Prólogo

N E W  Y O R K

P R E F Á C I O

Saí apressada da lanchonete e segui para casa — bom, se é que aquele apartamento minúsculo pudesse ser considerado uma "casa". Naquele momento, em que meu corpo era um templo vasto de exaustão, tudo o que eu mais queria era me jogar na cama, ler um bom romance ou assistir uma série qualquer, tudo isso enquanto estava servida de uma deliciosa pizza. Eram naquelas horas, em meio à tortura de andar nas ruas de NY após um torturante dia de trabalho, que me vinha em mente a maldita indagação:

    Porque simplesmente não compro um carro?

    E, bem, a resposta me vinha de imediato, além de ser um tanto quanto óbvia — eu mal tinha dinheiro para pagar as contas.

    Além do maldito cansaço que me atormentava, a sensação de ter sido atropelada por um trem — e, não, isso não era um exagero —, quase não suportava meus pés que estavam devidamente destruídos após horas e horas servindo e limpando mesas sem um mísero momento de pausa.

    Maldita seja Lucy.

    Estava se tornando um hábito xingar minha chefe em meio à pensamentos.

    Segui o trajeto silencioso naquelas ruas tão impessoais e congelantes até meu apartamento, alheia ao mundo ao meu redor, enquanto 505, de Arctic Monkeys, ressoava baixinho aos meus ouvidos através do fone plugado ao celular. Enquanto cantarolava a letra viciante, eu pensava na reviravolta que a minha vida dera e minhas decepções até chegar ali. Uma completa merda.

    Ainda andando, cheguei em certo ponto onde precisaria atravessar a rua para chegar ao metrô. Conferi o sinal e atravessei o espaço, no entanto, a travessia não foi rápida o suficiente para que eu conseguisse desviar do carro que vinha em minha direção em alta velocidade...

    Porra!

    Soltei um grito sufocado e ao mesmo tempo desesperado, me vi em completo pavor pela morte iminente. Mas, por conta de uma bendita sorte até então desconhecida por mim, o idiota do volante conseguiu frear a máquina de luxo e desviar de mim antes de me causar algum dano além de, é claro, uma queda por susto.

    Eu sobrevivi!

    Antes que eu ao menos conseguisse tentar me levantar, senti mãos grandes e firmes tocarem meus braços, para depois um cheiro intenso e amadeirado preencher meu olfato. Entretanto, esse encanto durou pouco, pois uma voz rouca e sobressaltada logo esbravejou próximo a meu ouvido:

    — Qual seu maldito problema? — rosnou. O quê?

    Esquivei-me de suas mãos e, enfim, consegui me erguer. Porém — e infelizmente —, eu não estava preparada para encontrar um par de olhos azuis tão intensos e gélidos me encarando. A expressão do homem desconhecido era composta por uma carranca assustadora, mas não me assustaria. Não naquele momento.

    — Eu que deveria estar perguntando isso, seu idiota irresponsável!

    Já totalmente de pé, eu pude encará-lo com mais precisão. Engoli em seco. Certo, o sujeito tinha quase dois metros de altura, seu cabelo era uma composição de mexas escuras e bagunçadas de um jeito que o deixava atraente, lábios delineados e perfeitamente preenchidos, barba com aspecto de ter sido recém-feita em seu maxilar másculo e bem definido, e o corpo era surpreendentemente atlético, vestido por uma roupa preta que realçava os músculos em evidência. Sem dúvidas era um imagem bem-vinda aos olhos.

    Puta merda, no que estou pensando? Ele quase me matou!, me repreendi internamente.

    — Você deveria prestar mais atenção as coisas ao seu entorno, garota! — repreendeu-me, de maneira extremamente rude.

    Suspirei.

    Estava buscando paciência para não explodir em surto naquele momento.

    — Eu?! Sério isso?! Era você quem deveria não ser um irresponsável andando a essa velocidade sem respeitar as leis de trânsito, sujeito a acabar com a vida de um inocente! — retruquei enquanto não deixava de encará-lo por um segundo sequer. — Eu espero não ter quebrado nenhuma parte de meu corpo ou você irá para cadeia — ralhei mantendo o mesmo tom. Ele franziu levemente o cenho, tomando depois uma expressão impassível em seu belo rosto.

    — Você fala demais, e talvez não seja inteligente falar comigo nesse tom. Deveria medir as palavras, pirralha — falou de maneira ameaçadoramente calma, enquanto usou um tom debochado ao desdenhar a última palavra.

    Busquei ignorar sua fala e apenas soltei um riso de escárnio, em desafio.

    — Foda-se. Não tenho medo de você — desdenhei, entredentes — e não me chame de pirralha, ogro!

    Os olhos misteriosos e sombrios cintilaram diante de meu desafio. O sujeito fez um leve movimento na boca, inclinando-se a responder, mas se deteve após ouvir uma buzina de carro. Olhei em volta e tomei ciência do aglomerado de veículos que tinha se formado ao nosso redor.

    Ótimo. Plateia.

    Ele me olhou uma última vez antes de entrar graciosamente no carro caro e deixar uma promessa silenciosa pelo olhar de esferas azuis.

    Poderia até ser patético, mas eu tinha a sensação de que aquilo não acabava ali.

Prólogo curtinho, mas acho que deu pra conhecer um pouco de nossa garota.

Em breve postarei o primeiro capítulo também narrado pela Mag.

Obrigada pela leitura, deixe estrelinha se gostou.

Até breve!

©K. Lacerda

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