Capítulo 9 | Verdades Ocultas
Você tem o diabo em seus olhos
Você chegou e me pegou de surpresa
Fale o que você quiser, eu não vou voltar
Se você quer pegar a estrada, então vamos lá
Apenas vamos embora, ver o mundo e mostrar pros outros
O que realmente significa viver uma vida de ouro
Devil Eyes | Hippie Sabotage
Eu não tirava os olhos dela, não conseguia.
Estava sendo fodidamente difícil camuflar, por meio de uma postura impassível e calma, a surpresa de a ter encontrado aqui, em meio a esse mundo de atrocidades que Dumont alimentava.
Analisando-a, notei o quanto estava diferente em comparação à sua imagem que ainda visitava meus pensamentos eventualmente. Seu corpo, antes cheio de sinuosas e atraentes curvas, agora apenas dançava sob o tecido folgado do vestido horroroso que usava em decorrência à sua evidente falta de peso. A aparência era desesperadamente sôfrega. Seu rosto delicado estava pálido de maneira alarmante, toda sua pele estava. O cabelo negro estava solto, era longo e liso.
Eu sabia que ela tinha passado por maus bocados estando nas mãos daqueles homens — e aquilo, estranhamente, não me agradou.
Diferente das outras mulheres que estavam aos prantos, ela estava controlada e, aparentemente, atenta a tudo ao seu redor, a postura defensiva era semelhante à que usava quando nos encontramos, aliás. Pirralha arisca. Foi também possível perceber que seu corpo tencionou minimamente quando respondi Matteo.
Aquilo me vez questionar se havia uma possibilidade dela ter reconhecido minha voz.
Estranhando meu silêncio, Jacob me tirou do transe em que me encontrava.
— Já escolheu? — disse perto de mim com a voz baixa. — Eu quero ir embora desse lugar.
Apesar de seu semblante neutro, eu sabia que ele não estava gostando nada disso.
— E, então, Mitchell, já tem sua escolha? — Matteo questionou-me, ansioso por um bom negócio.
— Sim. — informei-o, de forma fria, recuperando minha postura neutra.
— Que seria...? — indagou.
Sei que irei me arrepender dessa merda futuramente.
— A morena...
Mas ela me atrai, mesmo que de forma inconsciente
— Que está na sexta posição, na direção à esquerda...
Como uma maldita feiticeira.
— De cabelos longos.
Declarei, por fim, dando meu veredito e sua sentença.
Ela se assustou com minhas palavras e ficou aparentemente agitada em seu lugar.
— Ótima escolha, Mitchell. Uma linda virgem. Tragam-na até aqui. — ordenou para os seus. Suas palavras só me fizeram sentir-me mais enojado por mim mesmo.
Atendendo a seu pedido, um homem loiro com vestes pretas pegou seu braço frágil com brutalidade, fazendo com que ela se assustasse mais.
— Não a toque. Siga passos à frente, garota. — Minha voz era um bloco de gelo.
Como na primeira vez que me encontrei com ela, me surpreendi com a porra de minhas ações. Eu não queria que ninguém a tocasse mais, não permitiria. Ela era minha agora. A partir daquele momento eu soube que ela seria minha esposa e mãe do meu filho.
Ela veio nervosamente em nossa direção, os passos hesitantes e tensos. Percebi uma movimentação ao meu lado e assisti Jacob ir ao seu encontro assim que ela chegou perto de nós o bastante. Ele tocou delicadamente seu ombro, fazendo com que ela se assustasse, mas ficou quieta, logo ele tocou na venda e a levantou lentamente. Ao ter contato com a luz baixa do ambiente, seus olhos piscaram repetidas vezes, até se fixarem em Jacob e depois em mim. Aqueles orbes azuis vazios me encaravam em demora, nada transparecendo.
— Para o valor, eu imp... — Matteo iniciou.
— 100 milhões. — disse. Tudo o que eu queria era ir embora daquele lugar o quanto antes.
