Capítulo 3 | O Gosto da Liberdade
Ah, eles tentam abater anjos
Eles tentam arrancar suas asas
Então, eles não podem voar
E, ah, apesar disso ela é tão corajosa
Assim como um tornado
Ela está nos levando pela tempestade
Você não pode impedir a garota de ir
You Can't Stop The Girl | Bebe Rexha
— Aqui está, não é muito, mas provavelmente deve ser o suficiente para você se manter por alguns meses, até conseguir um emprego — Jack falava enquanto me entregava uma quantidade considerável de dinheiro.
Eu me sentia mal por pegar suas economias, não achava o certo, no entanto, não havia outra saída.
Ontem, após a conversa que eu e a mamãe tivemos, eu e Jack montamos um "plano" onde, hoje, durante a noite quando nosso pai estivesse dormindo, ele me levaria ao encontro de um amigo seu que iria para Nova Iorque e me levaria consigo — sim, foi uma coincidência e tanto, para minha sorte quase inexistente. E cá estávamos nós, na saída da propriedade.
Torcia internamente para que tudo desse certo, o plano precisava funcionar — ou então eu estaria fodida, e não no bom sentido da coisa.
Pensamento positivo, Mag. Pensamento positivo. Eu tentava, em vão, me acalmar.
— É mais que o necessário — garanti, as palavras carregadas de gratidão. Como prometera, ele conseguiu me salvar daquele destino miserável. — Obrigada por tudo que está fazendo por mim, Jack, eu nunca vou poder agradecer o suficiente por isso.
Eu iria sentir tanta falta desse idiota com quem tinha dividido espaço na barriga da mamãe durante sete meses.
— A única coisa que eu e a mamãe queremos em troca disso é a sua felicidade, Mag. — Sua voz era serena. A escuridão da noite camuflava um pouco seu lindo rosto, mas eu sabia que seus olhos azuis estavam suportando um choro iminente, sentia isso por mínimos vacilos em sua voz. Meu irmão poderia ser emotivo, mesmo que negasse veemente. — Vamos sentir muitas saudades, sim, mas será reconfortante saber que você estará bem e feliz, pirralha.
— Eu te amo, idiota. — Eu sorria, mas sabia que estava à beira de cair em lágrimas. — Cuide da mamãe por mim, faça minha parte, também. Não sei quando voltarei novamente, mas diga a ela que a amo muito — pedi, apesar de já ter falado isso a ela durante os minutos dolorosos de nossa despedida.
— Sim, eu direi — garantiu. — Assim que você puder e as coisas se acalmarem, nos ligue e dê notícias. Agora, vá, rápido. Você precisa sair daqui antes que o papai desconfie de algo — disse, ao virar a face para a casa que estava com todas as luzes apagadas. A minha casa. — Como te falei antes, ao caminhar um pouco, alguns metros, irá encontrará o Matt na caminhonete à sua espera. Não dê ouvidos para suas cantadas, ele é um idiota sem cérebro às vezes, apesar de ser um cara legal. Se eu souber que não te respeitou, ele estará fodido.
Não seria Jack se não fosse ciumento.
— Certo, certo. Mantenha suas calças, maninho.
Ouvi sua risada baixa e contagiante preencher o ambiente.
— Eu te amo, pirralha. — Com um aperto no peito, o abracei pela última vez.
Ambos não aguentaram, as lágrimas cederam, não estávamos preparados para uma despedida. Ele era meu irmão, éramos formados pela mesma carne, unidos pelo mesmo sangue, compartilhávamos da mesma afeição, do carinho, do laço da união de gêmeos. Irmãos inseparáveis em uma despedida. Eu aproveitei o contato o máximo que pude, tentando memorizar a sensação de estar em casa. Quando nos separamos, peguei minha mochila e coloquei-a nas costas, era uma bagagem pequena, estava levando pouca coisa.
Saí sem olhar para trás, tentando ser forte, indo em busca de minha felicidade. Mesmo deixando as pessoas que amava ali.
Isso era o que eu queria, mas era o certo?
Depois de uma caminhada curta, logo avistei uma caminhonete preta com os faróis acesos na direção oposta à minha. Aproximei-me mais ao ficar ao lado do veículo, e, quando fitei a parte interna do mesmo, vi um homem loiro sorridente no volante. Ele deveria ser da minha idade, supus. Por estar sentado não pude distinguir sua estatura, mas aparentava ser alto e de porte grande, e se vestia muito bem, também notei.
— Suponho que seja a Mag. — Sua voz soou gentil, apesar de rouca.
— Sim. E você o Matt? — Tinha que ser.
Ele acenou, confirmando a indagação. Apontou para a porta com o indicador, provavelmente me instruindo a abrir.
— Bom, temos que ir logo, a viagem será longa até o aeroporto.
— Vamos.
Eu estava livre.
