Capítulo 43 | Banquete


E quando os tempos foram difíceis
Eu me certifiquei de te manter perto de mim

Então chame meu nome


Call Out My Name | The Weeknd

— Estamos sozinhos aqui? — pedi ao olhar em volta e não encontrar ninguém mais.

     Voltávamos do mar, enxarcados graças a mim. Apoiei-me mais nos braços de Derek enquanto ele me levava até à sua mansão em destaque naquela ilha, o pôr do sol nos assistindo. Voltei meus olhos para ele, vislumbrando seu rosto descansado, algo consideravelmente raro.

     — Existem homens fazendo segurança em uma torre de controle próxima daqui, mas, com exceção deles, não há ninguém no raio de distância. — Ele me colocou de vagar no chão para conseguir abrir a porta, sua mão capturando a minha.

     — Por que isso não me surpreende? — murmurei levianamente, absorta, ao vislumbrar o interior.

     Derek me olhou de relance, a sobrancelha erguida. A essa altura já era claro para mim que ele era neurótico por segurança, e, também, agora conseguia entender o porquê.

     — Nosso quarto fica no andar de cima, e cozinha logo ali. — Deu as coordenadas do bonito espaço, e então puxou-me para um beijo breve e inesperado. Meus lábios já sentiam falta dos seus. — Estou indo para um banho, pode me acompanhar se quiser. Mas você deveria comer algo, a cozinha está abastecida.

     Acenei, satisfeita. Não havia comido praticamente nada hoje, talvez fosse o aconselhável. Não podia seguir sendo imprudente a mim mesma.

     Já sozinha, e enquanto me deslocava para o cômodo, encontrei um sistema de som. A playlist era interessante, e os primeiros segundos de I Wanna Be Yours já me deixaram embriagada. Eu provavelmente era fissurada pela voz de Alex Turner.

    Me virei como pude na cozinha com vista para o mar e rapidamente havia montado um prato com guloseimas. Tentei usufruir de minha própria companhia de modo que minha mente não vagasse tanto na nebulosidade dos pensamentos constantes. Surpreendi-me por estar tendo êxito.

     Ouvi um pequeno barulho ecoar no recinto. Seus passos não eram audíveis, mas conseguia sentir sua presença magnetizante sobre o ambiente.

     — Você deveria descansar agora — essa fora sua saudação. Pude notar que uma pequena parcela de repreensão serpenteou seus olhos logo depois.

     — E não estou? — retruquei, ousando erguer um pouco o canto de minha boca, mesmo ele não podendo ver.

     Um passo.

     — Adam disse que deveria ser cautelosa, você sabe que não está recuperada. — Ele não estava errado. — Já teve aventuras demais por hoje, não?

     — Adam provavelmente não experimentou passar uma semana com o traseiro colado à cama. — Busquei terminar de recolher a louça que havia usado para o lanche, já saciada o suficiente. — E também não é como se você fosse seguir isso se estivesse no meu lugar.

     Outro passo.

     — É diferente.

     — Por que seria? — Uma risada nasala escapou de mim. — Só porque você tem músculos a mais e aparenta ser mais resistente? Porque tem um cromossomo Y? — Bufei, em parte me divertindo.

     Um leve arrepio beijou minha pele no instante em que sua mão grande foi depositada sobre ela, no quadril. Um simples movimento despertando choques em meu sistema, e poderia culpar a abstinência do seu toque por isso.

     — Você nunca facilita? — Ajustei minha coluna, erguendo os ombros, para depois sentir seu peitoral rente com as minhas costas. Era tão confortável, conseguia ser certo e obscuro ao mesmo tempo. E eu amava tanto aquilo.

     — Não é como se você odiasse, não é? — Outro riso.

     — Não consigo — disse próximo demais do meu ouvido, enervando-me instantaneamente. Bastardo. — Odiar isso seria estar odiando você, já que essa é sua principal característica.

     Oh.

     — Você não conseguia me odiar? — Voltei-me para Derek e fui nocauteada novamente por sua plana e majestosa imagem. Acho que nunca me cansaria de contemplar aquele homem — que, ali, era apenas meu.

     — Você quer meu ódio? — O desafio cintilava.

     — Bom, é relativo. — Minha mão tomou como caminho seu tórax. Meus dedos indiferentes aparentemente, minha mente embriagada. — Depende de como, quando e onde.

