Capítulo 29 | Do Cômico ao Trágico

Ela não é um anjo
Que mora nas colinas
Seu acordo com o Diabo está pagando suas contas
[...]
Há algo sobre ela
Gelo da chuva, promessa do céu
De volta ao meu trono, afogando-me em diamantes e anéis
Ela está usando a coroa de um rei

SHE | Winona Oak

Jacob e Magan estavam dividindo uma poltrona na biblioteca, ambos risonhos e claramente embriagados — a garrafa de Romanée-Conti que estava na mão da Mag risonha era uma evidência. Seus olhos, apesar do sorriso que brotava nos lábios, estavam vermelhos e levemente inchados. Ela tinha chorado, e talvez em decorrência à visita do seu irmão.

    — Olá, marido! — exclamou com a voz embolada ao levantar a garrafa provavelmente vazia. Estava sendo debochada, mesmo bêbada.

    — Estou esperando explicações — inqueri. Fitei Jacob, exigindo uma linha de resposta. — E você, o que faz aqui?

    Sullivan rolou os olhos e deu de ombros, desajeitado. Supus que, assim como Magan, ele havia sido responsável pelas duas garrafas vazias de uísque de 70 anos que estavam jogadas na sala.

    — Dante me mandou até você, disse que, assim que chegasse da viagem, era para te colocar a par de... — Apertou os olhos, depois olhou para a mulher ao seu lado. Balançou a cabeça, em negação. — Você sabe. — Gesticulou com os dedos. Pelo menos não estava dando com a língua nos dentes enquanto bêbado.

    — Então, já que eu não estava aqui, decidiram que iriam secar meu estoque de álcool? — Suspirei pesado, tentando não ser consumido pela ira. Minha cabeça já estava prestes a explodir, sobrecarregada com as informações que Muller tinha me transmitido, e agora havia mais essa situação ridícula para lidar. — Levante-se, Magan — ordenei, buscando saber o quão lúcida estava. E era quase nada, já que, ao bufar com desdém e tentar se erguer, quase caiu de cara no chão. Sullivan a segurou a tempo.

    — O piso não fica inerte — falou enquanto tentava se manter em pé. — Isso não é bom, Jacob, já que eu não aguento mais ficar sentada. — A risada dos dois chegou até mim, parecia que estavam rindo de algo de conhecimento apenas deles.

    — Veja pelo lado bom: falta pouco para a chegada do final do primeiro semestre. — Eu não fazia a mínima ideia do que eles falavam, tudo era totalmente sem nexo.

    Decidido a dar um fim àquilo, aproximei-me da mulher que estavas prestes a se desfalecer no chão e passei meu braço por sua cintura, puxando-a para mim com o intuito de deixá-la firme. Mas, como nada era fácil quando o assunto era Magan, ela resmungou em negação e tentou se afastar.

    — Não preciso de você. Posso ficar equilibrada sozinha, idiota. — Impaciente, ignorei suas mãos sobre meu peitoral, que tentavam me afastar, e, me abaixando e abraçando suas coxas, joguei Magan sobre meu ombro. Seu peso sobre mim era mínimo, uma vez que seu corpo era consideravelmente leve. Ela se assustou com o ato repentino. — Oh! Hoje você está um tanto selvagem, baby. — Sua língua era ácida.

    — Yeah, muito estilo "Homem das Cavernas"— continuou Jacob, zombando. Então ele franziu o cenho ao nos fitar, e depois desenhou curvas no ar com suas mãos, seu semblante era de admiração. — Porra, Mag, você tem um bela vista traseira.

    — Obrigaaada! — agradeceu ela em resposta, sua voz estava mais baixa, apesar de ainda atrapalhada.

    — Um tiro nos olhos deve te auxiliar para enxergar melhor. E, acredite, eu iria o desferir com gosto — brandi, recebendo apenas um revirada de olhos. Meu limite estava se esvaindo.

    — Pode ficar tranquilo, amigos não se interessam pelas amigas — bufou, jogando a mão em desdém. — Não precisa surtar. Só estou apontando o óbvio. — Sinalizou para o traseiro de Magan com o indicador.

    Farto das irritações, dei as costas a ele e me dirigi até às escadas, ainda carregando minha esposa bêbada. Não me interessei em ouvir os resmungos que Jacob ficou cantarolando na biblioteca. Se ele estivesse lúcido o suficiente para ao menos conseguir chegar ao quarto de hóspedes, não dormiria na poltrona. E não seria a primeira vez que o faria, afinal.

