Capítulo 14 | Tentada Pelo Pecado
Não tenho motivos
Tudo que eu não sei
Diga-me que você precisa
Diga-me para levar para casa
Tudo o que eu estou pensando
Querendo saber para onde iremos
You? | Two Feet
Abri os olhos lentamente, para depois constatar que havia dormido na banheira. Elevando meus dedos que estavam depositados sobre minha coxa, percebi que os mesmos estavam enrugados após o tempo em que permaneci aqui. A água já estava fria e não mais naquela temperatura deliciosa. Xingando por ter caído no sono daquele jeito, saí da banheira e peguei um roupão branco que jazia ali próximo.
Ao retornar para o quarto, avistei Lindsay saindo da porta que dava acesso ao closet do quarto, ela tinha em mãos várias sacolas de roupas de grife, aparentemente todas vazias. Seu rosto ficou duro ao me notar, e ela logo falou:
— Todas suas compras estão no closet, senhorita — falou, maneando a cabeça em direção à porta do mesmo. — Caso precise de algo, solicite-me. — Apesar de estar se disponibilizando, eu conseguia ler através de sua expressão que ela não estaria nada feliz em atender nenhum pedido meu.
Também não era como se eu quisesse estar em sua companhia.
Acenei com a cabeça após ouvir seu pedido de licença e acompanhar com os olhos seu trajeto para fora do quarto. Bufando em frustação, adentrei na porta entreaberta e me deparei com toda a organização de Lindsay. Todas roupas e sapatos, assim como também os acessórios, estavam devidamente separados e alinhados em ordem de cores, tipos e tamanhos. Movendo meu olhar por tudo aquilo no interior daquele cômodo espaçoso, pude constatar que aquela realidade era totalmente contrária à minha antiga vida. Tantas... coisas, o luxo em excesso não combinava comigo, talvez até chegasse a me irritar.
Precisava de uma peça para dormir, então fucei entre as gavetas até encontrar os conjuntos que buscava, e, ao encarar as opções, tive a certeza de que deixar Aust escolher tudo foi um grande erro. Todas as peças eram ousadas, os tecidos finos de seda eram reveladores demais para meu gosto. Contento o ímpeto de esganar meu amigo, acabei por escolher a única camisola quase comportada que havia ali e a vesti, para depois ir para cama para dar continuidade ao sono que foi interrompido há minutos atrás.
Fui durante a madrugada que acabei perdendo o sono. Enquanto rolava de um lado para o outro na cama espaçosa, comecei a pensar em como deveria ser minha vida dali em diante. Derek disse que eu seria sua esposa. Então haveria uma cerimônia de casamento? Seria o cúmulo do ridículo, disso eu tinha certeza.
O incômodo em minha barriga foi o lembrete de que eu não tinha descido para o jantar, meu estômago estava vazio. Movida à fome, desci para cozinha em busca de comida. Toda mansão estava vazia e em total silêncio sob a escuridão da madrugada. Vagando pelos cômodos, acabei por, enfim, encontrar a cozinha espaçosa. Fitei a geladeira de duas portas e me locomovi até lá, abri a mesma e procurei algo atrativo para comer. Meus olhos pousaram em morangos apetitosos que lá jaziam e, após pegá-los, decidi escolher, também, a calda de chocolate que estava logo atrás dos morangos. Maravilha!
Ignorando os bancos próximos à ilha da cozinha, sentei-me sobre a bancada e me permiti desfrutar dessa combinação deliciosa. Quando degustei o primeiro morango lambuzado com chocolate, foi inevitável o ato de fechar os olhos e gemer em prazer ao sentir o sabor delicioso.
— Porra, isso é melhor que orgasmos — murmurei, ainda de olhos fechados, dando outra mordida.
— Eu duvido muito disso, baby. — Foi então que ouvi aquela voz rouca e baixa bem perto do meu ouvido, minha pele toda se arrepiou ao sentir seu hálito quente rente com a mesma, na região de meu pescoço.
Como ele chegou aqui?
Abri os olhos rapidamente e busquei descer da bancada, afastando-me dele. Já sobre o chão, pude ver a figura de Derek a menos de um metro de distância de mim. Em seus lábios eu vi um riso malicioso, algo que eu nunca havia visto em seu rosto — sua expressão sempre era tão fechada e carrancuda. Desci os olhos por seu corpo e feitei suas vestes — ou falta delas. O torso estava totalmente exposto, seu abdômen cheio de gominhos também não passava despercebido, os músculos definidos eram uma imagem e tanto. Arregalei os olhos ao notar o volume significativo sob sua calça de dormir.
Porra, e que volume.
— Acabou a vistoria? — o bastardo debochou de minha análise desinibida.
Você é muito idiota, Mag. É isso.
— O que está fazendo aqui? — indaguei ríspida, tentando mascarar a vergonha que estava estampada em meu rosto.
— Essa é minha casa, então... — Deixou a entender.
Eu via algo diferente nele dessa vez. Seu rosto possuía resquícios de diversão e também... prazer? Balancei a cabeça, buscando me orientar.