     Ter sua fúria na cama era algo a qual eu poderia apreciar, por exemplo.

     — Não deveria tomar um caminho tão perigoso — advertiu baixo, o tom não tão mais controlado como antes. A mandíbula ficou levemente rígida. — Não agora.

     — E por que não? Você é incapaz de resolver isso, Derek? — Minha outra mão foi até seu pescoço quente e rígido. Sua mandíbula resetou. — É novo para mim ver você hesitando.

     Encostando-me contra a bancada vagarosamente, ele ficou perigosamente mais próximo. A essa altura uma onda de luxúria já corria em meu sangue com ferocidade.

     — Eu vejo nos seus olhos que você quer que eu te erga sobre essa bancada e que foda sua boceta faminta sem a mínima suavidade. Você quer que eu te faça gozar usando minha boca, Magan? Que perder seu juízo através de mim? — Inalou-me descaradamente, fechando brevemente os olhos turvos em seguida. — Até que só consiga lembrar do meu nome? De que você é minha? — Suas palavras me acertaram, minha consciência não se esvaindo por um fio. — Sei o porquê da provocação. Se eu te tocar agora, meus dedos não encontrarão barreira alguma entre suas pernas, porque você estará tão molhada, tão pronta para receber o meu pau... — Inferno.

     — Não consegue lidar com isso? — Sorri, maléfica, apesar de ter saído como um sussurro.

     Ele suspirou, algo o resignando.

     — Você acabou de sair do hospital, está se recuperando de toda aquela merda, além de ter tudo isso em sua mente. Preciso dizer mais? — Eu quem precisei de esforço para ignorar o ímpeto de rolar os olhos com sua fala. E não me passou despercebia minha surpresa quanto a sua aparente preocupação, algo que não era do costume do Derek de meses atrás.

     — Sinto-me bem. — Para mim era o suficiente.

     Ousei me erguer um pouco e deixar um beijo próximo à sua boca, recebendo um aperto na minha pele como resposta, suas duas mãos agora sobre mim.

     Mais provocativa ainda, e sem deixar de fitá-lo, selei meus lábios com os seus, sucintamente no primeiro instante, nada mais que um toque sutil com minha língua, arfando logo depois quando Mitchell tomou o controle do beijo e enlaçou sua língua à minha, exigente.

     E como senti falta daquilo. Do seu beijo duro, de suas mãos sobre mim, seu corpo colado ao meu por pura luxúria. Sei que ele também sentia essa necessidade, mesmo que tentasse não transparecer. Estava cansada de ser tratada como um vidro que se romperia em mil pedaços a qualquer toque.

     Quase proferi um agradecimento quando fui depositada sobre a bancada, sentindo-o mais ainda entre minhas pernas, e gemi ao me mexer um pouco, nossas intimidades próximas. Ele já estava tão excitado — assim como eu. Fogo e pólvora. Éramos isso.

     — Não podemos — foi firme quando interrompeu o beijo, liberando-me de sua posse aos poucos e colocando suas mãos em cada lado meu, embora não tenha se afastado.

      A respiração estava pesada, os lábios rubros e o seu peito largo subia e descia clamando por ar — o ar que eu roubei.

      — Então eu vou terminar isso sozinha. — Ele entendeu o que eu quis dizer. Assisti quando desceu os olhos pelo meu corpo, para a minha visão explicitamente desgrenhada.

     Suas próximas palavras não podiam ter me surpreendido mais.

      — Se toque. Aqui. Para mim. — A voz de Mitchell poderia ser confundida com um grunhido rouco. Era um fodido comando. — Eu quero ver o seu prazer.

      Arfei, atingida por surpresa. Esperei o amedrontamento, mas ele não veio.

     — Tem sonhos eróticos com isso? — provoquei.

    — Se tivesse, há muito tempo já teria assistido você se tocar nas noites em que estava sozinha. — Derek então riu com lasciva. Quando ele tomou o controle? — Talvez quando está usando aquele vibrador que tem na gaveta da cômoda.

     Arregalei os olhos, repreendendo-me pelo tom carmesim que provavelmente tomou meu rosto quando o senti queimar.

     A pergunta que me ocorria era sobre como infernos ele sabia que tinha o trazido para sua casa. Apesar de mal ter usado o brinquedo quando trouxe de meu apartamento, ainda seria embaraçoso ter Mitchell vislumbrando tal momento — ao menos era o que eu achava.

