Capítulo 16 | Amores Inverídicos
Me chame de rebelde, rebelde
Eu ando na prancha, nem uma lágrima em meu olho
Eu não vou me tornar sua esposa coroada
[..] O que te faz tão especial, especial
Para pensar que eu cederia
À essa dança entre você e eu diabo, diabo
Devil, Devil | Milck
Era hoje.
Infelizmente, hoje era o dia em que eu oficialmente me tornaria a noiva de Derek Mitchell. Sonho de várias, mas, definitivamente, não era, nem de longe, o meu.
Haviam-se passado alguns dias desde minha chegada aqui. Com exceção da governanta Malia, que se demonstrou ser uma ótima companhia, eu buscava me manter afastada de todos. Passava horas no quarto fazendo vários nadas ou ia para biblioteca, em busca de viagens por meio de livros. Raramente via o Derek, uma vez que eu não queria estar em sua presença. O porquê disso não era vergonha de nossos "momentos". Não. O real motivo para eu estar me esquivando a todo momento era o medo que tinha de ceder às suas investidas, provocações. Meu corpo se mostrava traidor à minha mente, isso era óbvio, então eu tinha que estar mais preparada para não parecer uma adolescente idiota toda vez que ele estava tão perto, porque eu sabia que ele não cessaria suas investidas até chegar ao seu objetivo: o filho.
Era muito difícil para mim entender por que um homem como ele, tão lindo e bem sucedido, simplesmente não procurava um relacionamento normal ou outra forma sensata e aceitável para conseguir isso. Sem compra, prisão, ameaças, apenas amor, ou até mesmo conveniência, ambição.
Como eu era o azar em pessoa, meu plano de ignorá-lo foi de água abaixo nessa noite. Nesse exato momento eu estava na enorme sala da casa de Mitchell, direcionando sorrisos falsos para pessoas irritantes que eu nunca vi em minha vida. Àquela altura, meus pés já estavam doloridos por causa do salto agulha, o vestido longo e apertado me deixava inquieta. E tinha a pior parte: suportar e tentar não se abalar com a presença de Derek ao meu lado a todo momento.
Ele simplesmente não saía de meu encalço. Estava, desde o início dessa festa entediante, me fazendo bancar a noiva apaixonada. Suas palavras antes de descermos para receptar os convidados foram:
"Convença a todos que é minha noiva e que me ama, eu realmente não estou com a mínima vontade de matar ninguém hoje."
Mais amigável impossível, não?
Derek estava perigosamente lindo e atraente com um smoking feito sob medida — que com certeza valia bem mais que meu rim. Era uma boa distração para as mulheres que jaziam naquele ambiente, os olhares desejosos e indiscretos confirmavam isso. Chegava a ser enjoativo toda a atenção que ele tomava por onde passava.
Algo que me deixou confusa foi sua reação ao ouvir os elogios que eu recebia e notar os olhares que seus "amigos" e sócios direcionavam a mim durante as apresentações as quais fui submetida. Era sempre divertido assistir uma carranca preencher aquele rosto perfeitamente esculpido. A fodida cereja do bolo era suas mãos grandes não saíam de meu corpo por um mísero segundo, de forma possessiva. A fricção de sua pele com a minha me causava sensações esquisitas, enervantes. Seu perfume inebriante também me atormentava.
— E então, Mitchell, como vocês se conheceram? — Voltei à realidade ao ouvir a voz irritante da esposa de um dos convidados, que por nenhum momento tirava o olhar de interesse do homem ao meu lado.
Contive o ímpeto de rolar os olhos diante daquilo.
— Tivemos um imprevisto no trânsito e não fomos tão amigáveis um com o outro — ele discorria naturalmente. — Dias depois eu a encontrei em uma de minhas boates e tive a oportunidade de conhecê-la melhor, e o resto foi inevitável: acabamos apaixonados. — O modo como ele falava era tão convincente que, se eu não tivesse passado um mês inteiro naquele lugar, teria facilmente acreditado naquelas palavras.
Para selar sua mentira descarada, ele me olhava de forma apaixonada, ignorando o olhar mortal que por vezes eu deixava escapar. Às vezes era impossível conter a ira.
— Você é uma mulher de muita sorte, Magan — a mulher disse, enfim me encarando. Eu mal lembrava de seu nome, e também não fazia questão de o fazer.
— Sim, eu sou muito sortuda. — Entrei no jogo, assumindo meu papel de fingida.
