Capítulo 34 | De Ruínas Só Restam-se Escombros
Tiros parados
Dor, é isso que você deseja
A caneta é mais poderosa do que a espada
Então, como chegamos aqui, meu Deus
Navegar entre mentirosos
Culpe os negadores
[...]
Então você quer ser imortal
Com uma arma carregada
Então você quer começar uma guerra
Start a War | Klergy e Valerie Broussard
Eu só precisava saber se poderia falar com meu irmão. O intuito era apenas pedir para fazer uma maldita ligação.
Mas aquela cena...
Aquelas reações da noite em Seattle voltaram, mas em maior escala. Ver Derek com aquela mulher, aparentemente em um fodido momento íntimo, despertou em mim uma sensação fulminante de raiva. Isso fazia de mim uma imbecil, mas o sentimento foi incontrolável, veio do meu âmago e dominou cada célula do meu corpo.
Não podia fechar os olhos dessa vez e dizer que era um engano, porque, diante daquela situação, havia-se florescido uma prova.
A prova de que Derek me tinha mais do que sabia.
Emmy, propositalmente, deixou notório o que talvez tivesse acontecido com eles; o sorriso que deu ao limpar os lábios borrados era de triunfo.
Eles se beijaram mesmo? Se eu não tivesse interrompido, o que aconteceria ali?
Eu senti ciúmes dele.
Como podia? Como essa coisa, o ciúme, havia se instalado em mim?
Também haviam suas falas, que cravaram em meu peito como pregos que ignoravam tudo à sua frente enquanto infligiam dores. Pude enxergar sua face, a real face. Como se, em uma visão distópica, eu visse além do que meus olhos foram permitidos. Como se seus demônios sorrissem para mim, dizendo, gritando sobre quem eu era por ter sido acorrentada pelas garras do Diabo. Mas, não obstante, vi uma fração, uma mínima fração do Derek que habitava por trás daquela escuridão sufocante. Eu vi um homem. Um maldito homem falho, encoberto por marcas aterrorizantes e dolorosas aos olhos. Eu vi Derek, apenas Derek.
Mas aquela fração nunca seria suficiente.
— Não para quem vê que daria errado — murmurei para mim, ao balançar meus pés na água fresca da piscina. Ergui meus olhos e observei a tarde que ia embora e dava lugar a noite apaziguante.
— É só dar de quatro, querida, nunca há erros — uma voz masculina falou atrás de mim.
Virei de supetão, pega de surpresa pela interrupção, e, do chão onde eu estava, vislumbrei a figura de Jacob com os braços cruzados e um tanto sério.
— Da próxima vez que me assustar assim eu acabo com sua raça — repreendi quando ignorei sua presença atrás de mim. Franzi o cenho. — Que história é essa de dar de quatro?
Ele gargalhou nas minhas costas. Senti sua presença, tal como vi de relance que ele se abaixou até ficar na minha altura.
— Não era disso que você estava falando? Porque não vejo outra coisa mais intrigante que essa para te deixar tão centrada como estava ao olhar o horizonte.
— Talvez eu estivesse pensando em uma forma de fugir daqui — disse descontraída, entretanto não houve mais diversão vindo de sua parte.
— Você está bem? — perguntou depois de um intervalo de segundos consideráveis.
Todos me perguntavam isso. Eu poderia mentir, desconversar sua pergunta ou até mesmo ignorar, mas não me permiti o fazer.
— Não. — Foi tudo o que eu disse.
Ouvi um suspiro pesado vindo dele.
— O que pagaria para viver, Magan? — Fiquei surpresa por seu tom inexpressivo, algo incomum para ele. — Apenas viver, se permitir. Ser você.
— Não tenho muito para pagar.
— Não precisa de muito.
Fiquei em silêncio.
— Acha que vale a pena? — Olhei para meus pés. — Viver de acordo como somos, vale a pena?
— Sinceramente? Sim, vale. A sensação... É inominável.
— Então você pagou?
Ele não me respondeu imediatamente, o silêncio se instalou entre nós dois novamente, a lua — sempre imponente e, ainda assim, delicada com suas fases — nos saudou com sua chegada.