— Eu quis dizer tão perto — expliquei-me com a voz baixa, gesticulando com as mãos para o espaço entre nós dois, o mesmo que era mais curto há poucos segundos atrás.
— Estava tirando uma curiosidade — sua voz rouca disse, de forma enigmática.
— Curiosidade? Além de me comprar ainda vai me usar como objeto de estudo? — Rolei os olhos. — Então, Diabo, conseguiu saná-la? — Hora errada para ironia, Thompson.
— Não, você me atrapalhou — Derek disse, para, logo em seguida, se aproximar de mim como um caçador em busca de sua presa, e era exatamente aquilo que eu era naquele momento: sua presa.
Mal tive tempo de raciocinar, quando percebi ele já tinha me encurralado entre a bancada e seu enorme corpo. As mãos grandes situadas em cada lado de meu quadril.
O que estava acontecendo ali, merda?
— Que porra... — Ele não me cortou antes que eu concluísse minha fala.
— Shiih — sussurrou, a voz abafada. Senti seu nariz perto de meu pescoço, ele inalou o ar vagarosamente e depois ouvi um gemido rouco vindo de sua garganta, sua barba rala arranhado minha pele, causando-me arrepios. — Flores, você cheiro a flores. É embriagante, Thompson. — O tom arrastado deixou minha intimidade latejando em prazer, o que era fodidamente errado, eu sabia. Subindo uma de suas mãos até meu cabelo solto, ele o afastou, deixando meu pescoço totalmente exposto. Derek mordiscou o lóbulo de minha orelha e permiti-me fechar os olhos, aproveitando aquela sensação prazerosa, eu estava anestesiada. — O que você fez comigo, garota? Está me deixando louco, descontrolado. Sinta o que está me causando, tudo isso é sua culpa, maldita feiticeira.
Perdi o fôlego.
Ele esfregou sua pévils em mim, fazendo-me sentir seu membro rígido e viril em minha barriga, enquanto trilhava beijos quentes em minha pele necessitada. Sua mão grande se deslocou do meu quadril e foi em direção à minha bunda, apertando-a firme — um toque íntimo após ele ter levantado o tecido carmesim que a cobria —, e a outra foi para minha cintura. Com esses movimentos, ele me ergueu e me depositou em cima da bancada, para depois se manter entre minhas pernas. As minhas mãos, que antes estavam suspensas no ar, foram depositadas em seu peito largo, uma tentativa vã de afastá-lo — o real intuito era, de fato, empurrá-lo, mas, ao tocar em sua pele quente e firme, me permiti apreciar aquele contato perigoso. O ponto no interior de minhas coxas pulsava diante daquela aproximação erótica e envolvente. Todo meu corpo estava em chamas, era como se eu fosse entrar em combustão ali mesmo, em seus braços — Mitchell me tinha em mãos.
Eu sentia uma oscilação entre o juízo e o prazer — e, agora, esse último se sobressaia.
— O que você quer, Mag? — sussurrou, apertando-me mais e subindo seus lábios para meu maxilar, depositando beijos e o mordiscando. O atrito de sua barba rala com minha pele era instigante e bom. — Diga-me e te darei. — Um maldito e traidor gemido que saiu por minha boca. Não conseguia raciocinar direito, toda minha concentração estava focada em seus movimentos sobre meu corpo, na excitação crescente.
Até que eu o senti. Ali, me tocando e possuindo, estava ele. As mãos asquerosas, sua risada macabra adentrou minha mente. A excitação se dissipou e foi substituída por náusea, eu estava vivendo aquele pesadelo horripilante novamente. Flashs e mais flashs começaram a me torturar, eles me levavam àquele dia, àquele quarto imundo e nojento, resgatando minhas angustias e medos.
Então eu agi. Firmei minhas mãos no corpo sobre mim e o empurrei para longe, eu precisava ficar longe. Um nó estava presente em minha garganta, anunciando um choro iminente.
— Sai — eu grunhi, desvencilhando-me das mãos possessivas. Eu tinha que sair dali. — Fica longe de mim! — gritei, minha voz oscilando entre o pavor e ódio.
Quando abri os olhos eu fui trazida de volta à realidade. Tomei ciência de que o homem enorme que estava a poucos passos de mim com uma expressão confusa em seu rosto malditamente belo não era Brant. Permiti-me suspirar, aliviada por não estar vivendo aquele pesadelo e nem ao alcance de Brant. Derek me encarava com um ponto de interrogação estampado no rosto, sua respiração estava levemente alterada.
— Por quê...? — ele pediu.
Eu não poderia contar o porquê, o inferno que ia. E, apesar de ter entrado em um devaneio, aquilo me trouxe a sanidade perdida em consequência de seu ataque. Eu tinha agido como uma adolescente tola, cedendo aos seus encantos na primeira oportunidade. Dentre os diversos atributos que possuía, Derek Mitchell era o pecado e a sedução em forma física, essas eram uma de suas armas e ele sabia perfeitamente como usá-las. Ser tentada a pecar era algo a que fui submetida durante toda a vida, entretanto, ser tentada pelo pecado em pessoa era — e iria ser — uma batalha árdua.
