Capítulo 8 | É o Fim?

(ESPECIAL DE 1K)

Estou paralisado
Estou com medo de viver, mas estou com medo de morrer
E se a vida é dor, então eu enterrei a minha há muito tempo atrás
Mas eu continuo vivo
E isso está me controlando - onde eu estou?
Eu quero sentir alguma coisa, estou dormente por dentro
Mas não sinto nada, me pergunto por que
E na corrida da vida o tempo passa por mim

Paralyzed | NF

(ALERTA DE GATILHO)

Destino.

    Augusto Cury disse que ''o destino é uma questão de escolha", mas eu estava sentindo na pele que nem sempre tínhamos escolha. Nem sempre podíamos decidir nosso destino, não quando o ato de escolha era retirado de nossas mãos de forma voraz, avassaladora — assim como aconteceu comigo. Meu pai me tirou direito de escolha ao me colocar a frente de um casamento forçado, tiraram-me o direito de escolha ao me sequestrarem e me manterem em cárcere como um animal.

    Já estava em um quarto minúsculo e aterrorizante há o quê? Dias? Semanas? Meses? Eu realmente não sabia mais, não sabia também de onde estava tirando forças para ao menos me manter lúcida. Era como dizia aquele fodido ditado clichê: só damos valor ao que temos quando perdemos.

    A prisão.

    A fome.

    A sede.

    O desespero.

    Quando um humano passa por estes estágios, ele pensa em como era sortudo e não sabia, como era rico por ter liberdade e sair para onde quisesse, por poder saciar a fome e não manter uma dieta idiota, por saber que poderia aproveitar e dar valor a uma boa noite de sono. Cada minuto, cada hora era um martírio para mente quando se está em um estado como o meu.

    Eu sentia tanta falta de minha família, de meus amigos. Aquilo doía para caralho. Como eu queria vê-los, nem que por apenas míseros segundos, para aliviar a saudade que me consumia constantemente.

    No dia seguinte ao que acordei confusa e descobri que era mais uma vítima do tráfico humano, fui levada para outro local, uma construção antiga no meio do nada, cheia de quartos e corredores. A garota que estava comigo no quarto também veio, mas fomos separadas e eu não consegui mais vê-la durante o tempo que se decorreu. Depois fui jogada neste quarto que me encontrava agora, ficava no subsolo, eu percebi. Fiquei sozinha, sem um lugar para dormir, sem uma mísera janela, sem um banheiro para fazer necessidades; apenas um balde imundo, uma refeição com gosto horrível, a qual eu devorava como se fosse a melhor do mundo. Deram-me roupas gastas para vestir, elas não ajudavam a sanar o frio que me consumia nas noites gélidas.

    Não tinha uma noção de tempo, tentei contar a partir da estrega das refeições, mas elas eram distribuídas com uma frequência desregular, tornando impossível deduzir horários e dias. Eu não dormia, não sossegava, não tinha paz. Vivia em um inferno particular — deveria me sentir privilegiada por tal presente do destino, não?

    Também não sabia de onde ainda extraia forças para ser irônica.

    Assustei-me com o ruido sobressaltado da porta se abrindo.

    Nem olhei em direção a mesma, já sabia quem era.

    Brant continuou a me atormentar mesmo ao chegar nesse lugar, mas o homem negro, o qual descobri se chamar Fred, me protegia de suas ideias de me assediar. Não sei se ele fazia isto por pena, afeição ou até mesmo para não estragar a ''mercadoria dos Vips'', como ele sempre dizia. No entanto, apesar das constantes reclamações de Fred, o ruivo insistia em tirar minha paz. Ele era o culpado por eu não dormir direito, por ficar sempre com o olho aberto, com receio de suas visitas.

    — Oi, docinho. — Sua voz sempre causava calafrios em meu corpo, o mesmo que estava anestesiado pela fome e fraqueza.

    — Vai embora — sussurrei, com fio de voz.

    — Hoje, infelizmente, você irá sair daqui, talvez até se tornar posse de outro. — Deu uma pausa em sua fala. Ouvi seu corpo se aproximar do meu, os passos pesados e aterrorizantes. — Não posso deixar você sair daqui sem tocar em seu corpo, princesa. O idiota do Fred não irá me atrapalhar hoje — sussurrou chegando perto do meu ouvido.

    No segundo seguinte, ele estava com suas mãos sobre meus braços, deitando meu corpo fraco no chão imundo.

    Gritei aterrorizada, mas sua mão grande logo abafou minha voz por cima de minha boca. Contorci-me sob seu corpo, tentando sair de seu poder, estapeei seu peito largo com minhas mãos que ainda estavam livres. Seu cheiro me nauseava.