     — Talvez o Luke seja mais competente que você.

     Uma carranca se formou em seu rosto, instantaneamente, evidenciando a irritação que crescia na velocidade da luz.

      — Quem é Luke? — Ciúmes, Derek? No entanto, provavelmente ao ver o riso crescendo em minha face, ele pareceu entender ao o que eu me referia. — Nem você acredita nas palavras que saem da sua boca. — Odiei não poder desmenti-lo. — Um brinquedo te leva até onde eu já levei, Magan? — Ele me encarou como uma presa então.

     Ele sabia que não, o bastardo. O prazer que ele dava... Era demais, algo carnal e único. Eu não sabia se com os outros homens era assim na cama, mas, sinceramente, parecia óbvio que não.

— Não é impossível — soprei.

     As safiras me mediam, assíduas e banhadas por desafio.

     Pegando minha mão que estava sobre seu peito, lentamente, ele a trouxe até minha coxa, depositando-a ali e não afastando a sua.

     — Então me mostre até onde você pode ir, querida.

     Eu estava considerando isso? Me tocar na sua frente... expor meu prazer mais íntimo?

     Sim, eu estava, constatei. Sua expressão de predador era o meu combustível, e ambos tínhamos sede.

     Tirei minha mão da sua, e, sem pressa, trilhei um caminho lento até meu centro, arrepios instantâneos vageando por entre minha pele quando afastei minha minúscula calcinha rendada para o lado, meus nervos entorpecidos pelo desejo que me dominava. Eu queria ser provocativa, queria estar no controle, eu o queria. Então por que que não jogar novamente? Éramos os melhores nisso.

     A fome que sua feição demonstrava estava me deixando tão excitada, era como um combustível. Meu clitóris estava sensível ao toque, tamanho meu desejo, e gemi baixo, não deixando de olhá-lo. The Weeknd já tovaca a essa altura, se inclinava para seu ápice na música quando mordi o lábio, involuntariamente, abafando um suspiro ao iniciar o trabalho em minha boceta — mas não apenas por isso. Ter Derek ali, me assistindo de forma tão voraz e íntima era um estopim que ultrapassava o intrínseco. Peguei os mínimos detalhes que ele deixou passar; os punhos fechados sobre a bancada, os ombros rígidos, os olhos... Aqueles olhos...

     Meus seios pesavam, carentes de atenção, e quando fiz movimento para suprir mais essa vontade, sua mão me impediu, algo selvagem reluzindo.

     — Não. — Havia uma força desconhecida em sua voz que eu mal consegui ler. Era brutal e quente. — Isso é meu. — Por que gostei da maldita forma em que ele foi possessivo em fazer um ato? Por Deus, por que eu gostava desse seu lado territorial nesses momentos?

     Agora, entretanto, a resposta não me importava.

     Quis praguejar ao assistir ele, bem devagar, puxar a alça fina do meu vestido antes molhado para fora do ombro, deixando meu seio exposto ao seu bel-prazer. Aumentei a intensidade das minhas carícias sobre meu ponto sensível, não sentindo pudor ao imaginar Derek lá, seus dedos entrando e saindo de mim, ou seu pau me fodendo sem a mínima piedade.

     Chamei-o em desespero quando ele mordiscou meu mamilo, sus respiração roçando meu seio.

     — Tem pressa, querida? — Selou seus lábios quentes em mim, quentes e impiedosos, me enlouquecendo mais. Maquiavélico, e assistindo minha entrega. Maldito predador.

     — Você é útil, mas não indispensável — confidenciei em um suspiro baixo. — Os homens precisam aprender isso, Mitchell.

     Vamos, veremos se você mostra a que veio, Derek.

     E, então, dei atenção ao meu clitóris, que latejava contra meus dedos, e fechei os olhos, desfrutando de sensações, movimentos, ousando, jogando sujo descaradamente. Perdendo-me em mim, no momento que eu mesma criara.

     — Você sempre será minha tentação mais deliciosa — ouvi o lamento de clara excitação que carregava, mas estava distante demais para tirar minha atenção, para me tirar do transe que entrei. Me explorar como mulher era doce... e isso se tornou fácil e prazeroso quando aprendi sobre meu corpo.

     Porque eu sou a porra de uma mulher capaz, posso jogar as cartas, só preciso querer.

