Dedos Tortos

A entrevista já tinha acabado, ela tinha conversado um pouco com ele sobre o CD, o show, sobre como estava sendo no Brasil, sobre a Selena... E ele estava num ótimo humor, provavelmente por ter acabado de falar com a Selena quando a entrevista começou. Ele tinha saído de perto de mim para falar com ela, e eu podia vê-lo sorrindo e rindo.

Eu sorria também. Mas por causa do sorriso dele.

Claro que no finalzinho da entrevista, Xuxa perguntou sobre mim, o programa do Luciano ainda não tinha passado, mas todos já estavam a par da situação.

Eu acho que virei assunto no Brasil. Provavelmente no mundo. Eu, uma zé ninguém. Mas realmente não tinha parado pra pensar nisso, estava com os pensamentos muito ocupados, pensando em Justin.

Justin falou da promoção - que não existia, mas não vem ao caso - e falou que eu era uma garota muito divertida. Sorrindo pra mim ao falar divertida, já que o trato era não falar engraçada.

Eu tive que aparecer e dar oi e falar o quanto aquilo significava pra mim. Me embolei toda nas palavras, porque estava com vergonha, e não é fácil definir o que isso significa pra mim, não mesmo, as palavras parecem simples demais para algo tão forte.

- Você não morre de tédio não? - perguntei indignada olhando ele deitado na cama.

Eu não estava nem um pouco entendiada, pra quem assistiu várias vezes ele comendo cereal, - ou milho? eis a questão - no instagram, não era nada surpreendente o quanto me encantava vê-lo ao vivo respirando.

- Não, estou acostumado. E você, está entediada? - ele se sentou na cama e eu ri.

- Justin querido, esqueceu as minhas origens? Sou uma belieber meu bem, uma belieber nunca fica entediada ao seu lado.

Ele riu e pegou minha mão, passando o dedo em minhas unhas medias.

- As vezes você não parece uma.

Parei de respirar e o encarei, descrente.

Essa é a pior coisa que podem dizer para uma belieber.

Ainda mais quando é o próprio Justin.

Ele entendeu o que tinha me dito, quando olhou pra mim.

- Não, não! Não é assim, não se ofenda. É que... você fica tão.. não sei. Parece mais uma amiga.

Acho que tem um olho na minha lágrima.

- Jus, as beliebers são suas amigas, você sabe.

- Eu sei, mas é diferente. É que você não grita a cada segundo.- ele deu uma risadinha.

Ih meu filho, se soubesse...

- E gostaria que eu gritasse? - fiz uma expressão de descrença.

- Não. Nem pensar. É que, assim não dá pra conversar, chego até a ficar sem jeito.

Eu ri.

- Você causa esse efeito.

- E em você não? - ele arqueou a sobrancelha.

- Causa. Mas eu me controlo, as vezes. - bem pouco, mas bom saber que tenho que me controlar mais.

Ele riu.

- Então, está feliz por estar aqui comigo?

- Você é talentoso? - respondi, pra ele comparar as duas coisas óbvias.

Ele riu mais uma vez.

- Então tá. O que posso fazer pra te deixar mais feliz?

ME AGARRE, ME BEIJE!

- Nada. - sorri pra ele.

Mas depois comecei a rir, do que eu estava pensando.

Ele deu uma risadinha.

- O que foi?

- Nada. Olha, só de você respirar, me faz feliz.

Ele sorriu e ficou olhando pra mim.

- Sabe... é bonito esse amor... que é tão - ele pigarreou - sincero. Mas...eu não gosto de vê-las sofrer e... eu não sei como dizer isso.

Comecei a estranhar. O que esse menino tinha em mente?!

- Eu.. não quero que você se sinta de outro jeito com relação a mim. Eu.. estou passando a considerar você uma amiga realmente... não quero que fique estranho...

Eu ri, entendendo onde ele queria chegar, e estava morrendo internamente também, pelo "considerar você uma amiga". Se controla Heloísa, ele não gosta muito de surtos.

- Calma Justin, eu sei separar as coisas, Fica tranquilo. Você é da Selena. Eu sei disso, tá tranquilo aqui.

Quando falei isso, pude ver que era verdade, porque eu passava a considerar ele um amigo. Justin, meu amigo.

Já posso morrer feliz.

Mesmo que eu faça histórias imaginando ele de outro jeito... bom, deve ser estranho fazer uma história imaginando seu amigo de outro jeito...então, ah, esquece.

Ele sorriu aliviado.

- Fico feliz em saber. Mas, vem cá, e a história? A do imagine?

Putz leitor de mentes.

Respirei fundo.

- Vou continuar fazendo ué. Presta atenção, podemos não perceber, mas criamos um você na história que é semelhante ao real, mas com uma personalidade diferente. Tem seu nome, e seu rosto. Mas a personalidade é feita por quem escreve. Até porque, não te conhecemos pessoalmente.

- É. - ele parou refletindo, depois olhou pra mim feito criança - Me deixa ler uma? - pediu empolgado.

- Claro! Que não.

- Por favooor!

- Não.

- Mas...

- Não.

- Heloísa...

- Sonha.

- Hã?

Eu ri.

- Sonha em ler a história, porque não vai ler.

Ele fez careta.

- Isso não é uma coisa legal.

- Sabe o que não é legal?

- O que?

- Se eu perguntei pra você, é porque não sei.

Ele revirou os olhos e riu.

- Boba. Sabe o que é legal?

- Não. - respondi.

Ele tirou seus sapatos e minhas sapatilhas e eu fiquei olhando confusa pra ele.