­    — Não adianta me negar, eu sei que você quer isto tanto quando eu. — Sua mão desceu para minha coxa e senti seus dedos asquerosos tocarem minha calcinha abaixo do vestido.

    As lágrimas queimavam meu rosto. Não aguantaria aquilo, era meu fim. Eu tinha que sair dessa ou, então, eu não sabia o que seria de mim depois disto.

    Cessei os movimentos. Ele depositava beijos imundos em meu pescoço. Tirando a mão de minha boca, ele a levou até meus cabelos, os puxando com força e apertando mais minha cintura com sua segunda mão.

    Escorreguei as mãos de forma discreta pelo cós de sua calça e senti o objeto gelado. Touché. Contendo o soluço que queria rasgar minha garganta, busquei controle. Eu sabia que ele tinha uma arma, via o metal polido reluzindo sob a luz fraca sempre que ele vinha aqui. Era minha salvação.

    Aprendi a manusear algumas armas quando com meu pai e irmão me levavam para caçar com eles, os ensinamentos que eles me passaram tinham que servir agora. Não sabia de muito, mas torci para ser o necessário. Com uma calma e cuidado que eu nem sequer tinha ciência que ainda possuía, calculei mentalmente meus próximos movimentos.

    É agora!

    No momento em que seus dedos iriam ser introduzidos em minha intimidade, selei minha mão no lugar certo e puxei a arma com uma velocidade assustadora para logo depois pressioná-la em seu abdômen, já com o dedo no gatilho. Senti seu corpo ficar tenso instantaneamente, estava surpreendido.

    — A única coisa que eu quero de você é que vá para o inferno, seu verme — sussurrei, todo meu ódio transbordando enquanto pressionava o cano da arma contra o tecido que cobria sua pele.

    Eu tinha que ser rápida, então, ligeiramente, ao escolher entre minha vida e a dele, puxei o gatilho seguidas vezes, sem hesitar, até sentir o clic silencioso que anunciava a falta de balas no pente.

    O sangue quente saia do local perfurado e escorria livremente sobre minha roupa. Pensei na fome que ele me deixou passar, na prisão em que me jogou, nos protestos para me deixar em paz que ele ignorou.

    Ele merecia.

    Ele merecia.

    Ele merecia.

    Repeti o mantra em minha cabeça para tentar, em vão, tirar o peso que caia em minha consciência a cada segundo que passava.

    Puta merda, eu matei uma pessoa.

    Não foi um alvo em um treino, não foi um animal em uma caça. Foi uma pessoa.

    Mas uma pessoa desprezível. Desumana, sim.

    Um ser desumano.

    De forma repentina, o corpo pesado foi retirado de cima de mim com brutalidade. Logo ouvi uma sequência de xingamentos.

    — O idiota me enganou para conseguir fodê-la.

    Era Fred.

    — Tire ela daqui e leve-a para se preparar. Não quero chegar atrasado na minha primeira negociação com o diabo — falou com tom de escárnio uma voz desconhecida, notei ser outro homem.

    — Levanta-se — Fred ordenou, de maneira rude.

    Tentei me levantar, mas o estado deplorável que meu corpo se encontrava impedia que eu o fizesse. Eu estava paralisada. Sem paciência com minha demora, Fred passou o braço apor minha cintura e me levantou, empurrando-me em direção à porta. O dono da voz desconhecida não se encontra mais no recinto.

    — O que irão fazer comigo? Irão me matar? Eu só me defendi, ele i... — falava assustada, mas ele logo cortou minha fala.

    — Eu sei o que porra ele iria fazer, já era explicito sua vontade desde o dia que colocou os olhos em você — dizia enquanto me guiava pelos corredores, indo em uma direção que não reconheci. — Você vai limpar e ficar apresentável para ir encontrar alguém importante.

    — Com quem irei me encontrar? — suas próximas palavras me aterrorizaram em demasiado.

    — Com o Diabo.

    O quê...?

    Talvez minha hora de morrer tenha chegado.

    Ao chegar em um ambiente diferente ao que me foi apresentada durante meu tempo aqui, Fred mandou que eu tomasse um banho, fizesse minhas higienes e escolhesse um vestido para meu "encontro''. Eu estava confusa. Sentia-me em outro plano, estava no automático. Suas palavras apenas vagavam por meus ouvidos enquanto devorava a refeição que encontrei sob a mesa. Não consegui absorver o gosto da mesma, apenas tinha a necessidade de ingerir aquilo.

    Após longos minutos de limpeza no banho em um chuveiro precário e em um espaço minúsculo, eu me senti um ser apresentável novamente — mesmo que tivesse desabado em lágrimas no compasso em que a água descia. A contragosto, bati na porta para avisar que estava pronta, como assim foi pedido.

