Capítulo 23 | Juras de Ódio
Insano, por dentro, o perigo me deixa louco
[..]
Eu amo assistir os castelos queimarem
Essas cinzas douradas se transformando em sujeira
Eu sempre gostei de brincar com fogo
Play With Fire | Sam Tinnesz
Ela tinha toda minha atenção.
Aquela mulher que estava na outra extremidade do tapete vermelho, a alguns metros de distância de mim, tinha conseguido tomar todo meu foco para ela. Ninguém que estava ali me importava mais, só ela. Porque aquela... pirralha conseguiu a proeza de despertar minha ira.
Como ela ousava?
Como se atrevia a vir diante de todos com quase nada cobrindo seu corpo? Era a maldita cerimônia de casamento, aquele seu show era inadmissível. Chegava a ser surpreendente como uma pessoa de feições tão angelicais e inocentes poderia ser tão maquiavélica. Porra, eu queria jogá-la em meus ombros e tirá-la dali, estava me contendo para não explodir em um ato de insanidade diante daquelas pessoas. Mas, assim como aquela imagem tinha significado de afronta e me despertava uma raiva genuína por tamanha audácia, também trazia à tona desejos que atormentavam minha mente diariamente. Magan conseguia extrair de mim o lado impulsivo que há tanto tempo se encontrava inativo e selado.
Eu não podia negar quão bela ela estava. Uma beleza letal, era isso que eu via. Magan estava espetacular com aquilo que a revestia de forma tão escassa. Vaguei os olhos por cada detalhe. Os desenhos brancos em arabescos que, em contraste com sua pele, pareciam tatuagens espalhadas pelo seu corpo. O rastro do vestido se iniciava no seu pulso, revestia seus braços com as mangas do mesmo e ia de encontro aos ombros delicados que estavam erguidos em uma pose elegante. Cacete. Seu decote formava um perfeito V, esse que se estendia até o nível de sua cintura, pequenos detalhes contornavam as bordas do mesmo e impediam que seus perfeitos seios ficasse à amostra. Como uma segunda pele, a peça contornava e realçava com perfeição suas lindas curvas, o quadril perfeitamente esculpido ficava enaltecido. Os traços do vestido sinuoso ficava livre poucos centímetros acima de seus joelhos e se estendia até embaixo, a enorme calda da peça varrendo o chão próximo a ela, acompanhado do véu que descia de seu cabelo e se estendia por suas costas, indo até o chão.
Voltei a fitar aqueles olhos ávidos, os mesmos que estavam depositados sobre mim. Talvez eu não estivesse transparecido minha reação aos outros que ali estavam, mas sabia que ela tinha percebido que havia conquistado seu objetivo. Aquela mulher queria me tirar do sério, me deixar em frenesi. Um indício de um sorriso contido quis brotar em seus lábios.
Maldita.
Recobrando minha postura que talvez tivesse falhado enquanto me vi diante disso, analisei as pessoas ao nosso redor, percebendo quão assustadas e surpresas elas estavam. Também eram notáveis os olhares masculinos que eram depositados sobre Magan, mas não eram de surpresa — eles eram banhados por desejo. Aquilo me fez cerrar o punho, a vontade de arrancar os olhos de cada filho da puta que a secava foi inevitável.
A marcha nupcial seguia seu ritmo e, com um semblante de triunfo, ela começou a marchar em minha direção sobre o tapete vermelho. Todos acompanhavam seus movimentos enquanto ela seguia passos a frente ao lado de Jacob. Esse tinha um sorriso cafajeste e divertido em sua cara lavada. Bastardo.
Então eles se aproximaram, Jacob depositou um beijo em sua fronte e afastou seu braço com delicadeza. Evitei encarar Sullivan para conter a vontade de dar-lhe um soco em seu rosto debochado quando ele se voltou para mim e me encarou com diversão. Ver que ele estava se divertindo com aquela cena não chegava a ser uma novidade.
Meus olhos permaneceram em Magan, evitei descer os mesmos em direção a imagem de seu corpo que deixava tão pouco para a imaginação. Peguei sua pequena mão, puxei-a mais para mim, ao ponto de colar meus lábios em sua orelha, e sussurrei rente ao seu ouvido:
— Não pense que vai sair ilesa disso, Thompson — ressaltei seu sobrenome enquanto murmurava. — Vai se arrepender por tamanha audácia. — Senti seu corpo ficar tenso. Bom.
Afastei-me de maneira sutil e, com sua mão entrelaçada à minha, a conduzi até o centro do altar. Contive um grunhido ao imaginar a bela visão que todos os homens que ali estavam iriam ter de seu belo traseiro. Puta merda.