Então, com intuito de reforçar meu teatro, passei a minha mão direita de forma carinhosa no peitoral de Derek — também tentando evitar a sensação agradável de sentir seus músculos firmes sob minhas mãos —, enquanto o olhava de forma amável.
Mal sabem eles que já desfigurei seu rosto perfeito e estrangulei seu pescoço diversas vezes mentalmente.
— Perdoem-me pela intromissão, senhores, mas eu preciso falar com você agora, Mitchell. — Uma voz grossa e intensa nos tirou da conversa chata que ali se estendia.
Movi meus olhos para o lado adjacente a Derek e vi um homem com um semblante sério. Era absurdamente bonito, assim como também exalava elegância e imponência. Era bem alto, assim como Derek, tinha os cabelos em um tom marrom escuro, os quais estavam alinhados em um penteado elegante. Seus olhos eram banhados por um verde sutil, mas ainda assim beirando o castanho. Usava um smoking que evidencia seu corpo em forma. Ele passou os olhos para os presentes ali e depois os parou em mim. Continuou impassível, o rosto simétrico se manteve inelegível.
Derek, então, virou-se para mim e começou a falar de forma doce:
— Preciso me ausentar de sua companhia, querida — explicou enquanto tirava a mão que jazia sobre minha cintura. Até que enfim. — Logo estarei de volta para você.
Conseguia ler a mensagem que seus olhos transmitiam, era a deixa para que eu ficasse comportada durante sua ausência.
— Não demore, amor. — Sorri meiga em sua direção.
E foi então que ele me surpreendeu, selando nossos lábios em um beijo casto. Fiquei sem reação enquanto assistia ele sair dali acompanhado daquele desconhecido.
Qual a necessidade disso?
De maneira rápida e nada cordial, pedi licença ao casal à minha frente e marchei em direção ao lavabo, indo em busca de espaço. Precisava sair desse ar de falsidade e superioridade ao qual estava cercada, era malditamente sufocante.
Mas a mão, que do nada puxou meu braço, atrapalhou meus planos.
— Quem você pensa que é para ficar em cima de meu Derek? — ouvi. Era uma voz estridente e fina que indagava de forma evidentemente aborrecida.
Eu mereço.
Virei-me, juntando paciência das profundezas de minha alma, e encontrei uma morena me fuzilando com o olhar. O tom vermelho de seu vestido curtíssimo condizia muito com a expressão irada que tomava seu rosto bonito.
— Perdão... — comecei — mas quem é você, querida? — Mesmo irritada, eu não podia negar que aquela situação ridícula beirava o cômico.
— Emmy Clark— falou com superioridade. Franzi o cenho sem saber ao certo o que dizer — A namorada do homem que você está se esfregando durante toda a noite — rosnou.
Certo, poderia até ser cômico, mas também era trágico. Como ela se submetia àquilo?
— Desculpe, Emmy — falei vagarosamente, buscando as palavras certas —, mas eu acho que seu Derek ainda não sabe desse relacionamento que você diz manter.
— Escute aqui, vadia- — Percebendo o rumo daquilo, decidi interferi seu discurso irritante de garota de ensino médio rapidamente.
— Eu espero que você nunca mais me chame de vadia ou eu deixarei de ser tão cordial e paciente com você, querida — disferi as palavras vagarosamente, deixando seu rosto mais vermelho, em fúria.
— O que está acontecendo aqui?
Jacob saiu de Nárnia diretamente para cá, evitando que eu cometesse um homicídio.
— Nada, só estava conhecendo a Emmy. — Meus lábios formaram um sorriso falsamente doce.
Ele me olhou desconfiado, ergueu uma sobrancelha e me deu um olhar de "sério que você quer que eu acredite nessa merda?".
— Certo, garotas. — Conteve a diversão que queria tomar seu rosto. — Mas infelizmente preciso atrapalhar as apresentações. Derek está procurando você, tenho que levá-la até ele — disse-me. E dessa vez ele não conteve o riso.
Eu não conseguia ter um minuto de paz?
— Certo, vamos. — Voltei meu rosto para a morena que me importunou e dirigi outro sorriso para ela. — Foi um prazer te conhecer, Emmy, mas meu Derek me espera. Com licença.
Saí puxando Jacob, que estava se divertindo a pacas da situação ridícula em que estávamos.
— Meu Derek? — debochou, em meio a risos. Ele já estava ao meu lado enquanto andávamos entre os convidados.
