Escuridão, mil Arrepios
Justin olhou pra mim.
- O que aconteceu por aqui?
- O Miguel foi pra casa do Lucas, vai ter um campeonato de vídeo game. - me levantei e levei os pratos à pia, e comecei a lavá-los.
- Hmmm.. - ele veio atrás de mim e se encostou de costas na pia, as mãos apoiadas nela, perto de mim - Então, estamos sozinhos?
Pigarrei e enxuguei o prato. Algo no modo como ele falou ou nos meus sentimentos ao identificar esse fato, me deixou nervosa.
- Sim. - tentei responder normalmente.
Terminei de lavar e enxugar as coisas ali, recusando a ajuda dele quando ele ofereceu. Então ele ficou encostado ali, e eu jurava que ele estava olhando pra mim. Mas é claro, o que mais ia fazer? Só que isso me deixou mais desastrada do que o normal.
- Pronto. - falei finalmente aliviada.
Ele sorriu pra mim.
- Vem. - chameio-o e fui para a sala.
Ele veio atrás de mim e nos sentamos no sofá.
- Sabe... eu ainda sou belieber.
Ele riu.
- Fico feliz em saber disso.
- Eu quero dizer, você estar aqui é loucura. Você falando comigo, ao invés de estar curtindo suas ferias fazendo algo mais interessante e legal, como sei lá. Você tem tanto dinheiro, podia fazer muitas coisas, mas está aqui preso numa casa com uma menina chata.
- Você não é chata. - ele disse com um sorriso.
- Obrigada, mas não precisa mentir. - eu ri - Não sabe como está me fazendo feliz.
- E você me faz bem sabia? É um mundo como uma escapatória de toda pressão. Fico bem em estar com você.
Eu sorri dessa vez, e ele sorriu junto.
Fiquei olhando pra ele, não do modo cordial, estava olhando pra ele mais do que me era permitido.
Ele percebeu, pegando meu olhar, e eu ri envergonhada, abaixando a cabeça.
- Desculpa. - murmurei sem graça.
Ele não respondeu.
- Hmm... e aí, com saudades do palco? - olhei pra ele de novo e ele estava olhando pra mim.
Deu um meio sorriso.
- Um pouco. Mas ainda não deu tempo suficiente pra sentir falta.
Assenti.
A luz piscou e eu olhei pra cima.
Sim, a luz estava acesa. Estava escuro a ponto de precisar de luz e começava a chover. Lembrei de Love Me, agora que a Alice aparecia. Ainda mais com o vento que estava. Estava arrepiando meus braços por eu estar só de shorts e camiseta.
Ui, Alice vai vir pegar eu.
Ri da minha idiotice.
- O que foi? - ele perguntou curioso.
Olhei pra ele e não pude deixar de notar, ou me lembrar, no caso. No dia que estava frio, a personagem estava com o Justin no sofá; eles estavam se beijando intensamente. Eu corei por estar pensando isso na frente ele e balancei a cabeça.
- Nada, nada.
- Você está toda arrepiada. Também, com essa roupa. - ele reprovou com o olhar.
Se levantou em seguida e foi até o outro sofá, pegado sua blusa e trazendo-a para mim.
- Mas.. você não está com frio?
Ele revirou os olhos.
- Eu tô legal, tá tranquilo, e ainda tô de calça e tênis. - ele estendeu a blusa atrás de mim, para colocá-la e eu levantei os braços, permitindo isso.
Dei um suspiro nervoso. Eu usar a blusa dele nunca daria em boa coisa. Quer dizer, seria ótima sentir e sentir o cheiro dele. Só que isso me piraria.
Ao ajeitá-la, ele voltou a se sentar na minha frente, e eu me aconcheguei no casaco, sentindo seu cheiro de bebê. Dei um sorriso disfarçado ao sentir isso. A luz falhou mais uma vez e eu olhei de novo.
- Acho que vai acabar a luz. - ele comentou.
Meu estômago se revirou ao pensar na ideia.
- Talvez. - já comecei a sentir a respiração acelerando.
E isso era ridículo. Nem aconteceu nada, nem aconteceria. Eu tava muito ferrada.
Olhei pros olhos dele e suspirei.
Já era.
Me apaixonei.
Tá estampado na minha testa.
Não acredito que me apaixonei pelo Justin.
Não acredito.
Pura idiotice.
- O que? - ele perguntou sussurrando.
Agora o porque do sussurro eu não sei.
- Desculpa. - sussurrei de volta.
- Pelo que?
Por me apaixonar.
- Por ser tão idiota.
Ele chegou um pouco mais perto de mim.
- Você não é nem um pouco idiota.
Fiquei olhando em seus olhos. Ou era melhor dizer, seus olhos prenderam os meus. Ele devia estar retribuindo o olhar para saber o que se passava na minha cabeça. Mas isso eu não contaria à ele. Nem ferrando.
A luz se apagou por completo, e eu dei um pulo de susto, olhando para os lados. Aí olhei pra ele, e ele estava voltando o olhar pra mim de novo, com um sorriso meio tímido. Estar perto dele na escuridão fez meu coração acelerar. Seus olhos brilhavam, como se fossem o meu próprio guia no escuro.
Ele aproximou mais o rosto, sem tirar os olhos dos meus e eu paralisei.
Mas o quê?!
Um detalhe foi que parei de respirar também.