Vi espanto em seu rosto pelo meu lance alto, que, segundos depois, foi substituído por animação. Vendo todas aquelas mulheres naquela situação, ao imaginar o que elas passaram e ainda passariam, a vontade de depositar uma bala no meio da testa de Matteo era crescente, mas não podia fazer aquilo ali — ou pelo menos não agora. Ter seu sangue em minhas mãos seria algo agradável de ser ver agora.
— É mais que perfeito. Foi bom fechar negócio com você, Diabo — A felicidade e euforia estampadas em seu rosto repugnante não condiziam com o que ele havia acabado de fazer e que ainda faria, muitas vezes.
— Terá seu dinheiro em mãos hoje — decretei.
Ignorando sua mão estendida em minha direção, saí em retirada ao carro depois de sinalizar para Jacob trazer a mulher que continuava calada e sem reação.
Entrei no veículo, sentando-me no banco de trás, para, depois, observar meu amigo direcionar de forma delicada a garota para o banco livre ao meu lado. Ela não olhava na direção dele ou na minha, apenas sustentou o olhar no vidro fumê ao seu lado.
Jacob se deslocou para o banco do carona e virou a cabeça em minha direção.
— O que faremos agora? Ir para o casamento em Vegas? — Riu com ironia, o tom ácido.
— Vá à merda. — A última coisa que eu queria agora era entrar na onda de Sullivan. Jacob poderia sem bem irritante quando queria.
— Ainda acho você um idiota — resmungou, já com o olhar na estrada a sua frente enquanto o carro entrava em movimento.
Após deixar o idiota em uma de minhas boates que ficava no caminho para casa, a Darkside, que era gerenciada por ele, e aturar suas piadinhas irritantes, seguimos o trajeto silencioso até a mansão. Por vezes olhei de soslaio para a figura silenciosa ao meu lado.
Ela não parecia estar focada no agora. Era como se estivesse perdida em pensamentos distantes e tempestuosos, como se apenas seu corpo se encontrasse aqui no momento.
Quando Marco parou o carro em frente à propriedade, eu desci e contornei o veículo até o lado onde ela estava. Abri a porta e a observei.
— Desça — ordenei e, após finalmente me fitar brevemente, ela o faz com receio.
Após descer do carro, ela ficou frente a frente comigo, suas mãos inquietas se serravam em punho e se abriam vezes seguidas. Vendo-a diante de mim, era notável a diferença de tamanho entre nós, mesmo sua estatura sendo razoavelmente alta.
Estudando minuciosamente seu olhar, enxerguei os conflitos internos de sua alma que eram refletidos pelo mesmo.
Medo, raiva, receio e confusão se transpareciam.
— Siga-me, não faça cena ou perca seu tempo tentando ir embora, esta escolha seria crucial para seus amados. — Ao dizer aquilo, lembrei-me que teria que analisar todo seu histórico de vida através do relatório que Dumont iria me mandar por e-mail.
Ela absorveu silenciosamente minhas palavras e engoliu em seco. Fiz menção de me virar e entrar na residência, mas agi rapidamente ao notar de relance seu corpo se desfalecer em um desmaio.
— Porra — praguejei ao envolver meus braços nela e puxá-la para junto de mim.
Os homens que estavam ao redor se aproximaram minimamente, prontos para alguma ordem, mas apenas os ignorei.
Erguendo seu corpo leve em meus braços, observei-a mais de perto. Os lábios carnudos estavam levemente entreabertos, descendo o olhar, involuntariamente notei o decote do vestido, que era um pouco cavado e dava a visão ampla de seus seios de tamanho bem-vindo aos olhos.
Ao me dar conta do que estava fazendo e pensando, meu subconsciente me alertou do quão idiota eu estava sendo.
É só uma mulher, como todas as outras, Derek.
Erguendo-a ainda mais em meus braços, levei-a para dentro e subi rapidamente as escadas e, chegando no quarto de hóspedes mais próximo, deitei a garota em sua nova cama. Ela ficava minúscula em meio à cama grande. Pegando o celular do bolso, procurei o número do médico que eu sempre me atendia em emergências.
— Sim? — disse com uma voz grogue de sono pelo horário.