— Ainda estou pagando, na verdade — confessou. — Mas não me arrependo.
Assenti, entendendo sua escolha arriscada. Nunca o julgaria, e não porque eu não sabia o que ele precisou fazer, mas pelo fato de ter sido um idiota corajoso.
Pensei sobre sua vida, a possível vida de crimes que ele poderia ter, mas decidi não tocar no assunto. Ele não me devia isso, tampouco achei que essa conversa iria ser de valia. Esperaria ele escolher confessar, ou não. Realmente não fazia mais diferença.
Virei-me em sua direção, agora realmente o fitando. E, porra, também percebendo que havia um enorme hematoma em seu olho esquerdo.
— O que aconteceu com você? — Apontei para seu rosto, chocada e preocupada.
— Nada demais. — Deu de ombros, fazendo pouco caso. Nada demais? — O que está fazendo aqui fora?
— Você... poderia me tirar daqui? — pedi do nada, ignorando sua pergunta.
— Gatinha, eu até tentaria e queria, mas não...
— Não estou pedindo para ser comparsa de uma fuga. — Cortei sua explicação perdida. — Só preciso sair por uns minutos. Não sei, escapar um pouco do sufoco que esses portões lançam em mim. Só um tempo lá fora. Tomar um ar?
— Essa ideia é péssima nesse momento — ele iniciou, hesitante e indeciso —, mas posso falar com seu marido e usar meu charme para conseguir sua benção.
Ri fraco. Assisti depois Jacob usar o minuto seguinte em uma ligação com Derek. Depois de alguns xingamentos por parte de Mitchell e muitos outros acompanhados por provocações vindos, obviamente, de Sullivan, um "proteja ela" e "leve escolta" foi ouvido pela ligação no viva-voz.
— É, eu sou realmente seu melhor amigo — disse quando íamos até a garagem. Havia uma diversidade de carros lá. De vários modelos luxuosos e implacáveis, e pretos em sua maioria. — Já andou em uma W Motors Lykan Hypersport, baby?
— Todo meu entendimento em carros se resume ao fato de que todos possuem quatro rodas. — Rimos em um clima descontraído ao pararmos diante de um carro branco e esportivo.
— Então hoje é seu dia de sorte. — Ergui uma sobrancelha em sua direção, e, entendendo minha reação, ele se corrigiu: — Okay, então essa é sua hora de sorte.
— Senhor Sullivan — um homem apareceu o chamando. Já conhecia seu rosto, Derek o chamava de Marco, se minha memória estivesse certa. — A W Motors está reservada para uma revisão por ter apresentado algumas falhas, não é aconselhável que seja usada até lá.
— Merda — Jacob xingou. — E a Bugatti Lá Voiture?
— O senhor Mitchell a tem. Mas há o Lamborghini, além dos outros que aqui estão. — Sinalizou na direção do mesmo.
— Filho da puta. — Voltou seu olhar para mim, depois para o carro prateado ao nosso lado. — É. Vai servir.
Abriu a porta para mim e fechou em um movimento rápido quando entrei. Observei o interior daquela máquina e, puta merda, me senti em outra dimensão, principalmente quando ele ligou o carro e o painel se acendeu.
— Pronta? — Riu de lado ao fazer o motor rugir.
— Você é louco! — suspirei aliviada quando ele diminuiu a velocidade e parou a máquina no meio-fio.
— Me decepcionou, Magan. Onde está seu espírito aventureiro que imaginei que possuía? — zombou.
Talvez eu tivesse o perdido na primeira curva fechada que ele fez a vários quilômetros por hora.
— Palhaço. — Abri a porta e saí dali de dentro o mais rápido possível. O ar gelado foi bem-vindo. — Você me trouxe para a Time Square? — Deparei-me com a beleza de luzes daquele lugar magnífico. Faziam meses que havia passado ali, com Aust e Anne, em uma tarde ensolarada no nosso dia de folga.
— Você disse que queria respirar, acho que isso serve. — Gargalhei de sua explicação ridícula. — E agora?
Fitei Jacob Sullivan.
