É Você

Meu celular estava tocando, já era a terceira vez, mas eu estava tão cansada que não queria atender. Só que a criatura insistia.

Peguei-o na escrivaninha e coloquei no ouvido.

- Alô? - disse com esforço e tudo embolado.

- Sitting here, all alone

Watching the snow fall

Looking back at the days

We threw them snow balls

I can't believe

I'm putting the tree up by myself

I need you

And nobody else

And I'm sorry

If I pushed you away

Cuz I need you here

And I want for you to know - era o Justin cantando.

- And I don't care, if I don't get anything

All I need is you here right now

And I'm sorry if I hurt you

But I know that All I Want Is You

This Christmas, this Christmas, this Christmas

All I Want Is You

This Christmas, this Christmas, this Christmas

All I Want Is You this Christmas

Fiquei ouvindo de testa franzida, com um sorriso no rosto, esperando ele acabar, não pude evitar que algumas lágrimas escorressem, afinal eu o amo, e a voz dele também.

Quando ele acabou, tentei falar:

- Jus... - tentei pensar em algo decente. Muito fofo o jeito dele me desejar feliz natal e a hora que ele desejou. Só era estranho a música que ele escolheu, porque ele é um pouco romântica demais e não pude deixar de ficar querendo que ele estivesse dizendo tudo aquilo de coração, como se fosse o que ele sentia mesmo.

- Estou indo. - ele disse e desligou.

Olhei pro celular confusa.

Tá. Esse menino andou bebendo? O que?

Bateu a cabeça?

Ficou doido, vou ter que internar. Só pode ter bebido, nada disso faz sentido.

Tentei ficar desvendando ele e acabei pegando no sono de novo. Eu devia estar bêbada também. Só que de sono.

♡ ♡ ♡ ♡

Toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc.... infinitos toc's na minha porta.

Me lembrou o Justin, naquele dia que eu não lembro. Estou grogue, dê um desconto.

- Calma! - tentei murmurar sonolenta.

Olhei no relógio o celular: sete horas.

Alguém aí sabe que isso não é hora de acordar uma pessoa sendo que ela dormiu às quatro e pouco da manhã?

Me levantei mole enquanto os toques continuavam e abri a porta.

- Miguel, o que você quer? - falei entredentes.

Eu tinha a vaga esperança de que fosse o Justin, justamente porque ele que fez isso da ultima vez, mas não faria sentido ser ele agora quando o mesmo estava no Canadá com sua namorada.

- Você viu meu celular? - ele perguntou.

Me subiu a raiva.

- Me acordou só pra isso? - tentei me controlar pra não gritar, meus pais deviam estar dormindo.

- Sim, você viu?

Respirei fundo, eu estava tão cansada que não tinha nem vontade de brigar.

- Não Miguel.

- Liga pra ele por favor?

Peguei meu celular e dei um toque pra ele. Resultou que estava debaixo da cama do mongo. Voltei logo pra minha cama.

Bosta. Não conseguia dormir, e por consequência ficava pensando no canadense da minha vida. Irritada, fui ao banheiro, depois fui pra cozinha, comi uma bolacha, voltei, escovei os dentes e me deitei de novo. Mas não conseguia dormir.

- Argh!

Me sentei na cama e peguei minha caixa de tique taque de menta, como se fosse remédio pra dormir e coloquei três na boca. Não me pergunte o porquê, não estou raciocinando. Coloquei meus fones e deitei de novo, colocando o Believe Acoustic pra tocar, pra me acalmar. Vamos ver se funciona.

♡ ♡ ♡ ♡

Toc, toc, toc, toc, toc, toc, toc... de novo, infinitos toc's na minha porta.

Merda Miguel, vou enfiar essa porta no teu orifício anal.

Abri a porta com raiva, mas paralisei quando vi o ser parado na minha porta. Tapei a boca e ele sorriu.

- Bom dia Shawty. - sua voz rouca soou reconfortante.

Alguém me segura, eu vou cair. Aquelas reações meia loucas começaram a me preencher, e eu senti como se estivesse numa montanha russa.

- Jus? - eu sussurrei como se estivesse vendo um fantasma.

- Eu mesmo. - ele abriu os braços - Abraço?

Eu mordi os lábios.

- Espera. - fui correr mas ele segurou meu braço - Vou no banheiro.

Ele revirou os olhos.

- Preciso falar com você.

- Também preciso. - meu coração se acelerou mais - Mas é rápido.

Ele deu um sorriso de lado e me soltou. Dei um sorriso pra ele e corri para o banheiro.

Peguei a escova e minha mão tremia, tanto que comecei a rir. Escovei os dentes rápido e lavei o rosto, depois ajeitei o cabelo, que parecia estar impossível. Mas finalmente terminei e corri porta a fora.

Eu estava com a mesma roupa do natal, uma leggin vermelha, uma bata de alça branca e com pequenas estrelinhas, o que significava que eu teria que tomar um banho. Mas eu não estava fedida, havia tomado um banho a noite, e não suei praticamente.

Ele estava encostado na parede do corredor, parecendo um modelo. Daqueles comerciais com aqueles homens sexy's. Sorri ao vê-lo e parecia que meu coração sairia pela boca, que minha barriga estava lotada de borboletas e que meu corpo tremeria pra sempre.

Justin retribuiu o sorriso e estendeu sua mão para a minha. Peguei a mão dele e ele me puxou para seus braços, me abraçando forte.

Lar.

Esse é meu lar.

- Jus! O que está fazendo aqui?! É natal, você estava no Canadá com a Selena e sua família, como entrou? - me lembrei de outra coisa - Ah! Você me ligou de madrugada? Foi estranho, talvez fosse sonho...