     Ele voltou a deixar seu toque sobre mim, tornando tudo mais intenso, mas o orgasmo já se moldava em meu interior, varrendo meu juízo. Apertei minha mão entre as coxas, movimentando meu quadril em sincronia, buscando chegar lá, atingindo meu limite.

     Em dado momento, mal percebi que já estava deitada sobre a bancada, minha bochecha sobre o mármore frio enquanto mordia o lábio com força para suprimir meu grito em êxtase — esse que escapou quando atingi meu próprio limite. Tinha sido um orgasmo, mas poderia muito bem ter sido uma viagem para algum lugar fora de órbita, pelo tanto que me desestabilizou.

     Abri os olhos vagarosamente, respirando como se corresse uma maratona, e fui recebida com uma das imagens mais quentes que já pude apreciar: meu homem, olhando-me com tanta fome e desejo refratados nos orbes, isso causou um arrepio nos meus ossos.

     — Você gozando... Isso tira o inferno fora de mim, porra. — Engoli em seco, cansada e ainda em êxtase, quando ele tocou minhas coxas, os dedos subindo até meus quadris, nosso olhar conectado. — Posso assistir isso para sempre, nunca me cansaria. Você é uma deusa. — Beijou o interior da minha coxa lentamente.

     — O que está fazendo? — Mas ele já rasgava minha roupa íntima em duas partes, isso antes de se ajoelhar entre minhas pernas, como um maldito servo.

     O Diabo me deu um sorriso cafajeste mais sujo que já pude vislumbrar em seu rosto.

     — Pegando meu banquete, querida.

     A única coisa que pude formular depois disse foi sentir sua língua em minha boceta.

     — Filho da puta — arfei em uma prece.

     Então ele estava lá, primeiro me saudando com leves toques, mas depois me consumindo quando traçou meu clítoris e começou a brincar com ele. Intercalando entre me sugar, penetrar e acariciar, as mãos seguraram minhas cochas com força, separando-as mais ainda enquanto ele me comia avidamente.

      Ao passo que me estimulava tão descaradamente, ergui meu quadril, indo de encontro a sua boca. O suor escorrendo em meu rosto pelo fogo em que fui jogada. Ele percorreu minha barriga com a mão enorme, viajando até meu pescoço e me manteve parada quando me ergui ainda amais.

     — Odeio que saiba que amo quando você joga sujo. — murmurei, o assim imaginei ter o feito. Ora meus dedos estavam em seu braço, ou em seus cabelos macios, buscando estabilidade, mas encontrando apenas auxílio.

     Senti o sorriso em seu rosto.

     Meu mundo parou pela segunda vez naquele dia, e eu só soube proferir um nome, meus gemidos cortando o silêncio que os assistia.

     — Seu vibrador faz você gritar o nome dele? — Puxou-me de encontro a ele, e ergueu minhas costas com seus braços fortes, me segurando para junto de si quando eu mal tinha forças.

     Não abri os olhos. Ainda controlava minha respiração, mas me aninhei a ele. Meu rosto contra seu corpo.

     Eu me senti protegida de todo o mundo enquanto estava li.

     Mas e de nós?

     Não era hora para pensar nisso, no entanto. Não hoje, não aqui.

     — Ele não é tão emocionado como você — consegui dizer.

     Ele riu. Um som natural — apesar de viril, mantendo sua caraterística — e tão bem-vindo, eu poderia julgá-lo raro.

     — No dia em que nos encontramos naquela avenida — nosso primeiro e fracassado contato, não que os outros tivessem sido melhores —, você ganhou um nome — confessou, ainda traçando caminhos em minha pele sobre o tecido que me cobria tão pouco.

     — Pirralha? — Precisei abrir os olhos apenas para rolá-los, relembrando quão puta fiquei. — Sim, lembro.

     Mas também acabei recordando sobre como ele me afetou tanto naquele momento.

     — Outro. — Ergueu meu queixo, guiando meu olhar até o seu. — Eu te chamei de feiticeira. Era ridículo — não posso negar, pensei ao segurar o riso —, mas, foda-se, eu não soube o que diabos você tinha feito naquela noite para que não conseguisse sair da porra da minha mente durante. Todo. O fodido. Mês.

     Fiquei inerte.

     — Eu também pensei muito naquele dia. — Mordi o lábio, sendo transparente. — Tentava te xingar mentalmente sempre que o pensamento me ocorria, mas sentia outras... coisas.Eu quis você desde o início, era o que queria dizer.

