Capítulo 2 | Um Murmúrio de Socorro
Me ajude
É como se as paredes estivessem desmoronando
Às vezes, sinto vontade de desistir
Mas eu não posso
Não está no meu sangue
Shawn Mendes |In My Blood
Olhei de relance para minha mãe que estava com um semblante abatido. Sabia que ela sofria com toda aquela situação de conflito entre nós, e aquilo doía em mim. Não queria lhe causar dor. Por Deus, não.
Deixei os dois submergidos em pensamentos e saí em silêncio, me dirigindo para o quarto de Jack, ainda a tempo de consegui ouvir um murmúrio da fala de mamãe. Encontrei meu irmão ao lado da janela, observei que seu corpo estava rígido. Tinha a certeza de que ele estava com pensamentos assassinos direcionados ao Maison.
Embora às vezes tivesse suas explosões e discussões com o papai, Jack o amava e estava decepcionado com suas atitudes. E não era apenas ele.
Aproximei-me lentamente, em silêncio, e o abracei por trás. Ele e a mamãe sempre foram meu refúgio.
— Vai ficar tudo bem. Vamos dar um jeito nisso — garanti, tentando transmitir uma veracidade ilusória em minha fala. Eu mesma não tinha convicção em minhas próprias palavras.
— Isso não é apenas mais um dos caprichos do papai, Mag. Você viu, ele está irredutível — respondeu enquanto ainda olhava para a visão do horizonte além da janela.
Bufei, frustrada. Eu tinha a plena ciência de que realmente não seria fácil reverter aquele mal.
— Eu não quero isso para mim, nem ao menos suporto estar no mesmo ambiente que o Maison. — Engoli em seco, afastando de minha mente a ideia de conviver com aquele homem. — Por que o papai está fazendo isso comigo, me torturando? — sussurrei.
Ele enfim se virou para mim e contornou meu pequeno corpo com seus braços fortes em um abraço acolhedor.
— Eu não sei, essa não é a primeira decisão ruim e incabível que ele toma. Nosso pai tem estado diferente de uns tempos para cá. Mas dessa vez ele passou dos limites.
Refleti sobre suas palavras, percebia facilmente a considerável mudança. Papai sempre foi amoroso e carinhoso com a gente. Assim como mamãe, ele sempre priorizava nossa felicidade, apoiava escolhas e sonhos. No entanto, toda essa aura amorosa dele sumiu de uns anos para cá. Não sabíamos ao certo o porquê, mas, com certeza, aquilo devia ter alguma explicação.
— O que acha que ele tem? O que aconteceu para sua mudança repentina? — indaguei, ainda mantendo o contato terno.
— Não faço a mínima ideia, mas irei descobrir e resolver essa merda fodida. Não consigo ao menos pensar em você no mesmo ambiente que aquele crápula. — Ele me apertou mais. — Eu preferiria mil vezes você se casar com o babaca do Maicon McCoy do que com o pedaço de merda do Reagan.
Ri de sua comparação. Maicon McCoy era meu colega no colegial. Sempre fora carinhoso e prestativo comigo, mas, além de meu irmão possessivo em meu encalço, ele era um pouco meloso e insistente demais. Céus, o garoto poderia ser um completo grude às vezes. Preferi me afastar e cortar contato com ele antes de ser mais um a entrar para lista negra de Jack.
— Eu também preferia. Pelo menos ele era um bom rapaz — impliquei, abafando um riso.
Ele se afastou e me olhou com uma carranca típica e bem conhecida, enquanto revirava os olhos. Bingo.
— Eu não falei sério — disse, fazendo uma careta. — E você sabe esse não é meu assunto preferido — falou sem humor.
Após um tempo, aquela virou minha implicância preferida.
— Você é um idiota, fala como se não tivesse fodido quase todas as meninas do colégio. Não imagina como era ter minhas amigas suspirando por você e desejando tê-lo entre suas pernas — falei, com uma expressão enjoada.
Ele fez novamente uma careta semelhante a anterior.
