Capítulo 20 | Testes e Êxitos
Todos os meus sentidos se intensificam
Sempre que eu e você mergulhamos
Cruzei o oceano da minha mente
Mas no final eu me afogo
Você me empurra para baixo, para baixo
Toda a vergonha
Quando você chamou meu nome
Eu senti dor
Quando você veio
Can We Kiss Forever? | Kina (feat. Adriana Proenza)
Passei a mão na água cristalina da fantástica e extensa piscina. Logo percebi o alvoroço que foi formado por meu movimento, fazendo com que minha imagem abatida que era refletida na água sumisse. Era exatamente assim que me sentia. Em total embaraço. Entretanto, existia uma gritante diferença entre mim e a água: após o tormento, ela voltava a sua forma tranquila e serena, sem resquícios de sua bagunça passada, mas eu não. Meu estado era tempestuoso, confuso, totalmente desorganizado. Tudo o que eu tinha passado até agora não era igualável a perda de mamãe. Eu daria tudo, absolutamente tudo, para estar com ela naquele momento, aproveitando sua presença que me transmitia paz. O destino tinha pegado pesado daquela vez, me desarmou totalmente, e, diferente das merdas de antes, não havia alguém para jogar a culpar. Eu era a culpada.
Será que se eu tivesse ficando no Texas ela ainda estaria aqui?
Será que, ao sair de lá, eu joguei fora a oportunidade de aproveitar o amor da mamãe?
Eram esses meus questionamentos. Os "por quês" e os "e se" me sufocavam. Não tinha tais respostas. Não podia ter tais respostas. O que me restava era o amargo da incerteza.
Elevei minha cabeça e fitei a linda forma em que o céu se encontrava. A escuridão da noite dava lugar a exuberância e plenitude da lua iluminada que, com a ajuda de constelações, me proporcionava uma visão de tirar o fôlego. Um pensamento infantil me veio em mente. Eu imaginei que Margareth tinha se tornado uma estrela, uma dessas que brilhavam magnificamente, e que estava olhando por mim e pelo Jake. Poderia ser ridículo, mas isso aliviava um pouco a minha dor. Talvez tenha sido o plano de Deus para ela; sua hora havia chegado. Algo me dizia que ela estava bem, onde quer que estivesse. Entretanto, aquele pensamento, sensação, não fechava o buraco imenso que sua falta fazia em meu peito. Não era uma dor efêmera.
Já sentada na beirada da piscina, eu descruzei minhas pernas e coloquei meus pés dentro d'água, aproveitando o frescor que o contato me proporcionava. Olhei ao redor da área externa da propriedade Mitchell e confirmei que era a única ali, no relento da madrugada gélida. Observei mais atentamente, em busca dos seguranças que provavelmente observam cada milímetro do que ocorria aqui dentro, porém não vi nenhum por perto. Suspirei frustrada, balançando meus pés na superfície azulada que me lembrava os olhos intensos de Derek. Ele também tinha uma porcentagem em meu caos. Eu perdia o senso quando estava no mesmo ambiente que ele. Derek me deixava confusa, mas, às vezes, inexplicavelmente, proporcionava-me uma ilusória sensação de segurança. Era fodidamente irônico — ou até doentio —, eu sabia, ele era um ser obtuso, um homem misterioso, que me comprou para satisfazer um capricho, mas eu não podia negar o fato de que o mesmo mexia comigo. Um nó se formou em minha garganta ao lembrar-me de sua fala.
"E eu nunca matei ninguém que não merecesse morrer."
Eu não precisava de mais nada para constatar o óbvio: Derek Mitchell era um assassino. Não tinha me esquecido de suas ameaças veladas sobre meus amigos, minha família, todavia, eu tinha conseguido enxergar a verdade, a real gravidade da situação, ao ouvir tal confirmação vinda de sua boca. Por que um homem poderoso como ele precisaria matar pessoas? Acertos de contas? Prazer? Trabalho?
Um riso nervo escapou por meus lábios. Eu convivia com um assassino. Será que ele pode me matar a qualquer momento? Pensei. Talvez um dia o faça. Uma lágrima solitária teimou em descer pelo meu rosto. Fixei meu olhar no fundo da piscina e percebi que poderia acabar com a agonizante dor de uma vez. Rápido e fácil.
Por que você se foi, mamãe?