— Foi maravilhoso ver a cara azeda dela ao ouvir minhas palavras. — Agora era minha vez de rir. —Obrigada por me salvar daquela cena infantil, não sei até onde minha paciência suportaria.
— Você pode me agradecer me dando o número daquela loirinha gostosa — apelou, enquanto observa as pessoas que nos cercavam.
— Se você ao menos pensar na Anne, eu corto suas bolas — ameacei, lançando um olhar mortal para o homem gigante ao meu lado.
— Certo — resmungou. — Sem amigas gostosas. — Rolou os olhos.
— Isso. — Segui em direção ao local onde encontraria bebidas e ele me olhou confuso. — Antes de voltar para aquela farsa, eu preciso de álcool — expliquei, enquanto pedis ao garçom algum drink. — Muito álcool.
Engoli o líquido transparente de uma vez só e depois encontrei um Jacob assustado com minha ação.
— O que? — Banquei a desentendida.
— Pega leve, gatinha. — Ergueu as mãos, evidenciando sua fala. O movimento fez seus bíceps se mexerem por baixo da camisa branca que ele usava. Mesmo estando com roupas formais, ele ainda possuía a aura de bad boy, talvez fosse pelas as mesmas estarem mais despojadas que as dos outros homens que ali estavam. — Aposto todas minhas fichas que seu noivinho não ficaria contente se você passasse um vexame hoje — falou, acompanhando-me na bebida.
Ri de seu pensamento enquanto pedia mais ao garçom.
— Depois dessa festa chata, eu te desafio a algumas garrafas dessa belezinha aqui. — Ergui o queixo em direção à garrafa de uísque próxima à mesa.
— Será maravilhoso te ver bêbada. — Diversão cintilou nos olhos azuis.
— É o que veremos, querido.
Ele apenas balançou a cabeça em divertimento e me puxou em direção ao centro da sala, provavelmente onde Derek estava naquele momento.
Encontrei-o com o mesmo homem de mais cedo, ele falou alguma coisa para o sujeito e depois veio em minha direção, me puxando pelo braço para perto de si.
De novo, não.
— Senhores — ele falou um pouco alto, chamando atenção das pessoas que ali estavam —, peço um minuto de sua atenção. — Engoli em seco.
Puta que pariu, é agora.
"Há algum tempo, eu conheci uma mulher maravilhosa. — Olhou-me apaixonadamente enquanto falava. Falso. — A princípio, nosso primeiro encontro não foi tão agradável. Acreditam que ela me chamou de idiota e de ogro, enquanto, literalmente, parava o trânsito? — As risadas foram ouvidas por todo ambiente. E foi a partir daí que ele começou com a chuva de mentiras. — Naquele dia eu não sabia ainda, mas estava conhecendo o amor da minha vida. Minha alma gêmea. Seu jeito de ser, que se alterna entre irritadiço e doce, me encanta constantemente. O sorriso perfeito, seu cheiro de flores, a voz linda, fizeram com que eu me rendesse de amores por ela. Não canso de dizer que a amo a cada dia que acordo com ela perto de mim, e isso só me faz ter uma certeza: eu quero passar o resto da minha vida ao seu lado, Mag. — Ele retirou uma caixinha de veludo do bolso e ajoelhou-se à minha frente. Merda. Merda. Merda quádrupla. Vi Mitchell abrir o objeto vermelho e admirei a beleza do anel que se encontrava lá dentro, a pedra magnifica brilhava em contraste com a luz. Porra. — Magan Thompson, você aceita se casar comigo?
Não!
— Claro que sim, meu amor. — Esperava que o sorriso de orelha a orelha estampado em meu rosto convencesse a todos que eu estava emocionada com essas palavras fajutas.
Eu mereço um óscar. Não por seguir com o teatro, mas por me manter sã diante de tamanho gatilho. Eu poderia estar nessa mesma situação se não estivesse aqui, mas com o Maison. Não consegui distinguir entra as duas situações qual seria a pior.
Derek sorriu, encarando-me de forma profunda, pegou minha mão esquerda e colocou com delicadeza o anel com a enorme pedra incrustada em meu anelar, depois levantou-se e me puxou para um beijo enquanto nos ovacionavam.
Fiquei estática.
