Capítulo 44 | Dizendo Adeus
Mas se somos fortes o suficiente para deixá-lo entrar
Nós somos fortes o suficiente para deixá-lo ir
[...]
Quem diz que a verdade é beleza, afinal?
E quem diz que amor deveria nos partir quando caímos?
Let It All Go | Birdy
— Por quê? — pedi baixo, fechando brevemente os olhos. — Por que eu seria luz? Isso nunca faria sentido, eu...
Pegando meu queixo levemente com sua mão ele me fez encará-lo seriamente, indiferente ao estado em que estávamos pelos minutos por minutos atrás.
— Você não enxerga, não é? — interrompeu-me, utilizando propriedade em sua fala. Eu sentia as batidas ritmadas e aceleradas vindo de meu peito. — Consegue lembrar daquele homem que por muito pouco não te atropelou nas ruas de Manhattan e muito pouco ainda se importou? Que te disse, da forma mais fodida possível, que você seria seu novo objeto, um brinquedo? — Derek parecia frustrado, e, aparentemente, irritado consigo mesmo. — Eu nunca decidi ser algo além daquilo até você aparecer na minha, Mag. Eu nunca precisei, porque não parecia haver o mínimo sentido. — Colocou meu rosto entre suas mãos, a boca a poucos centímetros da minha. — Mas isso? Nós? Foda-se, provar isso foi como sentir a vida, eu não me vejo mais sem sentir a necessidade de ter você, sem isso correndo em minhas vaias. Que se foda o que sou, que se foda todos, ao inferno o mundo lá fora, você é a porra do meu eixo. — Suas palavras não podiam ter me nocauteado mais, a veracidade feroz e emergente me chocou ao extremo. Tudo foi canalizado até meu peito. — Então, Magan, se isso não é luz, não faço a fodida ideia do que poderia ser.
E eu o beijei. Me fundi a ele. Queria que enxergasse que sentia o mesmo, que ele corria no meu sangue.
— Não quero ir — confessei baixinho, sussurrando para além da minha razão, da minha consciência. Apertando-me como se o ar estivesse me arrastando para longe dele. — Eu escolheria ficar. — Se pudesse, não sairia do seu lado.
— Você não pode ficar— falou como se o pensamento machucasse. Me machucou. — Não posso fazer isso com você. Nem ao menos sou digno.
— Merda, Derek. — Ele também não enxergava? — Você não é um monstro, não da forma que pensa. Eu não sou imaculada. Temos rachaduras em lugares e proporções diferentes, mas somos ambos fodidamente quebrados. Isso é a vida, aquela mesma que nos jogou à própria sorte. A mesma que cria demônios, lembra.
Aquilo havia o atingido como uma bala, eu senti. Eu sabia que não era fácil aceitar que as marcas presentes no coração e na mente não definiam ou ditavam o que poderíamos ser.
Eu acreditava nele, e seus irmãos estariam ao seu lado independente de tudo. Derek era apenas uma alma que foi rasgada e deixada ao vácuo, mas ele poderia se reconstruir, tenho a certeza de que conseguiria. Pois, passando tudo o que passei, descobri sozinha que as dores são uma amostra do inferno, mas elas também mostravam a força que possuíamos no nosso âmago. Derek sempre foi forte, só não enxergou. Ele ainda lutava.
— Você não parece real — bebeu meu ar. Eu conhecia aquela sensação, pois, antes, julguei que isso que tínhamos era algo impossível, que não seria sentir tanto por outra pessoa.
— Prove que sou — sussurrei, em confidência. — Faça amor comigo, Derek. Nos prove agora que sou sua mulher e que você é meu. — E veja o quanto eu te amo, falei de forma inaudível, ciente de que seus olhos estavam fechados e de que meu sussurro foi jogado ao nada.
E então ele fez.
Me amou com devoção em cada toque, cada beijo e cada palavra que transmitiu. Nossos olhos confidenciavam promessas íntimas, as quais eu nunca esqueceria, acontecesse o que acontecesse.
E nessa bruma os dias se passaram, rápidos e cheios de vida.
Naquele momento, aos poucos, uma trilha de beijos em meu pescoço me despertou do sono. Nem era preciso abrir os olhos, em parte por, no meu âmago, temer que a sensação fosse um sonho, que tudo o que vivi ao longo dessa semana nessa ilha foi fruto da minha imaginação.
— Sei que está acordada — ele disse, mordiscando o lóbulo de minha orelha e me puxando mais para si, meu corpo nu envolto pelo seu e a textura dos lençóis de cetim fazendo carícias na minha pele. — Mas já passou de meio dia, estaremos indo embora em um par de horas.
Segurei seus ombros quando ele fez movimento para se afastar, e logo depois abri meus olhos para encontrar Derek me olhando sob a luz do sol que entrava pela varanda do quarto. Não havia saudação melhor ao despertar do que estar envolvida por ele, em corpo e na maldita alma.