Tomei ar com força enquanto, ainda com o olhar fixado na profundidade da água, desabei em lágrimas. Um último suspiro foi dado antes de eu ser levada para baixo pela gravidade.
Eu afundei com minha tempestade.
Achei que já estava parando de sentir.
Eu me permiti parar.
Tinha a sensação de que estava perto. Iria, enfim, ser livre do destino.
E eu apaguei, literalmente afogando ao esquecimento de tudo e de todos...
H O R A S A N T E S . . .
Após sair do cômodo, busquei ignorar os xingamentos que, sem sombra de dúvida, eram desferidos a mim. Suspirei, em cansaço. Por que isso tinha que acontecer logo naquele momento? Com ela? E, a pergunta que mais atormentava minha mente, por que seu sofrimento me incomodava tanto? De certa forma, ela era apenas um meio para um fim, talvez um peão naquele complexo jogo. Entretanto, sua existência estava tomando uma significância para mim maior do que era previsto. Ela me tirava do sério, me desafiava, e, em situações como essa, Magan conseguia extrair de mim preocupação. Preocupação. Quando teria sido última vez em que eu havia sentido tal sentimento com algo que não fosse relacionado aos negócios? Anos? Sim, anos atrás... quando eles...
Engoli em seco, sentindo um amargo na boca. Esforcei-me para organizar os pensamentos, para não pensar naquele dia, o dia em que me vi sozinho. Era passado, e o passado sempre devia manter-se enterrado. Todavia, mesmo as tentativas de me manter centrado, era impossível não imaginar sua dor. Não recordar dos momentos de desespero. Eu tinha total ciência de como era perder tudo. E não era nada bonito. Olhando para porta recém fechada, questionei-me sobre as possibilidades de voltar naquele quarto e ampará-la, apesar de não saber ao certo como.
Idiota. Um pensamento idiota.
Por que eu faria isso? Por que eu pensaria em fazer isso? Chegava a ser um pensamento ridículo em níveis desacerbados. Além do mais, ela já tinha uma noção de quem eu era. O monstro. De fato, o melhor a fazer seria se manter distante. O melhor para minha sanidade e para ela.
Algo que também estava me incomodando era o fato dela ter sofrido abuso... Porra. Não sabia o porquê, mas eu queria ter tirado a vida do desgraçado com minhas próprias mãos, infligir dor no mesmo das diversas formas possíveis e fazê-lo se arrepender por ter ousado por suas mãos sobre nela.
Quando cheguei enfim na sala encontrei Muller de pé, encarando o horizonte pela grande janela de vidro, enquanto mantinha os braços cruzados. Ainda que minha chegada fosse silenciosa, tinha a plena certeza de que ele já tinha ciência de minha presença, mesmo que estivesse de costas para mim. Eram reflexos de um bom soldado.
— Como ela está? — indagou com uma voz baixa e inexpressiva. Ergui uma sobrancelha, estranhando a pergunta. Poderia dizer que estava surpreso por sua fala.
— O que está fazendo aqui? — pedi, demonstrando uma certa impaciência. Por que diabos ele iria querer saber sobre ela? Já não bastava o idiota do Jacob? Maldição, praguejei internamente enquanto balançava a cabeça em um movimento negativo.
— Como ela está? — retrucou novamente, ignorando minha indagação anterior.
Desloquei-me entre o ambiente e me dirigi até a mesa de bebidas na lateral da sala. Sim, era daquilo que eu precisava: álcool.
— Vai ficar bem. — Pelo menos era o que eu esperava. Adicionei o líquido âmbar no copo e rapidamente ingeri o conteúdo. O amargo foi bem-vindo.
— Já sabe sobre tudo o que aconteceu? — continuou, para o meu total descontentamento.
— Por que você se importa? — Encarei suas costas após depositar o copo vazio na mesa a qual me encostei.
Dante se manteve em silêncio por um tempo, o que só me deixou mais inquieto internamente. Sua atitude podia ser considerada uma anomalia, já que nunca o vi se importar com o bem estar de ninguém antes. Após a pausa, o silêncio se fazendo presente no ambiente, ele se virou para mim. Manteve os braços cruzados. Muller sempre foi um sujeito intimidador. A fisionomia sombria e imponente lhe auxiliava nesse feito, entretanto, não era apenas isso. Sua casca externa não chegava aos pés de seu interior atro. Uma alma veterana.