    — Posso te perguntar uma coisa? — Apesar de indagar, ela seguiu o questionamento no mesmo segundo: — Você colocaria um piercing no pau? Eu iria gostar muuuuito disso, sabe. É quente.

    — Que porra...? Você está louca? De onde infernos tirou isso? — Dessa vez tive que me controlar para não rir. Sua versão bêbada não conhecia limites.

    — Você é mesmo careta — bufou. — Jacob tem um, sabia?

    — Como descobriu isso? — Meu riso sumiu, e minha vontade era de voltar àquela biblioteca e acabar com a cara de Sullivan por sequer ousar deixar ela a par disso. A raiva crepitou.

    — Ah, não precisa ficar bravinho, ele não mostrou ao-vivo e a cores, só me contou. Agora somos amigos, não é legal? Ele até cantou Hey, Jude para mim quando eu estava na fossa. Rimos juntos de sua performance, ele é horrível no vocal. — Decidi que o melhor seria ignorar seus devaneios ou seria eu quem perderia a sanidade. — Hummm — ela ronronou. — Sua bunda é maravilhosa, Derek. — Senti sua mão tocando na mesma. E, apesar da tensão em que estava, ri, e não por sua observação, mas por pensar sobre sua reação quando lembrasse que disse tal coisa.

    — Tenho certeza de que isso aqui é bem mais interessante. — Dei um tapa forte em sua bunda gostosa que estava rente ao meu rosto. Era uma visão tentadora.

    — Ai! — gemeu. Já estávamos no corredor, e parei diante da porta de seu quarto. — Você tem jeito para essas coisas de DBSM — ponderou. — Ou é BDSM? Bom, não sei, é aquele negóóócio que o Christian Grey faz com a Ana. — Toquei na maçaneta da porta e girei, mas nada aconteceu.

    — Puta merda — praguejei ao tentar abrir de novo. Sem sucesso. Estava emperrada. — Inferno. Por que trancou a porta?

    — Não fui eu! — Fechei os olhos ao ouvir sua fala, tentando me acalmar. — Derek... — chamou depois, baixo. — Talvez esse ângulo não esteja favorável para mim. Oh, caralho... Acho que vou vomitar.

    Antes que a situação piorasse, fui até a porta do meu quarto e adentrei o mesmo com ela ainda em meu ombro. Logo, coloquei Magan sobre minha cama, fitando seus olhos dispersos em seguida. A maldita conseguia ser bela até naquele estado deplorável. Fios do seu cabelo caíam por seu rosto em uma confusão quase hilária. Ela bufou, tentando afastar os mesmos dos olhos com um sopro em um ato infantil. O decote provido de sua blusa amassada e torta deixava à mostra partes de seus seios fartos.

    — Então aqui é o covil do Diabo? — indagou, fitando o quarto em que estava. Ela ficava minúscula diante da cama enorme a qual estava sentada. — Você gosta de preto, não é? Combina com seu humor de emo gótico, vulgo Drácula — falou ao se jogar de costas na cama. Pouco tempo depois, suas mãos foram em direção ao zíper da calça que vestia, mas cessaram a tentativa falha de abrir o mesmo. — Droga! Poderia abrir isso aqui? Está me apertando. — Quis rir de sua irritação repentina. — Não é agradável vir da Itália e passar um dia todo de jeans.

    Observei seu semblante frustrado e ponderei se o faria ou não. Precisava decidir se minha hesitação era oriunda de não confiar em meu controle. Magan vestida já me deixava quase que descontrolado, sem roupa era a fórmula para minha insanidade. Mas, por fim, atendi ao seu pedido. Abri o botão da peça e a puxei por seus quadris e pernas, revelando suas curvas perfeitamente delimitadas e a calcinha de renda que ela usava.

    — Oh, sim, isso que é liberdade. — Virou-se sobre o lençol e me fez vislumbrar sua bunda redonda em contraste com o minúsculo tecido vermelho que estava sobre sua pele. Como não ficar de pau duro diante de tal visão? Era impossível. Em pouco tempo, imaginei diversas imagens de nós dois. Em todas eu estava dentro dela. Decidi que já era hora de sair dali. — Quanto tempo demora? — Cessei os passos que já dava em direção ao corredor.

    — Para quê? — Estava curioso para saber qual era o devaneio da vez.

    — Para se acostumar com a solidão. — A voz tão baixa e comprimida já não era risonha, tampouco debochada. Transmitia apenas dor e não passava de um sussurro. — Quando tempo vai demorar para não doer mais?