— Há quanto tempo você não come um lanche gorduroso? — Um manear divertido de cabeça foi a resposta que eu precisava.
— Billie Jean is not my lover! — berrei a música que passava no rádio.
— She's just a girl who claims that I am the one — Jacob continuou, desviando do carro que ia a nossa frente e batucando o a mão no volante.
— But the kid is not my son! — completamos a letra em uníssono.
Baixei o volume, rindo da performance horrível que fizemos da canção de Michael Jackson, mas não pior que a da música Pumbed up Kiks.
— Você é péssimo no vocal.
— Não mais que você — garantiu ao me encarar de relance.
Talvez eu tivesse que concordar.
— Obrigada — falei, sincera, após um tempo. — Eu... estava precisando disso.
— Está agradecendo por minha companhia espetacular ou pelo hambúrguer, sorvete e algodão doce que você me fez pagar hoj- — parou de falar quando arregalou os olhos para o que aconteceu diante de nós. — PUTA MERDA!
— JACOB, PORRA! — gritei quando a máquina que nos levava freou bruscamente, a tempo de desviar do carro que explodiu do nada na nossa frente e capotou, levando vários outros na sua frente.
Fiquei sem palavras, tamanho era o susto. Meu coração parceria querer saltar do peito.
Sullivan tocou meu ombro e me virou, pronto para me interrogar, mas um barulho ensurdecedor o interrompeu antes.
Olhando para trás, tive a certeza que mais um carro havia explodido, e, por sorte, passado e se chocado com os outros sem nos acertar.
— Puta que pariu! Foderam com ambas as escoltas. Filhos da puta — ele ladrou, possesso.
— O que está acontecendo? — Estava totalmente perdida.
— Magan, mesmo que tudo se foda lá fora, você não pude sair de dentro desse carro por nada — ordenou, encarando-me seriamente. — Me entendeu? — repetiu, firme.
Apenas balancei a cabeça, confirmando. Sentia que estava em um transe.
Ele abriu o porta-luvas enquanto a outra mão apanhava algo em seu bolso, vi que era seu celular. Depois, também, só observei quando ele pegou uma arma negra dentro do outro compartimento, seus olhos centrados nas janelas escuras que nos escondiam parcialmente.
No entanto, o ataque não veio de fora, mas de dentro.
— O que é isso? — eu, enfim, consegui dizer no momento em que uma fumaça nublada começou a tomar conta do ar de dentro do carro.
— O carro vai... — Olhou-me alarmado. — Não, caralho, é gás! SAIA! AGORA!
Mas já era tarde demais, minha visão embaçou poucos segundos depois. Jacob também havia sido atingido pelo mesmo efeito. Vi vagamente — ou senti — a porta ao meu lado ser aberta do nada.
Jacob berrou alguma coisa, mas não o ouvi com clareza. Principalmente após um tiro ecoar em meus tímpanos.
Jacob.
O nome do meu amigo foi a última coisa que sussurrei em meus pensamentos já falhos quando a escuridão me fisgou para si.
Exausto e minimamente embriagado, atravessei a porta de saída da casa de swing e fui até ao estacionamento, entrando no carro em seguida, com intuito de ir para casa, no plano de cair de cara no trabalho ou em algo que me tirasse as questões da mente. Ficar duas horas em um lugar silencioso e ao lado de uma garrafa de whisky não havia sido uma escolha de êxito.
Apanhei o celular do bolso e vi que estava desligado. Não tinha pegado no mesmo desde que Jacob havia me ligado, tampouco tive cabeça para isso.
Mas algo fodido fez meus sentidos retornarem em uma fisgada quando a tela se ascendeu e a barra de notificações mostrou "código 2.1", seguido de duas ligações de Jacob.
Magan.
Porra, não.
Não esperei por muito ao retornar à ligação.
Se fosse o código 2.0, eles estariam sendo perseguidos.
O celular chamava e chamava, mas sem nenhuma resposta.
Mas o 2.1... Foram pegos. Emboscada.
Fiquei atento quando a ligação foi atendida, a essa altura eu já estava na buggatti em alta velocidade nas ruas, esperando, aguardando qualquer indício de coordenada vindo de Jacob.