Voltei meus olhos para o juiz de paz, para depois constatar que o homem de aparentemente cinquenta anos estava com toda sua atenção focada em Magan. Serrei o punho.
— Se não tirar os olhos de cima da minha mulher, não iremos fazer a celebração de um casamento, e, sim, de um velório — discorri com a voz baixa e carregada de toda ira que eu tentava conter. Pude ouvir um riso abafado próximo a mim, com certeza era o fodido do Sullivan.
Um semblante assustado preencheu o rosto do homem que estava a pouco mais de um metro nós. Ele rapidamente me encarou e soltou um baixo murmúrio de desculpas enquanto voltava a pegar seu livro.
Então a cerimônia começou, não prestei atenção em nada do que ele falava. Mesmo sem encará-la, toda minha atenção ainda estava em Magan, a mesma que se mantinha quieta e tensa ao meu lado. Sua respiração estava irregular, o nervosismo se fazendo evidente. Apertei minimamente sua mão com intuito de que se voltasse para mim, e assim ela o fez. O rosto estava revestido por uma máscara neutra, mas seus olhos não continham seus temores. Enxerguei suas angustias através de sua íris azul, um suspiro entrecortado saiu por seus perfeitos lábios.
— Derek e Magan, vocês já foram muitas coisas um do outro, amigos, companheiros, namorados, noivos. Agora, com as palavras que estão prestes a trocar, vocês passarão para a próxima fase. — Tirei minha atenção dela e a direcionei para o homem que falava conosco. Ele se voltou para mim, um pouco temeroso. — Derek, é de livre e espontânea vontade que você aceita Magan como sua legitima esposa? — indagou em seu rito.
— Sim — eu disse.
Então ele se dirigiu para a mulher ao meu lado, a mão gelada dela apertou a minha com força.
— Magan, é de livre e espontânea vontade que você aceita Derek como seu legitimo esposo?
Ela entreabriu a boca, mas cessou a fala iminente. Respirou e fundo e depois continuou.
— Sim — sussurrou, por fim.
Depois disso o juiz nos instruía a recitar nossas respectivas falas enquanto trocávamos as alianças. Ela me encarava a todo estante enquanto discorria suas falsas juras. Acreditei que, por trás daquelas palavras que simbolizavam a união do casamento, ela estava fazendo promessas sobre o quanto iria me odiar pelo resto da vida e sobre o tamanho de sua vontade de acabar comigo. Ri de lado.
— ... Eu vos declaro marido de mulher. — Ouvi. — O noivo já pode beijar a noiva.
Ela me olhou como se dissesse "você não ousaria", e, ainda com um mínimo sorriso dançando em meus lábios, eu me aproximei e a puxei para mim ao selar minhas mãos em cada lado de sua cintura com possessão. Diante do movimento inesperado, ela pousou as suas sobre meu peito.
— Agora é para sempre, Magan Mitchell — disse antes juntar nossos lábios.
Ter aqueles lábios deliciosos selados sob os meus era, como foi na primeira vez, uma tentação para meu juízo. Eu estava no limite. Movimentei os meus sob os dela, minha língua pediu passagem e, apesar da relutância inicial, ela cedeu. O beijo teve encaixe. O que era apenas um toque casto se excedeu para proporções gritantes e, porra, eu estava me segurando para não depositar minhas mãos em sua bunda e puxá-la ainda mais para mim. Mordisquei seu lábio inferior e ouvi um baixo e sussurrado gemido sair por sua boca. Ela apertou as mãos por cima de meu terno e, lentamente, tirou sua boca da minha. Eu gravei aquela imagem perfeita em minha mente. A região de sua boca estava em tom escarlate, a respiração pesada e irregular, os olhos entorpecidos em lasciva, mesmo contendo resquícios de raiva. Aquela visão era um fodido combustível para minha imaginação, que já não tinha nada de pura. Eu a queria como o inferno.
— Caralho, que pornô. — Jacob cantarolou apenas para que nós ouvíssemos.
Ainda com minhas mãos sobre ela, movi meus olhos para onde ele estava ao lado de Dante e direcionei um olhar de ódio para o idiota.
Magan tentou se afastar de mim de maneira disfarçada, mas, passando o braço por suas costas, eu indiquei nossa deixa. Pegando o buquê que a organizadora, a senhora Smith, lhe entregou, Magan me deixou conduzi-la por todo o trajeto que ela traçou sendo acompanha por Jacob. Enquanto passávamos pelos convidados, esses que eram poucas pessoas, em grande parte apenas sócios, era notório que ainda estavam surpresos, os murmúrios também não passaram despercebidos sob os aplausos.