— Bom dia — disse roucamente, mesmo já passando do horário, e beijei sua boca. Foi lento e suave, docemente íntimo. — Precisamos realmente ir? — choraminguei baixo.
A verdade era que a ideia de deixar tudo isso para trás soava absurda. Pensei ser impressionante como aquele lugar se tornou sinônimo de paraíso. Nesses seis dias experimentei o gosto da calma que não experimentava há tantos meses — meses, já era tanto tempo.
— Você sabe que sim. — Ele me apertou mais. — Mesmo que minha vontade seja nunca mais sair desse quarto.
— Você está bem com isso? Não quero incomodar você e seu namorado, sério.
Aust bufou ao telefone.
— Você está louca, Magan? Coloque nessa cabeça desmiolada que você nunca estaria me incomodando aqui. E quanto ao meu baby, bom, digamos que eu prefiro a cama dele, então mal estamos aqui juntos.
Meu riso baixo se reverberou pela sala.
Ele, finalmente, após muita negação, se rendeu aos encantos do seu affair fixo, e ouvir sua afirmação me deixou mais calma, pois eu realmente não queria atrapalhar o casal.
— Esse riso não me engana. Eu sei que você não está bem com isso.
Ele estava certo. Eu não estava.
O tempo passou e as coisas aparentemente se acalmaram, e há uma semana atrás Derek tocou nesse assunto. Ele deixou explícito através do olhar que aquilo nem de longe era sua realidade preferida, mas Mitchell me disse que, se eu estivesse pronta, poderia estar me organizando para voltar para minha rotina antes de tudo isso. Para que eu era, ou próximo disso. Ambos sabíamos que nada seria exatamente como antes, mas isso, para mim, era algo. Eu pedi isso.
Ele foi inflexível quando deixou claro que teria pessoas com os olhos em mim, em prol da minha segurança quando essa mansão não fosse mais minha casa. Não questionei, pois hoje sabia que nada era simples como antes pensava. Estar segura sozinha não era algo provável, então aceitei isso, não seria mais imprudente como antes.
Queria muito voltar para minha vida antiga, ter o meu trabalho, ser alguém normal nas ruas de NY, e logo teria isso. Mas a única coisa que apertava meu peito era, no processo, ficar longe de Derek. Porque, afinal, eu não poderia ficar vivendo um conto de fadas com meu algoz, certo?
Eu ainda não sabia.
Nem a doutora Rose, a qual eu visitava uma vez por semana, me deixou explícita essa resposta.
Ainda estava cansada.
— Vou ficar, estou levando tudo no meu tempo. Vou ficar bem.
— Você vai fazer a escolha certa, Mag. Siga sua intuição, está bem? — Ficou em silencio por segundos. — E eu não vou julgar você em nenhuma das suas decisões, nem a Anne, e foda-se todo o mundo. Escolha o melhor para você, meu amor. Um beijo, até logo.
— Um beijo.
Mesmo presa na mesma linha de pensamento, passei o dedo pelo livro cheio de cicatrizes que ainda tinha em mão e antes lia, era uma edição antiga do obscuro enlace de O Morro dos Ventos Uivantes.
Mitchell não estava, então supus que minhas "companhias" ali seriam apenas o exército de seguranças ao redor da propriedade e os demais funcionários, dentre eles Lindsay — essa que agora caminhava em minha direção agora com uma bandeja de comida.
Fui inevitável lembrar do meu primeiro dia aqui.
— Senhora — saudou-me, reclusa e sem me encara nos olhos.
Era irritação ali? Implicância? Vergonha? Estava cansada daquela guerra fria em que ela mesma se colocou.
— Você não precisa fazer isso. — Meu suspiro também foi audível.
Ela ainda não me encarava quando me respondeu, evasiva.
— É meu trabalho, senhora Mitchell.
Rolei os olhos, suspirando.
— Não estou falando disso — insisti, agora recebendo seu olhar. Confusão moldou sua face corada. — Me refiro a isso entre nós, essa sua implicância por algo que sabemos que não vale a pena.
Ela ergueu a sobrancelha ruiva, absorvendo minhas palavras.
— Não sei do que está falando.
Paciência nunca fora meu forte.
— Que porra, Lindsay! — exaltei-me ao levantar-me do sofá em que estava. — Você sabe muito bem a que merda me refiro. Por que está fazendo isso? Por que se rebaixar a esse papel por algo que, convenhamos, nenhuma mulher deveria fazer?
— Está dizendo isso por estar na cama dele toda noite? — Ela não entendia?
Balancei a cabeça, suspirando.