Se ele estiver vivo.
Uma respiração entrecortada e pesada foi o som que ouvi. Um gemido sôfrego veio em seguida.
— Jacob? Está aí? — perguntei, pisando no acelerador e adentrando na Five Avenue. — Sullivan?
— Lev-varam... — a voz era baixa demais, soube que ele estava fodidamente ferido. — Ache e-ela, Derek.
— Consegue falar onde está? Qual o grau de seu ferimento? Quem a levou?!
Ele gemeu. Suspirou demoradamente depois.
— West 42. Escolta. Explosão. — Um ruído de sirenes preencheu a chamada. — Um t-tiro. Sem rostos.
Estava próximo.
— Não morra, covarde — falei, como em uma ordem idiota. — Vou chegar aí agora.
E, mesmo ferido, o bastardo riu. Mas grunhiu pagando o feito com uma provável dor em seu ferimento.
— N-ão vou. Gu-guardo essa ho-honra p-para você.
— Não será isso que vai te derrubar agora, irmão — garanti baixo, confiante e pisando no acelerador, ainda na linha.
E, ainda assim, meu pensamento estava nela.
Tem que ser forte, feiticeira. Eu não vou perder você dessa vez.
Porque iria atrás dela em qualquer inferno, não importava quais fodidas portas eu derrubasse até chegar aonde estivesse. Era minha meta naquele momento, e o filho da puta que tirou ela de mim iria sentir o combustível que me alimentaria até lá.
A sede de sangue.
R I A D E , A R Á B I A S A L D I T A
0 3 : 4 2 h A M
A mulher entrou em seu quarto de hotel provisório — aquele era o segundo apenas naquela semana. Pudera ser o último, considerando que sua missão estava cumprida e o elemento havia sido eliminado. Os pequenos respingos de sangue rente a linha de seu pescoço e as outras manchas perdidas no vestido de gala carmesim eram, evidentemente, um indício de seu feito. Mas não prova suficiente para o seu cliente que aguardara, inerente à sede de vingança, a confirmação do êxito de seu acordo.
Ao retirar a peça de roupa exclusiva de seu corpo, ela pôde sentir a brisa gélida do clima do Oriente. Após apreciar a sensação prazerosa de sua pele nua se arrepiando diante da temperatura da madrugada naquela sacada silenciosa, ela marchou até sua cama, retirando de dentro das maletas de maquiagem — aparentemente os utensílios exagerados de uma mulher vaidosa em demasiado — um de seus celulares descartáveis, acompanhado por 3 chips dentro de um saquinho colado ao mesmo.
Inserindo a peça miúda dentro do aparelho, ela, após abrir seu próprio email, encaminhou as imagens de um homem morto sentado em uma banheira de sauna. Sequer piscou ao clicar em enviar e entregar a segunda imagem — a cabeça decepada que identificava o sujeito. Discou para um número já memorizado em seguida.
— Como na descrição do contrato. Cabeça decepada, ação silenciosa e recado dado, desenhado, inclusive, com o sangue do elemento — informou todo o procedimento para a pessoa do outro lado da linha, em detalhes que achava necessários. Havia ficado até entediada ao escrever "a dívida foi paga" na parede do lugar com o líquido pegajoso. — Quero, com no máximo um minuto de espera, a segunda parte do pagamento.
— Ótimo. A transferência log-
Ela desligou a chamada, antes que o tempo na linha chegasse a 30 segundos, e trocou o chip do objeto.
Antes que apertasse no botão de chamada, uma notificação apareceu em seu notebook militar. Eram 3 milhões de dólares a mais na sua conta do exterior.
— Sempre é bom fechar negócio com você, querida — a voz sensual e baixa do homem que atendeu à segunda ligação ecoou por sua audição. – Nos veremos em breve, acredito. Limpezas sempre são necessárias, não?
— Talvez. Mas não sofra por antecipação, quem sabe você se torna meu alvo por outro negócio? Isso pode adiantar nosso encontro — disse ao apertar no botão vermelho e retornar a aproveitar seu silêncio.