N E W Y O R K
D O I S M E S E S D E P O I S
Acordei com o som estridente que eu odiava com todo meu ser. Era o despertador martelando em minha cabeça às 06:30h da manhã. Eu o odiava porque ele me tirava do meu descanso, me lembrava que a vida era não só flores, tinha chegado a hora de acordar para mais um dia de luta.
— Argh. Droga, que noite é essa que só dura 10 minutos? — murmurei, ou imaginei o ter feito, ainda entorpecida pelo sono.
Céus, eu havia acabado de me deitar na cama — e todo dia eu tinha aquela mesma sensação, no entanto.
Levantei-me contra vontade e segui para o cubículo ao qual eu chamava de banheiro.
Depois de chegar em Nova Iorque, tive dificuldades em encontrar um lugar para ficar — não podia me manter hospedada em um hotel para sempre, não se quisesse que o dinheiro durasse tempo o suficiente —, mas, por sorte ou azar, cheguei a esse apartamento minúsculo em um bairro não tão bom. Com apenas um quarto, banheiro e sala-cozinha simples, decidi alugar o mesmo por um preço baixo, mesmo que tivesse que aturar a vizinhança bizarra. Mas aquele detalhe era o meu menor problema naquele momento.
Fiz minha higiene matinal e, apressada, me arrumei para ir para o trabalho.
Três semanas após muita procura e dor de cabeça, eu consegui um emprego em uma lanchonete não muito distante daqui e com um salário razoavelmente bom. Apesar de minha chefe ser um carrasco, eu gostava do trabalho e dos funcionários do local.
Soltei um riso divertido ao lembrar das maluquices do Aust. Ele e a Anne se tornaram meus amigos em minha primeira semana de trabalho e vinham me ajudando muito nessa minha nova fase de "Caipira Recém Chegada À Cidade Grande", como o Aust sempre falava. Eles faziam-me sentir bem.
Saí apressada do prédio antigo onde eu morava e adentrei na multidão formada por pessoas submersas em seus próprios mundos nas ruas lotas de NY.
Era inegável o fato de que havia sido um choque e tanto me deparar com toda essa movimentação e aglomeração de minha nova realidade. Tantos edifícios, pessoas, carros e barulhos me deixam amedrontada e assustada, mas a cada dia fui e continuava me acostumando com tudo aquilo — o novo.
Ao virar a esquina, avistei a fachada do estabelecimento recém-aberto, que tinha um letreiro com o nome em letras amarelas cursivas, ficava em um edifício bem localizado, não muito distante de um bairro nobre. Adentrei a lanchonete e, de cara, vi a figura extrovertida de Aust vindo, vulgo correndo, em minha direção.
Austin Garret era dono de uma deslumbrante beleza. E o sorriso... Aquele sorriso malicioso deixava muitos desconcertados.
— Bom dia, minha morena gostosa! — falou ao me receber com um abraço caloroso.
Uma pena que, para o descontentamento da sociedade feminina, ele não suportava relacionamentos com mulheres.
— Pelo sorriso de orelha a orelha estampado no seu rosto em uma manhã de trabalho em plena segunda, suponho que a noite foi bastante proveitosa. — Sabia que estava entrando em território perigoso ao provocá-lo no início da manhã, mas eu sempre me divertia com suas facetas.
O bastardo riu maliciosamente e confirmou minhas suspeitas com um brilho nos olhos.
Ele era dono de uma personalidade única, que se alternava entre um Aust amável a um Aust que exalava promiscuidade — e eu era fascinada por todas suas formas.
— Sim, baby. Tive um ménage à trois maravilhoso com dois deuses vindos direto do Olímpio — falou ele, de forma espontânea.
No começo eu havia me assustado com suas aventuras, essas aventuras ousadas, mas depois da nossa constante convivência essas conversas se tornaram normais.
— Você é um safado incurável — resmunguei, escondendo o divertimento.
— Nisso eu tenho que concordar. E também concordo com o fato de que você precisa urgentemente de um homem entre suas pernas para tirar esse mau humor crônico — disse Aust, mas com a voz contida, baixa. Agradeci a ele internamente por isso, esse não era um assunto que eu queria compartilhar com as pessoas que estavam sentadas nas mesas próximas a nós.
— Não estou de mau humor. — Revirei os olhos com sua implicância.
— Claro, claro. E eu tenho um caso com Henry Cavill, baby. — O divertimento permaneceu em seu rosto mesmo após eu lhe lançar um olhar mortal.
Olhei ao redor e não avistei a figura de Anne no ambiente.
— Anne ainda não chegou? — perguntei, franzindo o cenho por notar seu atraso.
— Não, e não acho que irá vir. A loira nunca se atrasa. — Deu de ombros. Vi que ele, assim como eu, achou isso estranho.