     Vincos se formavam em sua testa, o maxilar e mandíbula ficaram rígidos. Sua mente notoriamente estava em um embate.

     — Por muito tempo me julguei estar sendo fraco sempre que o assunto era você. O contato com a vulnerabilidade não era comum para mim, ainda não é familiar. — Testemunhei que não. — Mas da pior forma acabei entendendo que querer você, almejar estar com você, sentir você... Que nada disso era um problema ou um erro. Não foi fácil, não para o que eu era e o que ainda sou, mas entreguei meus pontos a isso. Tudo pode ir ao inferno. E eu não me importo mais com nada, Magan.

     — Eu sei — confidenciei. — Porque hoje também não me importo. Eu te odiei... Você sabe... Mas isso, essa coisa que começou a recair sobre mim desde aquela noite, não me deixava, independente de todo o resto.

     Trouxe sua boca a minha, com uma torrente de calmaria após uma noite escura e fria. Um beijo breve, mas levou muito da angustia do meu peito.

     — Me conte algo... algo simples sobre você, mas que ninguém mais sabe. — Eu parecia aleatória, mas a julgar pelo olhar compreensivo que ele me deu logo depois, eu soube que ele havia entendido. Ainda havia um enorme abismo entre nós, e isso parecia um começo.

     — O livro preferido da minha mãe era Orgulho e Preconceito. — Aquilo não parecia nada frívolo ou uma simples informação, mas deixei que continuasse. Talvez ele precisasse disso. — Ela tinha uma das primeiras edições, era seu objeto de maior valor afetivo. Quando as coisas ficaram ruins ele se tornou motivo de muitas discussões entre ela e meu pai, ele queria vendê-lo para cobrir parte das dívidas. E assim foi feito. Ela nunca mais leu Jane Austin após aquele dia. — Ele encarava algo sem foco atrás de mim, talvez lembranças. — Anos depois, quando consegui, comprei uma edição similar. Apesar de tudo e de não admitir, me fazia ter ela perto nas vezes em que relia.

     A edição que sempre vi na biblioteca. Eu nunca imaginaria aquilo, e era tão íntimo, profundo de modo que me senti invasiva por ter cruzando esse limite.

     — Sinto muito. Por tudo o que aconteceu. E eu sei que você se jugou fraco por ter feito isso depois, mas não é essa a verdade, Derek. Você amava seus pais, independente de tudo, e teve isso arrancado de forma brutal, sua mãe, o pai que deveria ter sido mais pai, seu lar. Querer estar próximo dela de alguma forma é algo mais normal do que você pensa. Ter conflitos com isso também. — Talvez não significasse nada falar isso, mas foi involuntário.

     Seus olhos expressaram que ele queria negar o que acabara de ouvir, mas houve apenas um suspiro.

     — Eu nunca consegui assumir isso na minha mente. — Não me olhou. — Que sentia falta deles, mesmo com toda aquela merda, porque eu não deveria. Tudo aquilo era fodido, mas não entendo porque diabos ainda sequer pensava no passado. — Poderia dizer que estava ouvindo as engrenagens em sua cabeça.

     — Quem disse que não? — Capturei sua atenção. — Que não deveria. Derek, você era uma criança. Foi forçado a assistir coisas terríveis e teve sua infância corrompida por aquele ambiente tóxico, que eles mesmos provocaram, mas você ainda era uma criança. — Ele ainda não concordava com isso, mas ficou calado apenas me ouvindo. Esperei um pouco antes de iniciar novamente, juntando coragem para enfrentar minha vergonha. — Acho que fiquei com medo de escuro — comecei. Ele pareceu ficar curioso, talvez confuso, mas não riu, como geralmente reagiriam. — Isso não me incomodava antes, mas, depois de tudo... Apenas o pensamento me deixa angustiada. — Meu suspiro foi audível.

     Seus braços me seguraram mais, não que fosse possível ir além da proximidade que estávamos. Mas me senti bem estando tão fundida a ele.

     — Você se sente envergonhada por isso. — Constatou. Não era mentira. — Mas não deve ser reprimir. Todos têm medo do escuro, Magan. Por onde passa, ele sempre assombra mentes. — Então me fitou, como se visse seu mundo perante seus olhos azuis. — Mas o que você não está vendo é que é a porra da luz, sempre foi. 



um pouco de tudo sobre eles, sinto tanta saudade 

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