Capítulo 4 | Meios Tortuosos
Coloque-me nos regatos
O mal virá se chamar meu nome
O perverso dia deve nascer
Dos pecados o rio vai me levar
The River | Blue Saraceno
(ALERTA DE GATILHO!)
Finalizei a obra de arte deixando o nome "Diabo", desenhado com a adaga que eu tinha em mãos, sobre a pele sangrenta. Olhei atentamente o verme suspendido por correntes à minha frente e admirei meu trabalho. O rosto, antes pálido, agora estava completamente desfigurado e retalhado, assim como o corpo que estava banhado em sangue, os dentes e dedos arrancados. Sim, era um bom trabalho. Eu poderia mandar um de meus funcionários realizarem isso, mas precisava tirar a tensão de um dia péssimo em algo — ou, no caso, alguém.
Matar e infligir dor eram coisas em que eu era bom. Se era macabro? Sim, talvez. Não era atoa que eu havia ganhado o título de Diabo no submundo, no lado sujo de NY. A fúria que meus inimigos enfrentavam comprovava que eu fazia jus ao termo.
Saí de meus devaneios ao ouvir o projeto de homem à minha frente gemendo em agonia — ele estava morrendo, eu podia sentir o cheiro de sua morte que exalava pelo odor de seu sangue, era inebriante. Tom Collins, meu fodido ex-funcionário traidor que tentou roubar uma de minhas cargas de armas. Não seria tão fácil, não comigo.
— Não deveria ter mexido no que me pertence, Collins. Achou que eu nunca iria descobrir o seu plano perfeito? — Ri de sua burrice. Traidores realmente nunca aprendiam.
— Já disse. E-eu sou inocente — disse em sussurro, já com a voz fraca pelas dores que o dominavam. Essa era a ladainha que saía de sua boca durante o tempo em que estávamos ali.
— Inocente? Claro, claro. Todos somos até que se prove o contrário, não é o que dizem? — Inclinei a cabeça para o lado enquanto o encarava. — Seu azar é que eu tenho em mãos as gravações da negociação entre você e o cartel mexicano. — Assisti o momento em que seus os olhos se arregalaram, me divertindo com seu desespero. Tinha deixado a informação para o final. — O quê? Realmente achou que o plano era perfeito e que iria se safar da morte, pedaço de merda?! — rosnei em sua cara irreconhecível.
— Eu deve-veria ter te matado quando ti-tive chances, filho da p-puta. — A essa altura as palavras saiam arrastadas enquanto ele me encarava com ódio. Bom.
Sempre era assim. Se assustavam, negavam, sofriam e depois confessavam. Alguns idiotas corajosos me idolatravam com seu ódio de início. Mas só existia um final.
A morte.
— Grande erro, bastardo. Te vejo no inferno. — Foi tudo o que eu disse antes de rasgar sua garganta com a adaga.
Afastei-me do poço de sangue e xinguei ao ver o estado de minhas roupas. Haviam alguns respingos de sangue sobre a mesma.
— Merda! Preciso trocar isso. — Virei a face para o lado e vi Jacob, uma das duas únicas pessoas que tinham minha confiança. — Mande alguém se livrar do corpo — instruí e continuei: — Não vou poder ir a boate, esse fodido atrapalhou meus planos. Se ver a Emmy avise-a para ir em minha casa hoje.
— Odeio essa mulher — disse com desprezo, apenas ri de sua implicância.
— Sinto muito por não corresponder seu amor por mim, jogamos em times contrários.
— Foda-se, bastardo. — Riu. Mas logo seu semblante mudou e ele ficou sério — Preciso ir ver Dante hoje, ele está ausente novamente.
Isso chamou minha atenção. Dante e Jacob também eram a única coisa parecida com família que eu tinha. Éramos três fodidos de merda que lidavam com tormentos de demônios do passado. A vida nem sempre era só flores, afinal.
— As mesmas merdas de sempre? — questionei-o, apesar de já saber a resposta.
— Provavelmente. — Jacob também não sabia muito, e realmente era muito difícil saber de algo quando o assunto era a vida de Dante.
— Isso não é bom, nunca é. — Suspirei. — Preciso ir, esse sangue me dá asco. — Tirei a jaqueta preta, para me livrar de parte do sangue que tinha me atingido e limpei minhas mãos com uma flanela que estava sobre uma mesa próxima.
Jacob apenas riu com deboche.
— Como se não tivesse sido mérito seu.
— Ele mereceu — zombei olhado o corpo a minha frente. — Ligue-me se surgir algum problema.
— Ligarei, papai. — Ignorei sua implicância e me retirei do galpão abandonado. Entrei no SUV e segui para casa e, se tudo desse certo, para uma boa foda. Um canto de meus lábios se elevou em um riso ao pensar na possibilidade.
Franzi o cenho ao pensar na ilusão de Emmy, a hipótese de que algum dia eu iria assumir a mesma. Balancei a cabeça. Grande idiotice.