— Venha imediatamente para minha casa. — Desliguei sem esperar por resposta, não precisava de muito para saber da urgência.
Como de praxe, meia hora depois ele chegou, trazendo na mão adjacente ao seu corpo magro e alto sua maleta que sempre o acompanhava.
— O que aconteceu? — questionou, observando o corpo frágil deitado na cama.
— Ela desmaiou repentinamente. Passou por muita coisa — expliquei. — Cárcere.
Adam começou a examiná-la, conferiu seus sinais vitais com seus equipamentos e, enfim, virou-se para mim.
— Ela se encontra em um estado crítico de desnutrição, visto que aparentemente está a muito tempo sem comer. Irei deixá-la com uma intravenosa, recebendo soro para repor suas faltas. Seu desmaio foi em decorrência à exaustão, o corpo está sobrecarrego. Deixarei também vitaminas e uma lista de alimentos para que ela consiga repor os nutrientes que faltam em seu sistema, voltarei poucos dias depois para acompanhar seu progresso. Me informe qualquer ocorrido futuro, rapidamente — disse enquanto fazia anotações.
Acenei, maneando a cabeça após absorver tudo.
E, assim, ele logo foi embora. Depois que observei por minutos — ou até mesmo horas — a garota desfalecia sobre a cama, fui em direção ao meu escritório analisar suas informações.
Não demorei para encontrar o e-mail que foi enviado há poucos minutos. Abri-o e analisei cada informação. Como me foi dito, Matteo não gostava de deixar seus clientes no escuro, e isso me poupava tempo.
Magan Thompson (Mag)
Idade: 23 anos;
Pais: Margareth Adams Thompson e James Thompson;
Irmão: Jack Willians Thompson (irmão gêmeo);
Trabalho: trabalha em tempo integral na lanchonete Happy Meal no centro de Nova Iorque;
Amigos: aparentemente apenas Austin Garret e Anne Taylor;
Foi noiva de Maison Reagan antes de vir de Amarillo, no Interior do Texas. Mora sozinha em um apartamento de estado precário no subúrbio de Nova Iorque, aparentemente não teve relacionamentos recentes, nenhum caso amoroso.
Observei as outras informações irrelevantes e concluí a pesquisa.
O que a fez abandonar o noivo no Texas e para cá? Aquilo me deixou curioso.
Então, enfim, eu havia descoberto o maldito nome da feiticeira.
Magan.
— Magan Thompson — apreciei o mesmo, demoradamente, sobre meus lábios.
Na manhã seguinte acordei no horário habitual, sentindo as consequências da noite mal dormida. Aqueles olhos vagos e sôfregos ainda ocupavam minha mente algumas horas na penumbra da noite. Recomposto após um banho revitalizante, desci para o andar de baixo e me dirigi para mesa posta na sala silenciosa — assim como toda a casa.
Eu apreciava aquilo, ter meu espaço, a calmaria que o silêncio proporcionava era bastante atrativa e necessária para mim.
Após comer o necessário, olhei para o relógio e vi que já se passavam das oito da manhã, foi então que me veio a ideia de conferir se Magan já havia acordado, precisava a deixar a par de algumas coisas.
Era estranho referir-se a ela de forma diferente a pirralha ou garota.
Péssimo hábito.
Antes de subir a escada, Marco apareceu para me entregar duas sacolas com roupas e com os remédios prescritos por Adam que eu havia ordenado que providenciasse.
Quando cheguei no quarto e vi que ela ainda estava dormindo. Fechei a porta e depositei as sacolas na poltrona do outro lado do quarto. Fiquei breves minutos observando seu sono enquanto estava encostado na parede que de frente para cama. Passaram-se alguns minutos até que seu cenho se franziu levemente, a serenidade de seu rosto sumindo. Logo seus olhos se abriram aos poucos, mas um grunhido baixo saiu de sua garganta ao estranhar a claridade da manhã que invadia o quarto através da janela de vidro que estava com a cortinha afastada. Magan tentou levar o braço ao rosto com intuito de se proteger da luz, mas, ao fazer o movimento, notou a agulha plugada em seu braço. Sua testa se franziu mais. Não demorou muito para elevar a cabeça e notar minha presença.