Com hesitação, ele aproximou mais o rosto.
Espera. Espera.
Eu não estou entendendo nada.
Meu cérebro deu curto circuito.
Mais perto e mais perto, a um palmo de distância.
Aí começou a descontrolar tudo.
Fogo e gelo dentro de mim, subindo e descendo.
Meu corpo rígido, se amolecendo.
E minha respiração voltou, no momento que senti a dele no meu rosto.
Mas em nenhum momento eu desviava os olhos dos seus, e ele também não...a não ser para olhar... a minha boca.
Meu. Deus.
Ele se aproximou mais e seu nariz se encostou ao meu, fazendo ele fechar os olhos nesse momento.
AI CACETADA!
Os meus se fecharam também, como se fossem acionados pelos dele.
Eu estava numa coisa tão caótica que não conseguia pensar. Não conseguia me entender.
Sua mão foi para a base do meu pescoço e isso me causou mil arrepios ao mesmo tempo. Sua boca entreaberta, soprava o ar contra a minha, e eu achei que naquele momento podia desmaiar. Sua mão em minha nuca, puxou meu rosto, levando o seu para frente também.
Esse pequeno ato, fez meus lábios se encostarem aos seus, e dentro de mim aconteceu uma explosão. Ele pressionou-os de forma lenta, e os afastou um pouco, me fazendo abrir os olhos, a tempo de ver seus olhos nos meus, depois se fecharem e a sua boca se encostar na minha de novo. Fechei os olhos lentamente.
Ele foi pressionando os lábios contra os meus lentamente, de um lado para o outro, até ficar mais rápido. Justin se aproximou mais de mim, sua outra mão foi para minha cintura, mas por baixo da blusa que eu vestia. De mil arrepios, foram para milhões, e minhas mãos foram para trás do seu pescoço, puxando-o mais. Sua boca se moveu mais ágil na minha, com o dobro da intensidade.
Ele afastou uma vez, só para voltar de novo e pressioná-los uma vez mais. E se afastou de novo, puxando junto meu lábio inferior.
Isso era muito... novo pra mim, eu não conseguia acreditar e nem sabia como estava conseguindo reagir. Dessa vez, eu fui pra frente, para sentir a textura dos nossos lábios uma vez mais. Explorei sua boca devagar e ele retribuía.
Depois de um tempo, ele se afastou devagar e eu abri os olhos. Pude ver que seus olhos olhavam os meus.
E a maldita ficha caiu em meio a tanta empolgação.
- Ai caramba! - murmurei e tapei meu rosto.
Eu estava me sentindo fora do normal, o coração quase saia da boca e tudo mais. Mas comecei a sentir uma coisa diferente.
Culpa.
O que eu estava fazendo?!
Ele tinha namorada!
Eu sou uma traidora.
Eu sou horrível.
- O que? - ele pegou minha mão em meu rosto e a puxou, me fazendo olhar pra ele.
Quando fiz isso, ele encostou os lábios mais uma vez nos meus, com sua respiração acelerada, e eu quase me derreti, me rendendo de novo.
Ele se afastou e acariciou minha bochecha.
Não havia duvida de que eu estava vermelha, eu sentia minha pele toda queimando.
- Isso não... - balancei a cabeça de olhos fechados e olhei de novo - Você... tem namorada.
Ele paralisou por um momento. Refletindo sobre isso.
- Eu não acredito. - coloquei a mão na testa - Não acredito que fiz isso com ela. Desculpa.
- A culpa não foi sua. - ele tirou minha mão da testa - Eu.. eu.. - ele engoliu em seco.
Momento estranho. Que legal.
Ele suspirou.
- Fui eu quem fez isso. Me desculpe você.
- Não, eu retribuí. Me desculpa. Ai.
- Heloísa, calma. Tá tudo bem.
Respirei fundo.
- Acho que precisamos de luz aqui. - comentei sem graça.
Ele assentiu, mordendo os lábios. Aqueles lábios que eu beijei faz poucos segundos...
- Vou pegar. - disse me levantando sem graça percebendo que estava encarando sua boca.
- Quer que eu te ajude? - ele fez menção de levantar.
- Não.. ah.. fica aí. - pedi e sai dali.
Eu não podia ter feito isso.
Fui correndo para o quarto dos meus pais onde tinha uma lanterna e algumas velas, nem precisava tanto, mas era melhor alguma claridade naquela sala meio escura.
Nada mais inconveniente, para o momento. Só com o Justin a luz de velas.
Não acredito que nos beijamos.
Comecei a sorrir inconscientemente.
Isso foi perfeito...
Ele namora a Selena.
Mordi o lábio.
Isso não é coisa que se faça. Eu não gostaria que fizessem isso comigo.
Peguei as coisas e voltei para a sala, me sentindo a pessoa mais horrível do mundo, mas ao mesmo tempo quase saltitando de emoção.
Coloquei as coisas no centro da mesa enquanto ele estava sentando, imerso em pensamentos. Mas veio para o meu lado e começou a me ajudar a acender as velas. Eu me sentia tensa ao seu lado, e não olhei pra ele. A culpa parecia me sufocar, ao mesmo tempo que o prazer imenso.
Nos sentamos novamente após terminar com as velas e eu olhei pra ele sem graça, planejando dizer algo criativo.
Mas cadê os neurônios para fazerem isso?
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