Capítulo 5 | Só Preciso Acreditar

Nós vemos uma tempestade se aproximar
Fingindo que não estamos assustados

Duke Dumont | Ocean Drive 

Abri os olhos enquanto flashes da noite de ontem preenchiam minha mente. Estava exausta após a noite mal dormida, meu corpo estava dolorido em decorrência daquela sutil queda a qual eu julguei inocente. Fechei os olhos novamente e levei as mãos até meu rosto. Eu também estava pensando no homem grosso e arrogante. Aquele imbecil gostoso com certeza era um dos caras mais bonitos que já vi em minha vida. Franzi o cenho ao recordar de seu ar de poder sombrio e intimidador. Repreendi-me internamente por estar perdendo meu tempo com esses pensamentos tão idiotas. Além disso, nunca mais iria vê-lo novamente, isso era fato. E eu estava muito bem com isso.

    Levantei-me a contragosto e segui para o banheiro com o intuito de me arrumar para enfrentar mais um dia cansativo naquela lanchonete. Depois de um banho revitalizante, procurei uma roupa para ir para o trabalho e observei as opções mínimas. Percebi que precisava seguir os conselhos do Aust e comprar novas roupas.

    — Merda, ir para o shopping com o Aust é um martírio — suspirei enquanto cogitava a hipótese.

    Escolhi uma calça jeans clara surrada e vesti a blusa horrível que Lucy nos obrigava usar como uniforme da lanchonete. Laranja com toda certeza não era minha cor preferida. Calcei meu tênis já gasto, peguei a bolsa, uma maçã na cozinha e segui para fora do apartamento. Ao sair, avistei um de meus vizinhos me encarando no corredor, como sempre. Aquilo era muito bizarro.

    Ignorei sua presença e saí do prédio deplorável onde eu morava. Com as coisas estão indo bem atualmente, logo, logo eu conseguiria sair dali e iria para um lugar melhor, ou pelo menos mais normal.

    Cantarolando músicas aleatórias, eu andei rápido e logo cheguei na lanchonete antes de me atrasar. Ótimo. Não queria ouvir sermões da senhora Evans logo cedo. Adentrei no ambiente enquanto cumprimentava os funcionários que já haviam chegado. Aproximei-me de Anne que estava no balcão.

    Ela, assim como Aust, me acolheu como amiga sem pensar duas vezes assim que pôs os olhos em mim. Anne era uma garota linda, tímida e fofa, nos auge de seus 21 anos. , ela era dona de uma beleza deslumbrante. O jeito meigo e bondoso sempre chamava atenção e a tornava mais linda que do que já era.

    — Bom dia, Anne.

    Ela tirou a atenção da pilha de papeis que estava observando e me olhou com um lindo sorriso no rosto.

    — Oi, Mag! — saldou-me, seus olhos cor esmeralda transmitindo doçura.

    — Eu e Aust sentimos sua falta ontem, aconteceu alguma coisa?

    — Eu tive alguns problemas em casa — disse evasiva, sem dar detalhes. Eu tinha a sensação de que conseguia ler a súplica silenciosa em seu olhar para que eu não indagasse sobre o que aconteceu.

    Anne nunca comentou sobre sua família comigo e nem com o Aust, que era seu amigo há mais tempo. Apesar de achar estranho, não a questionamos sobre isso.

    — Algo que eu possa ajudar? Se estiver precisando de alguma coisa que esteja ao meu alcance não hesite em me falar — disse, mesmo sabendo que era em vão.

    — Já está tudo resolvido. Mesmo assim, brigada por se preocupar. — Não era isso que eu via em sua expressão, mas decidi não persistir no assunto, respeitava seu espaço. — Sabe da novidade? — disse, se esquivando do assunto.

    — Não, o Aust não me falou nada. — Brinquei com a mania dele de falar tudo que sabia e nunca guardar nada. Aust era uma vizinha fofoqueira de primeira.

    Ela riu disso e continuou.

    — A Lucy vai vender o estabelecimento.

    Certo, aquilo me surpreendeu. Apesar da Lucy ser uma megera com os funcionários, era nítido o apego dela por esse lugar, ela o amava.

    — Assim do nada? Ela adora isso aqui.

    — Pelo histórico das finanças que organizo todo mês vi que ela não está bem financeiramente — disse com pesar. — São dívidas consideráveis, ela já está tendo problemas com os fornecedores, inclusive. Acho que a venda foi a única saída.

