Distância
Justin assentiu.
— Hmm, você está aqui sozinha? — Ele perguntou olhando para os lados — Amigos, familiares, qualquer responsável? Acho você muito nova para ir a um show sozinha — disse com reprovação.
Parei um momento para me lembrar.
— Ah! Estou perdida — respondi de testa franzida meu cérebro todo se focava na presença dele, era quase incapaz de pensar em qualquer outra coisa.
Os três se entreolharam incrédulos e Scooter até chegou a dar uma risadinha.
— A terra dos meninos perdidos — Scooter comentou e houve uma rodada de riso.
Não sei por que ri, mas não podia controlar meus estímulos. E a risada do Justin merecia todos os estímulos positivos, claro que o que mais se adequa é uma salva de palmas.
— Nós acabamos de encontrar uma garotinha perdida. E Rob nos ajudou — Ele olhou para o homem parado a uma pequena distância de Scooter, me incluindo na piada.
Fiquei envergonhada ao perceber que não o havia notado bem ali antes, tão abstraída pela presença do anjo na minha frente.
— Aah — franzi o cenho — Ajudou em que?
— Ele é o intérprete — esclareceu.
Assenti, dando um pequeno sorriso a Rob como cumprimento.
— Vamos Justin — Scooter chamou-o novamente.
— Aah... — Justin olhou para mim — que estava agarrada a ele como se fosse o último salva vidas de um bote — e olhou para Scooter — E ela? — Sussurrou para ele, mas eu ouvi muito bem.
Scooter olhou para mim, refletindo.
— Que horas você se perdeu? Você não é daqui?
— Sou de outra cidade. Me perdi na hora que acabou o show.
— Já faz uma hora — concluiu, olhando o relógio em seu pulso — Não trouxe seu celular para ligar a alguém?
— Está com a minha mãe — respondi com uma careta para minha genialidade.
— Bom, vamos entrar na van, porque todos já notaram que é o Justin aqui e vai virar um tumulto — Scooter disse pensativo e Justin sorriu, orgulhoso.
— Minhas beliebers são incríveis.
E como a única belieber perto o bastante, eu fui alvo de seu carinho. Um beijo rápido na minha testa. Tive a sensação de que desmaiaria ou enfartaria de uma vez, sentindo o coração disparar de forma nada saudável.
MEU DEUS SUA BOCA ENCOSTOU EM MIM! E NA TESTA, TESTA, T-E-S-T-A!!!
— Sim, claro, vamos — Scooter disse impaciente e começou a andar na direção da van ao lado do Rob.
Kenny acenou para irmos, então tive que soltar o Justin, com uma careta, mas, atrevida, deixei meu braço em volta da sua cintura, e ele com um sorriso, completamente a vontade, apoiou os braços nos meus ombros. Eu sempre vira como ele fica confortável com pessoas desconhecidas nas entrevistas, pelo menos depois de se acostumar com toda a atenção que desperta — principalmente no sexo feminino cof —, mas é muito diferente estar presenciando a cena como parte dela.
Eu já estava transpirando rios.
— Espera — eu disse quando a ficha caiu e estávamos próximos a van — Eu vou entrar aí? — Guinchei, de olhos arregalados.
Justin assentiu, olhando para mim com cautela.
— Não precisa ter medo, somos ótimas pessoas.
Meu queixo caiu, derrubando junto minha dignidade.
— É exatamente por isso! Oh meu Bieber! Vou entrar na van do meu esposo!
Ele e Kenny começaram a rir e minhas bochechas arderam com o derrame inoportuno de palavras inconvenientes SEM FILTRO.
— Desculpa.
Justin riu mais um pouco.
— Não tem problema. É esse meu relacionamento com minhas fãs mesmo.
Meu sorriso pulou para fora do rosto.
— Que bom que você sabe.
Chegamos na porta da van, e após Rob entrar, Justin empurrou minha cintura para me auxiliar a subir o degrau. Mais um acelerar frenético na circulação do meu sangue.
Adeus vida.
Assim que dei as caras, identifiquei a equipe lá dentro e paralisei como uma estátua. Pattie, sua mãe, me olhou com seus grandes olhos azuis, juntamente com Ryan e Fredo, seus amigos, estilista e fotógrafo, nessa ordem. Ryan tem um topete castanho que nunca sai da moda e, pensando bem, pode ter sido fonte de inspiração ao Justin. Fredo tem um cabelo preto bem curto e olhos puxados, eu tinha quase certeza que ele é descendente de alguma região da Ásia. Diane e Bruce, seus avós amáveis, dormiam no fundo. Eles são exatamente como nas fotos, os cabelos grisalhos, Bruce quase sem cabelos, na verdade, e Diane com as madeixas lisas na altura dos ombros e óculos quadrado nos olhos.