Após termos saído de vista e estarmos longe dos olhos, de todo o caos e de todas as palmas e vozes que nos ovacionavam, peguei sua mão e a puxei pelo jardim até um lugar onde teríamos privacidade.
Ao chegarmos lá, a soltei e apoiei a minha mão em uma parede próxima a mim. Fechei os olhos, tentando me controlar.
— Que palhaçada foi essa, Magan? — inquiri, ainda sem encará-la. — Você está louca? Como se atreve a fazer um showzinho desse diante de todos?! — ralhei.
— Acalme-se, Diabinho. — Riu. Ela estava realmente se divertindo com aquilo? — Não achou o vestido bonito? Eu o achei perfeito, foi amor à primeira vista, não tive como resistir; acabei o escolhendo — ela dizia com a voz doce. Movi minha cabeça e a fitei, ela já estava me encarando. Os lábios que há poucos minutos atrás eu beijei estavam em um arco, formando um sorriso. Evitei olhar para a parte abaixo de seu pescoço, precisava me concentrar e não ficar novamente com tesão ao admirar a beleza de minha querida esposa.
— Você não sabe com quem está brincando, não teste meu limite — discorri.
Ela se aproximou de onde eu estava, sua pequena mão subiu para meu maxilar e fez morada ali. Roçou o polegar sobre minha barba recém-feita e voltou a sorrir, os olhos cintilando em diversão.
— Eu não ousaria, querido. Que tipo de esposa eu seria, aliás? — Passou o dedo em meu lábio inferior. Repreendi-me internamente por ficar excitado com seu ato petulante. — Quis fazer uma surpresa para você, imaginei que gostaria de minha escolha, pois percebi que é uma pessoa que não curte muitas coisas convencionais. — Deu de ombros. — Afinal, você comprou uma esposa. Existe coisa menos convencional que isso? De certo, mais doentia não existe.
Em um ato súbito, peguei seu pulso que estava rente a meu rosto e o segurei.
— Você vai tirar essa coisa, agora.
— Não, não vou. — Persistiu no riso confiante e desafiador. Que mulher era aquela que eu tinha encontrado? — Que feio, Derek. Mal nos casamos e você já quer controlar sua esposa.
Sorri ao lembrar de algo.
— Então, já que você não quer trocar sua vestimenta antes de irmos para nossa viagem, vamos nos despedir dos convidados para irmos logo embora.
Ela franziu a testa e vacilou em sua postura. Magan puxou o braço em rompante, logo o liberei.
— Do que você está falando? Que viagem? — pediu. — Eu não vou para lugar nenhum.
Meu sorriso aumentou.
— Sim, querida, você vai. — Deixei meus olhos vagarem por suas vestes. — Os noivos merecem uma lua de mel. Mesmo não sendo uma pessoa convencional como você disse agora a pouco, eu não iria ousar quebrar a tradição.
— Derek, eu não vou p- — cortei sua fala.
— Isso não está em discussão, daqui a alguns minutos estaremos a mais de 30 mil pés de altitude, em um voo para Itália.
— Você é ridículo. RI. Dí. CU. LO — ralhou entredentes. — O que diabos iremos fazer na Itália? Tudo isso é uma farsa, não existe nenhuma lua de mel.
— Talvez eu esteja precisando de férias — expliquei, o que em parte não era mentira. — E a viagem fará tudo ser mais convincente.
O som de uma risada carregada de escárnio foi ouvido. Ela balançou a cabeça em um ato de reprovação e me deu as costas, começando a caminhar para o lugar onde tínhamos acabado de vir.
— Espere! — exclamei enquanto tirava meu terno e seguia seus passos apressados. Ela parou e me olhou com ódio. Estendi a peça negra e depositei sobre seus pequenos ombros. — Você pode até voltar para a frente de todos com essa coisa, mas não irei tolerar nenhum bastardo vendo seu traseiro, Magan.
— Eu te odeio tanto... — pregou, enquanto se afastava de mim, ainda usando meu terno.
— É uma honra, senhora Mitchell.
Evitei prestar atenção nos xingamentos que ela começou a desferir. Pelo menos não era só eu que estava irritado.
Voltei!
Sempre fico chocada com esses dois.
Tô curiosa para saber o que vocês acharam do capítulo kk.
Acredito que posso ter deixando alguns erros passarem nele, e peço desculpas por isso. Às vezes acabo não percebendo que repito as mesma expressões ou palavras durante os parágrafos kk além de alguns erros ortográficos, claro. Enfim, bugs da vida.
Espero voltar logo, logo com mais.
Ah... Também quero agradeçer pelas leituras, estou super feliz e sou muito grata a todos vocês, leitores, pela ascenção de N.A. São quase 16k! Obrigada, amores S2
©K. Lacerda
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