Não era um como o de minutos atrás. Não mesmo. Era um beijo de língua. Mais absurdo que isso era eu estar correspondendo. Eu estou beijando o Diabo. Nossos lábios selados, sua língua pediu passagem e eu cedi, mesmo sabendo que era errado, a boca quente tinha o gosto de menta e uísque. Então, nossas línguas dançaram em uma sincronia deliciosa. Fechei os olhos. Aquilo era único, assim com também era obscuro por carregar tantos significados e sentimentos que jaziam guardados e ignorados. O contato íntimo, moldado por movimentos árduos e, ao mesmo tempo, degustadores, era indescritível. Naquele beijo ele reivindicava meus lábios com necessidade, possessão. As malditas borboletas voltam em minha barriga.
As palmas e o barulho dos convidados me fizeram recobrar o juízo. O que eu estava fazendo? Afastei-me dele discretamente, depositando as palmas de minhas mãos em seu peito e exigindo espaço de forma subentendida. Quando abri os olhos, encontrei Derek me observando com um brilho pecaminoso na face. Seus lábios estavam avermelhados pelo momento passado, a respiração levemente desregular. Desviei a visão para os que nos assistia, tentando me recompor e recuperar minha dignidade. Depois de nossa ceninha, várias pessoas vieram nos parabenizar pelo noivado, enquanto eu apenas rogava para que essa palhaçada acabasse de vez, assim eu poderia sair de perto desse homem.
— Essas pessoas não vão embora nunca? — sussurrei discretamente para ele, com uma irritação contida.
— Já está quase acabando — falou, me puxando com a mão que estava sobre minha cintura, para ainda mais perto de si. Isso é mesmo necessário? Eu sabia que não.
Mas não estava "quase acabando". Só após uma longa hora retribuindo sorrisos e suportando o meu rosto dormente de tanto sorrir sem motivo, todos foram embora. Bom, quase todos.
— Você está me devendo umas doses de uísque, gatinha — Jacob disse, seu corpo esparramado no sofá.
— Gatinha? Você está chamando minha mulher de gatinha? — Derek indagou, debochado.
Minha mulher?
Aquilo era o cúmulo.
— Eu realmente adoraria secar essas garrafas caríssimas de uísque com você, Jacob, mas tudo que eu quero agora é uma cama — eu disse enquanto tirava meu salto. Soltei um suspiro ao estar livre daquilo.
— Eu também posso te acompanhar nessa, baby — insinuou-se, movimentando as sobrancelhas sugestivamente. Foi impossível não rir de sua idiotice.
Apesar de ainda estar com o pé atrás em relação à Jacob, eu estava começando a me sentir bem em sua presença. Mesmo que falasse merda na maioria do tempo, ele era, aparentemente, uma companhia agradável.
Antes que Derek o matasse com as próprias mãos, o senhor Estou de Mau Humor interviu sua brincadeira.
— Como consegue ser tão idiota? — resmungou com sua voz rouca e marcante, sem ao menos o encarar. Ele estava sentado sobre uma poltrona negra próxima a Jacob.
— Se não percebeu, Dante, você está atrapalhando meu flerte, caralho — rebatou, falsamente inconformado.
Dante era seu nome?
Até mais — cantarolei para Sullivan ao seguir em direção às escadas, mas, antes de me retirar, olhei para o meu noivo, que estava quase espumando de raiva pela boca, e decidi implicar. Aproximando-me, toquei na gola de sua camisa, sentindo um mínimo contado com sua pele, e, levemente, o puxei para mim, ergui meu rosto e aproximei nossos lábios ao ponto de um beijo — Tenha uma boa noite, amor — sussurrei, puxando meus lábios em lasciva. Tão rápido como me aproximei, eu me afastei de sua presença e lhe dei as costas com indiferença.
Nem precisei olhar para trás para saber quem era o dono da gargalhada grave que rasgou o ambiente antes silencioso.
Idiotas.
Ao entrar no quarto solitário, selei minhas costas na porta e fechei os olhos, suspirando pesadamente. Automaticamente o flash do beijo de momentos atrás invadiu minha mente. A sensação de tê-lo tão perto foi deliciosamente provocante. Mordi meu lábio inferior, nervosa.
Será que, se estivéssemos sozinhos, eu teria o parado?
Será que estava me tornando uma pessoa desprezível por sentir essas coisas sempre que estava perto dele?
Perguntas deixadas sem respostas me deixavam amedrontada, sufocada.
Outro capítulo entrege kk.
Vimos que Derek é um excelente ator, a globo chora no banho por não ter ele na novela das nove. As coisas aqui só ficam mais tensas, hein?
Obrigada por ler! Se gostou do capítulo, deixa seu voto S2
Bye!
©K. Lacerda
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