    — Pensei que tinha se matado no chuveiro — resmungou.

    Fitei-o. Fred era um cara de meia idade, já possuía marcas do tempo em seu rosto duro. O cabelo raspado dava a ele uma aparência mais amedrontadora, também com auxílio do seu tamanho alto e expressão carrancuda. Os olhos eram castanhos e opacos.

    — Vontade não me faltou — sussurrei, o que era verdade.

    — Vamos, Dumont está te aguardando.

    — Quem diabos é Dumont? — Minha voz saiu em sussurro.

    — Seu atual dono, garota.

    Era o monstro que acabou com minha vida, então.

    Atravessamos o corredor entre portas e mais portas e chegamos na saída, a qual desejei passar levando minha liberdade a cada dia que passei aqui.

    Mas, por ser um poço de sorte, estava passando por ela para ir em direção à forca.

    Mais uma ironia da vida.

    Ao sair, vi que já era noite. Comtemplei a brisa que beijou minha pele e que tanto senti falta. Na frente do local avistei uma vã preta, Fred me guiou, vulgo empurrou, em direção à mesma. Ao me aproximar, ouvi choro feminino e logo notei um grupo de mulheres vendadas, aos prantos. Haviam também dois brutamontes na parte da frente e no volante, dois se encontravam nos bancos de trás. Cada um estava com uma arma em mãos.

    Pedaços de merda.

    Pensei, no meu interior, que essas mulheres também podiam ter sofrido nas mãos desses doentes. Engoli em seco. Ninguém merecia passar por o que eu passei. Ninguém.

Foi colocado em mim uma venda, me deixando as cegas. Aquilo era um problema, e dos grandes, porque toda vez que eu fechava os olhos eu o via, eu sentia o toque dele, o sangue dele. Enquanto lutava com minha tempestade interna, fui empurrada para de dentro do veículo e, logo depois, ouvi a porta ser fechada para depois o veículo entrar em movimento.

    Depois de um tempo de viagem — a tortura com aquela venda —, a vã parou e a porta foi aberta. Ouvi o choro de minhas semelhantes aumentar e tentei camuflar minha ansiedade e medo, me mantendo calma.

    — Desçam! — a voz dura e rude, que vinha do lugar da frente da vã e que veio o trajeto inteiro reclamando do choro, esbravejou.

    Guiadas por mãos desconhecidas, descemos e fomos direcionadas, às escuras, para algum lugar em fila indiana.

    Senti que havíamos entrado em um local com cheiro de mofo e sangue.

    Um abatedouro, talvez?

    — Virem-se para direita. — Foi o que fizemos.

    Por alguns minutos tudo se encontrava em silêncio, com exceção do choro constante, até que ouvi vozes e passos firmes se aproximando.

    — Como eu falei, temos aqui uma grande diversidade. — Reconheci a voz, era a que havia ouvido mais cedo.

    Diversidade?

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    — Ela é valiosa, tem os padrões dos Vips e com certeza será vendida por milhões, porra!

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    — Hoje, infelizmente, você irá sair daqui, talvez até se tornar posse de outro...

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    — [...] Você irá se arrumar e ficar apresentável para ir encontrar alguém importante.

    — Com quem iriei me encontrar?

    — O Diabo.

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    As lembranças foram organizadas e me alertavam o que me esperava.

    Era hoje. Seria hoje que iriam me vender como um simples objeto.

    Céus!

    — Vejo que sim — alguém disse, de forma áspera.

    Essa voz... essa voz grossa e dominante não era estranha. Eu lembrava dela, me atormentava por vezes em sonhos, ela esteve em minha mente em alguns dias. Ela foi dirigida a mim de forma rude no trânsito.

    Ela pertence a um sujeito arrogante e belo.

    Ele estava aqui.

    Será minha salvação? Ou minha verdadeira passagem para o verdadeiro inferno?

Olá!

Hoje, novamente, não é dia de capítulo, mas eu o postei esse em comememoração as 1000 leituras de Nova Aquisição. Para alguns, 1k não é nada, é insignificante, mas para mim, que sequer tinha fé de que essa obra chegaria em 100 leituras, é muito gratificante e importante. Também é importante os comentários que vocês deixam, seja rindo de uma loucura do Aust ou da Mag, seja detontonando os escrotos  que realmente sempre merecem — ou até mesmo as especulações dos próximos capítulos. Os votos, isso mesmo, aquelas estrelinhas que vocês clicam quando acabam a leitura, são demasiadamente significativos para a ascensão desse livro, tanto no Wattpad, quanto para minha motivação na escrita. Agradeço, de coração, a todos vocês, leitores. Obrigada por fazer essa história ser real!

Goodbye!

©K. Lacerda

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