Iria tentar, mesmo ciente de que poderia ser inútil, dormir uma ou duas horas antes de ir embora. Estava desperta há 46 horas, e seu corpo, mesmo adepto à rotina, pedia por um mísero descanso.
Com a arma a exatamente um palmo de distância de seus dedos hábeis, enquanto deitada sobre a cama macia, deixou que suas pálpebras cedessem.
Bib.
O som tão conhecido do notebook a despertou de seus 13 minutos de pausa.
A mesma mensagem que aparecia para si nos últimos dias estava estampada nas fontes esverdeadas da tela.
O que ele queria? Para persistir tanto...
— Você tem 120 segundos — decretou quando entrou em contato.
— Poderia te rastrear nesse tempo — a voz grossa e forte lhe saudou. — Você sempre me corta antes.
— Está em meu radar, se o fizesse eu simplesmente te eliminaria, Muller. — Era um blefe, mas útil.
Uma breve e rara risada saiu pelo aparelho. Ela poderia contar nos dedos quantas vezes havia presenciado tal momento. E ele, talvez, pudesse fazer o mesmo em relação a ela.
— Preciso de seus serviços. Meu amigo precisa, na verdade. — Resgatou o tom que sempre usara. — O Diabo, como já deve saber.
Sim, ela sabia para quem Muller era lacaio. Um desperdício de suas habilidades, na opinião dela. O Diabo era um homem implacável, sua máfia era sinônimo de poder, mas, ainda assim, máfias eram complexas demais, Dante estaria melhor seguido um caminho semelhante ao seu.
— Continua sendo a vadia do Diabo?
— Você queria que eu fosse a sua, não? — rebateu. — Estamos enfrentando alguém de seu meio, é um caso emergente, e você pode ser de importância para nós. Enviei as informações que temos. — Ela, porém, já havia aberto os arquivos. Seus olhos analisaram o conteúdo. E, logo, algo chamou sua atenção. — Ele sequestrou a mulher de Mitchell.
— Vocês estão fodidos.
— Então aceite o negócio.
— Não me envolvo com máfias.
— O homem que você há exatos 11 dias em Tóquio fazia parte de uma, caso não saiba. — Ele não estava acusando ela, mas apenas jogando com o que tinha. Suas fontes sempre foram boas, e ele conhecia seu rastro de sangue muito bem. — O preço não é de importância.
— Não vale a pena.
— Então pague o que me deve. — Ela, então, se surpreendeu. Estava Dante Muller fazendo a barganha de um antigo favor?
— Seu tempo acabou, Muller. — E, assim, desligou.
Ela estava há quase malditas 20 horas nas mãos de inimigos que queriam minha cabeça. E eu queria sangue em minhas mãos. A mera probabilidade de alguém fazer mal a ela onde estivesse me deixava em um estado de explosão emitente. Pensar em seu olhar pedido enquanto estava presa. O que estavam fazendo com ela? Como estavam a tratando?
Eram 19 horas e 53 minutos após o sequestro. Não tínhamos notícias, sequer pistas. Vasculhamos qualquer fio que nos levasse até ela, mas nada obtinha êxito. As câmeras de trânsitos eram inúteis, considerando que a intervenção havia ocorrido em um ponto cego. Nenhum dos homens sobreviveu às explosões. Apenas Jacob.
Jacob tinha sido encaminhado para o hospital três minutos após minha chegada ao local, estava apagado. O tiro em seu abdômen tinha o feito perder muito sangue, além da bala ter ficado alojada em um lugar perigoso demais. Seu estado era estável, e ele havia, inclusive, acordado após o procedimento da retirada do projétil, mas não lúcido. Era a única boa notícia no momento em que estávamos, o fato dele estar fora de risco. Não seria a primeira vez que Sullivan levaria um tiro e ficaria gravemente ferido, e também acreditava que não seria a última. Nós três sempre lidávamos com isso. Eram ossos do oficio.
Estava a par de tudo àquela altura — embora apenas das poucas informações que tínhamos do momento do sequestro. Mas sabia que, se eles quisessem a usar como uma forma de me abalar, ela ainda estaria viva. E seria usada como isca — e uma isca valiosa demais.