— Não percebe que não é sobre isso? Eu nunca tive motivos para ter raiva de você, independente do seu interesse pelo Derek ou do que você possa ter tido com ele. — Minha boca ficou amarga nessa última parte, com o pensamento, mas não transpareci. — E você me vê como uma rival desde o primeiro dia que cheguei nessa casa.
Estava cansada disso, e não apenas com ela. Aquela Emmy também não ficava atrás naquela equação.
— No início eu me senti atraída por ele... — começou, incerta. — Mas, depois, comecei a sentir inveja do que você tinha. Do homem que estava praticamente aos seus pés, de se tornar essa mulher que todos idolatram, de ser dona dessa casa, de se tornar famosa...
Ah, ela nem imaginava...
— Eu não sou famosa — contradisse.
— Ah, é, sim — Rindo ela rebateu, segura de suas palavras. — Você faz sucesso entre a mídia e provavelmente é uma das mulheres mais invejadas de New York.
— Eu não sou nada disso. Tudo isso se resume a ele. Se eu perdesse o sobrenome Mitchell, ninguém ao menos lembraria o meu nome. — Observei que cruzou os braços sobre o uniforme, absorvendo o que eu disse. — É tudo superficial, Lindsay. E eu não quero nada disso.
— Você não parece ser quem eu imaginava.
— Talvez por eu quase ter jogado uma tigela de frutas em seu rosto uma vez? — foi difícil segurar o riso. Mútuo. Era um progresso. — Não vá contra mim quando estou com fome — falei seriamente.
Rindo, ela concordou com a cabeça, para depois pigarrear.
— Obrigada por não ter me mandado embora por causa da forma que agi. — Obrigada por me mostrar a verdade, seu olhar dizia.
Acenei.
A porta do hall se abriu, entregando que não estávamos mais sozinhas.
Derek entrou na sala, o cenho se franzindo levemente ao perceber que algo acontecia aqui.
— Com licença — Davis disse, acenando para mim, seus olhos agora livres de rispidez. — Senhora Mitchell, senhor Mitchell. — E assim saiu.
O silêncio não durou muito, entretanto.
— Foi interessante o que ouvi enquanto estava de trás da porta. — Não expressou a mínima vergonha disso. Mas que fodido. — Tenho a porra da certeza que você é a mulher mais quente quando está irritada e sem paciência. — Riu ladino. — E você sempre está assim, baby.
— Você é um idiota.
— Geralmente é você quem sempre desperta esse meu lado.
Ri enquanto caminhava até seus braços.
— Gosto disso.
Selei meus lábios aos seus, evitando tirar meu batom vermelho. Suas mãos dançaram por minha cintura e ele apertou levemente minha nádega sob o vestido elegante de lantejoula que eu usava e segurei sua gravata borboleta bem alinhada assim como seu smoking.
Nessa noite estaríamos indo a um baile anual de confraternização em sua empresa. Acompanhá-lo em eventos assim se tornou algo frequente, e, em alguns — raras vezes —, eu realmente apreciava estar ali.
— Você não poderá me julgar se eu descarregar minha arma em cada filho da puta que terá os olhos vidrados em você nessa noite. — Eu esperava que aquilo fosse uma metáfora, mas, vindo de Derek, eu não saberia com dada certeza. — É pedir demais.
— Mantenha suas calças. — Mais um beijo. — Você acha mesmo que me produzi tanto apenas para você me olhar? Não seja presunçoso, diabinho.
Afastei-me e peguei minha pequena bolsa sobre a poltrona. Ainda pude vê-lo estreitar os olhos em chamas.
— Porra. Não me teste, mulher.
Ri ao cruzar o hall.
Ele realmente ainda me pedia isso?
O salão estava cheio. Pessoas elegantes em suas mesas, outras aos arredores conversando pacificamente, confortáveis com a música baixa ao fundo.
Tudo muito calmo e normal. E foi aí que o questionamento me veio enquanto Derek estava ao meu lado, guiando-nos sobre a pequena multidão.
Eles eram todos iludidos? Nada me surpreenderia se praticamente ninguém ali ao menos soubesse o que Mitchell era, que suas mãos eram tão sujas de sangue e que agora estavam perto de alguém tão letal como o homem com quem divido a cama. Mas eles precisavam? Certamente não, desde que estivessem bem. O coração pode estar melhor enquanto cego.
Sua recém presença acalmou consideravelmente a conversa. Muitos começaram a olhar em nossa direção. Havia admiração em alguns olhos, outros temor, e também pude dizer que vislumbrei algum ódio.
Bom, isso não mais me incomodava. Havia ligado o foda-se sempre que saía de casa.
Várias pessoas vieram falar com Derek, este que não largou suas mãos de mim, principalmente quando seu corpo enorme ficava tenso às vezes. O motivo era óbvio e me fazia querer revirar os olhos.