— Você. — Foi desferido como uma acusação por sua voz ainda rouca pelo sono.
— Sim — concordei, observando-a arrancar a ligação em seu braço e fazendo uma careta enquanto passava os dedes sobre o local livre.
— O que diabos irá fazer comigo? — perguntou, ríspida.
— Vejo que retomou a postura que tinha no dia que nos encontramos pela primeira vez — disse.
Hoje ela não possuía mais aquela expressão de ontem. Não, agora eu via reação — com acréscimo de ódio.
— Você não respondeu minha pergunta — pontuou, rude.
— Irei torná-la minha mulher e mãe de meu filho. — Joguei as cartas na mesa.
Ela apenas riu, desacreditada, enquanto balançava a cabeça em negação, seus cabelos negros se movimentavam sobre os ombros magros por causa do movimento. O som de sua risada era preenchido por escárnio.
— O quê? — ela perguntou enquanto me fitava indignada. Seus grandes olhos piscaram duas vezes. — Você só pode estar maluco, essa é a única explicação. — Gesticulou com a mão, em descrença.
— Tudo isso é verídico.
— Não pode ser, é uma loucura. — Os olhos azuis cintilavam pela irritação e o reconhecimento da realidade iminente. — Eu não irei fazer isso, seu lunático!
— Não adianta negar o inevitável. — Minha paciência já começava a se esvair.
— Eu não vou ser sua esposa, muito menos mãe de seu filho. Não irei ser sua, porra! — Ah... Essas garras.
E ali estava seu desafio, exatamente como eu lembrava.
— Você já é minha, fará o que eu disser.
— De novo não, de novo não. Puta merda, é exatamente um ciclo repetitivo — sussurrava coisas desconexas em meio a lágrimas que começaram a descer em sua face, me deixando confuso.
O que porra ela tinha?
— Nos casaremos em alguns dias...
— E seu eu me recusar a fazer essa palhaçada? — cortou-me.
— Todos aqueles que você ama pagarão por sua escolha, Mag — desdenhei seu apelido, para mostrar que sabia muito mais do que ela imaginava.
Não pretendia fazer aquilo, mas precisava jogar com as artimanhas que tinha em mãos.
Ela abriu a boca e fechou novamente, engolindo em seco.
— Você é um verme, como todos aqueles idiotas que me mantinham naquele inferno. — A forma que sua voz vacilava ao citar os indivíduos deixava explícito seu repúdio. E ser o receptor daquilo não era algo agradável.
— Talvez o seja — falei, apenas.
Ela me observava com olhos em fúria, não desviando nunca, depois quebrou o silêncio que se sustentava no ambiente.
— Por quê? — Imagino que a confusão ficou nítida em meu rosto, porque ela logo completou: — Por que eu? — esclareceu, em um fio de voz. — Com certeza tinham mulheres mais bonitas que eu naquele lugar, eu sou apenas uma garota irritante e sem graça — dizia, fazendo expressões faciais que exprimiam indignação.
Pensei em sua pergunta, formulando uma resposta adequada.
— Você era a única que demonstrava resistência entre todo aquele choro irritante, penso que será uma mãe de fibra para meu filho — expliquei-me com meias verdades.
Não podia dizer que ela ocupou meus pensamentos por um fodido mês inteiro. Não, porra.
— Quem é você? — sua voz aflita carregava uma curiosidade sôfrega.
Apenas mantive as mãos nos bolsos da calça enquanto ainda a encarava de longe.
— O Diabo. Não te disseram? — indaguei. — Bem-vinda ao inferno, baby.
Olá, leitores!
Trouxe mais um capítulo do mafioso kk
Ela é uma feiticeira, hm? Parece que alguém já chegou fazendo estrago, então Derek que lute.
Volto na próxima segunda com mais para vocês. Obrigada por ler e, se gostou, peço que deixe seu voto.
©K. Lacerda
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top