— Isso não é um assunto para discutir com minha irmãzinha mais nova — disse. — E não me faça lembrar das baboseiras que meus amigos falavam de você. "Eu daria tudo por uma chance com ela" ou "Nossa, como sua irmã é gostosa". — Sua imitação horrorosa era cômica. — Toda essa merda era irritante.
— Você sabe que um dia eu vou transar, certo? Casar-me, lhe dar sobrinhos fofinhos e ter um marido gostoso — falei, mantendo a pirraça. A vingança poderia ser doce, sim.
— Eu prefiro não imaginar isso. Não quero criar a imagem em minha mente de minha irmã fazendo um filho. — Fechou os olhos, balançando levemente a cabeça em seguida, demonstrando negação. — Merda. Posso viver sem isso.
— Certo, certo. Não está mais aqui que falou. — Cessei com a brincadeira, mas o clima ainda continuou divertido.
Jack voltou a me abraçar. Passamos um tempo em silêncio viajando em pensamentos diferentes — ou nem tão diferentes assim. Cada segundo em que mergulhava em minha mente, eu temia por minha desgraça iminente.
— Eu nunca irei te deixar nas mãos dele, Mag. Você tem minha palavra — sussurrou, beijando o topo de minha cabeça.
Suspirei, me permitindo não pensar no pior.
— Eu sei. Te amo, babaca. — Senti seu riso.
— Eu também me amo, pirralha.
Bastardo convencido.
Dei um tapa em seu braço e ele tentou se esquivar enquanto ria.
— Eu te amo, maninha. Vamos dar um jeito nisso, reverter a situação, eu prometo — disse, por fim. Jack iria dar seu melhor, ele iria se arriscar por mim.
Sorrindo docemente para ele eu me permiti esquecer por míseros minutos os problemas que me perseguiam.
À tarde, saí do quarto e desci as escadas indo em direção à sala. Mas, quando me aproximei do cômodo, tive uma surpresa desagradável em demasiado. Meu estômago embrulhou ao dar de cara com Maison ao lado do papai com um sorriso nojento e costumeiro no rosto.
— Filha, Reagan veio discutir o dia e os detalhes do casamento. — Fechei violentamente os olhos, buscando paciência e até mesmo calma para enfrentar aquilo. Mas o que eu realmente queria era explodir em fúria.
— Olá, princesa. Como está? — Eu o odiava mais a cada segundo.
Quando abri meus olhos e o encarei, observei que Maison fitava meu corpo como um pedaço de carne em exposição. Criei uma armadura para não deixar me levar pelo o asco que eu sentia daquele homem. Precisava me controlar, não podia mais ser uma menininha assustada que corria para a mãe sempre que sentia medo. Engo li o nó que se formou em minha garganta e o respondi ácida:
— Pior impossível — falei, apenas.
Maison era um homem alto, mas talvez um pouco menos que Jack, eu arriscaria dizer. Possuía um corpo musculoso, tinha uma fisionomia impactante, e, mesmo o odiando com todas as minhas forças, eu não poderia negar sua beleza. Estava vestido com uma calça jeans escura e usava uma camisa social azul que o deixava elegante, com ajuda do jeito bem arrumado que o cabelo castanho estava.
Meu pai, que até agora nos observava em silêncio, resolveu se manifestar.
— Vou deixar vocês a sós. Com licença.
Observei-o sair da sala sem ao menos olhar para trás, me deixando sozinha com a última pessoa com quem eu queria estar próxima. Sério que ele tinha feito isso? Claro, Mag, tanto fez como também está te forçando a se casar com o diabo.
Como eu disse antes: pior impossível.
Saí de meus devaneios com a voz irritante ao meu lado. Como diabos ele tinha chegado tão perto?
— Estava morrendo de saudades de você, meu amor. Mal espero o momento em que finalmente irei ter você ao meu lado, em minha casa e em minha cama.
— Eu prefiro me matar a deixa você me tocar. Meu irmão te mataria antes, cretino. — Eu travava uma batalha interna com seus olhos azuis que transbordavam em divertimento.