Ele era possessivo quando o assunto era os olhares masculinos sobre mim. Não havia outra definição. Ele não escondia seus ciúmes, apesar de se controlar — eu sempre lia seus sinais, conhecendo-o bem sua linguagem.
— Com licença, senhores. Acredito que minha esposa esteja cansada a essa altura da noite, vou levá-la até uma mesa. Foi um prazer. — E assim saímos, com ele nem ao menos esperando os sócios falarem algo. Acho que ele também não precisava. Era Mitchell, afinal.
— Oh, eu estou cansada, hum? — brinquei perto do seu ouvido, ou o mais próximo que consegui, por causa de sua altura.
Ele me olhou de lado, mas o canto de sua boca indiciava uma sobra de sorriso. Ele estava fazendo isso com mais frequência, e eu amava assistir.
Avistei Muller e Sullivan antes de chegarmos até eles. Um deles já tinha o rosto cheio de sorrisos para mim.
— Gatinha!
Houve um resmungo atrás de mim.
— Parece que essa noite desfigurou você. — Olhei para seus cabelos mais desgrenhados que o habitual e sua gravata torta. Havia também uma pequena marca de batom no colarinho branco.
— Sim. Uma noite iluminada. — Mordeu o lábio. — Cabelo loiro e tudo.
— O anel no dedo dela também era muito iluminado. — Era surpreendente ver Dante relaxado e zombando ao mesmo tempo. Não sei qual forma sua era mais quente, se ele sério e frio ou descontraindo e rindo. No fim, ambas fariam facilmente qualquer mulher molhar a calcinha. O que não seria meu caso, apenas o olhar de Derek já me despertava isso.
— O que posso fazer se até as casadas precisam de minha ajuda?
— Ajuda? — pedi.
— Sim, você sabe, para conseguir chegar lá. Como naquela primeira e única vez que o Diabo te impediu de andar pela manhã na Itália.
Ele então piscou para mim, descarado.
— Única vez?
Eu ri, mas Derek parou os movimentos descontraídos de sua mão sob minha coxa e cerrou os olhos.
— Mas que porra.
Divertindo-me ainda, mandei Jacob se calar antes que ele estivesse voando pela mesa pelas mãos do homem ao meu lado.
O clima entre nós estava bom, em certo momento o anfitrião da noite precisou ir ao centro para dar algumas palavras.
— Vou voltar rápido. — Beijou-me rapidamente.
— Espere. — Me aproximei mais antes que ele saísse. — Sua sala fica no último andar, certo? — Acenou, desconfiado enquanto sorri vagarosamente. — Então você sabe onde me achar.
— E por que eu iria até lá?
— Bem, isso é com você. — Dei de ombros. — Ah, e mais uma coisa. Você acha que uma lingerie perde seu encanto quando se abre mão de uma das peças? Estou realmente preocupada com isso desde que saímos de casa.
Sua respiração pesou.
— Você será minha morte, mas, foda-se, esteja lá para mim queria, e eu vou te punir corretamente por fazer isso.
E assim ele saiu, e meu interior ficou em chamas, a antecipação me tomando completamente,
— Oh, espere. Eu não deveria te acompanhar agora, gatinha? É nosso momento — riu Jacob.
Ele não recebeu nada mais que meu dedo médio.
A antecipação fervilhava em meu estômago. Eu enfim estaria contando-lhe minha decisão.
Logo eu estava lá. A sala estava escura, formando uma penumbra perfeita para assistir o show de luzes e arranha-céus de Manhattan. Era mágico.
E, como se não fosse suficiente, uma fagulha de poder adentrava me âmago, talvez fosse a perspectiva de ver a cidade diante os meus pés. Mas aquilo não era para mim, era demais, por isso me afastei vagarosamente com um passo silencioso.
Um feixe de luz apareceu, a porta se abrindo.
Ri.
— Esse foi o discurso mais curto de todos os tempos — zombei.
— Oh, não, princesa. — O meu tempo parou. Todos os pelos do meu corpo se arrepiaram com a voz maliciosa. — Esse show não é mais dele.
Era um lobo em busca de sua presa.
Em um milésimo de segundo tudo transbordou e meus medos antes dormentes foram despertados. Como aquilo poderia ser possível? Por que ele estava aqui? Por que tinha que ser assim?
— Você não deveria estar aqui. — Não surte, Mag, não surte. — Você não deveria sequer estar respirando o mesmo ar que eu! — Eu tentei me acalmar, no entanto julguei ser impossível.
Maison riu, excitado com meu pavor.
— Você continua igual. — Seus passos ecoaram como trilha sonora de um filme de terror. — Tempestuosa, arisca. A minha Magan. — Esse parecia o fim da história. — Senti saudades, amor.
eu precisava, gente, não me cacem :/ eu amo a mag.
o cap tá sem uma revisão boa, mas quis postar logo.
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