Tudo estava orquestrado, considerando o limite em que estávamos, só era preciso um mísero caminho até ela. Mas, antes de tudo, eu precisava ser cauteloso, mesmo que meus instintos gritassem para mover céus e terra para resgatá-la.
Nos escritos de Sun Tzu, um dos estratagemas de guerra mais bem desenvoltos que já pude apreciar e estudar, Sunzi disse que a invencibilidade está na defesa; a vulnerabilidade no ataque.
Tinha que enxergar meu campo de ataque, reunir minhas armas e artifícios necessários. Precisava ser implacável, era esse o Diabo que governava o submundo nesse país. Seria esse, impiedoso, desumano e desprovido de emoções, que iria reduzir o inimigo a fragmentos. E isso me fez guardar, pois, toda e qualquer necessidade que eu tinha por aquela mulher em meu interior, teria que o fazer para conseguir tê-la de volta.
Agora ela precisava do Diabo. Apenas ele.
— Ela chegou — Dante me informou ao entrar em minha sala, no galpão do Queens.
— Ela? — pedi. Muller havia, enfim, conseguido trazer o sujeito que podia nos dar pistas sobre o homem o qual não podíamos rastrear. Segundo ele, a pessoa possuía informações privilegiadas por ser quem era, um semelhante, ele disse.
— Sim, eu — uma voz mansa e gélida ecoou pela sala.
Pela porta entrou uma mulher em trajes negros. Seu olhar era como uma lâmina, afiado e inquisidor, além de inabalável. A forma graciosa e sagaz como se movia me dava a certeza que cada passo e movimento que fazia eram calculados.
— Quem é você? — inqueri, gladiando meu olhar como o seu.
Sem sequer tocar em sua expressão, mantendo a cara centrada e imutável, a mulher me respondeu:
— Não trabalho com nomes. — Estava atento a cada detalhe evidente seu, sabendo, contudo, que só iria conseguir ler o que ela quisesse transparecer.
— Por que agora? — contornei, me referindo à sua presença aqui hoje. — Por dias você ficou em silêncio perante nossa proposta. Por que decidiu aceitar?
Ela ficou em silêncio, mediu-me como se estivesse cogitando se valeria a pena gastar sua saliva dando-me quaisquer explicações.
— Estamos caçando o mesmo homem. Aceitando sua proposta sairei em lucro.
O desaforo gotejava.
Mas estava me fodendo para isso. Se ela nos fosse de valia para achar Mag...
— Então você tem o nome do filho da puta que raptou minha mulher?
NOTAS
Pumbed up Kiks: música de Twenty One Pilots.
West 42: rua do bairro de Manhattan.
A citação que Derek discorreu no capítulo é da obra Arte da Guerra, um tratado militar escrito durante o século IV a.C. pelo estrategista conhecido, em tese, como Sun Tzu (o qual eu sou fissurada). Vocês poderão encontrar, inclusive, mais citações dessa obra nos próximos capítulos, há a possibilidade dela ser usada por mim como segmentos de táticas os quais Derek usará durante a "caçada". Todos estarão grifados em itálico, para haver uma separação entre pensamentos e citações.
voltei, amores. e não me matem kkslk
vocês devem estar pensando "ah, mas ela nunca posta capítulo a mais, e quando posta é pra destruir a gente" ksajkajkjakd não é isso, é que tive a possibilidade de escrever esse antes e decidi postar.
quero falar sobre a reta final. eu sei que é chato ficar aguardando, a ansiedade deve ser gigantesca, mas eu não posso adiantar as postagens e, consequentemente, o final. preciso levar no meu tempo, pois, além disso, não posso escrever qualquer coisa e trazer rapidamente pra vocês. tudo requer um planejamento, alguns capítulos tomam muito minha atenção pelo fato de terem a criação de várias informações, principalmente os de ação. peço um pouquinho de paciência comigo kks please. os surtos ainda virão, confiem.
até o próximo. beijos, de sua autora,
©K. Lacerda
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