- Pular na cama. - ele ficou de pé na cama e me levantou pelas mãos, começando a pular de mãos dadas comigo.

- Você é muito louco. - disse rindo.

Ele revirou os olhos e me deu a língua.

Aí só deu os bonitões pulando na cama e rindo feito panacas.

Estávamos pulando quando bateram na porta.

- Justin! - ouvimos gritarem pela porta - Justin! Pare com isso!

Justin parou e olhou pra mim de olhos arregalados.

- Chegaram. Vão abrir a porta. - ele sussurrou pra mim de modo alarmante.

Eu ri do jeito louco dele e ele colocou a mão na minha boca, pra me calar.

- Shiu, shiu. - colocou o dedo indicador da outra mão na boca, sinalizando silêncio - Vamos nos esconder vem.

Eu tentei murmurar, mas ele ainda segurava minha boca.

Ele desceu da cama e puxou minha mão pra eu descer também. Quando coloquei os pés no chão, apontou para debaixo da cama.

- Vamos Heloísa, precisamos nos esconder. - ele me empurrou para debaixo da cama, e eu me deitei lá, ele se deitou ao meu lado e ouvimos a porta abrir. De novo, comecei a rir e ele tapou minha boca.

- Shiu.

- Justin? Justin? - ouvi a pessoa chamar.

Ficamos quietos e eu não conseguia acreditar no quanto ele era infantil.

Isso é legal.

Também sou.

O legal, é que nem precisou procurar, Kenny já foi puxando as pernas do Justin por debaixo da cama.

Eu saí em seguida, por vontade própria, só pra ver o Justin apanhando do Kenny.

Eu juro que ele tem dezenove anos.

♡ ♡ ♡ ♡

Estávamos voltando do almoço juntos, minha mãe tinha ficado lá com o Robert. Não vi graça. Justin percebeu minha cara carrancuda enquanto subíamos as escadas.

- O que foi? - ele perguntou preocupado.

- Hm, nada.

- Então por que a cara emburrada?

- Minha mãe. Lá com aquele Robert.

Justin riu.

- Você está com ciúmes?

- Bom, ela está ligando pra ele mais do que pra mim, mas o problema ela vai ver quando eu ligar pro meu pai e contar dessas gracinhas.

Ele riu de novo.

- Olha, o Robert é casado, então não se preocupe. E quanto a você, ela sabe que está em boas mãos. - ele me abraçou de lado e eu quase morri.

Ele estava certo. Boas mãos, bom corpo...

- Vendo por esse lado... - dei de ombros.

- Quer fazer uma coisa? - quando chegamos na frente do se quarto, ele sugeriu.

Olhei pra ele.

- Se for com você. - dei de ombros de novo - O que?

Ele sorriu com a minha resposta.

- Vamos na sacada, vem. - ele abriu a porta do quarto e foi me puxando pela mão - Vem ver suas irmãs.

Isso fez com que sorríssemos juntos, e ele abriu a porta para a sacada.

- Mas Jus, você não tem que fazer isso acompanhado? - perguntei desconfiada.

- Sim. E estou com você. - ele deu um sorriso travesso pra mim e entramos na área da sacada.

Os gritos começaram, havia muita gente lá embaixo.

Justin levantou meu braço, me mostrando a elas, que a essa altura, já estavam informadas sobre mim, é claro. Elas gritaram mais.

Como se ainda fosse possível.

Ouvimos um barulho atrás da gente, e era Kenny e Scooter, Bruce e Diane, Pattie e minha mãe, e o Robert. Eita que soltou a boiada.

Ryan e Fredo apareceram também e todos fizeram uma cara de repreensão.

Entrou na sacada com a gente o Fredo, o Kenny e o Bruce, e o resto voltou. Provavelmente porque não cabia muita gente na sacada limitada.

Aí começou a bagunça deles, e eu só fiquei olhando e rindo. Justin fazia caretas e brincava com os garotos, sim, Kenny e Bruce também são garotos. Somos eternos jovens.

Com simpatia, Justin se virou pra mim, querendo que eu brincasse também, mas com timidez, eu recusei e fiquei só em assistir tudo, era muito surreal porque antes, nem lá embaixo no lugar delas pude estar, e agora estou aqui ao lado dele.

Ficamos uns cinco minutos nisso, e depois todos voltaram a fazer nada, após darem uma bronca no Justin porque era perigoso ir sozinho.

Não entendo porque, sendo que ele nem desceu.

Então ficamos sentados novamente conversando, enquanto ele mexia com a minha mão.

- Você parece que é apaixonado pela minha mão não é?

Ele riu, sem tirar os olhos dela.

- Bom, ela é legal.

- Ela tem um papo legal?

- Hmm... mais ou menos, minha mão gosta de brincar com a sua. Elas são amigas, vê? - ele juntou as duas, como se fosse medir o tamanho.

Eu bufei.

- Assim sua mão humilha a minha, ela é quase o dobro!

Ele riu e fechou a mão na minha, fazendo elas se entrelaçarem, mas na inocência.

Só que mesmo que eu o considerasse meu amigo, senti uma pontadinha de gelo. Isso era uma coisa muito íntima. E também sou belieber, explica o como quase derreti.

- Minha mão sumiu no meio dos seus dedos tortos. - fiz graça, pra ele não ver minha reação. E não ouvir meu coração.

Ele examinou as duas e me mostrou a língua.

- São tortos porque sou trabalhador.

- Entendo.

- A sua é fofinha. - ele colocou as costas dela na bochecha, ainda segurando-a na sua.

Eu sorri.

- Isso foi gentil.

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