Eu não achava que poderia tremer mais.
— Galera, essa é a... — Justin olhou para mim com os lábios franzidos.
— Heloísa — lembrei-lhe com um beicinho — A promessa de não esquecer foi por água a baixo não é? — disse brincando.
Ele sorriu como que se desculpa, e então verbalizou o pedido:
— Desculpa.
Quase tive um surto de carinhos físicos exagerados, mas mantive minhas mãos bem unidas na frente do corpo, contendo os impulsos.
— Prazer, Pattie — apertei a mão dela com encantamento, como estava mais próxima.
— Ela é belieber, mãe, e também estava perdida — Justin esclareceu aos olhos ainda confusos de Patricia.
— Oh. Ainda está? Prazer, Heloísa.
Cumprimentei Ryan e Fredo com um aceno tímido e eles retribuíram com simpatia. Ryan tem um sorriso enorme e sempre sorriu com muita facilidade nos vídeos que vi. O fato se concretizou ali.
Justin me mostrou um banco ao lado da janela, na primeira fileira, me convidando a sentar.
— Não, mãe, agora ela me encontrou — ele disse fazendo graça e mal sabia que era a mais pura verdade. Não que eu estivesse procurando ele exatamente naquele momento, mas o procuro desde que me tornei fã.
Houveram algumas reações por suas palavras, risadas, alguns bufaram e eu tinha certeza que podia ouvir olhos revirando. Claro, o som do meu coração derretendo também. Ele se sentou ao meu lado. Eu estava muito impressionada com a minha capacidade de resistência física e mental.
— Heloísa né? — Scooter perguntou bem na nossa frente.
Assenti.
— Passa seu número para eu ligar — ele pediu, sendo o responsável do momento. Eu não estava ali para passar um tempo com eles, embora quisesse, devia estar atrasando alguma evento.
— Deixa que eu ligo — Justin disse, tirando seu celular do bolso — Vou brincar um pouco.
Dessa vez pude ver Scooter revirando os olhos de modo cômico e Justin olhou para mim, esperando. Eu só conseguia pensar em como minha mãe reagiria e que o número ficaria salvo nos meus registros. A ideia era mais do que empolgante.
Falei o número para ele e ele digitou, colocando-o na orelha com um sorriso, olhando para mim a fim de compartilhar a diversão.
Olhando para mim.
Eu estou bem, falei para mim mesma, tentando expulsar a sensação de que seria absorvida por sua íris tão líquida e intensa.
— Alô? — Ele disse e esperou — É o Justin. Justin Bieber. Tudo bem? — Oh desculpe, você não fala inglês? Não entendo nada — Justin deu uma risadinha e todos rimos com ele, então me passou o aparelho.
Peguei o celular com muito cuidado, o objeto precioso e sagrado que ele utilizava todos os dias, na minha mão. Dei um grito histérico em silêncio antes de colocá-lo na orelha.
— Oi mãe — disse, mas olhando para ele. Eu não desviava os olhos dele.
— Heloísa??? Ai meu Deus, onde você está??? Com quem??? Que número é esse??? Você pode me achar louca mas... acho que acabei de falar com o Justin! Pelo menos tentei. Você está bem??? — ela estava claramente aliviada ao ouvir minha voz, mas ainda agitada por não saber minha localização.
Apesar disso, resolvi brincar com ela, esperava que meu tom tranquilo servisse para lhe acalmar mais os nervos antes de partirmos para o que era importante.
— O que?! Justin? — bufei — Você sonha com isso agora também? — eu ri — Impossível mãe.
Justin me olhava curioso, com um pequeno sorriso no rosto. E por algum motivo desconhecido — mentira, eu sei sim — eu não parava de sorrir olhando em seus olhos.
— Eu tô falando serio. Bom... estava falando em inglês e disse "Justin Bieber" e eu sei que era um garoto. Onde você está, Isa???!
— Mãe, não é ele — Insisti.
— Tudo bem. Quem é então? Onde você tá? Que número é esse?
— Calma. Estou, hm... na praça que fica na frente da parte de trás do Anhembi — apertei os olhos, perguntando-me se minha frase fazia sentido. Era muito difícil pensar olhando para ele.