    — Apesar de seu temperamento, eu fico triste por ela ter que se desfazer do que ama. Só espero que isso não respingue em nós, funcionários. — Suspirei. — Mas acho que o Aust irá ficar eufórico com essa notícia.

    — Eu não duvido nada disso.

    Rindo, encerramos a conversa e iniciamos a rotina de arrumar o ambiente para abrir o estabelecimento.

    — Eu não acredito nisso! Esse é o melhor presente de natal que eu poderia receber! — gritou eufórico e animado, atraindo a atenção das pessoas que estavam ao nosso redor.

    Rolei os olhos e lhe dei um tapa no braço, repreendendo-o pela indiscrição.

    — Será que pode gritar mais alto, Aust? Acho que o bairro todo não ouviu — ironizei. ­

    — Você me diz a melhor notícia desde que vim trabalhar aqui e espera que eu não comemore, amor? Impossível. — Ele me olhava indignado.

    — Você não é normal. — Anne me acompanhava no riso.

    — Acabei de lembrar que temos que ir ao shopping comprar o vestido que você irá usar na quarta — disse ele.

    Eu tinha me esquecido totalmente da promessa que havia feito ao Aust. Era algo a que eu não poderia fugir, mesmo desejando malditamente ficar em minha cama quente, assim como em qualquer outro dia de folga.

    — Ele conseguiu te convencer a ir? — Anne comentou rindo. — Ótimo. Isso vai ser interessante.

    Semicerrei os olhos em sua direção, e ela, vendo que era o mais esperto a se fazer, logo buscou conter a diversão.

    — Tive que usar minha beleza para persuadi-la a ir, baby — Aust piscou um olho para ela ao falar.

    — Já estou me arrependendo disso — resmunguei, bufando logo em seguida.

    — Não, não, você não pode dar para trás, senhorita Thompson. — Um sorriso estava estampado em seu rosto bonito. — Está em minhas mãos agora. — Riu de forma maléfica.

    — Boa sorte, Meg. Você irá precisar.

    — Ah, disso eu não tenho dúvida.

    Passaram-se dias alguns dias e logo minha folga chegou, trazendo, assim, um Aust animado ao extremo no meu quarto, atrapalhando meu sono precioso.

    Será que estou pagando meus pecados, Deus?

    Estávamos na cozinha, eu tinha a missão de sanar minha fome astronômica com o café da manhã que ele tinha trazido, o qual estava delicioso. Acho que essa foi sua tática muito esperta para não ser alvo da minha ira após ter sido acordada de maneira nada sutil no começo do dia. Do meu precioso dia de folga.

    — Poderia engolir esse café mais rápido, princesa? Vamos perder a hora.

    Mesmo buscando ignorar, senti tensão dominar meu nome ao ouvir aquele apelido. Apelido que o Maison usava.

    — Austin, eu gostaria que você não me chame mais assim novamente — disse, hesitante, e logo vi compreensão em seu olhar.

    — Você nunca me chama de Austin, então suponho que é isso seja sério. — Sua voz era serena e cautelosa. — Seu passado?

    — Sim, ele me chamava assim — disse, engolindo em seco.

    Ele tomou uma feição terna e se aproximou mais de mim, estava ao meu lado sentado diante do balcão da cozinha. Então Austin me abraçou, sua proximidade foi bem vinda.

    — Desculpa, meu amor. Eu não quis te deixar triste — disse ele, para depois deixar um beijo no topo de minha cabeça. — Você nunca mais irá vê-lo, baby. — Apenas acenei em resposta, ainda em seus braços fortes.

    Pensei no que ele dizia e resolvi — eu precisava — acreditar nisso. A vontade que eu tinha de nunca mais vê-lo era imensurável, não podia cogitar a possibilidade de voltar para Amarillo, apesar da saudade de minha família se alastrar a cada dia no meu peito, e aquilo, por vezes, fazia-me questionar se fugir tinha sido a escolha certa. Mas bastava imaginar o futuro infeliz que eu teria que me via fazendo tudo de novo apenas para ser livre de suas garras.

    Tinha que acreditar que nunca mais iria vê-lo.

    Tinha que acreditar que era impossível ele me achar.

    Tinha que acreditar que ele tinha ficado no passado.

    Mesmo que eu ficasse frustrada com as expectativas em excesso.

    — Tudo bem. — Saí de seu abraço e me levantei, indo em direção ao meu quarto. — Precisamos ir logo fazer isso de uma vez.