— Seus adjetivos amorosos me comovem, amor. — O canto de seus lábios se elevou, evidenciando o surgimento de um riso. — Aquele seu irmãozinho idiota deveria simplesmente aceitar nosso amor e não entrar em meu caminho caso ele dê valor a vida.
— Você não vai fazer nada com o Jack ou eu mesmo irei te matar!
— Esse seu jeito selvagem me deixa duro, princesa. Você não faz ideia do quanto te desejo. — Ele me olhava com malícia, o que me causava náuseas.
Fez um gesto para me tocar, mas me esquivei imediatamente de suas mãos asquerosas.
— Se ousar me tocar eu corto esse lixo que você tem no meio das pernas — ralhei entredentes.
— Eu sei que no fundo você deseja o mesmo enterrando em sua boceta.
Puta merda, aquele homem era um completo doente.
— Eu tenho certeza que você não gostaria de saber o que eu realmente quero fazer com você, Maison.
Oh, sim. Estrangulá-lo de todas as formas possíveis.
Ele apenas riu e se aproximou de mim, rápido demais para eu conseguir me esquivar do contado de seus lábios com o meu. Não, não, não. Ele não fez isso! Mal raciocinei direito e logo estava sentindo minha mão arder como resultado do tapa certeiro que eu havia dado em seu rosto.
— NUCA MAIS ME TOQUE, MONSTRO! — esbravejei, não contendo mais a raiva que me dominava.
Ele passou a mão na marca vermelha de meus dedos que se formava em sua face e me olhou puxando um sorriso macabro de lado.
— Estou contando os segundos para poder domar você, princesa. — Colocou uma das mãos no bolso da calça e continuou a me fitar. — Terei que ir embora agora, infelizmente. Nosso casamento será no segundo domingo do próximo mês em minha, e futuramente sua, casa. Se prepare, amor. — Deu sua maldita sentença e me deixou sentindo o peso dilacerante das palavras.
Será esse meu destino?
Senti mãos delicadas me abraçarem e enfim tomei ciência de que estava trêmula e com o rosto banhado em lágrimas. Minha mãe me abraçou mais forte e acariciou carinhosamente meus cabelos de forma afável.
— Eu não vou deixar esse homem chegar perto de você, querida. Eu e seu irmão vamos te tirar daqui. Nunca me conformaria em ver você infeliz ao lado dele. Céus, eu preferiria a morte.
Chorei em seus braços enquanto a apertava firme. Meu refúgio.
— E-eu não posso, mamãe, eu não posso.
— Você não vai, amor. Eu e o Jack vamos te ajudar a fugir e ir em busca de seus sonhos — sussurrou em meu ouvido, mas eu fiquei confusa.
Elevei a cabeça e a encarei com uma esperança que não sabia que ainda possuía.
— Vocês o quê?
— Seu irmão falou comigo hoje, ele estava procurando uma maneira de conseguir te ajudar. Eu lhe dei a ideia de que poderíamos ajudá-la a fugir para Nova Iorque para enfim conseguir ingressar em uma faculdade, ter sua independência por lá.
Encarei-a, confusa.
— Mas, mamãe, eu pensei que a senhora apoiava meu pai nessa maluquice.
— Peço desculpas por não lhe defender antes, querida, eu apenas não gosto de ir contra seu pai, questioná-lo, você sabe como ele é. Mas dessa vez ele passou de todos os limites. Você é minha filha, meu bebê, sua felicidade é a minha, meu bem. — Olhou-me com a ternura de mãe. Eu a amava tanto.
Chorei mais ainda com suas palavras.
— Eu te amo, mamãe. Obrigada por não me abandonar.
— Nunca, meu amor.
Hello!
Mais um capítulo entregue.
Alguém, além de mim, já odeia o Maison?
Será que a morena irá conseguir fugir?
Deixe seu voto, é muito importante para mim!
Até logo.
©K. Lacerda
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