apagaram...

Os olhos dela se arregalaram e ela parou de respirar. Comecei a rir, meio sem graça.

- Continua! - interpretei o murmurio através da voz abafada pela mão.

- Ele veio se aproximando.. - fui abaixando o tom de voz - a gente se beijou. - confessei logo, achando impossível ficar mais vermelha.

Ela abafou o grito, e caiu de cara na cama, ainda gritando.

- Fer! - eu ri, desajeitada.

Ela levantou a cabeça de novo e me olhou. Ela estava vermelha, de tanto gritar abafado e segurar o ar, ainda com as mãos na boca.

Destapei a boca dela. Daqui a pouco ela morria.

- Shiu Fer.

Ela puxou o ar depressa.

- Eu não acredito! - ela colocou a mão no coração enquanto ofegava.

Assenti envergonhada.

- E ele namora a Selena, você sabe. Me senti e me sinto horrível por isso. Eu pedi desculpas e... ele ficou aqui e disse que a culpa não era minha e ficou acariciando meu cabelo, e eu dormi. Quando acordei, ele não estava mais.

- Deixou bilhete? - ela perguntou ansiosa.

- Não.

- Ligou?

- Não.

- Mandou mensagem?

- Também não. - ela suspirou insatisfeita e eu ri - E aí, hoje ele não apareceu.

Ela mordeu os lábios.

- Isso é mal.

- Eu sei.

- Manda mensagem pra ele!

- Não posso, não quero que ele pense que sou uma pedra no sapato.

- E vai deixar assim? Vai que ele acha que você não tá nem aí pra ele, e que só queria beijá-lo, por ele ser o Justin.

- Fer, e no meu caso? Ele que descumpriu as regras aqui. E se depois disso, ele não quiser falar comigo nunca mais?

- Não acho que seja possível. Será que ele só queria te beijar e depois disso...?

- Fer, por que ele iria querer beijar a mim? Acorda.

- Você é linda, para de frescura.

Revirei os olhos.

- Sonha Fer. Vamos falar de outra coisa vai.

- Heloísa, você conheceu o Justin, o cara que você ama, virou amiga dele, ele vem pra sua casa, você descobre que está apaixonada por ele, e então beija ele! Que assunto melhor que esse arranjaríamos?!

Eu ri.

- Fala mais baixo. Mas eu tô preocupada dele não ter vindo e de não voltar mais, então não quero pensar nisso.

- Hmm... minha amiga passou a perna na Selena Gomez, sente o poder.

- Para Fer, já estou me sentindo péssima.

- Ok. Então vem, vamos fazer brigadeiro. - ela pegou minha mão e foi me puxando.

Nós fizemos brigadeiro, e ríamos a todo momento com uma corrigindo as medidas da outra.

Não íamos nos dar o trabalho de enrolar, então sentamos no sofá, fizemos Miguel parar seu jogo - ele foi para o computador - e colocamos no Telecine Pipoca onde ia começar cartas para Julieta.

Telecine Pipoca.

Pipoca.

Isso nos deu vontade de comer pipoca, e eu, a escrava, tive que ir fazer. Enquanto isso, fiz Fernanda fazer nosso suco de manga da Tang.

Voltamos para a sala rapidinho após terminar. O filme começou e só deu as duas gordas misturando suco, brigadeiro e pipoca no estômago enquanto embarcávamos naquela linda história. Foi ridiculamente incompreensível o modo como nós duas choramos no final.

- Por que está chorando? - perguntei pra Fer rindo e limpando minhas próprias lágrimas.

Ela riu enquanto limpava as dela.

- Pelo mesmo motivo que você, sua tonga. É tão lindo o modo como eles ficam juntos no final.

- É. - concordei.

Me veio na cabeça o Justin.

É claro que viria. Fiz a idiotice de me apaixonar por ele, era meio óbvio que se eu visse um filme romântico, me lembraria dele.

Fernanda me cutucou.

- O que é?

Só olhei pra ela e neguei, com um meio sorriso.

- Isso é só o começo Isa. Só o começo. Estar apaixonada é uma droga.

Ela pegou exatamente no ponto.

Mas se era só o começo, havia como eu acabar com esse sentimento não é?Tem que dar. Porque estar apaixonada, é realmente uma droga.