    — Você não precisa saber disso, não está sozinha. — Não como eu.

    — Sim, estou. — Suspirou pesadamente, ainda sem me encarar. — É sufocante, me corrói e eu não sei lidar ainda. — Permaneci calado, não tinha a certeza de que possuía as palavras certas para proferir. — Hoje, só hoje... Divida a solidão comigo.

    Aquilo me pegou desprevenido, assim como na Itália, com seu pedido inusitado. Refleti sobre qual passo dar. Sabia que a escolha seria um divisor de águas, não importava o quanto tentássemos justificar os feitos. Restava pensar se era esse caminho que iria ser seguido, e, dessa vez, a decisão não deveria ser só minha.

    — Está bêbada, não sabe sobre o que está falando.

    — O álcool pode apagar a lucidez, mas nunca a dor. Ela é uma cadela. — Parou um pouco. — Ela não me faz esquecer que fodi com tudo.

    Merda.

    Fui até o closet e retirei toda roupa a qual usava e vesti uma calça de dormir. Você é um fraco e idiota, Mitchell, o que está se tornando?, uma voz no fundo de minha consciência martelava sobre mim, impiedosa e incessante. Que se foda. Puxando o lençol sob ela e me deitando ao seu lado, cedi ao seu pedido e lutei contra os tormentos que me rodeavam. Lutando contra mim.

    Suspirei, exausto.

    Magan se voltou para mim e me fisgou para a imensidão nebulosa de seus olhos. As lágrimas que saíam pelos mesmos e escorriam por sua pele marfim davam ressalva ao seu momento inexoravelmente sôfrego. Sua mão quente veio até meu rosto, um apelo inibido.

    — Solitários, mas não sozinhos... — murmurou ao dar uma risada completamente amarga. Seu corpo veio de encontro ao meu, não por volúpia, mas por um amparo mais que obscuro. — Não hoje.

    No que se tornou, Diabo?

    E foi após minutos ouvindo e sentindo suas lágrimas sobre meu peito que Magan conseguiu se libertar das dores, mesmo que momentaneamente, através do sono que a levou.

    Uma escolha. Um trégua, cacete.

    Fraco. Você é fraco.

    — Não hoje — assegurei para o silêncio que nos assistia. 

Está atrasado, chefinho, era o que dizia a mensagem que Jacob havia acabado de me enviar. Sem sombra de dúvidas ele já estava na boate a qual teria inauguração hoje — uma nova localização da Outsider. E, mesmo ignorando sua tentativa de me irritar, eu sabia que estávamos realmente em cima do horário.

    Depositei o copo de martini, agora vazio, sobre a mesa. Estava há 10 minutos ali, na sala, esperando Magan para irmos. Ela não mostrou nenhum mínimo interesse quando avisei que precisaria me acompanhar até a casa noturna. Sua revirada de olhos havia sido uma resposta amena, já que imaginei que negaria prontamente.

    Já haviam se passado algumas semanas após seu porre. Ela se mostrou indiferente àquela noite, assim como ao fato de que acordou ao meu lado na manhã seguinte. E eu havia percebido uma mínima, mas notável mudança sua. Supus que a visita de Jack Thompson tivesse sido o estopim disso. Constantemente ela se demonstrava estar aérea, como se sua mente estivesse divagando de tempos em tempos, apesar de sua língua afiada ainda se manter — principalmente durante as horas em que estávamos perdidos um no outro. Magan era voraz, se demonstrava ousada e isso me deixava em frenesi. Por vezes nossos embates se estendiam para horas de fodas ardentes. E eu estava viciando. Em cada expressão de êxtase que tomava seu rosto, na forma em que seus lábios se entreabriam quando atingia seu limite, no olhar vívido e letal, no calor de sua pele sedosa. Tudo era fodidamente viciante.

    Vi-me diante da porta de seu quarto, movido à impaciência crescente. Bati na mesma e chamei seu nome.

    — Entre. — Foi sua resposta, a voz baixa e distante. E o fiz, mas não me movi quando vi sua imagem no interior do quarto.

    Magan estava de costas para mim, inclinada sobre a penteadeira, onde jazia um espelho que refletia seu rosto centrado no batom escarlate que ela desenhava sobre os lábios. Seus quadris estavam arqueados, ressaltando o traseiro encoberto pelo vestido rose de cetim. O corte dele deixava suas costas nuas, assim como suas pernas. Estava perfeita. E, no entanto, diante daquela visão, sair de casa não era mais algo atrativo.