    Sua animação retornou, e ele logo me acompanhou para o quarto e se jogou na pequena cama batendo, palmas dramáticas.

    — Hoje você vai ficar uma deusa, amor.

    Aquele era o Aust sendo Aust.

    Saímos da vigésima loja depois de provar o centésimo vestido.

    — Eu não aguento mais, meus pés estão me matando. — Aquela era minha ladainha, e estava carregada de verdades.

    — Você tem que aguentar. Eu prometi que iria te deixar uma deusa e é isso que irei fazer, não se oponha — disse, me puxando para entrar em outra loja cheia de roupas e assessórios femininos.

    — Eu realmente não faço questão disso — garanti.

    Eu nunca fui uma garota vaidosa, e isso com certeza me fazia odiar compras e todas as coisas do tipo. Minhas amigas sempre me criticavam por isso e me incentivam a segui-las em suas missões de beleza e, bem, isso não me atraiu em nada — eu só me irritava a cada sessão de compras.

    — Para seu azar e sorte, eu faço, baby. Olha esse vestido, que maravilhoso! — Mostrou-me um vestido preto que, de fato, era bonito, mas eu logo percebi que irá ficar muito justo em mim. Não era meu estilo. — Aqui. Prova.

    Peguei-o a contragosto e segui para o provador. Vesti a peça elegante que tinha ficado bem colada em meu corpo e vi que estava certa, era muito justo. Saí do recinto e encontrei Aust em uma pose plena; estava me esperando sentado em uma poltrona que aparentemente era muito confortável.

    Inveja. Eu estava com inveja dele por estar descansando.

    — É esse! — falou animado, infelizmente acabando com todas as minhas esperanças de escolher outro.

    — O inferno que eu vou ficar com isso, é colado e chamativo de mais para mim, Aust — falei, enquanto olhava minha imagem no espelho grande a minha frente. Eu tinha ciência de que o vestido era lindo, mas me achei estranha nele, principalmente na parte em que meu busto, que não era nada pequeno, ficava em evidência.

    Ele me olhou e, para meu azar, apreciou o que viu com um sorrisinho de lado.

    — Ficou perfeito. Se eu fosse hétero, estaria duro, então você irá levar esse e ponto final! — exclamou. — Minha missão está cumprida em parte.

    — Bobo. — Rolei os olhos. — Já que não irá adiantar questionar você, Austin Garret, então vamos embora logo.

    Ele deu de ombros e se levantou, me dando a visão completa de seu corpo másculo, vestido por uma bonita roupa casual com cores alegres.

    — Isso é o mais inteligente a se fazer. — Piscou um olho ao passar por mim, indo em direção à atendente para fazer o pagamento

    — Droga, estou com fome — eu disse quando saíamos da loja.

    — Eu também, acho que passar muito tempo com você está me fazendo ficar com seu apetite monstruoso. Conheço um restaurante aqui perto, a comida é maravilhosa. — Antes que eu tivesse chance de protestar ele já estava me puxando para rua contrária ao caminho para casa.

    — Aust, não trouxe dinheiro algum. Posso esperar para comer algo em casa.

    — Claro que não, iremos ao restaurante e não se preocupe com dinheiro, irei pagar a conta.

    — Eu não posso deixar você gastar tanto comigo, já não basta o vestido? — disse, estava me sentindo desconfortável por ele gastar seu suado dinheiro comigo, mas o moreno apenas revira os olhos com impaciência explicita.

    — Mag do meu coração, você não precisa se preocupar com isso, é só um almoço. E o vestido é um presente que quis te dar, simples assim. — Pegou minha mão e começou a andar. — Agora vamos. Com a fome que estou, comeria até você. — Foi impossível não rir.

    Decidi não persistir na negação e apenas o segui. Eu estava ao lado da pessoa mais persuasiva e persistente que já tinha visto.

    Logo chegamos restaurante moderno de clima descontraído. Conversamos sobre diversos assuntos idiotas e, depois do almoço, nos despedimos e fomos embora, aliás, como ele disse várias noites, a noite prometia.

    Eu só não sabia que ela teria tanta significância para minha vida.

Oi!

Mais capítulo pra vocês.

Queria tanto um Aust em minha vida kk

E essa noite da balada, o que irá acontecer?

Espero que estejam gostando da história.

Tchau, galera!

©K. Lacerda

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