— A praça atrás do Anhembi? — ela descomplicou.
— Uhum.
— Ok, estamos apenas uma rua de distância, estou indo. Não saia daí!
— Tudo bem — eu não planejava sair nunca.
— E ...de quem é esse número Heloísa Costa?! — Exigiu saber, severa.
Só da pessoa mais perfeita do mundo inteiro!
— Quando você chegar, você vê mãe —não tinha como eu explicar uma coisa dessas por ligação.
— Cuidado com esses desconhecidos! Você ainda vai me enfartar — eu podia ouvir seus movimentos rápidos do outro lado da linha, correndo para me encontrar.
— Não é, fica tranquila, eu estou bem.
— Me aguarde — ela desligou o telefone, quase numa ameaça. A preocupação cedia lugar à desconfiança. Aposto que pensava que eu havia lhe dado um perdido para aprontar alguma, embora eu sempre tivesse sido um anjo sem asas.
Estendi o celular a Justin e ele continuava a me encarar curioso. Precisava mesmo ter um aroma tão bom quanto aquele? O perfume masculino entrava a força em minhas narinas e corria feito pequenos diabinhos atrás dos meus neurônios para matar um de cada vez.
— Ela está vindo para a praça — informei, receosa que me jogassem imediatamente da van.
Justin assentiu.
— Vamos espera-la — me garantiu.
Bem, ele era mais gentil do que eu esperava. Scooter assentiu uma vez e se sentou na poltrona solitária mais perto da porta. Eu tinha a sensação de que ele tinha vontade de me pegar pela camiseta e jogar para fora da van, talvez se tratasse apenas de um receio meu, mas eu não queria confirmar espiando sua expressão.
Em vez disso, continuei no meu paraíso particular, fitando aquele rosto impecável do meu cantor favorito e dono do meu coração. Suspirei, sem acreditar.
Antes que premeditasse as palavras, elas escapuliram da minha boca:
— Bem, eu não queria que tivesse essa distância entre a gente de "popstar" e fã. Embora essa seja a única vez que conseguirei falar com você... — a minha voz falhou sem aviso prévio e eu pigarreei, inconformada que fosse passar mais vergonha.
Ele me direcionou um sorriso de incentivo muito terno e segurou minha mão, o que só me atrapalhou mais. O momento parecia tão irreal que eu tinha a impressão toda a vez que piscava que abriria os olhos para a realidade abruptamente. Mas mesmo assim eu precisava me expressar.
— Eu quero poder te ajudar, compartilhar seus problemas, suas felicidades, dar conselhos e puxões de orelha. Porque eu preciso saber de você. Eu preciso saber que você está bem, ou o que te incomoda. E é muito frustrante depender da mídia pra isso. É claro que você não vai abrir a sua vida para milhões de pessoas, porque, aliás, quem quer ser totalmente exposto assim para o mundo inteiro? — Tagarelei — Eu só queria que você soubesse que estou aqui por você, sempre estive, de verdade, e estarei.
— Muito obrigado, Heloísa, isso significa muito para mim. Você também pode contar comigo.
Minha parte racional sabia que não tinha como eu contar com ele de verdade, mas, movida por minhas emoções, fiquei muito feliz com as palavras. Ainda que um pouco frustrada que ele pudesse não estar entendendo a veracidade das minhas.
— Eu sei que sempre vai ser assim, no entanto. Que você não vai exatamente se sentir a vontade para confiar numa fã — revirei os olhos para a palavra, como se fosse banal demais — E eu tenho que me contentar em te acompanhar de longe, sem interferir, só torcendo — dei de ombros com pesar — Mas só isso já é importante para mim, e eu precisava que você soubesse que tem meu apoio incondicional — nesse momento, minha visão periférica identificou pela janela o carro da minha mãe fazendo a curva e o coração apertou. Eu ainda não estava satisfeita de sua presença e tinha tantas coisas ainda para falar!
— Sou muito grato por isso —Justin se levantou quando o fiz, o rosto mais comovido do que eu esperava. Ele realmente estava prestando atenção em minhas palavras, eu esperava que ao menos tivesse tornado seu dia um pouco melhor.
— Tchau pessoal, é mesmo um sonho ter estado aqui. Vocês não fazem ideia — olhei cada rosto e suspirei, repentinamente triste em já me despedir.
Ingrata, era isso que eu era. Eu devia estar focada apenas na felicidade de ter estado ali e não sofrendo por antecipação com a impossibilidade daquilo acontecer de novo.