Ultimamente o pensamento de ter um herdeiro estava rondando minha mente. Seria alguém para assumir meu império, meu legado, no futuro. No entanto, havia um fodido empecilho: eu precisava de uma progenitora para o mesmo — mas, além disso, precisava de alguém que o criasse. Não poderia ser qualquer mulher, precisava de uma que o educasse, que cuidasse dele, que o desse o que eu não tive. Tudo seria mais fácil com uma união, um casamento, mas eu não poderia ter isso, ou pelo menos não de maneira tradicional. Não tinha paciência para trâmites conjugais, e muito menos para procurar uma esposa àquela altura. Um lampejo de uma ideia passou por minha mente; poderia fazer uma compra. Uma nova aquisição? Parecia uma ideia ridícula e absurda. Mas aparentava ser eficaz, no entanto.
Suspirei pesadamente. Estava cansado demais para pensar naquilo agora, o dia havia sido exaustivo e, ao mesmo tempo, maçante. Passar horas e horas atrás de uma mesa no escritório não era algo interessante, e poderia chegar a ser irritante às vezes. Sem muita paciência eu seguia em alta velocidade e quebrava várias leis de trânsito durante o trajeto. Até que...
Por reflexo eu pisei no freio com uma agilidade necessária para tentar não pegar em cheio com o carro o pequeno corpo que ultrapassa a rua, conseguindo desviar do mesmo. Por causa de um segundo — um mísero segundo — eu não tive que adicionar mais um nome em minha lista de mortes. Não que eu conseguisse mais ao menos contar. Entretanto, aquela pessoa não era um inimigo ou um traidor de merda, era apenas alguém normal que por muito pouco não perdeu a vida.
Saí rapidamente do carro e fui em direção à uma pirralha que se encontrava no chão. Ignorei meu questionamento de que por diabos estava fazendo isso e tentei levantá-la pelos braços. Enquanto fazia isso me aborreci ao lembrar de sua tolice.
— Qual seu maldito problema? — indaguei, não me importando com o tom.
A estranha se mexeu em protesto e decidi que era uma reclusa à ajuda. Rapidamente ela se levantou e direcionou seu olhar para mim, era possível ver a fúria contida em seus orbes azuis — ou talvez não tão contida. Seu delicado rosto estava tomado por irritação.
— Eu que deveria estar perguntando isso, seu idiota irresponsável! — ela rebateu no mesmo tom que eu havia usado há poucos segundos, a voz contendo um leve sotaque o qual não consegui distinguir a origem.
Vendo-a frente a frente a mim, percebi que seu pequeno corpo magro tinha uma estatura considerável, mas a garota ainda era baixa em comparação a minha altura. Tinha o cabelo negro como a escuridão da noite, o qual jazia preso em um coque desajeitado, e os olhos... Os olhos indescritíveis, preenchidos por um azul intenso e fascinante, eram grandes e me mediam com avidez. Ela tinha um rosto belo e delicado, o nariz arrebitado condizia com a postura desafiadora, os lábios eram carnudos e rosados, perfeitamente desenhados, e isso ficava mais evidenciado com a seu ato de entreabri-los minimamente. Seu corpo estava coberto por roupas simples e surradas, a blusa abaixo da jaqueta jeans azul era semelhante a um uniforme e evidenciava seu busto avantajado, a calça preta colada em seu corpo dava combustível a minha imaginação ao evidenciar suas curvas. Era inegável o fado dela ser bastante atraente.
Mas sua beleza não inibia sua audácia irritante.
Quem essa pirralha pensa que é?
— Você deveria prestar mais atenção as coisas ao seu entorno, garota! — disse, sem tirar meu olhar do seu.
Ela apenas suspirou, mas não recuou em nenhum momento.
— Eu?! Sério isso?! Era você quem deveria não ser um irresponsável andando a essa velocidade sem respeitar as leis de trânsito, sujeito a acabar com a vida de um inocente! — Eu encarava seus lábios, assistindo cada palavra desferida sair de sua boca atrevida. — Eu espero não ter quebrado nenhuma parte de meu corpo ou você irá para cadeia — Absorvi sua fala e percebi quão ridícula era. Se ela soubesse que aqueles bastardos estavam todos em meu bolso.
— Você fala demais, e talvez não seja inteligente falar comigo nesse tom. Deveria medir as palavras, pirralha — falei lentamente, certificando-me de fazer uso de uma expressão de desdém. Mesmo com minha impaciência, aquilo até que poderia estar começando a ficar divertido.
Sua resposta foi um riso de escárnio.
— Foda-se, não tenho medo de você — falou, o ódio cintilando —, e não me chame de pirralha, ogro!
Antes de colocá-la em seu lugar estendendo a diversão, percebi que nossa discussão tinha parado o trânsito e que tínhamos telespectadores. Merda, eu tinha perdido a cabeça por estar nessa situação ridícula, era a única explicação plausível. Escolhi ignorá-la e ir embora, mas, antes, não resisti o ímpeto de olhá-la pela última vez, deixando em mente a imagem da primeira mulher que me desafiou na vida.