    — Estamos atrasados — pontuei enquanto me aproximava dela. Seus olhos se desviaram para mim.

    — Eu não sou hábil em fazer maquiagem, tampouco gostava de usar — iniciou, voltando a atenção para o trabalho que antes realizava no rosto, me ignorando. — E, no entanto, em um fodido dia gostei do resultado. — Já atrás dela, próximo o suficiente para tocar sua cintura, vislumbrei seu semblante analítico. — A primeira vez em que me senti realmente bela. O dia em que fui sequestrada. Trágico, não? — inqueriu, soltando um riso amargo. Nada falei. — Mas, enfim, gostei da sensação, e hoje quis resgatar isso. E mais: você sabe o quão trabalhoso é fazer um delineado no olho? Não pedi para ir para lugar algum. Então não venha me atormentar por me atrasar. — Rolou os olhos, entediada.

    Não entendia merda nenhuma sobre maquiagem, mas, fitando seu rosto, era possível perceber que ela tinha ido muito bem em seu feito. Os olhos estavam marcados em tons escuros, mas não em excesso. E sua boca... O batom perfeitamente desenhado era um convite profano demais para ser ignorado.

    — Você ficou deslumbrante. — Minha voz saiu mais rouca do que o esperando ao dizer aquela maldita verdade. Sequer pensar em outros admirando-a despertava fúria em mim. E eu não entendia por que diabos isso acontecia. Ou não queria acreditar no que poderia ser. — Está sem sutiã... — constatei o óbvio ao pé de seu ouvido, enquanto traçava um caminho de suas costas até seu seio por dentro do vestido que usava, fitando seus olhos através do espelho. Peguei o mesmo sob minha mão e o apertei, instigando-a com meus dedos no processo, um trabalho que eu queria fazer com minha língua enquanto tinha o mesmo sob minha boca. Mesmo a contragosto, ela arqueou, surpresa e afetada pelo toque. Mas não demorou muito para se recompor.

    Ficando ereta novamente — e, provocadora, esbarrando sua bunda em meu pau —, Magan se virou e ficou de frente a mim. Os cabelos depositados apenas em um lado de seu pescoço davam ao busto do vestido claro um contraste perfeito. E, porra, quem eu queria enganar? A única coisa que me vinha em mente era arrancar aquilo de seu corpo e tomá-la para mim sobre a cama que jazia a poucos metros de nós dois.

    Ela se aproximou mais, sem me tocar, e, com auxílio dos louboutins negros que usava e a deixava alta o suficiente, me deixou literalmente sem palavras quando sussurrou com os lábios rentes aos meus:

    — E se eu te contasse que não foi apenas do sutiã que abri mão hoje? — Sua voz era como a de uma serpente, seu veneno gotejava sobre cada palavra desferida. E o efeito fez meu sangue ferver.

    — Você não ousaria — adverti, firmando minhas mãos sobre suas costas e a puxando mais para mim. Mas ela se esquivou do meu toque e quebrou nossa proximidade.

    — Lembro de você dizer algo sobre estarmos atrasados, não? — cantarolou ao pegar sua pequena bolsa que jazia sobre a cama.

    — Magan! — O inferno que ela iria sair daqui com essa roupa sem usar uma calcinha. Porra, não.

    No entanto, a diaba apenas gargalhou e saiu do quarto com passos decididos, deixando um sorriso de triunfo direcionando a mim ao sumir pela porta. E, antes que eu a acompanhasse, ela fechou a mesma a tempo, detendo minha saída e me deixando irado e duro.

    Louco. Ela me deixava louco. E eu precisava saber lidar com suas facetas. Conviver com a Magan que por vezes chorava diante de mim e mostrava seus estilhaços era difícil, mas lidar com a mulher que acabava de sair por aquela porta era, no mínimo, o inferno na terra. Mas não seria uma guerra perdida. 

    Não quando ela desafiava o dono do mesmo.

eu nem tava pronta para lidar com essa mulher kkk e parece que o derek também não. acredito que vocês adoram isso, né? sempre ficam eufóricas com o estrago.

o diabo também foi maldoso ao não nos dar nenhuma informação do atentado, olha a audácia do ser. ;-;

sorry pelos erros, e o surto continua no próximo capítulo, até lá, diabinhas.

... deixem o voto de vocês, por favor, é pro meu tcc. desde já agradeço!

©K. Lacerda



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