— Talvez já seja hora de iniciarem o trabalho e parar de jogar conversa fora. O que estão esperando para atender os clientes?! — Ouvimos a voz rude ao nosso lado.
Virei-me para o lado e me deparei com a minha chefe, Lucy Evans. Não conseguia entender o porquê de seu jeito implicante com os funcionários e seu mau humor constante. Será que eu deveria passar o conselho do Aust para ela?
— Já estávamos indo, senhora Evans — respondi, apressada.
Aust me puxou consigo em direção ao balcão, para irmos para a área dos funcionários, e sussurrou perto de meu ouvido.
— Eu retiro tudo o que disse sobre você, ela que precisa urgentemente de um homem para acabar com essa carranca insuportável.
Não falei?
Já pela noite, no fim do expediente, restavam apenas eu e Aust no estabelecimento. Lucy sempre nos encarregava de fechar a lanchonete, e, apesar do cansaço adquirido pelo dia de trabalho, eu, Aust e Anne aproveitávamos aquele momento como uma forma de diversão. Falávamos sobre as nossas vidas banais ou até mesmo ouvíamos as fofocas que o Aust sempre tinha em estoque.
— Na nossa próxima folga iremos a uma boate com alguns de meus amigos — ele disse, como quem não queria nada, mantendo uma forma angelical a qual não enganava ninguém.
— Ah, não, Aust — neguei enquanto empurrava uma cadeira. — Não tenho clima para ir e não me sinto confortável nesses lugares tumultuados.
— Não adianta reclamar, baby. Você precisa sair e se divertir, até minha tia encalhada de 50 anos aproveita a vida melhor que você. Então, irá, sim, e será usando um vestido que comprarei exclusivamente para esse seu corpo gostoso. — Lá estava aquele sorriso de novo. — Você precisa se divertir, mulher.
Bufei em frustração, sabendo que não teria escolha. E talvez, só talvez, ele estivesse certo.
— A Anne também vai? — perguntei, por fim. Estava torcendo para que a loira fosse.
— Sim, consegui fazê-la aceitar sair de casa ao menos uma vez — falou, demonstrando triunfo. Aust sabia ser persuasivo quando queria.
— Tem que me prometer que voltaremos cedo, não entrará em coma alcoólico e não nos deixará sozinhas para ir foder com alguém em algum canto. Essas são minhas condições — expliquei, mas tinha a certeza que ele não conseguiria cumprir com a última parte do acordo.
Aust automaticamente ficou animado como criança que ganhava doce e me deu um típico abraço apertado.
— Claro que prometo. — Largou-me e me encarou de maneira safada. — Vou torcer muito para você arranjar um gato maravilhoso e tirar esse hímen inútil.
Sim, eu era uma virgem de 23 anos. Qual a razão desse feito? Eu também não tinha a resposta. Mesmo tento alguns namorados durante minha vida, nunca tive uma vontade — não, necessidade seria a palavra certa — de ir além. Talvez ainda não estivesse pronta, ou algo assim. Era complexo. E, bem, o Aust acabou descobrindo esse pequeno detalhe de minha vida. Como ele soube? Eu não fazia ideia. Depois disso apenas confirmei sua pergunta, vulgo afirmação, assim como também deixei ele e Anne a par de tudo o que eu havia deixado em Amarillo. Ambos me confortaram e me deram forças em relação ao meu "noivado".
— Eu não preciso de homem, muito menos de uma foda de balada. Estou muito bem assim. — E não era uma mentira.
— Ninguém vive bem sem foder e ter orgasmos, baby. — Seu rosto carregava uma implicância a qual eu já conhecia bem.
— Isso não é verdade. Eu vivo e não estou reclamando — retruquei, dando de ombros. Ele não precisa saber dos orgasmos que eu tinha proporcionados por meu vibrador de clitóris mágico, o Luke. Ri ao lembrar de sua ótima funcionalidade. — Agora vamos acabar com esse assunto e fechar logo essa merda, estou acabada. — Suspirei, ao me encostar na parede gélida.
— Idem. Aquela megera da Evans está nos fazendo de escravos, e o que falta para fechar o pacote completo é ela começar a nos chicotear enquanto está latindo ordens — ele falava e falava, quanto gesticulava com as mãos, demonstrando sua total indignação. — Eu não estou gostando disso. Só aceito ser submisso na cama e com um deus grego com vários centímetros de prazer. — Quem era eu para contradizê-lo?
Desisti de tentar entender Austin Garret. Ele não tinha jeito.
Depois de tudo fechado, me despedi de meu amigo extrovertido e fui embora. Era mais um dia de luta completo.
Olá, leitores.
Terceiro capítulo postado.
Como será essa nova fase da Mag? Ela irá conseguir realizar seus sonhos em New York City?
Obrigado por ler!
Até o próximo capítulo.
©K. Lacerda
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top