Todos — os acordados — responderam com um "tchau" e "prazer em te conhecer" com muita educação, mas certa reserva também. Kenny parecia um pouco mais atento aos meus movimentos. Claro, eles não me conheciam e podiam estar preocupados com minha intensidade há pouco demonstrada.
E então percebi que eu estava chorando. Um choro meio bipolar, pela felicidade de tê-lo encontrado e de desfrutar tanto da sua presença, e por não poder cuidar dele realmente, por ter que me despedir tão depressa e saber que poderia nunca mais falar com ele. Que apesar da sua promessa, ele me esqueceria. Podia parecer muito idiota aos olhos de terceiros, mas eu simplesmente não conseguia controlar minhas glândulas lacrimais.
Lá fora, minha mãe desceu do carro, olhando freneticamente para os lados. Era possível ver sua ruga de preocupação de longe.
Kenny apressou-se em abrir a porta, devia me querer fora dali tanto quanto o restante deles.
— Espera, uma foto! — Alfredo se levantou, passando para a frente - Sentem-se, por favor, vai ser rápido. Aposto que você adoraria ter uma foto desse momento, não é?
Eu concordei com a cabeça energeticamente. Muito prestativo da parte dele. Lhe direcionei um olhar extremamente agradecido antes de obedecer. Eu enxuguei meu rosto, embora soubesse que não poderia fazer muito com a cara provavelmente inchada e o nariz vermelho.
Justin pegou minha mão e, surpresa, eu olhei pra ele. Olhando nos meus olhos ele entrelaçou os dedos nos meus, fazendo meu coração dar uma volta louca pelo meu corpo e beijou minha bochecha.
O flash foi disparado nesse momento.
O restante da equipe também fizeram uma pose quando ele afastou a câmera, deixando claro que todos sairiam no retrato. Sim, muita gentileza. Eu sempre gostei muito do Fredo.
— Mais uma, agora virem para cá — Alfredo pediu.
— Agora eu tiro para você sair nela — disse Kenny tomando a câmera das mãos dele.
Alfredo se agachou ao meu lado e eu encostei o meu rosto no de Justin, sorrindo. Mal podia esperar para ver os registros.
Assim que Kenny mostrou um "ok" eu me levantei de novo.
— Tenho que ir, minha mãe vai pirar — eu não sabia como ela ainda não havia retornado a ligação no celular de Justin. Torcia muito para que não o fizesse e eles esquecessem que eu agora teria o número dele.
— Vou colocar a foto no Instagram — Alfredo prometeu, me deixando momentaneamente sem palavras. Eu estaria no instagram de Justin. Aquele era o murro final do meu nocaute.
Mordi a boca para não gritar e concordei com a cabeça para que ele soubesse o quanto aquilo era importante para mim. Fredo piscou em camaradagem e tomou de volta seu lugar. Ugh, a vontade era de dar um abraço nele.
Mais uma rodada de "tchau's". Dei mais uma ultima olhada em Justin e o abracei forte.
— Você não faz ideia do quanto isso foi magnífico, eu vou sentir muito a sua falta — sussurrei em seu ombro.
Ele afagou minhas costas.
— Eu sempre estarei aqui — murmurou mais uma de suas frases prontas que me comoviam como o diabo.
O abracei mais forte por um momento, para guardar seu delicioso abraço e fui afrouxando, fixada em seus olhos.
— É o contrário, Justin. Muito obrigada por tudo. Eu te amo muito. Sei que vai me esquecer, mas eu sempre estarei aqui te apoiando, então procure ficar bem e, quem sabe, fazer menos bobagem — eu ri um pouco e ele também — Acho que tenho que ir logo. Fique bem — tomei a liberdade de beijar sua bochecha, quase morrendo pela proximidade, e olhá-lo com carinho uma vez mais.
Eu não conseguia me forçar a sair, era loucura, como dar as costas para um prêmio de loteria. Não resisti e lhe abracei mais uma vez.
— Eu te amo — ele se embolou no português como se eu já não estivesse chorando.
O apertei mais forte, produzindo um ruído histérico no fundo da garganta para sua diversão.
— Você é o melhor — disse me afastando e bati a ponta do dedo em seu nariz, o fazendo sorrir. O melhor sorriso do mundo, de covinhas e tudo.
Tomando fôlego e ignorando todas as clemências do meu corpo e mente, me virei de costas e saí pela porta que Kenny abria pra mim.
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