Enquanto entrava no carro e colocava o sinto, busquei organizar minha mente, tentando tirar esse momento idiota da cabeça. Não era algo que merecesse minha atenção.
Já se afastando do tumultuo de Nova Iorque, parei o caro em frente à minha casa enquanto aguardava o segurança abrir o portão para minha entrada. Minha propriedade ficava localizada em um dos pontos mais nobres de Nova iorque, era uma deslumbrante e moderna mansão, tinha sido idealizada por mim detalhadamente antes de ser construída anos atrás, era um projeto luxuoso, assim como era de se esperar levando seu valor em conta. Ao estacionar o carro na garagem, desci do mesmo e adentrei a casa, subindo as escadas rapidamente e indo para minha suíte. Enquanto tirava a camisa, fui em direção a uma mesa no canto do recinto, onde jazia algumas bebidas para meu deleite. Sempre era prazeroso apreciar um bom whisky.
No segundo gole, um par de furiosos olhos azuis preencheu minha mente. E, mesmo a contragosto, eu tinha que admitir que a garota tinha me atraído — e muito. O ato de imaginar sua boca perfeita e delicada em torno de mim, enquanto estava ajoelhada em minha frente, foi involuntário. Não era preciso olhar para baixo para perceber que meu desejo tinha ficado evidente, eu senti meu pau reagir aos pensamentos obscenos. Rindo de lado percebi o quão idiota eu estava sendo. Era apenas uma simples garota, uma que eu nunca mais veria.
— Não é hora para agir como um moleque virgem, Mitchell — repreendi-me enquanto ia para o banheiro para resolver minha situação com um banho gelado.
Após longos minutos embaixo do chuveiro, me vesti com uma calça moletom enquanto descia para procurar algo para comer, mas, antes que eu chegasse à cozinha, o som da campainha me fez mudar de rota. Quem diabos em uma hora dessas?
Quando abri a porta e me deparei com Emmy. Cacete, como todos aqueles pensamentos idiotas acebei esquecendo tinha a chamado. Mas ela saberia perfeitamente como aliviar minha tensão mesmo após um dia estressante como esse havia sido.
Emmy era uma mulher muito linda e atraente. Tinha cabelos castanhos, assim como seus olhos. Seu rosto era perfeito e bem desenhado, o mesmo sempre estava envolto por maquiagens, sua boca possuía um sorriso malicioso enquanto ele me encarava com luxúria. Descendo descaradamente o olhar, observei suas vestes, a visão de seu decote profundo proporcionando pelo vestido verde bem justo e elegante.
Vagarosamente, ela se aproximou de mim e acabou o espaço entre nós ao colar seus lábios nos meus em um beijo duro, necessitado. Ergui o braço e fechei a porta atrás dela, para depois erguer seu corpo delicioso, ela logo respondeu, cruzando as pernas em minha cintura enquanto eu a levava para o sofá. Seria uma noite interessante, a final.
A seção de prazer foi longa e bem aproveitada, provavelmente já era madrugada quando paramos, ambos entorpecidos após chegarmos ao ápice pela última vez. Depois de alguns minutos, me levantando da cama do quarto de hóspedes, peguei minha calça e a vesti rapidamente. Enquanto fazia isso, observei Emmy esparramada na cama, seu cabelo, antes bem arrumado, agora estava totalmente desgrenhado, a maquiagem de seu rosto foi substituída por um tom escarlate decorridos de seus exercícios devassos.
Vendo minha ação, sua expressão demonstrava irritação.
— Para onde você vai? Vai me deixar aqui após termos feito amor? — ela disse, em um tom de voz exasperado.
Ri levemente ao ouvir isso.
Essa não era a primeira vez que fazíamos isso, ela protagonizava transas constantes comigo, mas também sabia que havia um limite entre nós. Era só sexo, satisfação e prazer para ambos — com acréscimo do luxo que eu proporcionava para ela — , nada mais que isso. E Emmy sabia perfeitamente como tudo funcionava.
— Sabe muito bem que eu não faço amor, Emmy — observei suas feições irritadas e continuei —, sem chiliques dramáticos.
— Você não pode falar assim comigo! Eu não sou como as outras! — Reprimi o ímpeto de revirar os olhos ao ouvir isso.
— Você receberá o depósito em sua conta hoje. — Ignorei suas reclamações e virei as costas, saindo do cômodo ouvindo-a me xingar.
Eu precisava de algumas horas de sono, assim como também precisava esquecer os aborrecimentos de hoje. Esquecer ela, a mulher arisca que me tirou do sério há horas atrás.
Enfim um capítulo narrado pelo Derek!
Então, a texana conseguiu tomar a atenção do Mafioso? Será que esse "encontro" acabou ali mesmo? E essa Emmy, será um problema futuramente? E, sim, Derek é um cretino de marca maior.
Peço que deixe seu voto, é so clicar na estrelhina abaixo.
Obrigada por ler.
Bye, bye!
©K. Lacerda
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top