— Eu não quero estar perto de você, não quero suas mãos em mim — disferi verdades e mentiras, tentando ignorar minhas mãos trêmulas. Eu sabia que estar perto dele e me render àquilo era errado em demasiados níveis, assim como também sabia que meu corpo não o repudiava como deveria, era um maldito traidor que ia contra à razão.
Ele apenas riu em resposta, deixando seus traços marcantes amostra sob a luz baixa do ambiente.
— Não era isso que eu estava vendo há segundos atrás, baby. Seus gemidos eram de aceitação ao meu toque, seu corpo me quer — continuou.
Convencido do caralho.
— Ele reagiu a você assim como reagiu a todos aos outros, é apenas química. Não se ache muito, Mitchell — eu menti descaradamente. Eu nunca tinha ficado tão excitada assim, principalmente com simples toques.
— Outros? Informaram-me que você era virgem — ele disse baixo, o tom expressando uma irritação crescente. Provavelmente por pensar que foi enganado e que não havia adquirido uma esposa pura.
— Não é preciso ter sexo para ficar excitada e ter prazer, um homem pode levar uma mulher ao delírio de diversas formas. — Dei de ombros com desdém e assisti seus olhos azuis virarem chamas em fúria, me fuzilando. — Você não acha, Mitchell?
Seu maxilar trincou enquanto ouvia cada palavra, enquanto eu o afrontava descaradamente. Tirá-lo de si era divertido, arriscado, mas a adrenalina pulsante era maravilhosa.
— Está dizendo que é apenas uma vadia? — cuspiu.
Ergui o queixo e me aproximei dele, diminuindo o espaço entre nós dois. Senti mais uma vez aquele perfume másculo e envolvente, todavia, não me deixei levar pelo encanto do Diabo dessa vez.
— É extremamente ridícula e hipócrita a maneira como vocês enxergam as mulheres. Atribuem títulos de merda, pintando nossas atitudes e escolhas livres de forma pejorativa. — Ri com rancor. — Se ser uma mulher que decide o que quer de melhor para o seu corpo, seja prazer ou qualquer outra coisa, eu sou, sim, uma vadia. Se ser uma mulher dona de si e que coloca suas vontades acima de estereótipos de merda, eu sou uma vadia — despejei em sua cara. — Isso te frustra? Ter pagado tanto por uma vadia?
Ele grunhiu, possesso. Que se foda. Naquele momento eu não era mais a presa, dois poderiam traçar esse jogo.
— Será minha esposa, — disse — suas diversõezinhas acabaram, Magan.
— Irá, de fato, ser difícil continuar a me divertir, assim, em uma prisão. — Meus lábios dançaram maliciosamente em um sorriso lascivo. — Mas tem aquele seu amigo, o Sullivan. Quem sabe? Ele é malditamente quente.
Sua paciência se esvaiu totalmente, ele pegou cada lado de minha cintura com suas mãos firmes e me empurrou na parede de forma bruta.
Merda. Era meu fim?
Derek me fitava com uma aura obscura no olhar enquanto discorria:
— Você é minha mulher, seu corpo é meu, cada pedaço de seu ser me pertence agora. Essa sua boceta será minha, nenhum outro irá te tocar, nunca. — Eu enxergava ali perfeitamente o perigo diante dos meus olhos. — Não quero matar Jacob, então o tire de sua listinha depravada.
Ele me liberou de sua possessão e saiu da cozinha como um raio. Deslizei as costas pela parede e caí no chão, saindo do estado de agonia.
Eu precisava tomar cuidado com minhas ações impulsivas ou acabaria morta cedo demais por aquele homem. Infernizar o Diabo parecia uma missão idiota, mas quem disse que seria impossível? Ele precisava se arrepender de ter se submetido a esse papel, e eu iria fazê-lo, não importava o quanto demorasse e o quão difícil fosse. Mas a questão era: como iria fazer isso se meu corpo reagia descaradamente a ele? Se um simples toque seu bem articulado me tirava a sanidade?
Sentada no chão lustroso e frio da enorme e silenciosa cozinha, eu me perdi em pensamentos, buscando soluções para me reorganizar, mas acabei afogada em frustações por perceber que estava sentindo coisas, coisas estranhas por Mitchell. Talvez eu não tenha me sentido atraída por ele apenas hoje, talvez ele tivesse se tornado um desejo carnal na primeira vez que nos encontramos.
Então, durante esse tempo eu busquei entender, mas não consegui.
Não entendia, simplesmente não entendia por que esse homem de olhos azuis misteriosos e profundos, que eu deveria odiar, estava me causando esse turbilhão de sensações até então desconhecidas por mim.
Oi, oi!
Que capítulo foi esse, hum? Tenso.
(Aposto que alguns pensaram que iria sair um hot hoje kkskksinkck Não, Não)
Só vim trazer a postagem e já tô de saída. Até a próxima atualização.
©K. Lacerda
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