— Você também se importa. — Ouvir isso vindo de outra pessoa só me fez chegar à conclusão de que precisava resolver aquela situação urgentemente.
O fodido empecilho seria descobrir como.
— Não é isso que está em discussão — rebati, rude.
— Fugir nem sempre é a melhor solução, Mitchell. Isso é muito diferente do que lidamos, você sabe. — A voz rouca e calma. Sim, eu sabia perfeitamente.
— O que veio fazer aqui? Dar-me aulas sobre sentimentos? — desdenhei. Aquela era a última coisa que eu queria fazer naquele momento, já estava farto.
— Não. Não sou a pessoa mais indicada para isso. Só... — cessou a fala, como se estivesse selecionando as palavras certas. — Queria saber como ela estava, apesar de eu não saber o porquê desse anseio.
— Vejo que não foi apenas Jacob que se afeiçoou a ela. — Minha voz saiu áspera. Mais até do que eu queria.
— É evidente que ela é uma bela mulher. Atraente. — Os olhos, que sempre eram opacos em sua expressão, cintilavam em malícia. Só consegui ver vermelho. — Na cama deve ser... — Ele não terminou sua fala, pois, no segundo seguinte, após eu ter atravessado todo o espaço que nos separava, eu estava com as mãos sobre a gola de sua camisa com força. Minha paciência se esvaiu.
Eu suportara Jacob com seus flertes, afinal, ele era apenas um idiota promíscuo que tinha como hobby a pretensão de me irritar. Mas Dante... Aquela era a primeira vez que eu o vi falando sobre alguma mulher. Demonstrando interesse. Foda-se, poderia ser com qualquer outra, mas não ela. Magan, não.
— Não ouse sequer pensar nela. — As palavras fluíram lentamente, mas, se fossem armas, poderiam ter o reduzido a pó.
— Essa foi a resposta para confirmar minha tese. Acho que já pode me soltar. — Encarei seu rosto duro, já sem qualquer sinal da malícia anterior... a implicância. Era apenas um teste. E eu, como um idiota, caíra. Tirei minhas mãos de cima do mesmo, soltando-o com violência.
— Joguinhos? Você é um fodido, Muller. Um maldito fodido — retruquei, apesar de saber sua real intenção. — Eu poderia ter te matado, aqui e agora. Ainda quero.
— Não reclame. Apenas abri seus olhos. Esteja mais atento, isso pode ser perigoso, e — virou a cabeça para cima, em direção as escadas — ela não merece sofrer mais. Talvez isso esteja girando em torno de algo que vai muito além de um filho. — Ouve um momento de pausa. — Quando mal administrados, sentimentos podem ser armas fatais, mortíferas. Umas das quais nem eu e muito menos você temos pretensão de fazer uso. Não sou fã de autoflagelação.
Não precisava ouvir nada daqui. Era minha filosofia. Tinha total noção do problema. Mas talvez estivesse esquecendo de que poderia ser pior do que imaginava.
— Vá embora. — Dei as costas ao mesmo e fui em busca de mais bebida.
— Erick Kyler não existe, ou pelo menos não é quem estamos buscando. Minha equipe achou e pesquisou a fundo sobre diversas identidades, entretanto, pelo o que vi, esse não é nosso homem. Não encontrei nada que nos levasse a algum caminho sólido através das transações efetuadas nas contas dos integrantes do ataque, tudo era fachada. Talvez isso tenha sido apenas um saque, mas ficaremos atentos. Assim como você, também não gosto de surpresas. Estamos de olhos abertos em relação ao traidor que está em nosso meio, pararemos apenas quando eu tiver o ceifado. — Isso foi tudo o que ouvi após o som da porta do hall batendo ecoar no ambiente.
Depois de esvaziá-lo, atirei o copo com força no espelho, estraçalhando ambos. Mais aquilo. Mais problemas. Rapidamente subi para minha suíte, tirei a roupa a qual passei todo o dia e vesti uma calça moletom. Desloquei-me para a academia da mansão. Precisava socar algo. Precisava descontar toda aquela fodida tensão.
Hello!
Vim presentear vocês com esse capítulo tenso.
Alguém esperava por isso?
Me digam o que estão achando do rumo da história, me encontro curiosa S2.
Novamente agradeço por acompanhar a obra. E novamente peço para que deixe seu voto kjknkk Sim, sou uma pobre autora que gosta de pedir.
Até breve, amores
©K. Lacerda
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