Ele riu.

- Está agitada. - observou.

- É. - disse sem graça - Mas como eu sinto sua falta, ai meu Deus! - apertei ele com força começando a chorar.

- Eu também sinto a sua. - disse rindo meio sem fôlego e eu desapertei um pouco meu abraço sufocante.

Mas então, ele me apertou mais forte, e seu cheiro estava por todo lado. Aposto que ele podia sentir o...

- Seu coração está acelerado. - observou.

Bem na hora. Esse menino lê pensamentos?

Fiquei nervosa e não tinha o que responder.

- É-é? - gaguejei e limpei meu rosto.

Ele afundou a cabeça no meu pescoço e eu pude sentir seus lábios na base do mesmo. Aquilo mais do que me arrepiou e meu estômago piorou.

- Está arrepiada. - seu hálito quente soprou ali.

Aaaah!

- Não vai me responder? - tentei dizer de modo controlado.

Ele se afastou para me olhar, mas não me soltou, suas mãos ficaram entrelaçadas na minha cintura. Ele estava sorrindo.

- O que quer saber?

- Muitas coisas. O que está fazendo aqui, quem te deixou entrar e o que precisa me falar.

Uma das suas mãos se soltou da minha cintura e ele a colocou na base do meu pescoço, passando-a um pouco para trás, de modo que seus dedos ficassem na minha nuca.

Arrepios pra que te quero. Ao me sentir arrepiada, ele ampliou seu sorriso. Eu arqueei a sobrancelha.

- Todas essas suas perguntas podem ser respondidas de um único jeito.

- Como?

Ele só ficou olhando nos meus olhos, e eu me amoleci toda. Em seguida, puxou minha nuca e inclinou sua cabeça para frente.

Caramba.

Afastei minha cabeça.

- Jus. - lhe repreendi, por mais que quisesse beijá-lo. Legal, vou ser mais um pouco martirizada - A Selena.

Ele negou com a cabeça sorrindo e eu tentei interpretar aquilo. Ele queria dizer o que? Mas antes que eu pudesse raciocinar, ele encostou os lábios nos meus levemente.

Paraíso.

Mas paraíso com culpa.

Empurrei-o um pouco e olhei pra ele.

- Não faz isso.

Ele sorriu.

- Você gosta de mim?

Ai cacetada!

Engoli em seco.

- Não faz isso também.

Ele riu.

- Está apaixonada por mim? - ele arqueou a sobrancelha com o mesmo sorriso.

- Jus. Por favor. - pedi sem graça.

Ele riu de novo e eu arqueei a sobrancelha. O que ele estava fazendo?

- Eu te amo, Heloísa.

Meu coração parou. E eu também. Mas depois voltou tudo ao normal, só que como se estivesse competindo com o Airton Sena alguma corrida maluca.

- Você... o que? - eu arfei.

- Olha, eu estava enganado. Sabe aquele dia que você me perguntou quem era minha única exceção e eu não tinha tanta certeza?

Assenti.

- Você não tinha certeza? - perguntei confusa.

- Não. Porque a Selena não era minha exceção pra nada. Eu achava que antes só ia ser feliz com ela, mas havia uma exceção. E essa exceção é você Heloísa.

Meu pobre coração já estava tão alto que era possível ouvir. E eu acho que estou com problemas, devo estar imaginando coisas.

- É.. o que? - arfei de novo.

- Eu te liguei sim de noite, e tudo o que falei era verdade. Eu sinto muito se te machuquei, mas tudo o que eu quero é você nesse natal.

- A-a-a-a... - eu gaguejei.

Meu raciocínio estava lento, eu tinha dificuldade pra entender o que ele me falava.

O QUE ELE ESTÁ ME DIZENDO?

- A Selena? Eu terminei com ela e só não vim antes pra poder passar a véspera do natal com a minha família. Mas assim que acabou a festa, peguei um voo pra cá, porque eu preciso te ter pra mim.

Eu não estou entendendo, eu não estou entendendo.

- Justin...

- Eu vim pra cá com o Kenny, o Patrick e o Chaz. Posso dizer que entenderam a necessidade que eu tenho de você.

CHAZ ESTÁ AQUI? ELE ENTENDE A NECESSIDADE DO QUE?

- M-m...

- Quem me deixou entrar foram seus pais. Eu falei com eles.

- F-falou?

Ele assentiu, se divertindo do modo em estado de choque que eu fiquei.

- Sim.

Nada tá fazendo mais sentido aqui.

- Meu pai não te matou? - arregalei os olhos.

Ele riu.

- Ele queria. Mas não me matou. Eu conversei com eles, está tudo resolvido.

Suspirei aliviada, pelo menos meus pais não matariam ele. Mas ainda estava nervosa, e confusa.

- E tudo seria...?

Suas mãos em minha cintura, as duas novamente, se apertaram mais, e isso me deu alguns choques. Ele tinha me dado um tranco, como não havia como aproximar mais.

Justin colocou os lábios no meu ouvido e nem tinha aberto a boca e eu já me arrepiei, sentindo sua respiração quente em meu pescoço.

- Vou precisar desenhar pra você entender que eu quero você? Que eu viajei o oceano pra te achar? Que eu te amo? - sussurrou no meu ouvido.

Meu coração.

Minha respiração.

Meus sentimentos.

Meus arrepios.

Meus pensamentos: cri, cri, cri.

Eu estou em crise, e se cair morta de infarto a culpa vai ser dele.

E-ele me ama?

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